sábado, 5 de março de 2016

São José da Cruz


São José da Cruz, nasceu na cidade de Ísquia, próximo de Nápoles, no ano de 1625. Foi batizado com o nome de Caetano. Era admirador de São Francisco de Assis, procurando encarnar em si o exemplo de vida evangélica do Pobrezinho de Assis, ingressando, portanto na Ordem dos franciscanos.

Fundou o primeiro convento da Ordem no ano de 1671 em Piemonte. Juntou pedras com suas próprias mãos, usou cal e madeira e com um enxadão fez os alicerces. Não tinha ninguém para ajudá-lo. O povo começou a achar que ele era louco mas logo percebeu que estava errado e começou a prestar-lhe ajuda, de forma que um grande convento foi edificado em poucos tempo.

Tornou-se mestre de noviços e depois provincial e geral da Ordem Franciscana. Levou vida austera, despojada de tudo. A mobília de seu quarto consistia em um crucifixo, numa imagem de Nossa Senhora, um livro de orações e um leito duríssimo, composto de dois pedaços de couro e uma coberta de lã. Possuía apenas um hábito de pano grosseiro, que usou por 65 anos, até sua morte.

São José da Cruz fugiu das dignidades eclesiásticas e levou uma vida eremítica para se exercitar unicamente na penitência e na oração. Era profundamente austero, comia pouco e só uma vez ao dia, dormi apoucas horas, levantando-se a meia noite para agradecer a Deus pelo novo dia.

São José da Cruz dedicou toda a sua vida aos pobres, socorrendo-os em suas necessidades. De todo Piemonte vinham ao Convento de Ávila numerosas pessoas que, se tivessem fé e merecimentos, eram curadas. Morreu no ano de 1737, com 84 anos de idade. Foi canonizado por Gregório XVI.  

ORAÇÃO


São José da Cruz, vós que edificastes com vossas próprias mãos uma obediência incontestável dá-nos este grande dom de dizer sempre "sim" à vontade de Deus, mesmo em meio às nossas dificuldades. Que vivamos toda nossa vida em conformidade aos desígnios de Nosso Senhor para que um dia possamos estar juntos num só único louvor a Quem que nos criou unicamente para sermos santos. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Papa fala de "cegueira espiritual" e convida à conversão


HOMILIA
Celebração penitencial – “24 horas para o Senhor”

Basílica Vaticana
Sexta-feira, 4 de março de 2016

«Que eu veja de novo» (Mc 10, 51): este é o pedido que queremos fazer hoje ao Senhor. Ver de novo, depois de os nossos pecados nos terem feito perder de vista o bem e desviar da beleza da nossa vocação, levando-nos a vagar longe da meta.

Este trecho do Evangelho possui um grande valor simbólico e existencial, porque cada um de nós se encontra na situação de Bartimeu. A sua cegueira levara-o à pobreza e a viver na periferia da cidade, dependendo em tudo dos outros. Também o pecado tem este efeito: empobrece-nos e isola-nos. É uma cegueira do espírito que impede de ver o essencial, fixar o olhar no amor que dá a vida; e, aos poucos, leva a deter-se no que é superficial até deixar insensíveis aos outros e ao bem. Quantas tentações têm a força de anuviar a vista do coração e torná-lo míope! Como é fácil e errado crer que a vida dependa do que se possui, do sucesso ou do aplauso que se recebe; que a economia seja feita apenas de lucro e consumo; que as pretensões próprias devam prevalecer sobre a responsabilidade social! Olhando apenas para o nosso eu, tornamo-nos cegos, amortecidos e fechados em nós mesmos, sem alegria nem verdadeira liberdade.

Mas Jesus passa; passa, mas detém o passo: «parou», diz o Evangelho (v. 49). Então um frémito atravessa o coração, porque nos damos conta de ser contemplados pela Luz, por aquela Luz gentil que nos convida a não ficar fechados nas nossas cegueiras tenebrosas. A presença de Jesus perto de nós faz sentir que, longe d’Ele, falta-nos qualquer coisa importante: faz-nos sentir necessitados de salvação; e isto é o princípio da cura do coração. Depois, quando o desejo de ser curado ganha audácia, leva a rezar, a gritar, com força e insistência, por ajuda, como faz Bartimeu: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» (v. 47).

