segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Buscar a Sabedoria


Procuremos um alimento imperecível: trabalhemos na obra da nossa salvação. Trabalhemos na vinha do Senhor, para merecermos receber o denário de cada dia. Trabalhemos com a Sabedoria, que diz: Quem trabalha comigo não peca. O campo é o mundo, diz a Verdade; escavemos neste campo; nele está um tesouro escondido que devemos desenterrar. É a Sabedoria que está oculta e temos de a descobrir. Todos a procuramos, todos a desejamos. 

Se perguntais, diz a Escritura, continuai a perguntar; convertei-vos e vinde. Perguntas de que te hás de converter? Da tua própria vontade, responde também a Escritura. Mas, dirás talvez, se não encontro a sabedoria na minha vontade, onde a hei de encontrar? A minha alma deseja-a ardentemente; e se tiver a ventura de a encontrar, não estará satisfeita enquanto não receber em meu regaço uma medida boa, cheia, atestada, a transbordar. E com razão: Feliz do homem que encontra a sabedoria e adquire a inteligência. Procura-a, pois, enquanto pode ser encontrada; invoca-a, enquanto está perto. 

Queres saber como está perto? A palavra está junto de ti, na tua boca, no teu coração; mas é preciso procurá-la de coração sincero. É assim que encontrarás a sabedoria no teu coração e a inteligência na tua boca. 

Se encontraste verdadeiramente a sabedoria, encontraste o mel; mas procura não comer em demasia, para que, uma vez saciado, não venhas a rejeitá-lo. Come de maneira que tenhas sempre fome. Diz a Sabedoria: Quem me come terá ainda mais fome de mim. Não consideres muito o que tens; não te julgues totalmente saciado, para que não venhas a rejeitar e a perder o que parecias já possuir, por deixares de procurar antes do tempo. Enquanto se pode encontrar, enquanto está perto, não deixes de procurar e de invocar a sabedoria. Aliás, assim como faz mal o mel aos que o comem em demasia, segundo o dito de Salomão, assim aquele que pretende sondar a majestade será oprimido pela sua glória. 

Se de fato é feliz o homem que encontra a sabedoria, também é feliz, e mais ainda, o homem que permanece firme na sabedoria: isto refere-se certamente à abundância. 

Nestas três coisas se conhecerá se a tua boca está cheia de sabedoria e inteligência: se confessas a tua própria iniquidade, se da tua boca se eleva um canto de louvor e ação de graças, se pronuncias palavras de edificação. Com efeito, pelo coração se acredita para obter a justiça e pela boca se professa a fé para obter a salvação. Além disso, o justo, ao falar, começa por acusar-se a si mesmo; em seguida, glorifica o Senhor; e, em terceiro lugar (se a tanto chega a sua sabedoria), edifica o próximo.



Dos Sermões de São bernardo, abade (Serm. de diversis, 15: PL 183.577-579) (Sec. XII)

Você leva a cruz no pescoço só para mostrar suas crenças para os outros?


A cruz é o símbolo de uma das torturas mais horríveis que o homem inventou para outro homem. A primeira imagem conhecida de Cristo crucificado – nas portas de madeira da Basílica de Santa Sabina em Roma – é do século V.

A manifestação da (não) fé

Antes, os cristãos não retratavam de nenhuma maneira a ferramenta da morte de Jesus. Representava-se a chamada crux gemmata ou a cruz preciosa, de ouro e enfeitada com pedras preciosas, sem a pessoa do crucificado. E essas representações aparecerem só no século IV. Até então, os cristãos evitavam a utilização do sinal da cruz. Não porque era proibido, mas pela natureza controvertida desse símbolo. Entretanto, durante pelo menos dois séculos depois de Cristo, as cruzes continuavam sendo colocadas ao longo dos caminhos dos impérios, em que agonizavam os escravos. A cruz era, pois, um símbolo muito ambíguo, despertando perguntas.

