quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Aos jovens na Estônia: "O amor não está morto, nos chama e nos envia"


ENCONTRO ECUMÊNICO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Estônia - Igreja Luterana de São Carlos em Tallinn
Terça-feira, 25 de setembro de 2018

Queridos jovens!

Obrigado pela vossa calorosa recepção, os vossos cânticos e os testemunhos de Lisbel, Tauri e Mirko. Agradeço as palavras amáveis e fraternas do Arcebispo da Igreja Evangélica Luterana da Estônia, Urmas Viilma, bem como a presença do Presidente do Conselho das Igrejas da Estônia, o Arcebispo Andres Põder, a do Bispo D. Philippe Jourdan, Administrador Apostólico da Estônia, e dos outros representantes das diversas confissões cristãs presentes no país. Agradeço também a presença da Senhora Presidente da República.

É sempre bom reunir-nos, partilhar testemunhos da vida, expressar o que pensamos e queremos; e é muito bom estarmos juntos, nós que cremos em Jesus Cristo. Estes encontros tornam realidade o sonho de Jesus na Última Ceia: «Que todos sejam um só (…) para que o mundo creia» (Jo 17, 21). Se fizermos esforço por nos vermos como peregrinos que fazem o caminho juntos, aprenderemos a abrir com confiança o coração ao companheiro de estrada, sem cultivar suspeitas nem difidências, olhando apenas para aquilo que realmente procuramos: a paz diante do rosto do único Deus. E, uma vez que a paz é artesanal, ter confiança nos outros é também algo de artesanal, constitui uma fonte de felicidade: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). E esta estrada, este caminho, não o fazemos só com os crentes, mas com todos. Todos têm qualquer coisa a dizer-nos; e nós, a todos, temos algo a dizer.

O grande quadro que se encontra na abside desta igreja contém uma frase do Evangelho de São Mateus: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Vós, jovens cristãos, podeis identificar-vos com alguns elementos deste texto do Evangelho.

Nas narrações anteriores, o evangelista mostra-nos que Jesus tem vindo a acumular decepções. Primeiro, lamenta-Se porque parece que, para aqueles a quem Se dirige, nada está bem (cf. Mt 11, 16-19). A vós, jovens, acontece muitas vezes que os adultos ao vosso redor não sabem o que querem ou esperam de vós; ou, quando vos veem muito felizes, ficam desconfiados; e, se vos veem angustiados, relativizam o sucedido. Na consultação preliminar do Sínodo, que está para se realizar e vai refletir sobre os jovens, muitos de vós pedem que alguém vos acompanhe e compreenda sem julgar e saiba escutar-vos bem como dar resposta às vossas questões (cf. Sínodo dedicado aos jovens, Instrumentum laboris, 132). Às vezes, as nossas Igrejas cristãs – e ousaria dizer todo o processo religioso estruturado institucionalmente – carregam consigo atitudes nas quais nos é mais fácil falar, aconselhar, propor a partir da nossa experiência, do que escutar, do que se deixar interpelar e iluminar por aquilo que vós viveis. Muitas vezes, sem dar por isso, as comunidades cristãs fecham-se e não escutam as vossas inquietações. Sabemos que vós quereis e esperais «ser acompanhados, não por um juiz inflexível nem por um pai receoso e superprotetor que gera dependência, mas por alguém que não tem medo da sua própria fraqueza e sabe fazer resplandecer o tesouro que guarda dentro de si, como num vaso de barro (cf. 2 Cor 4, 7)» (Ibid., 142). Aqui, hoje, quero-vos dizer que desejamos chorar convosco se estais a chorar, acompanhar com os nossos aplausos e nossos sorrisos as vossas alegrias, ajudar-vos a viver o seguimento do Senhor. Vós jovens, rapazes e moças, fixai isto: quando uma comunidade cristã é verdadeiramente cristã não faz proselitismo. Apenas escuta, acolhe, acompanha e caminha; mas não impõe nada.

Jesus queixa-Se também das cidades que visitou, nelas realizando mais milagres e reservando-lhes maiores gestos de ternura e proximidade, e lamenta a sua falta de perspicácia para perceber que a mudança que lhes viera propor era urgente, não podia esperar. Chega mesmo a dizer que são mais relutantes e cegos do que Sodoma (cf. Mt 11, 20-24). E quando nós, adultos, nos fechamos a uma realidade que é já um facto, dizeis-nos com ousadia: «Não o vedes?». E alguns mais decididos têm a coragem de dizer: «Não vos dais conta de que já ninguém vos escuta, nem crê em vós?». Verdadeiramente precisamos de nos converter, de descobrir que, para estar ao vosso lado, devemos derrubar muitas situações que, em última análise, são aquelas que vos afastam.

