terça-feira, 28 de junho de 2016

Se quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo


Esta é a nossa glória: o testemunho da nossa consciência. Há homens que julgam temerariamente, que são detratores, maldizentes, murmuradores, que levantam suspeitas sobre o que não veem, que se atrevem até a apregoar o que nem sequer suspeitam. Contra esses, que nos resta senão o testemunho da nossa consciência? De facto, irmãos, nós, pastores de almas, nem sequer entre aqueles a quem queremos agradar procuramos ou devemos procurar a nossa glória, mas antes a sua salvação, de modo que, andando nós por bom caminho, eles não errem se nos seguirem. Sejam nossos imitadores, se nós o somos de Cristo; se nós, porém, não somos imitadores de Cristo, seja Cristo o seu guia. É Ele que apascenta o seu rebanho e, com todos os bons pastores das suas ovelhas, é Ele o único pastor, porque todos estão n’Ele.

Não procuremos, portanto, a nossa utilidade quando queremos agradar aos homens; procuremos antes a sua felicidade, alegremo-nos por lhes agradar o que é bom, para sua utilidade e não para nossa glória. É para esses que diz o Apóstolo: Se eu quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. E é também por causa desses que acrescenta: Agradai a todos em todas as coisas, assim como eu agrado a todos em todas as coisas. Ambas as afirmações são claras, límpidas, transparentes. Tu, come e bebe tranquilamente; mas não pises nem turves o que estás a comer ou a beber.

Ouviste aquelas palavras do Senhor Jesus Cristo, Mestre dos Apóstolos: Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no Céu, isto é, Aquele que vos fez assim. Nós somos o seu povo, ovelhas do seu rebanho. Ele é que deve ser louvado pela bondade que criou em ti, se de facto és bom; e não tu que, por ti só, não poderias ser senão mau. Porque tentas contradizer a verdade, querendo ser louvado quando fazes o bem e responsabilizando o Senhor quando praticas o mal?

O mesmo que disse: Brilhe a vossa luz diante dos homens, disse também na mesma ocasião: Não procureis ser justificados diante dos homens. E assim como estas palavras te pareciam contraditórias na boca do Apóstolo, o mesmo sucede no Evangelho. Mas se não turvas a água límpida do teu coração, também aqui reconhecerás a harmonia das Escrituras e estarás também tu em harmonia com elas.

Procuremos, portanto, irmãos, não só viver retamente, mas também atuar com retidão diante dos homens; esforcemo-nos não só por ter uma boa consciência, mas também, quanto pode a nossa fraqueza e o permite a fragilidade humana, procuremos não fazer nada que cause má suspeita a um irmão mais débil na fé, para que não aconteça que, alimentando-nos de ervas puras e bebendo água pura, pisemos os alimentos de Deus, de modo que as ovelhas mais débeis tenham de comer o que foi pisado e beber o que foi turvado.     



Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 47, 12-14, De ovibus: CCL 41, 582-584) (Sec. V)

Amai os vossos inimigos


No Ano da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco para 2016, somos convidados a rever nossos comportamentos. “Misericordes sicut Pater” (Misericordiosos como o Pai): eis o lema que nos deve impulsionar no dia a dia do corrente calendário. Sem dúvida, entre todos os preceitos que o Senhor nos deu, seja andando pelas estradas da Galileia, seja pelas veredas da Judeia, o mais forte, belo e exigente é: “Amai os vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem” (Mt 5,43). Aqui se encontra o ápice da misericórdia. Trata-se do diferencial do cristianismo sobre a religião judaica que ensinava a lei de Talião: “olho por olho, dente por dente; amai os vossos amigos e odiai os vossos inimigos”. O mandato de Cristo constitui também o diferencial entre as demais religiões que têm preceitos bons, mas não chegam a contemplar tal perfeição na prática do amor ao próximo. O Senhor Jesus nos ensina algo novo, melhor e mais perfeito, pois amar os amigos nada apresenta de vantajoso, uma vez que até os pagãos e os maiores pecadores assim agem. Jesus quer mais. “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). 

