sábado, 20 de fevereiro de 2016

Trocando uma coroa de ouro por uma coroa de espinhos


Aproximava-se a hora da morte de Jesus. Ele entrou triunfalmente em Jerusalém e expulsou do templo os homens que exploravam a adoração. A expectativa enchia o ar de Jerusalém, pois as pessoas achavam que Jesus era um messias conquistador. Ele, contudo, preparava-se para enfrentar a cruz.

O povo pensava que Jesus era um herói glorioso e daria à nação um destino sublime. Entretanto Jesus humilhou-se de acordo com o plano de Deus e alcançou-nos a salvação.

Você faria o que Jesus fez? Ele trocou um castelo imaculado por um estábulo sujo. Trocou a adoração dos anjos pela companhia de assassinos. Podia segurar o universo na palma de sua mão, mas abdicou e foi flutuar no útero de uma jovem.

Se você fosse Deus, teria dormido sobre a palha, mamaria no seio de uma mulher e seria vestido com uma fralda? Eu não o faria, mas Cristo fez.

Se você soubesse que poucos se importariam com a sua vinda, ainda assim viria? Se soubesse que aqueles a quem ama zombariam na sua frente, ainda assim se preocuparia com eles? Se soubesse que as línguas que criou debochariam de você, as bocas que criou lhe cuspiriam, e as mãos que criou o crucificariam, ainda assim você as criaria? Cristo o fez. Você consideraria os deficientes e inválidos mais importantes do que a si mesmo? Cristo o fez.

Ele se humilhou. Ele deixou de comandar os anjos e passou a dormir na palha. Deixou de tocar as estrelas e agarrou o dedo de Maria. A mão que sustentava o universo recebeu o prego de um soldado.

Por quê? Porque é isto que o amor faz. O amor coloca a pessoa amada antes de si mesmo. A sua alma era mais importante do que o sangue d’Ele. A sua vida eterna era mais importante que a vida terrena d’Ele. Para ele, o seu lugar no céu era mais importante do que o lugar d’Ele no céu. Assim, Jesus abriu mão do lugar que lhe pertencia para que você pudesse ter o seu.

É assim que ele o ama. E porque ele o ama, você tem importância primordial para ele. 

As interrogações mais profundas do gênero humano


O mundo moderno apresenta-se simultaneamente poderoso e fraco, capaz do melhor e do pior; abre-se diante dele o caminho da liberdade ou da escravidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade e do ódio. Por outro lado, o homem toma consciência de que depende dele a boa orientação das forças por ele despertadas e que podem oprimi-lo ou servi-lo. Eis por que se interroga a si mesmo.

Na verdade, os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno estão ligados a um desequilíbrio mais profundo, que se enraíza no coração do homem.

No íntimo do próprio homem, muitos elementos lutam entre si. De um lado, ele experimenta, como criatura, suas múltiplas limitações; por outro, sente-se ilimitado em seus desejos e chamado a uma vida superior.

Atraído por muitas solicitações, é continuamente obrigado a escolher e a renunciar. Mais ainda: fraco e pecador, faz muitas vezes o que não quer e não faz o que desejaria. Em suma, é em si mesmo que o homem sofre a divisão que dá origem a tantas e tão grandes discórdias na sociedade.

Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, sentem-se incapazes de prestar-lhe atenção. Outros, em grande número, julgam encontrar satisfação nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas.

Alguns, porém, esperam unicamente do esforço humano a verdadeira e plena libertação da humanidade, e estão persuadidos de que o futuro domínio do homem sobre a terra dará satisfação a todos os desejos de seu coração.

Não faltam também os que, desesperando de encontrar o sentido da vida, louvam a audácia daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado próprio, se esforçam por encontrar todo o seu valor apoiando-se apenas no próprio esforço.

Contudo, diante da atual evolução do mundo, cresce o número daqueles que formulam as questões mais fundamentais ou as percebem com nova acuidade. Que é o homem? Qual é o sentido do sofrimento, do mal e da morte que, apesar de tão grandes progressos, continuam a existir? Para que servem semelhantes vitórias, conseguidas a tanto custo? Que pode o homem dar à sociedade e dela esperar? Que haverá depois desta vida terrestre?

A Igreja, porém, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todo o gênero humano, oferece ao homem, pelo Espírito Santo, luz e forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema; ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possam ser salvos.

Crê igualmente que a chave, o centro e o fim de toda a história humana encontra-se em seu Senhor e Mestre.