Papa se reúne com líderes da Estônia em última etapa nos países bálticos


ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, 
A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Estônia - Jardim das Rosas do Palácio Presidencial em Tallinn 
Martedì, 25 settembre 2018

Senhora Presidente, 
Membros do Governo e Autoridades,
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Excelências, Senhoras e Senhores!

Sinto-me muito feliz por me encontrar convosco aqui em Tallinn, a capital mais setentrional que o Senhor me concedeu visitar. Agradeço-lhe, Senhora Presidente, as suas palavras de boas-vindas e a oportunidade de encontrar os representantes deste povo da Estónia. Sei que, entre vós, há também uma delegação dos setores da sociedade civil e do mundo da cultura, motivo este que me levou a conhecer um pouco mais da vossa cultura, especialmente aquela capacidade de resiliência que vos permitiu recomeçar face a tantas situações adversas.

Há séculos que estas terras são chamadas «Terra de Maria», Maarjamaa. Um nome que não só pertence à vossa história, mas faz parte da vossa cultura. A evocação de Maria sugere-me duas palavras: memória e fecundidade. Maria é a mulher da memória, que guarda tudo o que vive, como um tesouro, em seu coração (cf. Lc 2, 19); mas é também a mãe fecunda que gera a vida de seu Filho. Por isso mesmo, gostava de pensar na Estónia como terra de memória e de fecundidade.

Terra de memória

O vosso povo teve que suportar, em diferentes períodos históricos, duros momentos de sofrimento e tribulação. Lutas pela liberdade e independência, que sempre se viram postas em questão ou ameaçadas. No entanto, nos últimos cerca de vinte e cinco anos – em que voltastes a entrar, a título pleno, na família das nações – a sociedade estoniana realizou «passos de gigante» e o vosso país, apesar de ser pequeno, está entre os primeiros pelo índice de desenvolvimento humano, pela sua capacidade de inovação, bem como pela demonstração dum alto nível de liberdade de imprensa, democracia e liberdade política. Além disso, reforçastes os laços de cooperação e amizade com vários países. Quando consideramos o vosso passado e o vosso presente, encontramos motivos para olhar com esperança o futuro nos novos desafios que surgem. Ser terra de memória significa saber lembrar que o lugar que alcançastes atualmente se deve ao esforço, ao trabalho, ao espírito e à fé dos vossos pais. Cultivar, agradecidos, a memória permite identificar todos os resultados que hoje desfrutais com uma história de homens e mulheres que lutaram para tornar possível essa liberdade e que, por sua vez, vos desafia a prestar-lhes homenagem, abrindo caminhos para aqueles que virão a seguir.

Conheça o Foro de São Paulo, o maior inimigo do Brasil


O maior inimigo do Brasil e do continente nas últimas décadas precisa ser identificado pelos homens de bem deste país, de modo que reúno abaixo o mínimo que você precisa saber a respeito para se informar e educar os amigos, compartilhando este link nas redes sociais.

Fundado em 1990 por Lula e Fidel Castro — por ideia de Lula, segundo ele mesmo declarou (o que nunca é de todo confiável) em maio de 2011 [ver Vídeo 5] —, o “Foro de São Paulo é a mais vasta organização política que já existiu na América Latina e, sem dúvida, uma das maiores do mundo. Dele participam todos os governantes esquerdistas do continente. Mas não é uma organização de esquerda como outra qualquer. Ele reúne mais de uma centena de partidos legais e várias organizações criminosas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos sequestros, como as Farc e o MIR chileno, todas empenhadas numa articulação estratégica comum e na busca de vantagens mútuas. Nunca se viu, no mundo, em escala tão gigantesca, uma convivência tão íntima, tão persistente, tão organizada e tão duradoura entre a política e o crime”, como escreveu em 2007 o filósofo Olavo de Carvalho, autor do best seller idealizado e organizado por mim, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.

Por quase duas décadas, os jornais e supostos oposicionistas brasileiros esconderam do grande público a existência do Foro de São Paulo, descoberto pelo advogado paulista José Carlos Graça Wagner, que o denunciou publicamente em 1º de setembro de 1997, e não faltou quem rotulasse seus denunciadores como “teóricos da conspiração”. De uns anos para cá, quando o Foro já tinha feito e desfeito governos em toda a América Latina, elegendo presidentes dos países do continente cerca de 15 membros da organização, seu nome começou a aparecer aqui e ali em reportagens, como se o Foro fosse apenas uma entidade como outra qualquer.

