sábado, 8 de setembro de 2018

Coroa de Espinhos e Idade Média



De todos os símbolos relacionados com a Paixão de Cristo Nosso Senhor, a Coroa de Espinhos é a que tem mais significado depois da Santa Cruz. A coluna da flagelação, o látego, o cetro de cana seca, os cravos, a lança, a tábua do INRI e outros que a Virgem Maria, os Apóstolos e alguns discípulos guardaram, são relíquias de um significado comovente, mas somente a Cruz poderia superar a Coroa de Espinhos em veneração e apreço.

Ela foi a que inspirou em 1241 São Luís IX, Rei da França, a construir um enorme relicário na 'Ile de la Cité' no rio Sena, onde Paris nasceu, e que hoje conhecemos como a 'Saint Chapelle', uma das mais belas expressões -senão a mais bela, da arquitetura gótica. Guardá-la nessa capela real como um precioso tesouro da cristandade, foi a ideia mais maravilhosa e sublime que tenha podido ocorrer a um governante, que quiçá não intuía a apostasia de seus descendentes e de seu próprio povo, séculos mais tarde. Aquele fato sozinho fez da França a nação monárquica por excelência, e é muito simbólico que a guardiã dessa coroa fosse precisamente a que deu o primeiro golpe mortal definitivo contra a monarquia na Europa, para estabelecer um republicanismo sangrento que ainda não resolveu os problemas políticos dessa nação.

Também foi a Coroa de Espinhos que sugeriu a Godofredo de Bouillon, aquela frase inesquecível quando lhe propuseram que ele se coroasse rei de Jerusalém após a ter recuperado dos muçulmanos: "Eu não usaria uma coroa de ouro onde meu rei usou uma de espinhos". Por isso, quando finalmente os reis latinos daquele pequeno reino franco do oriente próximo, resolveram usar a coroa, a mandaram fazer em ouro imitando uma de espinhos. 

A Coroa de Espinhos definitivamente é o símbolo do nosso rei. Onde quer que vejamos uma representada imediatamente a relacionaremos com aquele momento histórico em que uma vulgar soldadesca de classe baixa, fez uma paródia blasfema de coroação ajustando-a violentamente na cabeça de Nosso Senhor, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores. Que distante estavam eles de imaginar que aquele ato infame de ódio e escárnio, inspiraria nos séculos posteriores belas obras de inestimável maestria pictórica, sinfonias, esculturas e outras maravilhas da arte e da literatura!

No terceiro mistério doloroso do santo rosário que Nossa Senhora ensinou a São Domingos de Gusmão, contemplamos essa dolorosa cena que é acompanhada por um Pai Nosso, dez Ave Marias e um Glória. Tampouco nisso pensaram judeus e romanos ofendendo a Deus feito homem. Séculos e séculos repetimos e consideramos aquele momento humilhante e doloroso para um homem, judeu de boa estirpe, santo varão que nada lhe devia e passou por este mundo somente fazendo o bem.

Aquela geração hoje feita poeira, e dos quais alguns mal recordam seus nomes para execrá-los, cantou a vitória sem saber que estava sendo terrivelmente derrotada, e para sempre. Pendurado em um madeiro, horrivelmente flagelado, empapado em seu próprio sangue e com sua cabeça coroada de espinhos, triunfou e se tornou rei até o fim do mundo Jesus Cristo Deus feito homem entre nós.

Se diz que São Luís IX a recebeu na entrada da Paris murada daquela época, descalço e com o traje de penitente. A levou, em uma almofada de veludo azul da França com várias flores de lis de ouro, pelas ruas da cidade em uma procissão que comoveu em lágrimas ao povo, para depositá-la temporariamente na própria capela de seu palácio, enquanto mandava levantar aquele relicário gótico de cristal, pedras, esmaltes coloridos e mármore para abrigar o símbolo do que é um governo autêntico: aquele que está disposto ao sacrifício completo pelo bem de sua nação. É impossível que um acontecimento como esse, não tenha tido uma repercussão transcendental no Reino dos Céus, e hoje, recolhido aos esplendores do Pai Eterno -como disse uma vez o Professor Plínio Corrêa de Oliveira, não esteja à espera do dia que retornará à memória coletiva de toda a cristandade, com o triplo da força do entusiasmo amoroso e agradecido com que foi recebida e levada aqueles tempos de Fé da santa Idade Média, que o liberalismo tanto caluniou, cuspiu e insultou como se fosse o próprio Jesus Nosso Senhor.


Por Antonio Borda
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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Gaudium Press

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