A procura da perfeição é inata no coração do homem. Prova-o o interesse incontido de progresso nas ciências, nos meios de comunicação, nas regras jurídicas, nas artes, na culinária e tudo mais que compõe nossa vida. Sabemos que atingir a perfeição pode nos parecer, em muitos casos, aspiração distante, mas se abandonarmos este princípio natural que o Criador colocou em nossa existência, nunca sairemos do lugar, estaremos como que engessados e morreremos em nosso comodismo ou em nossos erros. Seria terrível! O apelo de Cristo à perfeição é propulsor em direção ao mais perfeito dos amores: “Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos perseguem”. Seu mandamento central é, afinal, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34). Já havia ele respondido a Pedro: é preciso perdoar setenta vezes sete, ou seja, sempre e nunca deixar de perdoar (cf Mt 18, 21). Havendo arrependimento sincero, nunca se deve deixar de conceder o perdão. No alto de seus tormentos na cruz, ele terá forças para olhar os céus e rezar: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Talvez tenha sido inédita esta cena até o momento que Cristo aparece no palco da história da humanidade: a capacidade de superação de todos os tormentos para permanecer no amor e na misericórdia. O que o Mestre de Nazaré pede é que sejamos misericordiosos como o Pai que “faz o sol nascer para os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos” (Mt 5, 45).

Misericórdia, diz Papa Francisco, é o nome de Deus. Ela nos faz humildes para reconhecer nossos erros e nobres para pedir desculpas. Faz-nos grandiosos para perdoar os que sinceramente se convertem de seus erros. Faz-nos corajosos para corrigir atitudes contrárias ao amor ao próximo, à comunidade e ao Povo de Deus, sem conservar rancor, nem conceber sentimentos de vingança contra o pecador. A misericórdia é capaz de dizer ao ladrão arrependido: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. 

Contudo, a misericórdia perde sua força, se torna inconclusa diante das agressões, ofensas e orgulho do ladrão que não quer ver seus erros e de nada se arrepende. De fato, para este último, Cristo na cruz da salvação nada pôde dizer.  

Santo Irineu de Lyon

 
Padre da Igreja, grego de nascimento, filho de pais cristãos, nasceu na ilha de Esmirna no ano 130. Foi discípulo de Policarpo, que tinha sido discípulo de João Evangelista, o que torna muito importante os seus testemunhos doutrinais. Muito culto e letrado em várias línguas, Irineu foi ordenado por Policarpo, que o enviou para a França, onde havia uma grande população de fiéis cristãos procedentes do Oriente. Ocupou-se da evangelização e combateu principalmente a heresia dos gnósticos, além das outras que proliferavam nesses primeiros tempos. Obteve êxito na questão da comemoração da festa da Páscoa, unindo a Igreja do Ocidente e do Oriente numa mesma data de comemoração da ressurreição. A sua obra escrita mais importante foi o tratado "Contra as Heresias", não só pelo lado teológico, onde expôs já pronta a teoria sobre a autoridade doutrinal da Igreja, mas ainda do lado histórico, pois documentou e nos apresentou um quadro vivo das batalhas e lutas de sua época. Uma perseguição decretada pelo imperador Marco Aurélio atingiu a cidade de Lião, ocasionando o grande massacre dos cristãos, todos mortos pelo testemunho da fé. Irineu morreu como mártir, no dia 28 de junho de 202. 

Deus, nosso Pai, vós concedestes ao bispo Santo Irineu firmar a verdadeira doutrina e a paz da Igreja; pela intercessão de vosso servo, renovai em nós a fé a caridade, para que nos apliquemos constantemente em alimentar a união e a concórdia. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Após polêmica em pregação, padre Fábio de Melo pede desculpa na web



Após o vídeo de um sermão em uma celebração na Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), viralizar na web e deixar o padre Fábio de Melo no centro de uma polêmica sobre violência, o religioso pediu desculpa nesta segunda-feira (27) pelas palavras usadas pregação. Depois de afirmar em 2007 que o 'agressor só se torna agressor porque a vítima o autoriza', ele disse ter sido infeliz na linguagem e afirmou que não pretendeu dizer que a vítima é culpada.

No sermão, em que o tema era "amor próprio", o religioso que mora em Taubaté e é celebridade nas redes sociais, defendeu que no caso da agressão contra as mulheres são elas as responsáveis pela forma como são tratadas pelos seus companheiros.

"As mulheres que são agredidas fisicamente por seus maridos, no dia em que ela recebe a primeira agressão é ela que vai determinar para ele se ele vai ter o direito de agredí-la pela vida inteira ou não, é o jeito como ela olha para ele, não é nenhuma palavra, não é nenhum grito que vai dizer não me bata, mas é o seu jeito de ser mulher", disse na época.

Os internautas consideraram a pregação machista e reagiram debatendo com ele a questão da violência doméstica. "O silêncio da vítima às vezes é a sobrevivência dela", rebateu uma internauta.