Infelizmente, há sempre alguém (o Evangelho fala de «muitos») que não quer parar, não quer ser incomodado por quem grita a sua aflição, preferindo mandar calar e repreender o pobre que chateia (cf. v. 48). É a tentação de prosseguir como se nada tivesse acontecido; mas, assim, afastamo-nos do Senhor e deixamos afastados de Jesus também os outros. Reconheçamos todos que somos mendigos do amor de Deus, e não deixemos escapar o Senhor que passa. «Timeo transeuntem Dominum – temo que o Senhor passe» (Santo Agostinho). Demos voz ao nosso desejo mais verdadeiro: «[Jesus], que eu veja de novo!» (v. 51). Este Jubileu da Misericórdia é tempo favorável para acolher a presença de Deus, experimentar o seu amor e voltar a Ele de todo o coração. Como Bartimeu, joguemos fora a capa e ponhamo-nos de pé (cf. v 50), ou seja, joguemos fora aquilo que nos impede de caminhar rapidamente para Ele, sem medo de deixar aquilo que nos dá segurança e a que estamos presos; não fiquemos sentados, ergamo-nos, recuperemos a nossa estatura espiritual, a dignidade de filhos amados que estão diante do Senhor para que Ele nos fixe nos olhos, nos perdoe e recrie. A palavra que, talvez, hoje chega ao nosso coração é a mesma da criação do homem: levante-te, Deus te criou em pé. Levanta-te! 

Terceira pregação da Quaresma 2016: "O Espírito Santo, principal agente de evangelização".


Terceira pregação da Quaresma

Anunciar a Palavra

O Espírito Santo, principal agente de evangelização


Hoje vamos continuar e concluir as nossas reflexões sobre a constituição Dei Verbum, ou seja, sobre a Palavra de Deus. Na última vez falei da “lectio divina”, ou seja, da leitura pessoal e edificante da Escritura. Seguindo o esquema delineado por São Tiago distinguimos três operações sucessivas: acolher a Palavra, meditar a Palavra, colocar em prática a Palavra.

Falta uma quarta operação a ser feita, sobre a qual queremos refletir hoje: anunciar a Palavra. A Dei Verbum fala brevemente do lugar privilegiado que a Palavra de Deus deve ter na pregação da Igreja (DV, nr. 24), mas não trata diretamente do anúncio, também porque sobre este argumento o Concílio dedica um documento a parte, a Ad gentes divinitus, sobre a atividade missinária da Igreja.

Depois deste texto conciliar, o discurso foi retomado e atualizado pelo Beato Paulo VI com a Evangelii nuntiandi, por São João Paulo II com a Redemptoris missio, e pelo Papa Francisco com a Evangelii gaudium. Do ponto de vista doutrinário e operacional, portanto, tudo foi dito, e ao mais alto nível do magistério. Seria insensato da minha parte achar que eu poderia acrescentar algo. O que é possível fazer, de acordo com a linha destas meditações, é destacar algum aspecto mais diretamente espiritual do problema. Para fazê-lo, começo com a frase, muitas vezes repetida, do Beato Paulo VI: “o Espírito Santo é o principal agente da evangelização[1]”.

O meio e a mensagem

Se eu quero espalhar uma notícia, o primeiro problema que se coloca é: com qual meio transmiti-la: através do jornal? através do rádio? através da televisão? O meio é tão importante que a ciência moderna das comunicações sociais cunhou o slogan: “O meio é a mensagem” ( “The medium is the message[2]”). Ora, qual é o meio primordial e natural com o qual se transmite uma palavra? É o sopro, a respiração, a voz que toma, por assim dizer, a palavra que se formou no segredo da minha mente e a leva ao ouvido do interlocutor. Todos os outros meios apenas potenciam e amplificam este meio primordial do sopro ou da voz. Também a escritura vem depois e supõe a viva-voz, uma vez que as letras do alfabeto só são sinais que indicam sons.

Também a Palavra de Deus segue esta lei. Ela é transmitida por meio de um sopro. E qual é, ou quem é, o sopro, ou ruah, de Deus, segundo a Bíblia? Nós sabemos: é o Espírito Santo! O meu sopro pode animar a palavra de um outro, ou o sopro de outro animar a minha palavra? Não. A minha palavra só pode ser pronunciada com o meu sopro e a palavra de outro com o seu sopro. Assim, de forma análoga, claro, a Palavra de Deus só pode ser animada pelo sopro de Deus que é o Espírito Santo.

