O dia 12 de setembro de 2001 foi uma quarta-feira. Pela manhã, a Praça São Pedro estava repleta de fiéis, como de costume, mas a atmosfera que se respirava não era de alegria, como sempre. Nos olhos das pessoas estavam ainda gravadas as imagens de terror do dia anterior: a queda das Torres Gêmeas, o avião batendo contra o Pentágono, as pessoas desesperadas que fugiam de um cenário infernal, poeira, sangue, mortos nas ruas. Foram as imagens que também João Paulo II, na residência de Castel Gandolfo, viu com desalento e angústia.
Karol Wojtyla - disse Joaquín Navarro-Valls - quis ir direto ao telefone expressar ao Presidente dos Estados Unidos sua tristeza e proximidade à cidadania, mas George W. Bush estava fora de alcance por razões de segurança. Assim, foi enviado um telegrama no qual o Papa falava de "horror", "ataques desumanos" e assegurava suas orações "nesta hora de sofrimento e provação".
Dia sombrio na história da humanidade, mas o ódio não prevalece
Um dos leitores na Praça enfatiza que a audiência é marcada pelos "eventos dramáticos" do dia anterior. "Só para criar um clima de recolhimento e oração - continua ele - o Santo Padre quer que não sejamos aplaudidos". A voz de Karol Wojtyla racha de emoção quando afirma que o 11 de setembro "foi um dia negro na história da humanidade, uma terrível afronta à dignidade do homem". E fazendo a pergunta angustiante que muitos têm em seu coração, ele questiona "como podem tais episódios de selvageria ocorrerem". No entanto, o futuro Santo não deixa espaço para o desespero estéril: “Mesmo no momento mais sombrio, "o fiel sabe que o mal e a morte não têm a última palavra", mesmo que "a força das trevas pareça prevalecer".
Nunca a religião seja usada como motivo de conflito
Alguns dias depois, estava agendada a visita de João Paulo II ao Cazaquistão, país de maioria muçulmana. Muitos aconselham o Papa a não cumprir o compromisso, considerado perigoso. "A religião - diz ele com palavras sinceras, em Astana - nunca deve ser usada como motivo de conflito". E convida "tanto cristãos como muçulmanos a rezar intensamente pelo Deus Todo-Poderoso que nos criou para que o bem fundamental da paz possa reinar no mundo". Um compromisso para o qual João Paulo II, idoso e enfermo, não poupa energias ao convocar, em janeiro de 2002, um novo Encontro de Religiões pela Paz em Assis, na esteira da histórica primeira reunião em 1986.