domingo, 4 de junho de 2017

Guarda tua espada na bainha

Não serão as guerras e o derramamento de sangue que trarão a paz que todos desejam.

A relação com o transcende sempre esteve presente no horizonte humano, de modo que podemos afirmar que o ser humano é um ser religioso. Por “ser religioso” não se está asserindo que toda pessoa assumirá para si uma religião e frequentará seus ritos e aderirá seus símbolos e dogmas. O que afirmamos é que relacionar-se com o transcendente é próprio do ser humano; essa relação dá-se no intuito de justificar sua própria existência. Por isso, “desde sempre, para entender a si mesmo, o ser humano foi bater à porta dos deuses”¹. Na busca para obter uma maior compreensão de si, o ser humano procura desvendar os enigmas da sua humanidade, a fim de que o vazio existencial, por causa do sem sentido da vida, não o assalte.

Precisamente, o sem sentido da vida é que faz emergir a filosófica pergunta “porque o ser e não o nada?”. É da contemplação da tragédia encenada entre a vida e a morte que a religião floresce como religamento do sentido da existência pessoal e do mundo na órbita do transcendente, sagrado. Nessa esteira, a religiosidade é um componente essencialmente humano, porquanto ela justifica, ou empenha-se em justificar, as fronteiras da vida e da morte. E é essa justificação existencial religiosa que a religião oferece a partir do conjunto de verdades cridas pelos sujeitos que dela participam. E é por ser algo intrínseco que movimenta o sistema de crenças existenciais das pessoas, que a religião, ou o exercício religioso, pode acorrer ao fundamentalismo. O fundamentalismo, por sua vez, é a radicalização das verdades cridas, pelos sujeitos crentes. Essas verdades cridas, quando absolutizadas, são impostas universalmente a outros sujeitos não crentes e isso é o que corrobora a inclinação da religião para a violência.

O cristianismo afirma que Deus, ele mesmo, procurou o ser humano para relacionar-se com ele na amizade. Não foi o ser humano que saiu ao encontro de Deus, mas Ele mesmo saiu ao encontro do ser humano para prová-lo na gratuidade e na liberdade. Por isso, a máxima cristã é que Deus revelou-se e fez-se conhecer à humanidade. A iniciativa da revelação é de Deus, de modo que ele não é alguém que revela-se porque foi-lhe pedido, ou porque ele foi procurado “nas alturas”, mas porque aprouve fazê-lo livremente e por primeiro. Nesse sentido, a fé em Deus que se revela é mais resposta que procura, é resposta à interpelação do Deus que se mostra como fonte de sentido da existência de todas as coisas.

Destarte, Deus revela-se em Jesus. Ele é o acontecimento pleno da revelação divina no mundo e na história dos homens e mulheres. A vida de Jesus é a manifestação do sentido último da existência humana. Precisamente, a sua Páscoa revela que o ser humano, criado na gratuidade e liberdade, é predestinado à amizade de Deus que é eterna. Logicamente, essa predestinação não se qualifica num destino isento do desejo máximo de tomada de decisões diante da vida que se apresenta. O ser humano é predestinado à amizade de Deus porque essa é a oferenda de Deus à humanidade ao revelar a sua glória assumindo a fragilidade humana na encarnação da Palavra divina. Por isso, Jesus, que passou fazendo o bem entre as multidões, é o amigo de todos os que tiveram sua dignidade furtada, seja pelas mazelas dos sistemas sociais, ou pela imposição da legislação religiosa que mais oprimia que libertava.

Desse modo, Jesus estava inserido numa sociedade radicada na violência que não estava circunscrita ao físico, mas, também, ao ético, ao moral, ao simbólico, ao psicológico. A força da lei mosaica, num sistema social em que a religião judaica justificava todas as relações sociais, violentava a muitos. Não é sem razões que os Evangelhos narram a respeito de apedrejamentos de mulheres encontradas em adultério, da exclusão vexatória dos que possuíam alguma deficiência, dos que eram considerados pecadores, etc. Aos que esperavam uma resposta violenta de Jesus, ele não só se aproximava dessas vítimas, como também as acolhia com amizade inaugurando para elas o Reino de Justiça e Paz. Tudo isso corroborava o que os profetas anunciaram a respeito do Messias de Israel, de que ele é o Príncipe da paz que reconcilia tudo e todos.