O pintor da Virgem do Perpétuo Socorro


O autor do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, exposto à visitação dos fiéis na igreja de Santo Afonso de Ligório, em Roma, permanece desconhecido até nossos dias. Segundo a tradição da Igreja, no entanto, o artista que pintou a imagem da Virgem do Perpétuo Socorro inspirou-se em um ícone atribuído a São Lucas. Além de médico, homem culto e letrado, o Evangelista foi provavelmente um dos primeiros iconógrafos da história da Igreja. Segundo antiga tradição, São Lucas teria pintado ícones de Jesus Cristo, da Virgem Maria, de São Pedro e São Paulo. Há pinturas atribuídas a ele que existem até hoje, como é o caso dos ícones da "Theotokos de Vladimir" e de "Nossa Senhora de Czenstochowa".

A veneração dos ícones sagrados esteve presente na Igreja desde os primórdios do cristianismo. As imagens de Jesus Cristo, de Nossa Senhora, dos outros santos e dos anjos fazem parte da tradição bimilenar da Igreja Católica. No II Concílio de Niceia, em 787, o Magistério da Igreja "justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova 'economia' das imagens" [1].

No início do século XVI, surgiram entre os protestantes "novos iconoclastas" e, a exemplo do que aconteceu no passado, em nome da fidelidade às Sagradas Escrituras, nossas imagens sagradas foram quebradas e nossas igrejas terminaram invadidas, depredadas e queimadas. Este fato fez com que o culto às imagens sagradas fosse perdendo a sua força em muitas comunidades, ao passo que, com a tradução da Bíblia do latim para as mais diversas línguas, o culto às Escrituras ganhou cada vez mais força. Essa tendência se tornou ainda mais forte quando, por conta de um falso ecumenismo, passou-se a suprimir as imagens das igrejas e das casas.

À primeira vista, essa mudança na espiritualidade pode até parecer uma evolução. 

Dito fenômeno causou, entretanto, um grande problema. Como grande maioria das pessoas não conhecia a Revelação como um todo — Sagradas Escrituras e Tradição da Igreja —, nem a interpretação do Magistério da Igreja acerca do mistério de Deus revelado, isso fez com que crescessem equívocos e interpretações contraditórias. O resultado foi uma verdadeira perversão do sentido autêntico das Sagradas Escrituras, por parte de alguns, e a disseminação de heresias, por parte de outros.

O que deu errado na União Europeia? Primaz católico da Inglaterra: “Uma nova passagem da história, difícil para todos”.



No referendo de 23/06/2016 o Reino Unido decidiu se retirar da União Europeia (EU). Uma decisão histórica e que trará um futuro incerto para o Reino Unido, a EU e o mundo. De imediato o primeiro-ministro britânico, David Cameron, renunciou ao cargo.

O Primaz católico da Inglaterra e Gales, Cardeal Vincent Nichols, definiu o novo cenário político e econômico após o referendum de Brexit “Uma nova passagem da história, difícil para todos”.

“A Conferência Episcopal reza por quem está comprometido na difícil tarefa de respeitar a vontade popular, expressa nas urnas, trabalhos com respeito e civilidade, além das profundas diferenças de opiniões, e para que os mais vulneráveis sejam apoiados e protegidos sobretudo aqueles que são vítimas do tráfico humano e de pessoas sem escrúpulos que oferecem trabalhos”, disse em comunicado.

O Arcebispo de Westminster também recordou a “grande tradição democrática do Reino Unido de respeitar a vontade dos eleitores” e disse para rezar para que “as nossas nações construam sobre tradições melhores de generosidade e abertura aos estrangeiros e acolhida a quem tem necessidade de ajuda”.

O comunicado do Presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e Galles se conclui com uma oração, porque “devemos agora trabalhar duramente para demonstrar sermos bons vizinhos e saber contribuir com decisão aos esforços internacionais para enfrentar os problemas mais críticos de nosso mundo”.

Entenda o caso:

Concílio: Unidade ortodoxa serve para a unidade dos cristãos


O Santo e Grande Sínodo das Igrejas Ortodoxas realizado desde 19 de junho na Ilha de Creta, concluiu-se  este domingo (26) com a celebração da Sagrada Liturgia na Igreja de São Pedro e Paulo, em Chania. A mensagem divulgada ao final dos trabalhos reitera que a ortodoxia quer dialogar “com o mundo inteiro na história presente, com todas as suas potencialidades, riscos, ilusões, interrogações e respostas”.