A Igreja afirma, além disso, que, subjacente a todas as transformações, permanecem imutáveis muitas coisas que têm seu fundamento último em Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre.


Da Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II

(N.9-10) (Séc.XX)

Onde abundou o pecado, superabundou a graça


Nem mesmo o pecado, nem mesmo as nossas fraquezas se perdem.

Como nos diz Santo Agostinho: “até mesmo o pecado, que desviou as pessoas das bênçãos de Deus, foi necessário, porque, se não existisse, não existiria Jesus pregado numa cruz, se entregando pelas nossas culpas.”

Se pelo sentimento humano, você só consegue enxergar pecado e fraqueza em sua vida, não é por isso que devemos nos afastar, e sim, aproximarmos do infinito amor de Deus. Tenha coragem, como aquela mulher pecadora que se lançou aos pés de Jesus e disse: “até os cachorrinhos comem das migalhas” (cf Mt 15,27).

Mesmo que não haja ânimo nem força para levantar a cabeça, mas aos pés de Jesus tudo se torna mais fácil, o fardo mais leve, pois devemos derramar sempre o que temos de pior, e ter a certeza de que nosso Deus nos dará sempre o que Ele tem de melhor. Pois só quando temos a coragem de derramar diante do Senhor o que temos de pior, vamos poder provar o que Ele tem de melhor para nós.

Lembre-se que o perdão nos leva aos raios da misericórdia de Deus. Como é maravilhoso ter a experiência da misericórdia de Deus em nossas vidas, e não pensarmos que somos Santos ou prontos para o céu, não. Nós nos tornaríamos escravos da justiça, e com isso, começaríamos a ser juízes de nós mesmo, e consequentemente dos outros. 

Santo Eleutério


O nome de Santo Eleutério significa "libertador". Assim Eleutério, ao viver inteiramente para Cristo conseguiu ser instrumento de libertação de erros e pecados para muitos. Viveu por volta do ano 470, em Tournai, região onde hoje está a Bélgica.

Conta-nos a história que, quando menino, ele ouviu a profecia de que seria um bispo. Eleutério respondeu o chamado vocacional e entrou para a formação que o encaminhou ao sacerdócio e mais tarde à ordenação episcopal. Eleito como primeiro bispo de Tournai, Santo Eleutério foi um grande desbravador da fé que deu o seu sangue por amor ao rebanho.

Santo Eleutério trabalhou arduamente para organizar a construção de igrejas, incentivar vocações, formar o clero, enfim, tudo o necessário para lidar com a recém-nascida diocese. Grande pacificador, Santo Eleutério conviveu em meio a grandes conflitos. Por isso, ao lidar com um povo de índole guerreira, teve que esforçar-se para levar a paz de Cristo para tantos corações. Promoveu uma sólida evangelização a fim de que o Evangelho fosse entendido como um estilo de vida para o povo.

Zeloso, perseverante e homem de oração, combateu as heresias e batalhou para o resgate de muitos pagãos. Santo Eleutério doou a vida em favor do povo. Foi martirizado em 532.  

ORAÇÃO


Amado Pai, Deus Uno e Trino, que escolhestes São Eleutério para o pastoreio dos fiéis, ajudai-nos a descobrir e viver nossa vocação, dedicando nossa vida ao serviço dos mais necessitados. Pedimos isso em nome de Cristo, nosso Senhor. Amém.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Primeira pregação da Quaresma 2016: "A adoração em espírito e verdade".


Primeira Pregação da Quaresma

A ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E VERDADE
Reflexão sobre a Constituição Sacrosanctum Concilium


O Concílio Vaticano II: um afluente, não o rio

Nessas meditações quaresmais eu gostaria de continuar a reflexão sobre outros grandes documentos do Vaticano II, depois de meditar no Advento, na Lumen Gentium. Mas creio que é útil fazer uma premissa. O Vaticano II é um afluente, não é o rio. Em seu famoso trabalho sobre “O Desenvolvimento da Doutrina Cristã”, o beato Cardeal Newman declarou enfaticamente que parar a tradição em um ponto do seu curso, mesmo sendo um concílio ecumênico, seria torna-la uma morta tradição e não uma “tradição viva”. A tradição é como uma música. O que seria de uma melodia que parasse numa nota, repetindo-a ad infinitum? Isso acontece com um disco que arranha e sabemos o efeito que produz.

