De todos os símbolos relacionados
com a Paixão de Cristo Nosso Senhor, a Coroa de Espinhos é a que tem mais significado
depois da Santa Cruz. A coluna da flagelação, o látego, o cetro de cana seca,
os cravos, a lança, a tábua do INRI e outros que a Virgem Maria, os Apóstolos e
alguns discípulos guardaram, são relíquias de um significado comovente, mas
somente a Cruz poderia superar a Coroa de Espinhos em veneração e apreço.
Ela foi a que inspirou em 1241 São Luís IX, Rei da França, a construir
um enorme relicário na 'Ile de la Cité' no rio Sena, onde Paris nasceu, e que
hoje conhecemos como a 'Saint Chapelle', uma das mais belas expressões -senão a
mais bela, da arquitetura gótica. Guardá-la nessa capela real como um precioso
tesouro da cristandade, foi a ideia mais maravilhosa e sublime que tenha podido
ocorrer a um governante, que quiçá não intuía a apostasia de seus descendentes
e de seu próprio povo, séculos mais tarde. Aquele fato sozinho fez da França a
nação monárquica por excelência, e é muito simbólico que a guardiã dessa coroa
fosse precisamente a que deu o primeiro golpe mortal definitivo contra a monarquia
na Europa, para estabelecer um republicanismo sangrento que ainda não resolveu
os problemas políticos dessa nação.
Também foi a Coroa de Espinhos que sugeriu a
Godofredo de Bouillon, aquela frase inesquecível quando lhe propuseram que ele
se coroasse rei de Jerusalém após a ter recuperado dos muçulmanos: "Eu não
usaria uma coroa de ouro onde meu rei usou uma de espinhos". Por isso,
quando finalmente os reis latinos daquele pequeno reino franco do oriente
próximo, resolveram usar a coroa, a mandaram fazer em ouro imitando uma de
espinhos.
A Coroa de Espinhos definitivamente é o símbolo do
nosso rei. Onde quer que vejamos uma representada imediatamente a
relacionaremos com aquele momento histórico em que uma vulgar soldadesca de
classe baixa, fez uma paródia blasfema de coroação ajustando-a violentamente na
cabeça de Nosso Senhor, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores. Que distante estavam
eles de imaginar que aquele ato infame de ódio e escárnio, inspiraria nos
séculos posteriores belas obras de inestimável maestria pictórica, sinfonias,
esculturas e outras maravilhas da arte e da literatura!
No terceiro mistério doloroso do santo rosário que
Nossa Senhora ensinou a São Domingos de Gusmão, contemplamos essa dolorosa cena
que é acompanhada por um Pai Nosso, dez Ave Marias e um Glória. Tampouco nisso
pensaram judeus e romanos ofendendo a Deus feito homem. Séculos e séculos
repetimos e consideramos aquele momento humilhante e doloroso para um homem,
judeu de boa estirpe, santo varão que nada lhe devia e passou por este mundo
somente fazendo o bem.
Aquela geração hoje feita poeira, e dos quais
alguns mal recordam seus nomes para execrá-los, cantou a vitória sem saber que
estava sendo terrivelmente derrotada, e para sempre. Pendurado em um madeiro,
horrivelmente flagelado, empapado em seu próprio sangue e com sua cabeça
coroada de espinhos, triunfou e se tornou rei até o fim do mundo Jesus Cristo
Deus feito homem entre nós.
Se diz que São Luís IX a recebeu na entrada da
Paris murada daquela época, descalço e com o traje de penitente. A levou, em
uma almofada de veludo azul da França com várias flores de lis de ouro, pelas
ruas da cidade em uma procissão que comoveu em lágrimas ao povo, para
depositá-la temporariamente na própria capela de seu palácio, enquanto mandava levantar
aquele relicário gótico de cristal, pedras, esmaltes coloridos e mármore para
abrigar o símbolo do que é um governo autêntico: aquele que está disposto ao
sacrifício completo pelo bem de sua nação. É impossível que um acontecimento
como esse, não tenha tido uma repercussão transcendental no Reino dos Céus, e
hoje, recolhido aos esplendores do Pai Eterno -como disse uma vez o Professor
Plínio Corrêa de Oliveira, não esteja à espera do dia que retornará à memória
coletiva de toda a cristandade, com o triplo da força do entusiasmo amoroso e
agradecido com que foi recebida e levada aqueles tempos de Fé da santa Idade
Média, que o liberalismo tanto caluniou, cuspiu e insultou como se fosse o
próprio Jesus Nosso Senhor.
Por Antonio Borda
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
_____________________________________________Gaudium Press
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