Mesmo os discípulos e discípulas de Jesus não compreendiam muito bem as relações que deveriam ser construídas entre eles e entre eles e os que não faziam parte do grupo de Jesus. Os discípulos encaravam algumas pessoas como sendo um problema para a missão do Mestre, a respeito dessa suspeita dos discípulos ele ensinava que mesmo os diferentes de nós estão a nosso favor, porque não são contra nós. Não há razões para “provocar” e “criar” inimigos, pois o que se exige é que se viva em paz uns com os outros (cf. Mc 9, 40.50). De modo que o mandamento “amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!” é rechaçado por Jesus sob a lógica do amor que não encontra resistências: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”. É precisamente o amor que não se restringe aos amigos, mas que é dedicado, inclusive, aos inimigos que faz dos seguidores e seguidoras de Jesus os filhos do Pai que está nos céus. (cf. Mt 5,43-45). 

São Crispim de Viterbo


São Crispim nasceu em Viterbo de uma humilde família, a 13 de Novembro de 1668. Recebeu no batismo o nome de Pedro Fioretti. Eram seus pais Ubaldo e Márcia que lhe deram uma profunda e cuidadosa educação cristã. Frequentou os primeiros anos da escola. Apesar da sua frágil constituição física, logo se começou a impor penitências voluntárias. O seu primeiro trabalho foi o de aprendiz de sapateiro.

Desejoso de levar uma vida austera e de se consagrar a Deus, a 22 de Julho de 1693, foi admitido no noviciado dos Capuchinhos em Palanzana, junto à sua terra natal. Feita a profissão religiosa, logo a seguir, foi destinado ao Convento de Tolfa, como ajudante de cozinha.

A sua personalidade de asceta, o seu estilo de cantor do bom Deus e de Nossa Senhora, bem depressa mostraram aquilo que iria ser. Amante da pobreza, dotado de espírito generoso e sensível às manifestações da alegria, cheio de caridade e de atenções fraternas para com os pecadores, os pobres, os encarcerados e as crianças abandonadas, sabia tornar-se útil e agradável nos mais variados ofícios. Era, ao mesmo tempo, encarregado do quintal, enfermeiro, cozinheiro e ainda ia pedir esmola de porta em porta.

Jovial por temperamento e por coerência com o ideal franciscano, sabia fazer amar a virtude e consolar os que sofriam. Com simplicidade edificante, entoava canções, compunha e recitava poesias. Levantava pequeninos altares a Nossa Senhora, sua Mãe e Senhora dulcíssima. A um seu irmão que lhe chamava a atenção por este seu modo de ser e de se comportar como inconveniente para o estado religioso, ele respondia: Eu sou o arauto do grande Rei. Deixai-me cantar como São Francisco. Estes cantos farão bem ao espírito de quem me ouve. Sempre, é claro, com a ajuda de Deus e da sua grande Mãe.

A sua confiança sem limites na Divina Providência e a sua união com Deus foram muitas vezes premiadas com milagres e carismas. Era procurado por prelados, nobres e sábios que lhe pediam conselhos, porém, nunca mudou a sua atitude simples e modesta.

Durante 40 anos pediu esmola, de porta em porta, em Orvieto e arredores, procurando os meios necessários de subsistência para a sua comunidade e para os necessitados da “grande família de Orvieto”. Neste trabalho praticou obras notáveis no campo da assistência e no campo religioso, sobretudo com os doentes, os encarcerados, as mães solteiras, as famílias pobres, as pessoas desesperadas. Homem de paz, no meio dos seus irmãos, no seio das famílias, entre os cidadãos, entre o povo e a autoridade civil ou religiosa e, tudo isto, sempre com uma santa alegria.

Devotíssimo do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora, foi cumulado de sabedoria celeste que o levava a ser consultado, como se disse, por homens da cultura.

Desgastado pelo trabalho e pelas penitências, passou os últimos anos da sua vida em Roma, no Convento da Imaculada Conceição, na rua Vittorio Veneto.

