A história de Lianna Rebolledo – a mãe que, com
apenas 12 anos, engravidou por causa de um estupro – é realmente chocante. A
violação de que foi vítima deixou-a "semimorta" e "com sua face
e pescoço horrivelmente desfigurados". Ela mesmo confessa, mais de duas
décadas depois do ocorrido, que pensou que seus agressores iam matá-la. Não há
palavras que possam expressar suficientemente a dor e a indignação de qualquer
pessoa moralmente sadia diante de um crime como este. Embora a "cultura
pornográfica" vigente procure até mesmo justificar este tipo de abuso,
sabemos que se trata de "um atentado contra a justiça e a caridade",
que "ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e
à integridade física e moral" e "causa um prejuízo grave, que pode
marcar a vítima para toda a vida" [1].
Disto, de fato, Lianna é testemunha viva: a violação realmente "marca a vítima
para toda a vida". Mesmo depois de um tempo, ela conta que não
conseguia livrar-se do sentimento de sujeira, chegando a cogitar a hipótese do
suicídio.
Outro fato, porém, destinou a mudar a vida desta
mulher para sempre: a notícia de que estava grávida, de que seria mãe. Já na
época em que ficou sabendo de sua gravidez, um médico tentou pressioná-la a
abortar. Ela, porém, consciente de que havia outro ser humano dentro de si, disse
"não". O abuso que sofreu foi
realmente terrível, mas punir um ser humano indefeso por isso não era,
absolutamente, uma saída viável.
Alguns defensores do aborto podem sentir-se
tentados a usar a história de Lianna para proveito próprio. Nesta ótica, ao
invés de respaldar a defesa da vida, o caso de Lianna seria um exemplo da
importância de dar à mulher o eufemístico "direito de escolha" –
melhor definido como "direito de matar". A posição que estes assumem
é a mesma do médico da história: não se poderia obrigar a mulher a viver
"com as consequências do estupro". Para eliminar essas
"consequências", então, valeria tudo, até mesmo matar o próprio
filho.
Este é o argumento dos grupos que se intitulam
"pró-escolha" (pro-choice, em inglês), exposto na sua crueza. Seu
erro é bem evidente: coloca a liberdade humana – neste caso específico, a
feminina – acima do próprio direito à vida. Mas, como bem afirma o Papa João
Paulo II, "a tolerância legal do
aborto (...) não pode, de modo algum, fazer apelo ao respeito pela consciência
dos outros, precisamente porque a sociedade tem o direito e o dever de se
defender contra os abusos que se possam verificar em nome da consciência e com
o pretexto da liberdade" [2]. Só
porque o homem é livre, não significa
que tudo o que faz seja bom ou moralmente legítimo.
Outro problema do argumento abortista é supor que
vítimas de abuso sexual que ficam grávidas queiram natural e necessariamente
fazer um aborto. Um estudo conduzido por Sandra Mahkorn, especialista no
assunto [3], mostra exatamente o contrário: de 75 a 85% dessas mulheres querem
levar adiante a sua gestação. "Essa evidência, por si só, deveria fazer as
pessoas pensarem e refletirem sobre o pressuposto de que o aborto é querido ou
até mesmo melhor para vítimas de violação sexual", escreve David Reardon,
PhD em Bioética [4].
Na verdade, o que faz o aborto – que a mídia e a
"cultura da morte" supõem que elimine ou atenue a ferida do estupro –
é apenas complicar ainda mais o drama que enfrentam essas mulheres. Muitas das
que passaram pela experiência traumática de um aborto relatam-na como "uma
degradante e brutal forma de estupro médico". Como entender essa
expressão? Explica David Reardon:
"O aborto envolve um exame doloroso dos órgãos sexuais de uma
mulher por um estranho mascarado que está invadindo o seu corpo. Uma vez na
mesa de operação, ela perde o controle sobre seu corpo. Se protesta e pede ao
aborteiro para parar, será possivelmente ignorada ou dirão a ela: 'É tarde
demais para mudar de ideia. Isso é o que você quis. Temos que terminar agora.'
E enquanto ela está deitada ali, tensa e desamparada, a vida oculta dentro de
si é literalmente sugada de seu ventre. A diferença? Numa violação sexual, da mulher é roubada a sua pureza; nesse estupro médico, é roubada a sua
maternidade." [5]
É verdade que, no Brasil, assim como em muitíssimos
países do mundo, está espalhada a ideia de que o aborto provocado decorrente de
estupro não só seria aceitável, como seria um "direito das mulheres".
Isto, porém, não altera em nada a realidade das coisas. Como bem ensina Santo
Tomás de Aquino, "toda lei
constituída pelos homens tem força de lei só na medida em que deriva da lei
natural. Se, ao contrário, em alguma coisa está em contraste com a lei
natural, então não é lei mas sim corrupção da lei" [6]. Assim, uma norma
que autorizasse às mães matarem os próprios filhos – sob quaisquer
circunstâncias – não passaria de uma arbitrariedade.
Porque, afinal, "se nós aceitamos que uma mãe
possa matar o seu próprio filho – dizia a bem-aventurada Madre Teresa de
Calcutá –, como podemos dizer às outras pessoas para não se matarem?" [7].
O testemunho de Lianna Rebolledo deve servir de lição para a sociedade moderna:
ele mostra por que, mesmo nas situações mais dramáticas e impensáveis, o aborto
é intolerável. Nenhum crime, por mais
assombroso e terrível que tenha sido, pode justificar o assassinato de um ser
humano frágil e inocente no ventre materno.
Referências
1. Catecismo
da Igreja Católica, 2356.
2. Carta
Encíclica Evangelium Vitae (25 de março de 1995), 71.
3. Pregnancy and Sexual Assault, The
Psychological Aspects of Abortion, eds. Mall & Watts (Washington, D.C.,
University Publications of America, 1979), pp. 55-69.
4. REARDON, David C.. Rape, Incest, and
Abortion: Searching Beyond the Myths. The Post-Abortion Review 2 (1) Winter
1994.
5. Idem.
6. Summa Theologiae, I-II, q. 95, a. 2.
7. Mother Teresa of Calcutta, Speech to
the National Prayer Breakfast (Washington, February 3rd, 1994).
________________________________________
Equipe
Christo Nihil Praeponere
Nenhum comentário:
Postar um comentário