sexta-feira, 26 de maio de 2017

Bispo de Porto-Novo emite decreto obrigando todos os clérigos a usar a batina


O Bispo de Porto-Novo no Benin, Msgr. Aristide Gonsallo, emitiu um decreto para a regulamentação vestuária do uso da batina na Diocese de Porto-Novo obrigando todos os clérigos a usar a batina como traje eclesiástico normal.

No documento lê-se, entre outras coisas, que como um precioso dom de Deus aos homens, a fé é a melhor maneira de conhecer a Deus e amá-Lo e que o grau de maturidade e solidez da fé duma Igreja se mede a partir da sua capacidade de comunicar a fé professada mas também se manifesta pela qualidade das suas obras de caridade, como diz o Apóstolo São Tiago em Ti, II, 18.

Diz ainda o bispo que “a realização das obras de Evangelização da diocese de Porto-Novo começou pelos pioneiros de ontem e continua pela devoção dos pastores de hoje que deve ser apoiada não só pela fé, mas também pela caridade de todos os seus filhos.


Em virtude destas considerações,


Em conformidade com as disposições dos cânones 284 e 669 do vigente Código de Direito Canónico, 


Eu decreto:


1. O traje eclesiástico normal de qualquer clérigo (diocesano, religioso, membro de uma sociedade clerical de vida apostólica) na diocese de Porto-Novo é apenas a batina;

Egito: ataque a ônibus mata 28 cristãos coptas


Crianças também estão entre as vítimas do ataque perpetrado esta manhã contra um ônibus que transportava cristãos coptas ao Mosteiro de São Samuel, nas proximidades da cidade de Minya, região central do Egito.

O balanço oficial das vítimas é de 28 mortos, entre os quais duas crianças de 2 e 4 anos. Os feridos são 22.

Dinâmica do ataque

Segundo uma testemunha, um comando formado por dez terroristas mascarados vestindo uniformes militares bloqueou o ônibus. Os atacantes entraram no veículo disparando com armas automáticas, enquanto um deles filmava o massacre.

“No ônibus estavam também crianças. Roubaram deles dinheiro e ouro. Também pediram a eles para que renunciassem a Cristo e se tornassem muçulmanos. Caso tivessem aceitado teriam se salvado, mas os peregrinos se recusaram a abjurar sua fé e foram mortos. Colocaram pistolas em suas cabeças e na nuca e dispararam”, afirmou o Pároco da Igreja copta de São Mina em Roma, padre Antonio Gabriel, ao comentar ao canal TG 2000 o ataque desta manhã.

Solidariedade

A condenação ao ataque veio de todo o mundo. E manifestações de solidariedade também.

O Papa Francisco afirmou quer ficado “profundamente chocado pelo bárbaro ataque” contra os cristãos coptas egípcios, que provocou mortos e feridos, vítimas de um “ato de ódio insensato”.

O Santo Padre, por meio de um telegrama enviado pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, nesta sexta-feira, 26, ao Presidente egípcio Al-Sisi, expressou sua profunda solidariedade a todas as pessoas atingidas por este “violento ultraje”, em modo particular “as crianças que perderam a vida”.

Assegurando sua oração às famílias enlutadas, o Pontífice confirma sua “contínua intercessão pela paz e a reconciliação em todas as nações”.

A Torre Eiffel permanecerá apagada em sinal de luto pelo ataque. A informação foi dada pela Prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em sua conta Twitter.

A União Europeia e Chefes de governo de diversos países condenaram o ataque, manifestando solidariedade aos cristãos e ao povo egípcio, e defendendo união no combate ao terrorismo.

O Conselho de Segurança da ONU observou um minuto de silêncio em memória às vítimas do ataque terrorista.

Para o Conselho, foi um “ataque terrorista abominável e covarde”. O presidente do órgão neste mês é o embaixador do Uruguai junto às Nações Unidas, Elbio Rosselli, que fez um pronunciamento sobre o caso.