Esta é uma verdade muito simples e quase óbvia, mas de imenso alcance. É a lei fundamental de todo anúncio e de toda evangelização. As notícias humanas se transmitem ou com viva-voz ou via rádio, jornal, internet, e assim por diante; a notícia divina, em quanto divina, é transmitida através do Espírito Santo. O Espírito Santo é o verdadeiro, essencial, meio de comunicação, sem o qual nada se percebe da mensagem, a não ser o revestimento humano. As palavras de Deus são “Espírito e vida” (cf. Jo 6, 63), e, portanto, só podem ser transmitidas ou acolhidas “no Espírito”.

Esta lei fundamental é a que vemos em ato, concretamente, na história da salvação. Jesus começou a pregar “com o poder do Espírito Santo (Lucas 4,14 ss) Ele próprio declarou: “O Espírito do Senhor está sobre mim… ele me consagrou com a unção, para levar aos pobres uma feliz mensagem”. (Lc 4, 18) Aparecendo aos apóstolos no Cenáculo na tarde de Páscoa, ele disse:” Como o Pai me enviou, também Eu vos envio. Dito isto, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo “(Jo 20, 21-22). Ao dar aos apóstolos o mandato de ir a todo o mundo, Jesus lhes deu também o meio para realiza-lo – o Espírito Santo – e deu-o, de forma significativa, no sinal do sopro, da respiração.

De acordo com Marcos e Mateus, a última palavra que Jesus disse aos apóstolos antes de subir ao céu foi “Ide!”: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15; Mt 28, 19) . De acordo com Lucas, o comando final de Jesus parece ser o oposto: Fiquem! Permaneçam!: “Permaneçam na cidade até serdes revestidos com o poder do alto” (Lc 24, 49). Claro, não há contradição; o sentido é: ide por todo o mundo, mas não antes de ter recebido o Espírito Santo.

Toda a história de Pentecostes serve para destacar essa verdade. Vem o Espírito Santo e eis que Pedro e os outros apóstolos, em voz alta, começam a falar de Cristo crucificado e ressuscitdo e a sua palavra tem uma tal unção e potência que três mil pessoas sentem o coração transpassado. O Espírito Santo, descido sobre os apóstolos, se transformar neles em um irresistível impulso a evangelizar.

São Paulo vem afirmar que sem o Espírito Santo é impossível proclamar que “Jesus é o Senhor!” (1 Cor 12, 3), que é o começo e a síntese de todo anúncio cristão. São Pedro, por sua vez, define os apóstolos “aqueles que anunciaram o Evangelho no Espírito Santo” (1 Pd 1, 12). Indica com a palavra “Evangelho” o conteúdo e com a expressão “no Espírito Santo” o meio, ou o método, do anúncio. 

Não se pode dar unção dos enfermos a quem planeja um suicídio assistido, diz Arcebispo


Ante a possível legalização da eutanásia no Canadá, o Arcebispo de Ottawa, Dom Terrence Prendergast, indicou que a pessoa que pede o suicídio assistido não tem direito de receber a unção dos enfermos, pois está “rechaçando a esperança que supõe e que este sacramento tenta contribuir”. 

Este sacramento é concedido às pessoas idosas ou aos doentes em estado grave. Uma das graças concedidas é o perdão dos pecados. “Mas, não podemos ser previamente perdoados por algo que vamos fazer, como por exemplo realizar um suicídio assistido, o qual é um pecado grave”, comentou Dom Prendergast a ‘Canadian Catholic News.

Em fevereiro do ano passado, a Suprema Corte do Canadá aprovou por unanimidade que os médicos podem ajudar a acabar com a vida daqueles pacientes que sofrem de doenças severas ou incuráveis. Anteriormente, a lei penalizava o suicídio assistido com até 14 anos de prisão.

No dia 25 de fevereiro, o governo publicou um relatório final no qual indicava que todas as instituições públicas de saúde deviam praticar a eutanásia e o suicídio assistido. Esta resolução também afeta os centros e hospitais católicos.

Este relatório não protege os médicos que por motivos morais e religiosos rechacem aplicar o suicídio assistido. Esperam que o Parlamento tenha uma resposta em junho de 2016. 