O Cardeal Trémouille, embaixador do rei de França, encontrando-se gravemente doente, pediu que lhe chamassem o nosso santo que o curou com a sua oração. De outra vez, quando o Papa Clemente XIV tomava parte na eucaristia da igreja dos Capuchinhos, um dos seus camareiros foi acometido de dores gravíssimas. Era frequente suceder-lhe este fenômeno. Médico algum conseguia descobrir a cura para o seu mal. São Crispim levou-o diante do altar de Nossa Senhora e a cura foi instantânea. No dia 19 de maio de 1750, com 82 anos de idade, entrega santamente sua alma ao Pai.



São Crispim afasta de nós a tentação das coisas caducas e insuficientes ensina-nos a compreender o verdadeiro valor da nossa peregrinação terrena. Infunde-nos a necessária coragem para cumprir sempre entre alegrias e dores entre fadigas e esperanças a vontade do Altíssimo Amém! Santo Crispim de Viterbo intercede pela Igreja e pela humanidade inteira necessitada de amor de justiça e de paz. Amém!

sábado, 3 de junho de 2017

Chile: Anarquistas lançam coquetel molotov contra Igreja do Precioso Sangue


No sábado, 27 de maio, um grupo que se autodefine como anarquista, percorreu as ruas do centro de Santiago (Chile) e atacou com bombas de coquetel molotov uma igreja católica e o convento da mesma propriedade.

Por volta das 21h, um grupo de aproximadamente 100 pessoas, a maioria deles encapuzados, se reuniu para comemorar a morte de Mauricio Morales, um anarquista que em 2009 carregava uma mochila com um artefato incendiário que explodiu sobre si mesmo.

Após o encontro, o grupo se dirigiu a pé com bengalas nas mãos por diferentes ruas do bairro Brasil, um dos lugares emblemáticos de Santiago, onde há diversos restaurantes e pubs.

Enquanto percorriam as ruas, jogaram panfletos anarquistas, picharam as paredes dos imóveis, apedrejaram restaurantes e veículos; e lançaram bombas de coquetel motolov.

Além dos danos a um quartel do corpo de bombeiros, a uma farmácia, às dependências da Policia de Investigações e à propriedade privada, a Igreja do Preciosíssimo Sangue e o convento foram pichados e incendiados.

O templo do Preciosíssimo Sangue foi atingido por pelo menos duas bombas na fachada. A congregação que vive neste local teve seus dois salões queimados. A Irmã Loreto Fuentes explicou que só perceberam quando viram que havia muita luz em um dos salões.

“Era uma luz muito forte. Quando chegamos ao local, a janela estava pegando fogo”, disse a Irmã Fuentes ao jornal ‘Las Ultimas Noticias’.

“São jovens que não têm consciência. Jovens que são contra o governo, a sociedade e contra tudo”, explicou a religiosa a ‘Chilevisión Noticias’.

O grupo de anarquistas causou pânico entre pedestres, comensais e também motoristas. Muitos se refugiaram para evitar este ataque.

Depois que os delinquentes conseguiram atacar pelo menos quatro quadras se dispersaram com a chegada da policia. Ninguém foi preso até agora.

Bispo atacado pelo lobby gay: "Não deixarei de ensinar a doutrina católica".


O Bispo de Solsona, na Espanha, Dom Xavier Novell, vítima de insultos e protestos do lobby gay, assegurou que continuará “apresentando sem medo a visão cristã da pessoa”.

Em uma nota publicada no site da Diocese de Solsona, Dom Novell disse: “Não vejo nada a corrigir nem me amedrontaram as ameaças políticas”.

O Prelado espanhol sofreu um violento protesto do grupo LGTBI (lésbicas, gays, transexuais, bissexuais e intersexuais) ao sair da paróquia de Santa Maria del Alba, em 28 de maio. O Bispo teve que sair do templo escoltado pela polícia, devido à agressividade dos manifestantes.

Assim o lobby gay respondia a um fragmento da mensagem do dia 21 de maio de Dom Novell, na qual o Bispo se perguntava “se o fenômeno crescente da confusão na orientação sexual de muitos adolescentes não se deve ao fato de que na cultura ocidental a figura do pai estaria simbolicamente ausente, desviada, desvanecida, inclusive a masculinidade estaria questionada”.