E por isso levo a cruz no pescoço. Ela tem que despertar perguntas. Em mim. Porque, pelo lado de Jesus crucificado não teria nem graça nem brilharia para admirá-lo. E, por outro lado, precisamente no contexto do anúncio da cruz, o Pai o clamava do céu: “Tú és o meu Filho amado! Em ti ponho minha afeição!” A cruz no meu pescoço é para que eu possa ir-me voltando às perguntas: “Consido obedecer o Pai? Meus pensamentos, decisões, palavras e atitudes agradam o Pai? Aceito a cruz na minha vida, já que levo sua miniatura no pescoço todos os dias? A cruz no pescoço é o convite diário ao mais simples exame de consciência.

Não a levo para manifestar alguma coisa. A cruz no meu pescoço é a manifestação de minha fé, do meu ponto de vista. A cruz no peito não significa nada. O próprio fato de se sentar na cadeira não garante, automaticamente, um bom testemunho Daquele que morreu na cruz. A cruz aparecia em muitas bandeiras e cartazes e estava em muitos emblemas. Mas nem todas tinha um motivo nobre. A cruz no meu pescoço pode se transformar, igualmente, em um testemunho de Jesus, como também na manifestação de não-fé. Vai decidir meus gestos, palavras, ações, comportamento. 

São Martiniano


Nasceu no século IV, em Cesareia, na Palestina. Muito jovem, discerniu sua vocação à vida de eremita; retirou-se a um lugar distante para se entregar à vida de sacrifício e de oração pela salvação das pessoas e também pela própria conversão. Ele vivia um grande combate contra o homem velho, aquele que tem fome de pecado, que é desequilibrado pela consequência do pecado original que atingiu a humanidade que todos nós herdamos. Mas foi pela Misericórdia, pela força do Espírito Santo que ele se tornou santo.

Sua fama foi se espalhando e muitos procuravam Martiniano. Embora jovem, ele era cheio do Espírito Santo para o aconselhamento, a direção espiritual, até apresentando situações de enfermidades, na qual ele clamava ao Senhor Jesus pela cura e muitos milagres aconteciam. Através dele, Jesus curava os enfermos.

Homem humilde, buscava a vontade de Deus dentro deste drama de querer ser santo e ter a carnalidade sempre presente. Aconteceu que Zoé, uma mulher muito rica, mas dada aos prazeres carnais e também às aventuras com um grupo de amigos, fez uma aposta de que levaria o santo para o pecado. Vestiu-se com vestes simples, pobres, pediu para que ele a abrigasse por um dia. Eles dormiram em lugares distantes, mas ela, depois, vestiu-se com uma roupa bem sedutora e foi ser instrumento de sedução para Martiniano. Conta-nos a história que ele caiu na tentação.

Os santos não foram homens e mulheres de aço, pelo contrário, ao tomar consciência daquele pecado, ele se prostrou, arrependeu-se, penitenciou-se, mergulhou o seu coração e a sua natureza na misericórdia de Deus. Claro que o Senhor o perdoou.

Só há um pecado que Deus não perdoa: aquele do qual não somos capazes de nos arrepender.

São Martiniano arrependeu-se e retomou o seu propósito. Ele foi um instrumento de evangelização para aquela mulher que, de tal forma, também acolheu a graça do arrependimento, entrou para a vida religiosa e consagrou-se, fazendo parte do mosteiro das religiosas de Santa Paula e ali se santificou.

O santo, depois, foi para uma ilha; em seguida para Atenas, na Grécia, e, no ano 400, partiu para a glória tendo recebido os sacramentos.

Santo não é aquele que “nunca pecou”. A oração, a vigilância e o mergulho da própria miséria na Misericórdia Divina é o que nos santifica.


Ó Deus, que o exemplo de vossos Santos nos leve a uma vida mais perfeita e, celebrando hoje a memória de São Martiniano, imitemos constantemente suas ações. Amém.


São Martiniano, rogai por nós!

domingo, 12 de fevereiro de 2017

"Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas..." (Mt 5,17ss).


Caros Irmãos, a Palavra santa nos fala sobre a Lei de Deus.