O diplomata condenou da “forma mais enérgica o atentado terrorista atroz” contra civis inocentes. Em nome dos 15 Estados-membros do Conselho, ele expressou condolências às famílias das vítimas e ao governo egípcio.

O Conselho de Segurança reafirma que “o terrorismo em todas as suas formas e manifestações é uma das ameaças mais sérias à paz e à segurança” e pede que os autores do atentado sejam levados à Justiça. 

Cumpro o preceito dominical participando da Celebração da Palavra?


O Catecismo da Igreja Católica ensina que "a celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da vida da Igreja. O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como dia de festa de preceito por excelência." (CIC 2177) Portanto, o católico tem a obrigação de participar da celebração dominical. Mas, em que consiste esta celebração? O mesmo Catecismo segue ensinando:

"O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: ‘Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da missa’. Satisfaz o preceito de participar da missa quem assiste à missa celebrada segundo o rito católico no próprio dia da festa ou à tarde do dia anterior. (CIC 2180)

A celebração que cumpre o preceito é a Santa Missa e o motivo é bastante simples, pois é a "Eucaristia do domingo [que] fundamenta e sanciona toda a prática cristã", diz o Catecismo. E continua dizendo que:

"Por isso os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave." (CIC 2181)

Por esse parágrafo do Catecismo é possível dimensionar a importância da participação na Eucaristia dominical. O Código de Direito Canônico regulamenta:

Cân 1248: § 2. Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a participação na celebração eucarística se tornar impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordo com as prescrições do Bispo diocesano; ou então se dediquem à oração por tempo conveniente, pessoalmente ou em família, ou em grupos de família de acordo com a oportunidade."

Infelizmente, está sendo propagada no Brasil a opinião de que a Celebração da Palavra e a Santa Missa têm o mesmo peso e importância. Tal opinião é errada e contrária à lei da Igreja. Além dos documentos já citados, sabendo da importância do domingo para o católico, o Papa João Paulo II publicou a Carta Apostólica Dies Domini, no ano de 1998, falando exclusivamente sobre esse tema:

"8. O domingo, segundo a experiência cristã, é sobretudo uma festa pascal, totalmente iluminada pela glória de Cristo ressuscitado. É a celebração da « nova criação ». Este seu caráter, porém, se bem entendido, é inseparável da mensagem que a Escritura, desde as suas primeiras páginas, nos oferece acerca do desígnio de Deus na criação do mundo. Com efeito, se é verdade que o Verbo Se fez carne na « plenitude dos tempos » (Gal 4,4), também é certo que, em virtude precisamente do seu mistério de Filho eterno do Pai, Ele é origem e fim do universo. Afirma-o S. João, no Prólogo do seu Evangelho: « Tudo começou a existir por meio d'Ele, e sem Ele nada foi criado » (1,3). Também S. Paulo, ao escrever aos Colossenses, o sublinha: « N'Ele foram criadas todas as coisas, nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis [...]. Tudo foi criado por Ele e para Ele » (1,16). Esta presença ativa do Filho na obra criadora de Deus revelou-se plenamente no mistério pascal, no qual Cristo, ressuscitando como « primícia dos que morreram » (1 Cor 15,20), inaugurou a nova criação e deu início ao processo que Ele mesmo levará a cabo no momento do seu retorno glorioso, « quando entregar o Reino a Deus Pai [...], a fim de que Deus seja tudo em todos » (1 Cor 15,24.28)."