São João XXIII queria que o Concílio fosse para a Igreja “como um novo Pentecostes”. Em um ponto, pelo menos, essa oração foi ouvida. Após o Concílio houve um despertar do Espírito Santo. Ele não é mais “o desconhecido” na Trindade. A Igreja tornou-se mais consciente de sua presença e de sua ação. Na homilia da Missa crismal da Quinta-feira Santa de 2012, o Papa Bento XVI afirmava:

“Quem olha para a história da época pós-conciliar é capaz de reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que torna quase palpável a vivacidade inesgotável da Santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo”.

Isso não significa que nós podemos desprezar os textos do Concílio ou ir além deles; significa reler o Concílio à luz dos seus próprios frutos. Que os concílios ecumênicos possam ter efeitos não compreendidos no momento, por aqueles que fizeram parte deles, é uma verdade evidenciada pelo próprio cardeal Newman sobre o Vaticano I[1], porém testemunhada mais vezes na história. O concílio ecumênico de Éfeso do 431, com a definição de Maria como Theotokos, Mãe de Deus, procurava afirmar a unidade da pessoa de Cristo, não aumentar o culto à Virgem, mas, de fato, o seu fruto mais evidente foi precisamente este último.

Se há uma área em que a teologia e a vida da Igreja Católica foi enriquecida nestes 50 anos de pós-concílio, é certamente a relacionada ao Espírito Santo. Em todas as principais denominações cristãs, estabeleceu-se nesses últimos tempos, aquilo que, com uma expressão cunhada por Karl Barth, foi chamada de “a Teologia do Terceiro artigo”. A teologia do terceiro artigo é aquela que não termina com o artigo sobre o Espírito Santo, mas começa com ele; que leva em conta a ordem com que se formou a fé cristã e o seu credo, e não só o seu produto final. Foi, de fato, à luz do Espírito Santo que os apóstolos descobriram quem era realmente Jesus e a sua revelação sobre o Pai. O credo atual da Igreja é perfeito e ninguém sequer sonha em muda-lo, porém, ele reflete o produto final, o último estágio alcançado pela fé, não o caminho através do qual se chega a isso, enquanto que, em vista de uma renovada evangelização, é vital para nós conhecer também o caminho por meio do qual se chega à fé, não só a sua codificação definitiva que proclamamos no credo de memória.

A esta luz aparece claramente as implicações de determinadas afirmações do concílio, mas aparecem também os vazios e lacunas a serem preenchidos, em especial, precisamente sobre o papel do Espírito Santo. Já tomava nota desta necessidade São João Paulo II, quando, por ocasião do XVI centenário do concílio ecumênico de Constantinopla, em 1981, escrevia em sua Carta Apostólica, a seguinte afirmação:

“Todo o trabalho de renovação da Igreja, que o Concílio Vaticano II tão providencialmente propôs e iniciou […] não pode ser realizado a não ser no Espírito Santo, isto é, com a ajuda da sua luz e do seu poder[2]". 

A Prisão de Jesus


Mt 26, 47-56: “47 E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. 48 O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: ‘É aquele que eu beijar; prendei-o’. 49 E logo, aproximando-se de Jesus, disse: ‘Salve, Rabi!’ e o beijou. 50 Jesus respondeu-lhe: ‘Amigo, para que estás aqui?’ Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam. 51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo Sacerdote, decepou-lhe a orelha.  52 Mas Jesus lhe disse: ‘Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. 53 Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? 54 E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?’ 55 E naquela hora, disse Jesus às multidões: ‘Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes’. 56 Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram” (conferir também: Mc 14, 43-52; Lc 22, 47-53 e Jo 18, 2-11).

Em Mt 26, 47 diz: “E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo”.

Já é alta noite, a lua brilha, Jesus Cristo está no Getsêmani conversando com os sonolentos Apóstolos. Um pouco distante, as oliveiras refletem uma certa claridade provocada por tochas. Galhos secos estalam ao serem pisados pelos inimigos do Senhor que se aproximam como lobos sanguinários. Ouvem-se gritos. Aparecem pontas de lanças. Aproximam-se os inimigos do Manso Cordeiro. À frente, jovial como um amigo, mas com o demônio no coração e a hipocrisia na língua, avança Judas Iscariotes, perigosa e venenosa serpente.

Quem é Judas Iscariotes? Quem é esse monstro ingrato e frio?