Logo de saída, impressiona a afirmação peremptória de Jesus, nosso Senhor: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, Eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra!”

Sejamos sinceros: um cristão deveria ficar inquieto com tais palavras, afinal nós não mais observamos a Lei de Moisés: não nos deixamos circuncidar, não guardamos o sábado, não fazemos restrições alimentares, distinguindo entre alimento puro e impuro...

E agora: como nos haveremos com a palavra tão clara de Jesus?

Mas, o que o Senhor deseja mesmo dizer? Ele diz que não vem abolir a Lei, vem cumpri-la. Atenção: cumprir, aqui, não significa obedecer a Lei, mas realizá-la, dar cumprimento ao que ela anunciou e prometeu! Assim, cumprindo a Lei, Jesus a supera, como um botão que se cumpre na flor. Pensai, irmãos: o botão prepara a flor e sem botão não há flor. Mas, o botão existe para tornar-se flor e, quando se torna, cumpre-se, passa, deixando lugar à flor. É assim que Jesus cumpre a Lei: realiza o que ela anunciou. Agora, como o Velho Simeão, a Lei bem que pode dizer: “Agora, Senhor, podes deixar Tua serva ir em paz. Meus olhos viram a Tua salvação que prometeste!” (Lc 2,29s).

Jesus não abole a Lei no sentido de inutilizá-la, não a despreza; cumpre-a plenamente e, cumprindo-a, supera-a definitivamente! Com a chegada do nosso Salvador, com Sua santa morte e ressurreição, nem uma letra, nem uma vírgula da Lei ficou em vão: tudo se cumpriu Nele, que é a plenitude da Lei e dos profetas.

Por isso mesmo, no Tabor, Moisés e Elias, a Lei e os profetas, apareceram envoltos na Glória de Jesus. É Ele, o Santo Messias, Nosso Senhor, Quem leva a Lei e os profetas à plenitude do cumprimento! É Ele – e só Ele – que, realizando tudo quanto a Antiga Aliança legislou e profetizou, a tudo deu cumprimento e a tudo superou!

Talvez algum de vós pergunte: Então não há mais lei alguma no cristianismo? Os cristãos são livres para fazerem como bem desejarem, para viverem como bem imaginarem, tudo em nome da bondade e da misericórdia de Deus reveladas em Jesus?

Não, queridos irmãos! Este pensamento seria totalmente falso! O próprio São Paulo nos previne contra esta ideia torta: “Iremos pecar porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo algum!” (Rm 6,15) – ele mesmo responde!

A Lei de Moisés foi superada, mas o cristão vive sob uma nova Lei, dada no Espírito Santo de Amor, Espírito de Cristo Jesus, Espírito de Amor! Por isso mesmo, o Espírito foi derramado sobre a Igreja no dia de Pentecostes, festa judaica que celebrava o dom da Lei. Para os discípulos de Cristo, a Lei é o Espírito de Amor que, no Batismo, foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5,5); o cristão vive agora debaixo da Lei do Espírito de Cristo! Por isso o Apóstolo diz: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós!” E previne: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo!” (Rm 8,9) Portanto, é Ele, esse Santo Espírito, Quem nos dá a Vida de Cristo, os sentimentos de Cristo, a sabedoria de Cristo, tão diferente daquela do mundo, para viver segundo Cristo. É o que diz o santo Apóstolo na Epístola de hoje: quem pode compreender os preceitos do Senhor? Somente os que são sábios segundo Deus! Mas, essa sabedoria de Deus é escondida aos olhos do mundo, à lógica da nossa sociedade; é uma sabedoria que desde a eternidade Deus destinou para nossa glória! Nenhum dos poderosos deste mundo conheceu essa sabedoria! E São Paulo adverte: “Se a tivessem conhecido não teriam crucificado o Senhor da Glória”.

A sabedoria do mundo, fechada para o Espírito de Cristo, mata o Senhor da Glória no nosso coração! A verdadeira sabedoria, da verdadeira lei, somente pode ser revelada através do Espírito, que “esquadrinha as profundezas de Deus!”
 