Dom Novell também recebeu críticas de ativistas e políticos partidários da ideologia de gênero.

A prefeitura de Solsona publicou no Twiter uma mensagem expressando o seu “rechaço às infelizes manifestações do Bispo Xavier Novell”, reafirmou o seu “total apoio às famílias monoparentais e ao grupo LGTBI” e lamentou que “Solsona seja associada a tal opinião retrógrada”.

Em seu recente comunicado, Dom Novell expressou a sua inquietude de consciência “se alguém se sentiu ferido ou culpado pelas minhas palavras e pela insistência de alguns a considerar o meu silêncio prejudicial para a convivência social e para a Igreja”.

“Não pretendia ofender ninguém”, assegurou, mas pediu “desculpas aos pais e mães que ficaram magoados. Recebi telefonemas e cartas de alguns e lamento por que se sentiram julgados pela minha pergunta”.

“Do mesmo modo, agradeceu as pessoas que entenderam de maneira correta que eu não vinculava exclusivamente nem diretamente a homossexualidade e a ausência da figura paterna”, assinalou.

Cardeal condena publicação de Cristo Redentor armado em jornal britânico


O Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani Tempesta, classificou como “ofensa para o povo brasileiro” e “vilipêndio para os cristãos” a publicação de uma charge pelo jornal britânico ‘The Guardian’ na qual o Cristo Redentor aparece segurando um saco de dinheiro em uma das mãos e uma arma na outra e pediu que a imagem seja respeitada.

A imagem ilustrou uma longa reportagem, cujo título era “Operação Lava Jato: seria esse o maior escândalo de corrupção da história?”. No texto, fala-se sobre o cenário político e econômico brasileiro dos últimos anos e os casos de corrupção no país.

Em entrevista ao telejornal ‘RJTV’, da Rede Globo, o Cardeal Tempesta ressaltou que “o Cristo Redentor é símbolo de uma nação e também símbolo de uma fé”.

De acordo com o Purpurado, “ao representar o Redentor desta forma, o ‘The Guardian’ ofende o povo brasileiro, porque isso é uma ofensa para o povo”. Além disso, indicou “é um vilipêndio para os cristãos, porque Cristo ensinou exatamente o contrário, ensinou que a gente devia amar o próximo, fazer bem ao outro e ser despojado”.

O Arcebispo disse ser “lamentável” que alguém não saiba “respeitar o povo brasileiro, nem os cristãos”. “Nós lamentamos muito isso e pedimos que seja respeitada a imagem de Cristo”, acrescentou.

Filipinas: Governo proíbe uso de terços dentro dos carros.


No confronto mais recente entre o governo e a Igreja Católica nas Filipinas, as autoridades proibiram colocar terços e ícones religiosos nos veículos, argumentando preocupações de segurança.

De acordo a AFP, a proibição faz parte de uma nova lei que entrará em vigor em 26 de maio e busca eliminar as distrações dos motoristas, como falar ou enviar mensagens de texto nos celulares, maquiar-se ou comer e beber.

A proibição, anunciada na semana passada, provocou rechaço nas Filipinas, onde cerca de 80% da população se diz católica.

“Isto é um exagero, insensível e carente de senso comum”, disse à AFP o Pe. Jerome Secillano, secretário executivo dos assuntos públicos na Conferência de Bispos Católicos das Filipinas (CBCP, na sigla em inglês).

Pe. Secillano disse que a maioria dos motoristas se sente mais seguro colocando seus ícones religiosos em seus veículos, porque lhes dá uma sensação de intervenção e proteção divina.

Em um comunicado publicado no site da CBCP, Pe. Secillano disse que a proibição de ícones religiosos é um excesso de uma lei que, inicialmente, buscava impedir que os motoristas ficassem distraídos com os seus telefones.

“Concordo com a proibição o uso de telefones enquanto estamos dirigindo, mas absolutamente é irrelevante proibir a exibição de imagens religiosas nos carros”, disse.

A Junta de Regulação e Franquias de Transportes Terrestre das Filipinas, que emitiu a proibição, assinalou que os objetos religiosos poderão ser colocados no painel ou no espelho retrovisor do carro somente se não se mexerem ou bloquearem o campo de visão do motorista.