"18. Por esta dependência essencial que o terceiro mandamento tem da memória das obras salvíficas de Deus, os cristãos, apercebendo-se da originalidade do tempo novo e definitivo inaugurado por Cristo, assumiram como festivo o primeiro dia depois do sábado, porque nele se deu a ressurreição do Senhor. De fato, o mistério pascal de Cristo constitui a revelação plena do mistério das origens, o cume da história da salvação e a antecipação do cumprimento escatológico do mundo. Aquilo que Deus realizou na criação e o que fez pelo seu povo no êxodo, encontrou na morte e ressurreição de Cristo o seu cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda gloriosa de Cristo. N'Ele se realiza plenamente o sentido « espiritual » do sábado, como o sublinha S. Gregório Magno: « Nós consideramos verdadeiro sábado a pessoa do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo ». Por isso, a alegria com que Deus, no primeiro sábado da humanidade, contempla a criação feita do nada, exprime-se doravante pela alegria com que Cristo apareceu aos seus, no domingo de Páscoa, trazendo o dom da paz e do Espírito (cf.Jo 20,19-23). De fato, no mistério pascal, a condição humana e, com ela, toda a criação, que geme e sofre as dores de parto até ao presente (cf. Rom 8,22) conheceu o seu novo « êxodo » para a liberdade dos filhos de Deus, que podem gritar, com Cristo, « Abba, Pai » (Rom 8,15; Gal 4,6). À luz deste mistério, o sentido do preceito vetero testamentário do dia do Senhor é recuperado, integrado e plenamente revelado na glória que brilha na face de Cristo Ressuscitado (cf. 2 Cor 4,6). Do « sábado » passa-se ao « primeiro dia depois do sábado », do sétimo dia passa-se ao primeiro dia: o dies Domini torna-se o dies Christi!" (DD)

Para aqueles que, mesmo diante dessa farta documentação, ainda insistem em colocar em igual nível de importância a Celebração da Palavra e a Santa Missa, existe a Instrução Redemptionis Sacramentum, que versa sobre alguns itens que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia. Ela foi publicada pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em 25 de março de 2004 e especificamente sobre o preceito dominical ela diz que:

"A Igreja, no dia que se chama «domingo», reúne-se fielmente para comemorar a ressurreição do Senhor e todo o mistério pascal, especialmente pela celebração da Missa. De fato, «nenhuma comunidade cristã se edifica se não tem sua raiz e tronco na celebração da Santíssima Eucaristia». Pois o povo cristão tem direito a que seja celebrada a Eucaristia em seu favor, aos domingos e festas de preceito, ou quando ocorram outros dias festivos importantes, e também diariamente, na medida do possível. Por isto, quando no domingo há dificuldade para a celebração da Missa, na igreja paroquial ou noutra comunidade de fiéis, o Bispo diocesano busque as soluções oportunas, juntamente com o presbitério. Entre as soluções, as principais serão chamar para isto a outros sacerdotes ou que os fiéis se transladem para outra igreja de um lugar circunvizinho, para participar do mistério eucarístico.

Todos os sacerdotes, a quem tem sido entregue o sacerdócio e a Eucaristia «para» os outros, lembrem-se de que seu encargo é para que todos os fiéis tenham oportunidade de cumprir com o preceito de participar na Missa do domingo. Por sua parte, os fiéis leigos têm direito a que nenhum sacerdote, a não ser que exista verdadeira impossibilidade, nunca rejeite celebrar a Missa em favor do povo, ou que esta seja celebrada por outro sacerdote, se de diverso modo não se pode cumprir o preceito de participar na Missa, no domingo e nos outros dias estabelecidos.

«Quando falta o ministro sagrado ou outra causa grave fez impossível a participação na celebração eucarística», o povo cristão tem direito a que o Bispo diocesano, quando possível, procure que se realize alguma celebração dominical para essa comunidade, sob sua autoridade e conforme às normas da Igreja. Por isso, esta classe de Celebrações dominicais especiais devem ser consideradas sempre como absolutamente extraordinárias. Portanto, quer sejam diáconos ou fiéis leigos, todos os que têm sido encarregados pelo Bispo diocesano para tomar parte neste tipo de Celebrações, «considerarão como mantida viva na comunidade uma verdadeira "fome" da Eucaristia, que leve a não perder ocasião alguma de ter a celebração da Missa, inclusive aproveitando a presença ocasional de um sacerdote que não esteja impedido pelo direito da Igreja para celebrá-la».

