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Bernardo Pires Küster, youtuber que acusa a cúpula da CNBB de ser esquerdista. - Sergio Ranalli /Folhapress |
Bernardo Pires Küster, 30, já foi chamado de "empregadinho servil da CIA, do professor Olavo de Carvalho, da Opus Dei, da maçonaria judaica, da TFP [a ultraconservadora Tradição, Família e Propriedade] e do Mossad [o serviço secreto de Israel].
Teve também a fama recente de "MBL dos católicos", uma comparação que afirma ser sem pé nem cabeça, já que ele vive "metendo o cacete" no movimento liberal liderado por Kim Kataguiri.
O jornalista e tradutor paranaense, que virou um dos maiores youtubers católicos do país, acha graça dos rótulos que colam nele. Já ironizou no Facebook que "nem Reinaldo Azevedo teve tantos patrões" quanto os associados aí em cima para ele –o colunista da Folha é outro que costuma enervar grupos de esquerda.
O que Bernardo admite que é: uma pedra no sapato da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Decorado com uma foto dele segurando um rifle, seu canal do YouTube tem 169 mil seguidores. Na página no Facebook, na qual a foto de capa traz freiras armadas, são 91 mil.
Os dois são abastecidos por vídeos como "Cala a Boca, Abortista!" e "Projeto de Ditadura LGBTTQI+@Y123", que questiona o projeto de lei no Senado que cria o Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero. Bernardo incluiu "outras letras [em LGBTQ, de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queers] pra facilitar o trabalho do pessoal que não para de aumentar essa sigla", diz.
A popularidade do ativista católico disparou após a publicação, dois meses atrás, de "CNBB no banco dos réus". A produção acumula 544 mil visualizações, enquanto vídeos veiculados no canal CNBBNacional costumam alcançar algumas dezenas delas.
A peça de Bernardo dispara uma rajada de acusações contra o que ele julga ser uma entidade empesteada de comunismo. A primeira bofetada é contra o fundador da CNBB, dom Helder Câmara (1909-1999), a quem se refere como "o arcebispo vermelho".
Era um desafeto do regime que se instaurou no mesmo mês em que virou arcebispo de Olinda e Recife, abril de 1964. Ao arcebispo, tido como inimigo pelos militares, se atribuiu a frase "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo, quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista".
Em sua videografia, Bernardo destrincha indícios do que vê como "esquerdização" na Igreja Católica brasileira. Tem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, elogiando a CNBB. Outra imagem aponta a presença da Cáritas, braço da Igreja que se diz voltado "aos excluídos e excluídas", no Fórum Social Mundial deste ano, visto como uma "esquerdolândia".
O presidente da Cáritas, dom João Costa, é alvo preferencial. Bernardo reproduz uma entrevista em que o hoje arcebispo de Aracaju define sua ida a um comício de Lula em 1989 como "um dos momentos mais belos da minha vida". O youtuber indaga: por que não eleger um momento religioso como o mais belo?
Por meio de uma edição engraçadinha, as críticas são intercaladas com cenas como a que Lula fala para a câmera: "Chupa que a cana é doce".
O paranaense lembra da condenação do pontificado de Pio 12 (1939-1958) ao comunismo, num decreto de 1949. "Aqueles que se aliam [ao movimento] são excomungados."