As Dores de Nossa Senhora


Duas vezes no ano lembra-se a Igreja das Dores de Maria Santíssima: na Sexta-feira que antecede ao domingo de Ramos, e no dia 15 de setembro. Já antes dessas solenidades vinha o povo cristão consagrando terna lembrança às Dores da Mãe de Deus. No século XIII a tendência geral fixa-se na celebração das Sete Dores. A Ordem dos Servitas, principalmente, fundada em 1240, muito contribuiu para propagar essa devoção. Pois seus membros deviam santificar a si e aos outros pela meditação das Dores de Maria e de Seu Filho. Pelos fins do século XV era quase geral no povo cristão o culto compassivo das dores de Maria. Os poetas de vários países consagraram-lhe inúmeras poesias. O hino Stabat Mater dolorosa tem por autor o franciscano Jacopone da Todi (1306). A festa foi primeiramente introduzida pelo Sínodo de Colônia em 1423, sob o título de Comemoração das Angústias e Dores da Bem-aventurada Virgem Maria, para expiação das injúrias cometidas pelos Hussitas contra as imagens sagradas. Propagou-se rapidamente, tomando o nome de festa de Nossa Senhora da Piedade. Em 1725 introduziu-a o papa Bento XII no Estado Pontifício, e em 1727 estendeu-a para a Igreja universal. Mas, porque perdia um pouco de seu valor, por estar na quaresma, Pio VII, em 1804, mandou que fosse celebrada também no terceiro domingo de setembro. Com a reforma do Breviário, por Pio X, veio a festa a ter uma data fixa no dia 15 de setembro

(Nota do tradutor). 

I. MARIA FOI A RAINHA DOS MÁRTIRES POR CAUSA DA DURAÇÃO E INTENSIDADE DE SUAS DORES

Quem poderia ouvir sem comoção a história mais triste que jamais houve no mundo? Uma nobre e santa senhora tinha um único filho, o mais amável que se possa imaginar. Era inocente, virtuoso e belo. Ternamente retribuía o amor de sua mãe. Nunca lhe havia dado o mínimo desgosto, mas sempre lhe havia testemunhado todo respeito, toda obediência, todo afeto. Nele, por isso, a mãe tinha posto todo o seu amor, aqui na terra. Ora, que aconteceu? Pela inveja de seus inimigos, foi esse filho acusado injustamente. O juiz reconheceu, é verdade, a inocência do acusado e proclamou-a publicamente. Mas, para não desgostar os acusadores, condenou-o a uma morte infame, como lhe haviam pedido. E a pobre mãe, para sua maior pena, teve de ver como aquele tão amante e amado filho lhe era barbaramente arrancado: na flor dos anos. Fizeram-no morrer diante de seus olhos maternos, à força de torturas e esvaído em sangue num patíbulo infamante. Que dizeis, piedoso leitor? Não vos excita à compaixão a história dessa aflita mãe? 

Já sabeis de quem estou falando? Esse Filho, tão cruelmente suplicado, foi Jesus, nosso amoroso Redentor. E essa Mãe foi a bem-aventurada Virgem Maria, que por nosso amor se resignou a vê-lO sacrificado à justiça divina pela crueldade dos homens. Portanto é digna de nossa piedade e gratidão essa dor imensa que Maria sofre por nosso amor. Mais Lhe custou sofrê-la, do que suportar mil mortes. E se não podemos corresponder dignamente a tanto amor, demoremo-nos hoje, ao menos por algum tempo, na consideração de Suas acerbíssimas dores. Digo, por isso: Maria é Rainha dos mártires, porque as dores de Seu martírio excederam às dos mártires 1º em duração; 2º em intensidade. 

