João de Brito, o benjamim da família, órfão de pai desde a mais tenra infância, foi educado na corte do sábio rei de Portugal D. João IV. No meio da alegria folgazã dos pajens seus companheiros, nunca deixou de refletir na sua vida a bondosa imagem de um novo Estanislau: a sua modéstia, a sua piedade, a espontânea defesa da sua pureza angélica, tornaram-se alvo frequente de mofas e de outros tratamentos ainda piores, os quais, suportados com paciência inquebrantável, lhe deram ocasião para que o apelidassem, como presságio do seu fim heróico, «o mártir».
Não se julgue que fosse insensível ao que lhe feria o amor próprio; mas era de índole tão bondosa mesmo para com aqueles que não apreciavam a sua virtude, que à irrisão e ofensas dos companheiros correspondia sempre com um sorriso benévolo e suma afabilidade.
João, que desde o nascimento fora santificado pelo dom da graça divina, e depois saboreou como o Senhor é bom, passa pelo mundo como um raio de luz através das sombras da selva escura, cresce como lírio entre os espinhos, eleva-se para o céu e floresce, esquecendo tudo quanto o rodeia; estimulado pelos favores de Deus, alimenta em si uma adolescência vigorosa que, à imitação do Apóstolo, quando Aquele que o tinha destinado desde o seio materno quis chamá-lo para pregar o seu Filho entre os gentios, decididamente não consultou a carne e o sangue, e subtraiu-se à ternura materna, ao afeto do rei e à tranquilidade da sua terra natal.
Olhai para o jovem missionário, para o heroísmo da sua ação, que se dilata no meio dos povos infiéis: ação esplêndida, ação destemida, ação fecunda. Seria necessário não ter ideal algum no coração para não sentir o entusiasmo que suscita a narração da sua vida tão ardente, para não experimentar, com um sentimento de santa inveja, o desejo de participar em tão árduas canseiras evangélicas e de alcançar os seus merecimentos na medida das próprias forças.
Neste herói da santidade, movido por uma atividade sem tréguas nem descanso, não tardaria a sentir-se consumada a vida laboriosa do missionário, se não tivesse sobrevindo tão subitamente o martírio a impedir-lhe o trabalho ardoroso da pregação da fé e moral evangélica, interrompendo o curso da sua vida e da obra começada.
Da Alocução de Pio XII, papa, no dia seguinte ao da canonização de João de Brito (AAS 39 [1947], 392-393.395-396) (Sec. XX)