Em 1925, o Papa Pio XI escreveu uma Encíclica sobre o reinado de Jesus, chamada “Quas Primas” e instituiu a festa de Cristo Rei do Universo no último domingo do Ano Litúrgico. O Papa queria abrir os olhos dos cristãos para que escolhessem a Jesus e não aos ditadores que surgiram nesta época, e escolhessem o Evangelho e não a essas ideologias.
Então, o século XX foi o que mais mártires gerou em toda a história da Igreja. E nisto convém recordar que o testemunho impressionante dos mártires do México de 1926 a 1929.
Logo após a independência do México, em 1855, desencadeou-se a revolução liberal maçônica com toda a sua virulência anticristã, quando chegou ao poder Benito Juárez (1855-72). Pela Constituição liberal de 1859, estabelecia-se a nacionalização dos bens eclesiásticos, a supressão das ordens religiosas, a secularização de cemitérios, hospitais e centros beneficentes etc. Seu governo também deu apoio a uma Igreja mexicana, precária tentativa de criar, em torno de um pobre padre, uma Igreja cismática.
O governo decidiu acabar com a fé católica no país, pois achava que o cristianismo era uma invenção dos homens e que se o povo respeitasse e obedecesse os padres, isso diminuiria o poder do governo. O pior presidente foi Plutarco Elías Calles; ele criou leis para fechar todas as igrejas, prender e matar os padres, freiras e até quem trouxesse no peito uma cruz, era a “lei Calles”.
Os católicos perderam seus direitos de ir ao cinema, usar transporte público, os professores perderam os empregos. O Papa Pio XI tentou negociar com o governo, mas de pouco adiantou. Ser Padre era considerado crime e a pena era a morte.
Neste contexto, um garoto chamado José Sanchez del Rio, que era coroinha, viu os soldados comunistas entrarem a cavalo na sua igreja e enforcarem o velho sacerdote. O garoto procurou o movimento dos rebeldes católicos, os “Cristeros”. Eles estavam formando um exército para salvarem os padres, defenderem seu direito de participarem da Santa Missa e ter uma religião. A cristandade mexicana sustentou uma luta de três anos contra os Sem-Deus da época, que haviam imposto a liberdade para todos os cultos, exceto o culto católico, submetido ao controle restritivo do Estado, à venda dos bens da Igreja, à proibição dos votos religiosos, à supressão da Companhia de Jesus e, portanto, de seus colégios, ao juramento de todos os funcionários do Estado em favor destas medidas, à deportação e ao encarceramento dos bispos ou sacerdotes que protestassem. Pio IX condenou estas medidas, assim como Pio XI expressou sua admiração pelos Cristeros.
Em Guadalajara, no dia 3 de Agosto de 1926, cerca de 400 católicos armados encerraram-se na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Eles gritavam: “Viva Cristo Rey e la Virgen de Guadalupe!”. Iniciou-se assim o movimento revolucionário por iniciativa do povo, em defesa de sua fé, que ficou conhecido como “Cristiada” [1926-1931]. José Sanches era um deles. Disse: “Quem é você se não se levanta e se põe de pé, para defender o que acredita?!”
Por ser o menor, José ia a frente dos revolucionários com um estandarte com a imagem da Virgem de Guadalupe. Muitos cristãos morreram em combate. José escreveu à sua mãe: “Nunca foi tão fácil ganhar o Céu.”
Numa dessas lutas, o general dos Cristeros perdeu o cavalo e ia ser capturado. José lhe disse: “Meu general, aqui está meu cavalo, salve-se o senhor, mesmo que me matem! Eu não faço falta, o senhor sim”. Foi dessa forma corajosa que José foi capturado.
Da prisão escreveu à mãe: “Minha querida mãe, fui feito prisioneiro em combate neste dia. Creio que nos momentos atuais vou morrer, mas não importa, nada importa, mãe. Resigna-te à vontade de Deus; eu morro muito feliz porque no fim de tudo isto, morro ao lado de Nosso Senhor. Não te aflijas pela minha morte, que é o que me mortifica. Antes, diz aos meus outros irmãos que sigam o exemplo do mais pequeno, e tu faça a vontade do nosso Deus. Tem coragem e manda-me a tua bênção juntamente com a de meu pai. Saúda a todos pela última vez e receba pela última vez o coração do teu filho que tanto te quer e tanto desejava ver-te antes de morrer”.
Chegaram a chicotear os pés de José e o obrigaram a caminhar por uma estrada de pedras para que renunciasse sua fé, mas o menino permaneceu firme.
Levado até a beira de uma cova que em breve seria a sua, os soldados deram-lhe algumas punhaladas não mortais, para ver se ele apostatava com esse suplício.
Em tom de zombaria e com o intuito de quebrar psicologicamente o herói da fé, o capitão comandante da escolta lhe perguntou se tinha uma mensagem para seus pais. Ele respondeu: “Sim, diga-lhes que vamos nos rever no Céu”. Em seguida, pediu ao capitão para ser fuzilado com os braços em cruz. Como única resposta, este sacou a pistola e lhe disparou um tiro na têmpora. Suas últimas palavras antes de ser fuzilado foram: “Nos vemos no Céu. Viva Cristo Rei! Viva sua mãe, a Virgem de Guadalupe!”.
Sentindo-se ferido de morte, José colheu com sua mão direita um pouco do sangue que lhe escorria abundantemente pelo pescoço, traçou com ele uma cruz na terra e prostrou-se em cima dela, em sinal de adoração.
Assim, na última hora da noite de 10 de fevereiro de 1928, sua alma subiu ao Céu e foi recebida com júbilo por seu querido Cristo Rei e sua amadíssima Mãe, a Virgem de Guadalupe.
Quando o Papa Pio XI soube de José e o que os cristãos estavam sofrendo no México, escreveu: “Queridos irmãos, entre aqueles adolescentes e jovens existem alguns – e eu não consigo segurar as lágrimas ao recordá-los – que, levando nas mãos o rosário e aclamando Cristo Rei, sofrem espontaneamente a morte.”
José Sanchez del Rio foi beatificado em 2005 e o Papa Emérito, Bento XVI, esteve rezando junto às suas relíquias.
No dia 16 de outubro de 2016, o Papa Francisco canonizou o menino São José Luis Sánchez del Río, o padroeiro dos adolescentes mexicanos, que morreu mártir aos 13 anos, quando deu a vida por sua fé na guerra dos Cristeros; suas últimas palavras foram: “Viva Cristo Rey e la Virgen de Guadalupe!”.
É um extraordinário exemplo de fé e amor a Jesus Cristo, Rei do Universo. Que neste dia o eco de suas palavras nos faça pensar: Quem sou eu se não me levanto e não me ponho de pé, para defender o que acredito?!
Alegre-nos, ó Pai, o triunfo de vosso mártir São José Sanchez del Rio ao qual destes a graça de proclamar a paixão e ressurreição do vosso Filho, derramando o sangue em morte gloriosa. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.
São José Sanchez del Rio, mártir de Cristo Rei, rogai por nós!