Ele é um dos Doze: “Em todas as listas dos Doze é acrescentada ao seu nome a observação de que ele foi o traidor de Jesus (Mt 10, 4; Mc 3, 19; Lc 6, 16). João acrescenta que ele era um diabo – talvez aqui no sentido de ‘adversário’ ou ‘ informador’ (Jo 6, 71, mas cf. Jo 13, 27) – e um ladrão, atribuindo-lhe a infeliz e hipócrita objeção à unção de Jesus em Betânia (Jo 12, 4-6), ao passo que Mt 26, 8 e Mc 14, 4 atribuem a objeção aos ‘discípulos’ (Mt) e a ‘alguns’(Mc). Os evangelhos sinóticos registram a visita de Judas aos grão-sacerdotes e o acordo sobre a traição e o preço a ser pago (Mt 26, 14-16; Mc 14, 10s; Lc 22, 3-6). Entretanto, a soma de trinta moedas de prata só é mencionada por Mt, derivando provavelmente de Zc 11, 12” (Pe. John L. Mackenzie, S.J, Dicionário Bíblico).

O atrevimento e a ingratidão de Judas Iscariotes foram tão grandes, e seu coração já estava tão mergulhado nas trevas, que o mesmo tomou a frente, tornou-se o guia dos inimigos do Salvador: “...eis que chegou uma multidão. À frente estava o chamado Judas, um dos Doze...” (Lc 22, 47), e: “...Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus” (At 1, 16).

Católico, grande foi a estupidez de Judas Iscariotes em trair o Amado Senhor. Ele viveu três anos na companhia do Salvador: andava, comia, rezava, ouviu inúmeras pregações do Mestre, porém, jogou tudo fora e acabou se condenando: “Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo” (São João Crisóstomo).

Hoje, infelizmente, milhões de pessoas seguem a ingratidão e a estupidez desse infeliz Apóstolo. Quantos católicos batizados e crismados abandonaram a Cristo Jesus para seguir o mundo, o demônio e a própria carne. Esses receberam graças e mais graças de Nosso Senhor, receberam também uma fiel e piedosa formação, mas a exemplo de Judas Iscariotes jogaram tudo fora, vivendo agora na lama do pecado: “Com efeito, se, depois de fugir às imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu último estado se torna pior do que o primeiro. Assim, melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, após tê-lo conhecido, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão voltou ao seu próprio vômito, e: A porca lavada tornou a revolver-se na lama” (2 Pd 2, 20-22).

Infeliz do católico que abandona a amizade com Jesus para viver nas trevas, esse jamais entrará na Pátria Eterna: “O laço com que o demônio arrasta quase todos os cristãos que se condenam é, sem dúvida, esse engano com que os seduz, dizendo-lhes: ‘Pecai livremente, porque, apesar de todos os pecados, haveis de salvar-vos” (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XVII, Ponto I). 

O amor fraterno a exemplo de Cristo


Nada nos impele tanto ao amor dos inimigos – e é nisso que consiste a perfeição do amor fraterno – do que considerar com gratidão a admirável paciência de Cristo, o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44,3). Ele apresentou seu rosto cheio de beleza aos ultrajes dos ímpios; deixou-os velar seus olhos que governam o universo com um sinal; expôs seu corpo aos açoites; submeteu às pontadas dos espinhos sua cabeça, que faz tremer os principados e as potestades; entregou-se aos opróbrios e às injúrias; finalmente,suportou com paciência a cruz, os cravos, a lança, o fel e o vinagre, conservando em tudo a doçura, a mansidão e a serenidade.

Depois, como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca (Is 53,7).

Ao ouvir esta palavra admirável, cheia de doçura, cheia de amor e de imperturbável serenidade: Pai, perdoa-lhes! (Lc 23,34), quem não abraçaria logo com todo o afeto os seus inimigos? Pai, perdoa-lhes!, disse Jesus. Poderá haver oração que exprima maior mansidão e caridade?

Entretanto, Jesus não se contentou em pedir; quis ainda desculpar, e acrescentou: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34). São, na verdade, grandes pecadores, mas não sabem avaliar a gravidade de seu pecado. Por isso, Pai, perdoa-lhes! Crucificaram-me, mas não sabem a quem crucificaram, porque, se soubessem, não teriam crucificado o Senhor da glória (1Cor 2,8). Por isso, Pai, perdoa-lhes! Julgaram-me um transgressor da lei, um usurpador da divindade, um sedutor do povo. Ocultei-lhes a minha face, não reconheceram a minha majestade. Por isso, Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!

Por conseguinte, se o homem quer amar-se a si mesmo com amor autêntico, não se deixa corromper por nenhum prazer da carne. Para não sucumbir a essa concupiscência da carne, dirija todo o seu afeto à admirável humanidade do Senhor. Para encontrar mais perfeito e suave repouso nas delícias da caridade fraterna, abrace também com verdadeiro amor os seus inimigos.