PONTO PRIMEIRO
Duração do martírio de Maria

1. Maria é realmente uma mártir 

Jesus é chamado Rei das dores e Rei dos mártires, porque em Sua vida mortal padeceu mais que todos os outros mártires. Assim também é Maria chamada com razão Rainha dos Mártires, visto ter suportado o maior martírio que se possa padecer depois das dores de Seu Filho. Mártir dos mártires é por isso o nome que lhe dá Ricardo de S. Lourenço. E bem lhe pode aplicar o texto do profeta Isaías: Ele te há de coroar com uma coroa de  amargura (22, 18). A coroa, com a qual foi constituída Rainha dos mártires, foi justamente Sua dor tão acerba, que excedeu à de todos os mártires reunidos. É fora de dúvida o real martírio de Maria, como assaz o provam Dionísio Cartuxo, Pelbarto, Catarino e outros. Pois, conforme uma sentença incontestada, para ser mártir é suficiente sofrer uma dor capaz de dar a morte, ainda que em realidade se não venha a morrer. S. João Evangelista é reverenciado como mártir, não tenha embora morrido na caldeira de azeite fervendo, senão haja saído dela mais robustecido, como diz o Breviário. Para a glória do martírio, segundo Tomás, basta que uma pessoa leve a obediência ao ponto de oferecer-se à morte. Maria, no sentir do Abade Oger, foi mártir não pelas mãos dos algozes, mas sim pela acerba dor de Sua alma. Se não lhe foi o corpo dilacerado pelos golpes do algoz, foi Seu bendito coração transpassado pela Paixão de Seu Filho. E essa dor foi suficiente para dar-Lhe não uma, porém mil mortes. 

Vemos por aí que Maria não só foi verdadeiramente mártir, mas que Seu martírio excedeu a todos os outros por sua duração. Pois que foi Sua vida, senão um longo e lento martírio? 

2. Duração do martírio de Maria 

Assim como a Paixão de Jesus começou com Seu nascimento, diz S. Bernardo, também assim sofreu Maria o martírio durante toda a Sua vida por ser em tudo semelhante ao Filho. Como observa S. Alberto Magno, o nome de Maria significa, entre outras coisas, amargura do mar. 

Aplica-lhe o Santo por isso o texto de Jeremias: Grande como o mar é a minha dor (Jr 2, 13). Com efeito, e o mar amargo e salgado. Assim foi também toda a vida de Maria sempre cheia de amarguras, porque não Lhe desaparecia do espírito a lembrança, da Paixão do Redentor. Mais iluminada pelo Espírito Santo que todos os profetas, compreendia melhor do que eles as predições a respeito do Messias, registradas na Escritura. Está isso acima de toda e qualquer dúvida. Assim instruiu um anjo a S. Brígida, e ainda ajuntou que Nossa Senhora sentia terna compaixão com o inocente Salvador, mesmo antes de Lhe ser Mãe. E tudo por causa do conhecimento que possuía sobre as dores a serem suportadas pelo Verbo Divino, para a salvação dos homens, e sobre a cruel morte que O aguardava em vista de nossos pecados. Já então começou, portanto o padecimento de Maria.

Mas sem medida tornou-se essa dor, desde o dia em que a Virgem ficou sendo Mãe de Jesus. Sofreu daí em diante um perene martírio, observa Roberto de Deutz, tendo em vista as dores que esperavam por Seu Filho. E também o que significa a visão de S. Brígida, em Roma, na igreja de S. Maria. Aí lhe apareceu a Santíssima Virgem em companhia de S. Simeão, e de um anjo que trazia uma longa espada a gotejar sangue.

Essa espada era um emblema da mui longa e acerba dor que dilacerou o coração de Maria, durante toda a sua vida. O supra-citado abade põe nos lábios de Maria as seguintes palavras:
Almas remidas, filhas diletas, não vos deveis compadecer de mim,  só por aquela hora em que assisti à morte de meu amado Jesus. Pois a espada, prenunciada por Simeão transpassou minha alma em todos os dias de minha vida. Quando eu aleitava Meu Filho, o aconchegava ao colo, já contemplava a morte cruel que Lhe estava reservada. Considerai por isso que áspera e intensa dor eu devia sofrer! 

Maria, pois, teve razão para dizer com Davi: A minha vida se consome na dor e os meus anos em gemidos (SI 30, 11). A minha dor está sempre ante os meus olhos (SI 37, 18).

Passei toda a Minha vida entre dores e lágrimas, porque a minha dor, que era a compaixão com Meu Filho, nunca se apartava dos Meus olhos. Eu estava sempre contemplando todos os Seus tormentos e a morte que Ele um dia havia de sofrer.

Revelou a Divina Mãe a S. Brígida que, mesmo depois da morte e da ascensão de Seu Filho ao céu, continuava viva e recente em Seu materno coração, a lembrança dos sofrimentos dEle. Acompanhava-A até nos trabalhos e nas refeições. Vulgato Taulero escreve, por isso, que a Virgem passou toda a Sua vida em perpétua dor, carregando no coração luto e pesar. 