Abortista picha na parede da igreja: “Aborto Livre, para Maria também”; sacerdote responde.


Aborto Livre, para Maria também”, foram as palavras que um abortista anônimo escreveu na parede da igreja de São Miguel Arcanjo e Santa Rita, em Milão (Itália), sem esperar que o pároco, através do Facebook da paróquia, publicasse uma resposta que algumas horas depois se tornou viral.

O autor da resposta à propaganda abortista foi o Pe. Andrea Bello e ocorreu na periferia do sul de Milão.

“Querido escritor anônimo de muros”, começou o sacerdote. “Sinto muito que não tenha seguido o exemplo da tua mãe. Ela foi corajosa. Concebeu-te, seguiu em frente com a tua gestação e te deu à luz. Poderia ter te abortado. Mas não fez isso”, acrescentou.

A tua mãe “te criou, alimentou, lavou a tua roupa. E agora você tem uma vida e é livre. Uma liberdade que está usando para nos dizer que seria melhor também que pessoas como você não deveriam estar neste mundo. Sinto muito, mas eu não concordo”.

“Admiro muito a tua mãe porque ela foi corajosa. E ainda é, porque, como toda mãe está orgulhosa do filho, mesmo que ele se comporte mal, porque sabe que dentro dele há uma boa pessoa”, acrescentou.

O sacerdote recordou ao autor anônimo que “o aborto é o ‘sem sentido’ de todas as coisas. É a morte que vence a vida. É o medo que vence um coração, que quer lutar e viver, não quer morrer. É escolher quem tem o direito de viver e quem não tem, como se fosse um direito simples”.

“É uma ideologia que vence uma humanidade, a qual querem impedir de ter esperança. Toda a esperança”, expressou.

Por isso, “admiro todas as mulheres que com muitas dificuldades têm a coragem de seguir em frente. Evidentemente, você não tem coragem, pois permanece anônimo”.

A glória dos mártires, sinal de nova vida


Estes mártires africanos acrescentam ao rol dos vencedores, chamado Martirológio, uma página ao mesmo tempo trágica e grandiosa. É uma página verdadeiramente digna de figurar ao lado das célebres narrações da antiga África. No tempo em que vivemos, por causa da pouca fé, julgávamos que nunca mais elas viriam a ter semelhante continuação.

Quem poderia imaginar, por exemplo, que àquelas Atas tão comovedoras dos mártires de Cíli, dos mártires de Cartago, dos mártires “Massa Candida” de Ótica comemorados por Santo Agostinho e Prudêncio, dos mártires do Egito tão louvados por São João Crisóstomo, dos mártires da perseguição dos vândalos, viriam em nossos tempos juntar-se novas páginas de história não menos valorosas nem menos brilhantes?

Quem teria podido pressentir que, às grandes figuras históricas dos santos mártires e confessores africanos bem conhecidos, como Cipriano, Felicidade e Perpétua e o grande Agostinho, haveríamos de um dia associar Carlos Lwanga, Matias Mulimba Kalemba, nomes tão caros para nós, e os seus vinte companheiros? E não querendo também esquecer os outros que, professando a religião anglicana, sofreram a morte pelo nome de Cristo. Estes mártires africanos dão, sem dúvida, início a uma nova era. Oxalá não seja ela de perseguições e lutas religiosas, mas de renovação cristã e cívica!

Na realidade, a África, orvalhada pelo sangue destes mártires, os primeiros desta nova era (e queira Deus que sejam os últimos – tão grande e precioso é o seu holocausto!), a África, agora sim, renasce livre e independente.

O ato criminoso que os vitimou é tão cruel e significativo, que apresenta fatores suficientes e claros para a formação moral de um povo novo e para a fundação de uma nova tradição espiritual. E também para exprimirem e promoverem a passagem de uma cultura simples e rudimentar – não desprovida de magníficos valores humanos, mas contaminada e enfraquecida, como se fosse escrava de si mesma – a uma civilização aberta às mais altas manifestações da inteligência humana e às mais elevadas formas de vida social.



Da Homilia do papa Paulo VI, pronunciada na canonização dos mártires de Uganda (AAS56 [1964],905-906)            (Séc. XX)