Neopentecostalismo: diálogo ecumênico acontece na vida cotidiana


A Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), que terá início no domingo da Ascenção do Senhor, dia 28 de maio, é um momento promovido para conclamar cristãos e cristãs, de todas as denominações, à unidade. Para além da oração, ações em vista do diálogo e da busca pela unidade dos cristãos têm sido desenvolvidas pela Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Um ambiente “delicado e desafiador” para promoção deste trabalho é o contexto das igrejas neopentecostais.

De acordo com o assessor da Comissão para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da CNBB, padre Marcus Barbosa Guimarães, o principal trabalho tem sido aprofundar, através de leituras e encontros de formação – alguns desses, com a presença de pastores pentecostais -, o crescente e complexo movimento pentecostal e neopentecostal. Para Guimarães, o pentecostalismo é “uma ‘nova janela aberta’ para o ecumenismo”.

Padre Marcus considera urgente encontrar caminhos de aproximação católico-pentecostal, promovendo, com as pessoas e comunidades pentecostais que se abrem ao diálogo, o conhecimento, a amizade e o respeito mútuos, a convivência e o testemunho comum.

Uma análise de conjuntura eclesial apresentada em fevereiro deste ao Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB aponta esta vertente protestante como “comunidades de estilo evangélico, fundamentalista e espontaneísta, que se distanciam da tradição unitária católica, rompendo o próprio tecido social” predominantes na América Latina.

Nem sempre abertos ao diálogo, muitos dos pentecostais “têm posturas agressivas e ativamente proselitistas”. Entretanto, segundo o texto, se o diálogo ecumênico em sentido próprio é pouco viável, permanece a possibilidade do diálogo entre sujeitos, inserido nas várias circunstâncias da vida cotidiana. É o que padre Marcus chama de “ecumenismo de amizade”, que está presente no plano local, sobretudo na família, no trabalho, na vizinhança e na área social. 

Riqueza e diversidade das Igrejas Cristãs devem ser motivos para união e não distanciamento


A riqueza e a diversidade das Igrejas Cristãs devem ser motivos para aproximar as diferentes denominações religiosas e não distanciá-las. Essa é a mensagem central do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic) por ocasião da Semana Nacional de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), celebrada de 28 de maio a 4 de junho.

Este ano, a semana conclama a todos os cristãos, de todas as denominações, à unidade. Com o tema “Reconciliação: é o amor de Cristo que nos move – Celebração do 500º Aniversário da Reforma”, a iniciativa é promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil e acontece entre os dias 28 de maio e 04 de junho.

A semana ecumênica também relembra os 500 anos da Reforma Protestante iniciada por Lutero, em 1517, na Alemanha. Em carta divulgada para a ocasião, as Igrejas-membro do Conic destacam, em relação à temática proposta, que o amor de Cristo desperta a reconciliação e que as diferentes formas de expressar a fé em Jesus Cristo são riquezas. No documento, os membros do Conic destacam que a reforma não foi um evento histórico isolado. Ela ocorreu em um contexto de muita efervescência social, política e religiosa.

“O movimento da Reforma não foi isento de conflitos e extremismos religiosos, causados pelos lados envolvidos. É justamente por causa desses conflitos que a palavra reconciliação torna-se central ao refletirmos sobre estes 500 anos”, diz o texto assinado pela Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, Igreja Anglicana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. 

Maria, a serva do Senhor


A Mãe de Jesus, invocada com os mais variados títulos em todo o mundo, é lembrada, especialmente no mês de maio, como a Senhora de Fátima.

Neste Ano Mariano, além dos 300 anos de Aparecida, também celebramos o primeiro centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. Aí, manifestando-se a três crianças pobres, Lúcia, Francisco e Jacinta, que cuidavam de um pequeno rebanho de ovelhas, a Mãe de Jesus, com muita simplicidade, fazia-lhes constantes e maternais apelos à conversão, à penitência e à oração perseverante pela conversão dos pecadores, especialmente a oração do santo Rosário. Eis aí, o núcleo da mensagem de Fátima que nada mais é do que o centro do Evangelho de Nosso Senhor: conversão, penitência, oração e missão.