3. O tempo não mitigou os sofrimentos de Maria 

O tempo, que costuma mitigar a dor dos aflitos, não pôde aliviá-la em Maria. Aumentava-Lhe, pelo contrário, a aflição. Crescendo, ia Jesus mostrando cada vez mais a Sua beleza e amabilidade. Mas de outro lado ia também se avizinhando da morte.

Com isso cada vez mais a dor por haver de perdê-lO apertava também o coração da Mãe. Tal como a rosa que cresce por entre espinhos, crescia a Mãe de Deus em anos no maior dos sofrimentos. E como crescem os espinhos à medida que a rosa desabrocha, cresceram também em Maria - rosa mística do Senhor - os penetrantes espinhos das aflições. Passemos agora à consideração da intensidade das dores de Nossa Senhora. 

Arcebispo de Barcelona e confissões religiosas rechaçam o “Pai Nosso blasfemo” recitado na Espanha


O Arcebispo de Barcelona, Dom Juan José Omella, publicou recentemente uma carta no jornal ‘La Vanguardia’ – o mais vendido na Catalunha –, na qual rechaçou o Pai Nosso blasfemo que a poetisa Dolors Miquel leu ao receber o prêmio da Cidade Condal.

“Eu gostaria de romper o silêncio que mantive durante estes dias, para não alimentar uma controvérsia política que, indiretamente, tornasse maior a ferida que produziu em milhares de cidadãos de Barcelona o fato de que se programasse em um ato público, organizado pelo consistório, a leitura de um poema que parafraseia a prece central dos católicos”, assegurou o Arcebispo de Barcelona.

Dom Omella afirmou que “o Pai Nosso é a prece dos simples, daqueles que entregam o seu coração e confiam no Pai no Céu. É a prece dos limpos de coração, dos que procuram a justiça, dos que aceitam as próprias limitações e depositam suas esperanças com uma dependência amorosa no Deus que nos ama”.

Recordou que, “ante os fatos ocorridos nestes dias, já manifestei que ‘às vezes a melhor resposta é calar’, o mesmo silêncio que Jesus manifestou diante do Sinédrio. Responder a provocação com o silêncio é uma forma de tomar distância diante do despropósito”.

“Tomada esta distância, devemos recordar que o respeito pela liberdade de expressão e criação é um valor incontrovertível em nossa sociedade, reconhecido no artigo 20 da Constituição”, assegurou o Arcebispo.

“Mas, ética e moralmente pode ser questionável o fato de que uma obra artística que é ofensiva para um grupo de pessoas seja incluída no programa de um ato oficial organizado por um Consistório que representa o mundo inteiro”, precisou.

Nesse sentido, recordou que a defesa da liberdade de expressão “tem que ser compatível com o respeito pela fé religiosa das pessoas” e destacou que “agora mais do que nunca, a liberdade religiosa é um aspecto fundamental que pulsa o grau de civilização de nossas sociedades plurais. A Igreja não é nem quer ser um agente político, mas tem um profundo interesse pelo bem da comunidade política, cuja alma é a justiça”.

“A Igreja continua oferecendo à sociedade, com generosidade e perseverança, o compromisso pelo bem comum que, quando está inspirado no testemunho da caridade, tem um valor superior ao compromisso meramente secular e político”, insistiu e pediu que os políticos “preservem a liberdade religiosa como algo que pertence a todos e que corresponde a todos preservá-la”. 

O mistério da nossa vida nova


O bem-aventurado Jó, como figura da santa Igreja, ora fala em nome do corpo, ora em nome da cabeça. Mas, às vezes, ocorre que, quando fala dos membros, toma subitamente as palavras da cabeça. Eis por que diz: Sofri tudo isso, embora não haja violência em minhas mãos e minha oração seja pura(Jó 16,17).

Sem haver violência alguma em suas mãos, teve também que sofrer aquele que não cometeu pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; no entanto, pela nossa salvação, suportou o tormento da cruz. Foi ele o único que elevou a Deus uma oração pura, pois mesmo em meio aos sofrimentos da paixão orou por seus perseguidores, dizendo: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34).

Quem poderá dizer ou pensar uma oração mais pura do que esta em que se pede misericórdia por aqueles mesmos que infligem a dor? Por isso, o sangue de nosso Redentor, derramado pela crueldade dos perseguidores,se transformou depois em bebida de salvação para os que nele acreditariam e o proclamariam Filho de Deus.

