segunda-feira, 27 de junho de 2016

O que deu errado na União Europeia? Primaz católico da Inglaterra: “Uma nova passagem da história, difícil para todos”.



No referendo de 23/06/2016 o Reino Unido decidiu se retirar da União Europeia (EU). Uma decisão histórica e que trará um futuro incerto para o Reino Unido, a EU e o mundo. De imediato o primeiro-ministro britânico, David Cameron, renunciou ao cargo.

O Primaz católico da Inglaterra e Gales, Cardeal Vincent Nichols, definiu o novo cenário político e econômico após o referendum de Brexit “Uma nova passagem da história, difícil para todos”.

“A Conferência Episcopal reza por quem está comprometido na difícil tarefa de respeitar a vontade popular, expressa nas urnas, trabalhos com respeito e civilidade, além das profundas diferenças de opiniões, e para que os mais vulneráveis sejam apoiados e protegidos sobretudo aqueles que são vítimas do tráfico humano e de pessoas sem escrúpulos que oferecem trabalhos”, disse em comunicado.

O Arcebispo de Westminster também recordou a “grande tradição democrática do Reino Unido de respeitar a vontade dos eleitores” e disse para rezar para que “as nossas nações construam sobre tradições melhores de generosidade e abertura aos estrangeiros e acolhida a quem tem necessidade de ajuda”.

O comunicado do Presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e Galles se conclui com uma oração, porque “devemos agora trabalhar duramente para demonstrar sermos bons vizinhos e saber contribuir com decisão aos esforços internacionais para enfrentar os problemas mais críticos de nosso mundo”.

Entenda o caso:

Por que os ingleses quiseram sair da União Europeia?

Inicialmente, é necessário elogiar a atitude democrática de David Cameron que renunciou ao cargo de primeiro-ministro para evitar uma crise política. Essa atitude deveria ser seguida por governantes em países em crise, como o Brasil e a Venezuela. Na Venezuela, Nicolás Maduro deve renunciar e, com isso, abrir caminho para a superação da grave crise humanitária e política vivida pelo país.

Sobre o referendo de 23/06/2016, afirma-se que os ingleses não estão concordando com os atuais rumos da União Europeia que incluem, dentre outras coisas, forte centralização econômica, grande burocracia, desprezo pela cultura local e municipal, desvalorização das origens judaico-cristãs da Europa e fraqueza institucional.

Essa fraqueza pode ser vista, por exemplo, na pouca habilidade que a EU tem para lidar com o terrorismo. Ao contrário do que alguns analistas afirmaram, os ingleses não estão dando as costas para a Europa. Pelo contrário, estão criando um caminho alternativo para novamente fortalecer uma Europa enfraquecida moralmente, com uma população envelhecida e que não consegue, sequer, lutar contra o terrorismo.

O economista Nivaldo Cordeiro resumiu bem a decisão inglesa: “Os que querem a saída do bloco europeu não querem o isolamento econômico, querem a integração, mas sem a submissão política. Afinal, a consolidação da União Europeia significaria a renúncia à soberania e, portanto, do fundamento último da liberdade individual. Um império mundial será sempre uma ditadura e um corpo estranho para as nações e suas gentes”.

O que deu errado na União Europeia?

A União Europeia é criada em cima de duas grandes ideias:

1) Criar uma verdadeira zona de livre comércio, com fronteiras livres para produtos, trabalho e capital;

2) Criar um espaço de convivência pacífica entre os diversos povos, etnias e religiões que estão dentro do território europeu.

Com isso, acabar com séculos de guerras cruéis e, ao mesmo tempo, evitar a repetição de um genocídio de proporções mundiais, como foi o caso da Segunda Guerra Mundial.

Vale salientar que o mundo só encontrará paz se a Europa estiver em paz. Essas ideias foram perseguidas até a metade da década de 1990. A partir desse período histórico a EU muda de rumo. Passa a ser um gigantesco grupo burocrático, um super-Estado. A EU estava realizando, sem conquista militar, o sonho de ditadores como Hitler e Stalin. Sem contar que a EU vem ignorando a maioria da sua própria população, uma população de maioria cristã.

O que se tem visto nas ultimas décadas é a EU legislando em prol de uma minoria secular e ultrarradical. Com isso, a EU tem colocado em risco a ideia de democracia. A democracia não pode ser apenas – e somente isso – um governo voltado para minorias, para vanguardas culturais, é necessário que ela esteja também voltada para as maiorias, mesmo que essas maiorias desagradem às vanguardas cultuais.

Além disso, nas últimas décadas os problemas que, em tese, a EU deveria combater, pioraram. Problemas, como: desemprego, envelhecimento da população, drogas e terrorismo. A saída do Reino Unido é uma ótima porta que se abre para se repensar a estrutura e o futuro da União Europeia.
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Rádio Vaticano / ZENIT

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