Maria é um autêntico modelo para quem busca ardentemente se identificar com Jesus e viver os valores do Evangelho. Ela não só escutou atenta e calorosamente a Palavra de Deus e a pôs em prática, como também concebeu em seu ventre virginal o Verbo de Deus que se fez homem e se tornou o nosso eterno Redentor. A Palavra do Senhor encontrou acolhida no coração de Maria e em seu ventre puríssimo se encarnou e veio fazer morada entre nós. Assim se expressou o Papa Leão XIII em 1897: “Deus a escolheu desde a eternidade para vir a ser Mãe do Verbo, que se encarnaria; e, por este motivo, entre todas as criaturas mais belas na ordem da natureza, da graça e da glória, o Senhor a distinguiu com privilégios tais, que a Igreja com razão aplica a ela aquelas palavras das Santas Escrituras: “Saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de toda criatura” (Eclo 24,5). 

Homilética: Solenidade de Pentecostes - Ano A: "A ação visível do Espírito Santo na Igreja".


A Solenidade de Pentecostes, que celebramos no dia de hoje, encerra o tempo litúrgico da Páscoa. Com efeito, o Mistério Pascal – a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, e a sua Ascensão ao Céu – encontra o seu cumprimento na poderosa efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos congregados com Maria, Mãe do Senhor, e com os demais discípulos. Foi o “batismo” da Igreja, batismo no Espírito Santo ( At 1,5 ). Como narram ao Atos dos Apóstolos, na manhã da festividade do Pentecostes, um fragor como que de um vento investiu o Cenáculo e sobre cada um dos discípulos desceram como que línguas de fogo ( At 2, 2-3 ).

Pentecostes era uma das grandes festas judaicas; muitos israelitas iam nesses dias em peregrinação a Jerusalém, para adorar a Deus no Templo. A origem da festa remontava a uma antiquíssima celebração em que se davam graças a Deus pela safra do ano, em vésperas de ser colhida. Depois acrescentou-se a essa comemoração, que se celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, a da promulgação da Lei dada por Deus no monte Sinai. Por desígnio divino, a colheita material que os judeus festejavam com tanto júbilo converteu-se, na Nova Aliança, numa festa de imensa alegria: a vinda do Espírito Santo com todos os seus dons e frutos.

Hoje é a plenitude do Mistério Pascal, com o Dom do Espírito Santo à Igreja. É o nascimento da Igreja. O Pentecostes é o cumprimento da promessa de Jesus: “… se Eu for, enviá-lo-ei” (Jo 16,7).

A solenidade de Pentecostes é a festa da unidade porque a obra da reunificação foi levada a cabo pelo Pai em Cristo na unidade do Espírito Santo. Assim como o Espírito Santo, na intimidade da Trindade, é o “lugar” de encontro do Pai e do Filho, o Espírito Santo é quem nos une a Cristo. A salvação consiste, segundo S. Agostinho, em ser unidos ao Corpo de Cristo (cfr. In Ioann tract. 52, n.6; PL 35,1771) pela ação do Espírito Santo através da Palavra e dos Sacramentos.

Naturalmente, é bom ressaltar, de maneira prioritária, o Sacramento da Reconciliação (Sacramento da Confissão), que Cristo instituiu no mesmo momento em que comunicou aos discípulos a sua paz e o seu Espírito. Como está na página evangélica, Jesus soprou sobre os Apóstolos e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” ( Jo 20, 21 – 23 ). Como é importante e, infelizmente, compreendido de forma insuficiente o dom da Reconciliação, que pacifica os corações! A paz de Cristo só se difunde através dos corações renovados dos homens e das mulheres reconciliados, que se tornaram servidores da justiça, prontos a espalhar pelo mundo a paz, unicamente com a força da verdade, sem fazer compromissos com a mentalidade do mundo, porque o mundo não pode doar a paz de Cristo: eis como a Igreja pode ser fermento daquela reconciliação que provém de Deus. Só pode sê-lo se permanecer dócil ao Espírito e der testemunho do Evangelho, se carregar a Cruz como e com Jesus. É precisamente isto que testemunham os Santos e as santas de todos os tempos!