Acerca deste sangue, continua com razão o texto sagrado: Ó terra, não cubras o meu sangue, nem sufoques o meu clamor (Jó 16,18). E ao homem pecador foi dito: És pó e ao pó hás de voltar (Gn 3,19).

A terra, de fato, não ocultou o sangue de nosso Redentor, pois qualquer pecador, ao beber o preço de sua redenção, o proclama e louva e, como pode, o manifesta aos outros.

A terra não cobriu também o seu sangue porque a santa Igreja já anunciou em todas as partes do mundo o mistério de sua redenção.

Notemos no que se diz a seguir: Nem sufoques meu clamor. O próprio sangue da redenção, por nós bebido, é o clamor de nosso Redentor. Por isso diz também Paulo: Vós vos aproximastes da aspersão do sangue mais eloquente que o de Abel (Hb 12,24). E do sangue de Abel fora dito: A voz do sangue de teu irmão está clamando da terra por mim (Gn 4,10).

O sangue de Jesus é mais eloquente que o de Abel, porque o sangue de Abel pedia a morte do irmão fratricida, ao passo que o sangue do Senhor obteve a vida para seus perseguidores.
Assim, para que não nos seja inútil o sacramento da paixão do Senhor, devemos imitar aquilo que recebemos e anunciar aos outros o que veneramos.

O clamor de Cristo fica sufocado em nós, se a língua não proclama aquilo em que o coração acredita. Para que esse clamor não seja sufocado em nós, é preciso que, na medida de suas possibilidades, cada um manifeste aos outros o mistério de sua vida nova.


Dos Comentários sobre o livro de Jó, de São Gregório Magno, papa

(Lib. 13,21-23: PL75,1028-1029)            (Séc.VI)

A Paixão de Jesus Cristo


«Oh! se conhecesses o mistério da cruz!, disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. «Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna...».

Quanto agrada a Jesus Cristo que nós nos lembremos continuamente de sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, muito bem se deduz de haver ele instituído o Santíssimo Sacramento do altar com o fito de conservar sempre viva em nós a memória do amor que nos patenteou, sacrificando-se na cruz por nossa salvação. Já sabemos que na noite anterior à sua morte ele instituiu este sacramento de amor e depois de ter dado seu corpo aos discípulos, disse-lhes – e na pessoa deles a nós todos – que ao receberem a santa comunhão se recordassem do quanto ele por nós padeceu: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beber de deste cálice, anunciareis a morte do Senhor” (1 Cor 11, 26). Por isso a santa Igreja, na missa, depois da consagração, ordena ao celebrante que diga em nome de Jesus Cristo: “Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim”. E São Tomás escreve: “Para que permanecesse sempre viva entre nós a memória de tão grande benefício, deixou seu corpo para ser tomado como alimento” (Op. 57). E continua o santo a dizer que por meio de um tal sacramento se conserva a memória do amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão.

Se alguém padecesse por seu amigo injúrias e ferimentos e soubesse que o amigo, quando se falava sobre tal acontecimento nem sequer nisso queria pensar e até costumava dizer: falemos de outra coisa – que dor não sentiria vendo o desconhecimento de um tal ingrato? Ao contrário, quanto se consolaria se soubesse que o amigo reconhece dever-lhe uma eterna obrigação e que disso sempre se recorda e se lhe refere sempre com ternura e lágrimas? Por isso é que todos os santos, sabendo a satisfação que causa a Jesus Cristo quem se recorda continuamente de sua paixão, estão quase sempre ocupados em meditar as dores e os desprezos que sofreu o amantíssimo Redentor em toda a sua vida e particularmente na sua morte. Santo Agostinho escreve que as almas não podem se ocupar com coisa mais salutar que meditar cotidianamente na paixão do Senhor. Deus revelou a um santo anacoreta que não há exercício mais próprio para inflamar os corações com o amor divino do que o meditar na morte de Jesus Cristo. E a Santa Gertrudes foi revelado, segundo Blósio, que todo aquele que contempla com devoção o crucifixo é tantas vezes olhado amorosamente por Jesus quantas ele o contempla. Ajunta Blósio que o meditar ou ler qualquer coisa sobre a paixão traz-nos maior bem que qualquer outro exercício de piedade. Por isso escreve São Boaventura: “A paixão amável que diviniza quem a medita” (Stim. div. amor, p. 1. c. 1). E falando das chagas do crucifixo, diz que são chagas que ferem os mais duros corações e inflamam no amor divino as almas mais geladas.