Vontade de superar as dificuldades

A mensagem do Sínodo da Igreja Ortodoxa foi lida após o Evangelho e foi dirigida às populações ortodoxas e a todas as pessoas de boa vontade. O documento - aprovado no sábado pelos 230 bispos e hierarcas das 10 Igrejas ortodoxas autocéfalas participantes do encontro – sintetiza o significado do evento, percebido por todos os participantes como “histórico”.

Ainda no sábado, concluindo as sessões, o Patriarca Bartolomeu I havia sublinhado a alegria e a esperança que brotaram como primeiros frutos do Sínodo, não obstante todas as dificuldades e a dor pela ausência de quatro Igrejas autocéfalas - da Rússia, Geórgia, Bulgária e Antioquia – anunciada poucos dias antes do início do evento.

Na discussão dos seis documentos “nem tudo foi rosas e flores, mas houve a vontade de todos de superar as dificuldades com a iluminação do Espírito, que nos leva à concórdia, e esta é a maior contribuição que levamos à nossa Igreja e a toda a humanidade”. E completou: ‘Todos juntos escrevemos uma nova página da história e glorificamos a Deus por isto’”.

Ele é o Senhor nosso Deus e nós o povo do seu rebanho


Com as palavras que cantamos, professamos que somos o povo de Deus: Ele é o Senhor nosso Deus, que nos criou. Ele é o nosso Deus, nós somos o seu povo, ovelhas do seu rebanho. Os pastores humanos têm ovelhas que não foram criadas por eles; apascentam um rebanho que não foi feito por eles. Ao contrário, o Senhor nosso Deus, porque é Deus e Criador, criou por si mesmo as ovelhas que tem e apascenta. Não foi outro que criou as que Ele apascenta, nem é outro que apascenta as que Ele criou.

Se professamos neste cântico que somos suas ovelhas, seu povo, ovelhas do seu rebanho, ouçamos o que diz às suas ovelhas. Anteriormente falava aos pastores; agora fala às ovelhas. Naquelas palavras, nós escutávamos com temor e vós com tranquilidade. Como será nestas palavras de hoje? Inverter-se-á a situação, escutando nós com tranquilidade e vós com temor? Não, por certo. Em primeiro lugar, porque, embora sejamos pastores, o pastor não só escuta com temor o que é dito aos pastores, mas também o que é dito às ovelhas. Se escuta tranquilamente o que é dito às ovelhas, é porque não se preocupa com as ovelhas. Em segundo lugar, como já explicámos à vossa Caridade, há duas realidades a considerar em nós: somos cristãos e somos chefes. Pelo facto de sermos chefes, somos contados entre os pastores, se formos bons; pelo facto de sermos cristãos, somos ovelhas como vós. Portanto, quer fale o Senhor aos pastores quer fale às ovelhas, temos de ouvir sempre com temor para que não esmoreça a solicitude em nossos corações.

Ouçamos, portanto, irmãos, a razão pela qual o Senhor repreende as ovelhas más e o que promete às suas ovelhas. E vós, diz Ele, sois as minhas ovelhas. Em primeiro lugar, se consideramos, irmãos, como é grande a felicidade de ser o rebanho de Deus, experimentaremos certamente uma grande alegria, mesmo no meio das lágrimas e tribulações desta vida. Na verdade, d’Aquele mesmo de quem se diz: Pastor de Israel, diz-se também: Não dormirá nem adormecerá Aquele que guarda Israel. Portanto, Ele vela por nós quando velamos e vela por nós quando dormimos. Por isso, se o rebanho dos homens se sente seguro sob a vigilância de um pastor humano, quanto maior não há-de ser a nossa segurança, tendo a Deus por pastor? E não somente porque Ele nos apascenta, mas também porque foi Ele que nos criou.

A vós, que sois minhas ovelhas, isto diz o Senhor Deus: Eu mesmo julgarei entre ovelha e ovelha e entre carneiros e cabritos. Que fazem aqui os cabritos no rebanho de Deus? Nas mesmas pastagens, nas mesmas fontes, andam misturados os cabritos, destinados à esquerda, com as ovelhas, destinadas à direita; por enquanto, são tolerados, mas um dia serão separados. E nisto se exercita a paciência dos homens à semelhança da paciência de Deus. É Ele quem há de separar no último dia uns para a esquerda e outros para a direita.     


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Serm. 47, 1.2.3.6, De ovibus: CCL 41, 572-573.575-576) (Sec. V)