“Recebei o Espírito Santo” ( Jo 20, 22 ) Autorizava-os a perdoar os pecados. Portanto, o Espírito Santo manifesta-se aqui como força do perdão dos pecados, da renovação dos nossos corações e da nossa existência; e assim Ele renova a Terra e onde havia divisão cria unidade.

A vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado na vida da Igreja. O Paráclito santifica-a continuamente, como também santifica cada alma, através das inúmeras inspirações que se escondem em “todos os atrativos, movimentos, censuras e remorsos interiores, luzes e conhecimentos que Deus produz em nós, prevenindo o nosso coração com as suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor paternal, a fim de nos despertar, mover, estimular para o amor celestial, para as boas resoluções, para tudo aquilo que, numa palavra, nos conduz à nossa vida eterna. A sua ação na alma é suave e aprazível; Ele vem salvar, curar, iluminar” (São Francisco de Sales).

No dia de Pentecostes, os Apóstolos foram robustecidos na sua missão de anunciarem a Boa Nova a todos os povos. Todos os cristãos têm, desde então, a missão de anunciar, de cantar as maravilhas que Deus fez no seu Filho e em todos aqueles que creem nEle. Somos agora um povo santo para publicar as grandezas dAquele que nos tirou das trevas para a sua luz admirável.

Ao compreendermos a grandeza da nossa missão, compreendemos também que ela depende da nossa correspondência às moções do Espírito Santo, e sentimo-nos necessitados de pedir-lhe frequentemente que lave o que está manchado, regue o que está seco, cure o que está doente, acenda o que está morno, retifique o que está torcido. Porque sabemos bem que no nosso interior há manchas, e partes que não dão todo o fruto que deveriam porque estão secas, e partes doentes, e tibieza e também pequenos desvios, que é necessário retificar.

Não se pode conceber vida cristã nem Igreja sem a presença e a ação do Espírito Santo!

Depois que Jesus completou a sua obra, constituído Senhor a partir de sua Ressurreição, envia ao mundo o seu Espírito, o Espírito do Pai. Conforme São João (Cf. Jo 20,19-23), Jesus comunica o seu Espírito, o mesmo Espírito que Ele entregou ao Pai no dia da Ressurreição. Para isso, sopra sobre eles, transmitindo-lhes a vida nova, a força, o Espírito Santo: “Recebi o Espírito Santo…” e o Dom do Perdão e da Reconciliação.

“O Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza”, diz S. Paulo (Rom. 8,26). Diz São João da Cruz que o Espírito Santo, com a sua chama está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições dos seus maus hábitos.


Na Carta aos Gálatas, São Paulo recorda que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio” ( 5, 22 ). Estes são os dons do Espírito Santo que invocamos também hoje para todos os cristãos, para que, no serviço comum e generoso ao Evangelho, possam ser no mundo sinal do amor de Deus pela humanidade. “ Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres e Maria, Mãe de Jesus” ( At 1, 14 ).Confiemos todos à intercessão da Virgem Maria, que hoje contemplamos no Mistério glorioso do Pentecostes. O Espírito Santo, que em Nazaré desceu sobre ela para a tornar a Mãe do Verbo encarnado ( Lc 1, 35 ), desceu hoje sobre a Igreja nascente reunida à sua volta no Cenáculo ( At 1, 14 ).  

Alegrai-vos sempre no Senhor


O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura: A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.

Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.

No entanto, pode alguém observar: “Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou”. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador: Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).

Eis uma realidade admirável: aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão aquele que por misericórdia se tornou tão próximo de nós?

Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar,o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.

Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para si com seu sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.

Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniqüidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma.


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 
(Sermo 171,1-3.5:PL38,933-935)

(Séc.V)