Mas, para que esse fogo divino não arrefeça diante das injúrias, contemple sem cessar, com os olhos do coração, a serena paciência de seu amado Senhor e Salvador. 


Do “Espelho da Caridade”, do Bem-aventurado Elredo, abade

(Lib. 3,5: PL 195,582)            (Séc.XI)

Cinco motivos ruins pelos quais as pessoas deixam a igreja


Não é nenhum segredo que a chama da fé em nosso mundo parece se enfraquecer a cada dia que passa. As pessoas ao redor do globo acham cada vez mais difícil acreditar em um Ser superior e propósito. O que não pode ser visto, tocado ou ouvido perde validade em qualquer argumento. Muitos optam por andar longe de suas igrejas e sua fé.

Enquanto cada indivíduo tem o direito de parar de adorar uma divindade ou viver uma teologia que já não lhe serve, nestes tempos cheios de dúvida levanta-se a questão: Existem más razões para deixar a sua crença para trás? Definitivamente.

Dito isto, a luta entre a fé  e a dúvida é real e muitas vezes complicada. Não é algo para ser tomado de ânimo leve. No entanto, nestes tempos confusos, é importante estarmos cientes das seguintes cinco razões realmente ruins para deixar sua igreja.

1.   Pecar é apenas muito mais divertido

Você pode se surpreender que este motivo para deixar uma igreja é na verdade muito menos comum do que você imagina. Ainda assim, há muita gente que se entrega a esse pensamento, então vale a pena mencionar. 

A estrada cheia de pecado sempre parece ser uma rua fácil. Ela se apresenta como uma via glamourosa com muita diversão, prazer fácil, gente descontraída e feliz. Mas a experiência mostra que, embora a viagem possa ser divertida e confortável por um momento, o caminho logo se torna uma estrada esburacada e perturbada. O tráfego é rápido, e é difícil encontrar uma saída segura.

A alegria duradoura é muito diferente do que mera diversão. A alegria é eterna e cheia de felicidade. A definição de pecado vai contra o que você sabe ser certo. Os investimentos em alegria levam a uma vida de integridade e honestidade. Não acredite na mentira de que pecar é mais fácil. O arrependimento e restituição, sempre que possível, raramente são indolores. Escolha a rota mais segura.

2.   Os membros da igreja devem ser pessoas melhores

Dã. Mas não é esse o ponto? Se as igrejas fossem para pessoas perfeitas, elas estariam vazios; para não mencionar inúteis. Todos nós devemos ser pessoas melhores, e é exatamente por isso que vamos à igreja – para tentar melhorar a nós mesmos. Assim como você gostaria que os outros lhe dessem chance para crescer e cometer erros, conceda-lhes essa mesma cortesia.

Líderes e membros da Igreja vão deixar você para baixo. É um fato. Mas a verdadeira fé não é baseada em pessoas ou reputações. É baseada em Deus e na Sua confiabilidade. Se alguém lhe ofendeu, perdoe-lhe. Se um membro da igreja é um hipócrita, lembre-se de que você também é. Nenhum de nós vive perfeitamente para o que pregamos, embora tentemos agir corretamente e de acordo coerente com nossa fé.

Isto não desculpa atos de abuso, no entanto. Se os membros ou líderes de desobedecem as leis da terra ou fazem um prejuízo real para as pessoas, suas ações não devem de modo algum ser puxadas para debaixo do tapete. Você ainda pode perdoá-los, mas você não precisa confiar neles.

3.   Não há tempo suficiente

A vida no século 21 não está fácil para qualquer um. O tempo é um bem precioso. Se a sua igreja parece estar exigindo muito do seu tempo tome um momento para avaliar sua programação inteira.

As coisas que você coloca mais valor estão na prioridade em sua vida? Ou, as tarefas menos importantes é que estão tendo precedência?

Faça a si mesmo estas perguntas sempre que você começar a sentir que frequentar a igreja é só uma obrigação. Pense se seus serviços ou outras atividades da igreja abençoam ou causam dificuldade para sua vida. Se elas te abençoam em sua vida, então não basta deixá-las! Encontre o equilíbrio, e lembre-se de que nenhuma rotina de exercícios, farra de compras, projeto acabado ou semelhantes se compara a crescer mais perto de seu Deus e tornar-se a pessoa que você deseja se tornar.

Nós damos tempo para o que é importante para nós. É correto dizer não a coisas que são boas, mas não essenciais, de modo que você tenha tempo para o que é melhor e crucial.