"Não sejam cristãos de fachada, mas de substância", diz Papa


Papa Francisco
ANGELUS
Praça de São Pedro 
domingo, 12 de fevereiro, 2017



Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A liturgia de hoje nos apresenta uma outra página do Sermão da Montanha , que encontramos no Evangelho de Mateus (cf. 5,17-37). Nesta passagem, Jesus quer ajudar seus ouvintes a fazer uma reinterpretação da lei mosaica. O que foi dito na antiga aliança era verdade, mas não era tudo: Jesus veio para cumpri-las e para aprovar definitivamente a lei de Deus, até o último milímetro (cf. v 18).. Ele manifesta os propósitos originais e cumpre os aspectos saudáveis e faz tudo isso por sua pregação e ainda mais, oferecendo-se na cruz. Então, Jesus ensina plenamente a vontade de Deus e usa esta palavra com um "justiça maior" do que a dos escribas e fariseus (cf. v. 20). Uma justiça animada pelo amor, caridade, de misericórdia e, portanto, capaz de perceber a substância dos mandamentos, evitando o risco de formalismo. Formalismo: isto eu posso, que eu não posso; até aqui eu posso, até aqui, eu não posso ... Não, mais, mais.

Em particular, no Evangelho de hoje Jesus analisa três aspectos, três mandamentos: assassinato, adultério e juramento.

No que diz respeito ao mandamento "Não matarás", Ele diz que é violada não só o assassinato real, mas também por aqueles comportamentos que ofendem a dignidade da pessoa humana, incluindo palavras insultuosas (cf. v. 22). É claro que essas palavras insultuosas não tem a mesma gravidade e culpabilidade do assassinato, mas são colocadas na mesma linha, porque eles são as premissas e revelam a mesma maldade. Jesus nos convida a não estabelecer uma lista de infrações, mas considerá-los prejudiciais, como a intenção de fazer mal aos outros. E Jesus dá o exemplo. Insulto: estamos habituados a insulto, é como dizer "Olá". E isso é a matança na mesma linha. Aqueles que insultam o irmão matam o irmão em seu coração. Por favor, não insulte! Nós não ganhamos nada...

Outra conquista é feito para a lei do casamento. O adultério era considerado uma violação do direito humano à propriedade sobre a mulher. Jesus, no entanto, vai para a raiz do mal. Como você chegou a assassinar através das injúrias, ofensas e insultos, para que ele vem o adultério através intenções de propriedade no que diz respeito a uma mulher que não seja sua esposa. Adultério, tais como roubo, corrupção e todos os outros pecados, eles são primeiramente concebido em nossos corações e, uma vez conseguido no coração a escolha errada, são implementadas no comportamento concreto. E Jesus diz: aquele que olhar para uma mulher que não é o seu próprio com a posse espírito é um adúltero em seu coração, ele começou a estrada para o adultério. Nós pensamos um pouco sobre isso: os maus pensamentos que estão nesta linha. 

Papa nomeia enviado especial a Medjugorje


O Papa determinou neste sábado (11/02), que Dom Henryk Hoser, Arcebispo de Varsóvia-Praga, na Polônia, vá a Medjugorje na qualidade Enviado Especial da Santa Sé.

A missão tem o objetivo de obter informações mais aprofundadas da situação pastoral daquela realidade e, sobretudo, das exigências dos fiéis que chegam em peregrinação e, com base nisso, sugerir eventuais iniciativas pastorais para o futuro. Terá, portanto, um caráter exclusivamente pastoral.

Está previsto que Dom Hoser, que continuará a ser Arcebispo de Varsóvia-Praga, complete sua missão no segundo semestre de 2017. 

A palavra de Deus é fonte inesgotável de vida


Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza de uma só das vossas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A palavra do Senhor apresenta aspectos muito diversos, segundo as diversas perspectivas dos que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas cores, a fim de que cada um dos que a escutam possa descobrir nela o que mais lhe agrada. Escondeu na sua palavra muitos tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita. 

