O
termo “coração” faz-nos pensar em afetos, sentimentos, paixões. Mas, para o
autor bíblico, é muito mais do que isso: o coração, juntamente com o espírito,
é o centro da vida e da pessoa, o lugar das decisões, da interioridade, da vida
espiritual. Um “coração de carne” é dócil à Palavra de Deus, deixa-se guiar por
ela e tem “pensamentos de paz” para com os irmãos. Pelo contrário, um “coração
de pedra” está fechado em si mesmo, sendo incapaz de dar atenção e ter
misericórdia.
Precisamos
mesmo de um coração novo e de um espírito novo? Basta olhar ao nosso redor. As
violências, as corrupções, as guerras nascem de corações de pedra, que se
fecharam ao projeto de Deus sobre a Criação. E até nós, se olharmos
sinceramente para dentro de nós, não nos sentimos muitas vezes arrastados por
desejos egoístas? Será que as nossas decisões são sempre orientadas pelo amor e
pelo bem dos outros?
Ao
olhar para esta nossa pobre humanidade, Deus enche-se de compaixão. Ele, que
nos conhece melhor do que nós próprios, sabe que precisamos de um coração novo.
E promete-o ao profeta Ezequiel, pensando não apenas em algumas pessoas, mas em
todo o seu povo. O sonho de Deus é voltar a criar uma grande família de povos,
como Ele a idealizou desde as origens, moldada pela lei do amor recíproco. A
nossa história mostrou muitas vezes, por um lado, que, individualmente, não
somos capazes de realizar esse projeto, e, por outro, que Deus nunca se cansou
de “jogar este jogo”, até ao ponto de nos prometer dar um coração e um espírito
novos.
E
ele cumpre plenamente a sua promessa quando envia o seu Filho à Terra e infunde
o seu Espírito, no dia de Pentecostes. Aí nasce uma comunidade – a primeira
comunidade de Jerusalém –, ícone duma humanidade caracterizada por «um só
coração uma só alma» (1).
Também
eu, que escrevo este breve comentário, e tu, que o lês ou escutas, todos nós
somos chamados a fazer parte desta nova humanidade. Não só, mas somos chamados
a construí-la ao nosso redor, a torná-la realidade no nosso ambiente de vida e
de trabalho. Imaginem só que enorme missão nos é confiada e que grande
confiança Deus depõe em nós. Em vez de ficarmos deprimidos perante uma
sociedade que muitas vezes parece corrupta, em vez de nos resignarmos perante
males maiores do que nós e fecharmo-nos na indiferença, dilatemos o coração
«segundo a dimensão do Coração de Jesus. É um grande trabalho! Mas é a única
coisa a fazer. Se fizermos isto, está tudo feito».
Este
é um convite de Chiara Lubich, a
qual continua: «Trata-se de amar cada pessoa que passa ao nosso lado como Deus
a ama. E, como estamos no tempo, amemos o próximo um de cada vez, sem conservar
no coração resíduos de afeto pelo irmão que encontrámos no minuto anterior»
(2).
Não
confiemos nas nossas forças e capacidades, mas sim na graça que Deus nos dá:
«Dar-vos-ei um coração novo, introduzirei em vós um espírito novo». Se formos
sempre dóceis ao convite de amar cada próximo, se nos deixarmos guiar pela voz
do Espírito Santo em nós, tornar-nos-emos células de uma humanidade nova,
construtores de um mundo novo, na grande variedade de povos e culturas.
Fabio Ciardi
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1) Cf.
At 4, 32; 2) C. Lubich, Meditações, Cidade Nova 2005, p. 19.
Viveremos esta Palavra – escolhida por
um grupo ecumênico da Alemanha – juntamente com muitos irmãos e irmãs de várias
Igrejas, deixando-nos acompanhar por esta promessa de Deus, ao longo de todo o
ano em que comemoramos os 500 anos da Reforma.
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Movimento dos Focolares Portugal
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