A palavra de Deus é a árvore da vida, que de todos os lados oferece um fruto bendito, como a rocha que se abriu no deserto, jorrando de todos os lados uma bebida espiritual. Comeram, diz o Apóstolo, uma comida espiritual e beberam uma bebida espiritual. 

Aquele que chegou a alcançar uma parte deste tesouro, não pense que nessa palavra está só o que encontrou, mas saiba que apenas viu alguma coisa de entre o muito que lá está. E porque apenas chegou a entender essa pequena parte, não considere pobre e estéril esta palavra; incapaz de apreender toda a sua riqueza, dê graças pela sua imensidade inesgotável. Alegra-te pelo que alcançaste, e não te entristeças pelo que ficou por alcançar. O que tem sede alegra-se quando bebe, e não se entristece por não poder esvaziar a fonte. Vença a fonte a tua sede, e não a tua sede a fonte, porque se a tua sede fica saciada sem que se esvazie a fonte, poderás ainda beber dela quando voltares a ter sede; se, ao contrário, saciada a sede, secasse a fonte, a tua vitória seria a tua desgraça. 

Dá graças pelo que recebeste e não te entristeças pelo que sobrou e deixaste. O que recebeste e alcançaste é a tua parte, e o que deixaste é ainda a tua herança. O que não podes receber imediatamente por causa da tua fraqueza, poderás recebê-lo noutra altura, se perseverares. E não tentes avaramente tomar dum só fôlego o que não podes abarcar duma vez, nem desistas, por preguiça, do que podes ir conseguindo pouco a pouco.



Do Comentário de Santo Efrém, diácono, sobre o Diatéssaron (1, 18-19: SC 121, 52-53) (Sec. IV)

A morte


A morte é a separação da alma do corpo, como total abandono das coisas deste mundo. Considera portanto, meu filho, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes se a morte te assalta na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte. A ruptura de uma veia, um catarro, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, um raio, bastam para te tirar a vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a um mês, a uma semana, a uma hora e talvez ao terminar a leitura desta consideração. Quantos se deitaram à noite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algum ataque morreram de repente! E depois para onde foram? Se estava na graça de Deus, felizes deles! Gozarão para sempre. Se, pelo contrário, se achavam em pecado mortal, estão para sempre perdidos. Dizei-me, filho, se tivesses que morrer neste instante, o que seria de tua alma? Ai de ti, se não te manténs sempre preparado! Quem não está hoje preparado para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal.

Embora seja incerto o lugar e incerta a hora de tua morte, é porém muito certo que a morte há de vir. Quero esperar que a última hora de tua vida não venha repentinamente ou de modo violento, mas aos poucos e precedida de uma doença comum. Mas há de chegar um dia no qual, estendido numa cama, estarás prestes a passar a eternidade, assistido por um sacerdote que encomendará tua alma, tendo um crucifixo ao lado e uma vela acesa do outro, e derredor os aparentes que choram. Terás a cabeça dolorida, os embaçados, a língua ressequida, a garganta presa, a respiração ofegante, o sangue a arrefecer, o corpo consumido, o coração aflito. E logo que a alma expire, o teu corpo vestido de poucos andrajos será a apodrecer em uma cova. Ai os ratos e os vermes roeram todas as tuas carnes e de ti restaram apenas quatros ossos descarnados e um pó nauseabundo. Abri um sepulcro e vê a que ficou reduzido aquele jovem rico, aquele ambicioso, aquele soberbo. Lê com atenção estas linhas, meu filho, e lembra-te que elas se aplicam também a ti igualmente como a todos os demais homens. Agora o demônio,para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a escusar a tua culpa, dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da missa nos domingos; mas na hora da morte descobrir-te-á a gravidade destes e de outros teus pecados, pondo-os diante de ti. E que haverás de fazer tu então, no ponto de te encaminhares para tua eternidade? Ai de quem, se achar em desgraça de Deus naquele momento!