Vamos ver se é mesmo? Vem comigo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A campanha de Bolsonaro na reta final


Disseram por aí: “para quem votou no Aécio a eleição passada, você não acha que está muito exigente nesta eleição?”. Em 2014 o voto antipetista foi todo para o candidato do PSDB, Aécio Neves. De fato, a preferência a Aécio significava votar num grupo político de modo a escolher um “mal menor”, e quem sabe, nas eleições 2018, aparecesse um nome mais realista no campo da oposição, aonde a escolha do “mal menor” fosse transformada numa escolha por um “voto assertivo”. E se, mesmo que este voto assertivo não tivesse chances reais de vitória, seria de extrema importância sua participação nos debates presidenciais para expor e questionar toda uma agenda política de esquerda, hegemônica no País em todas as eleições das últimas décadas. Por isso, a campanha de Bolsonaro (PSL) na reta final da disputa eleitoral merece toda a atenção.

Como disse o professor Olavo de Carvalho, antes de colocar um presidente em Brasília que quebre o sistema político hegemônico, seria melhor um prazo maior para que a militância se organizasse bem, fazendo com que a base se fortalecesse para só depois, então, fosse empossado um presidente realmente de oposição, contando com a força de uma base militante estabelecida.

Formam-se aqui duas questões: 1- Não tivemos este período mais longo de preparação de uma base militante, mas temos um candidato favorito agora. 2- Até que ponto a base militante deste candidato ainda é fraca, uma vez que um dos motivos de Bolsonaro ter alcançado este favoritismo se dê por causa do trabalho de tal militância.

É óbvio que, se temos no presente momento, um candidato outsider, não contaminado pela atividade criminosa da política nacional, faz-se necessário e urgente apoiá-lo e (para usar uma expressão do professor Carlos Nougué) “Não é hora de ter medo, nem sequer de fraude. É hora de disputar votos palmo a palmo, conquistar todos quantos nos seja possível. Quanto mais votos em Bolsonaro, menos chances de fraude". E nisso consiste esta urgência: dar continuidade à hegemonia política, neste momento, seria levar o golpe fatal que nos conduziria à queda ao radicalismo esquerdista nos moldes da Venezuela ou Nicarágua.

Houve uma grande batalha no Céu


Ao tirar do nada o universo, quis o Divino Artífice fazer deste um reflexo seu, espelhando-se no homem, rei da criação e microcosmo, criando-o à sua imagem e semelhança” (Gn l, 26)

No ápice desta obra, superando em perfeição todas as criaturas visíveis, encontram-se os Anjos, seres dotados de inteligência e puros espíritos, com personalidade própria e exclusiva, distribuídos por Deus em nove coros: Serafins, Querubins, Tronos, Virtudes, Dominações, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos. Formam estes a milícia da Jerusalém celeste, com a missão de adorar continuamente a Santíssima Trindade, executar os desígnios de Deus e guardar o gênero humano, bem como governar toda a criação material.1

Imensa e inimaginável é esta corte celeste! “Porventura podem ser contadas as suas legiões?” — indaga o livro de Jó (25, 3). E o profeta Daniel, maravilhado exclama: “Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! ” (Dn 7, 10).

A tanta diversidade e beleza quis Deus colocar um ponto monárquico, um ser que representasse de modo inigualável a luz eterna. Obra-prima, esplendor dos esplendores, cintilava no mais alto do universo angélico, todos se extasiavam diante dele: o primeiro dos Serafins e seu nome era Lúcifer, “Aquele que portava a luz”. A ele se aplicavam as palavras de Ezequiel: “Tu és o selo da semelhança de Deus, cheio de sabedoria e perfeito na beleza; tu vivias nas delícias do paraíso de Deus e tudo foi empregado em realçar a tua formosura!” (Ez 28, 12-13).

Entretanto, a seres tão excelsos, reservada também estava uma prova. Apesar da perfeição da natureza angélica, não podiam os Anjos gozar da essência da bem-aventurança: a posse da visão beatífica. Diante deles a face do Senhor achava-se como que envolta em véus, e apenas seus reflexos animavam o ardente amor dos Anjos.

Segundo exegetas e teólogos, a prova que decidiu o destino eterno dos Anjos foi o anúncio da Encarnação do Verbo: Deus haveria de enviar seu Filho Unigênito, nascido de uma mulher, criatura que teria seu trono elevado acima das Potestades: Maria Santíssima, Regina Angelorum.

A esse propósito, diz-nos o Padre Pedro Morazzani: “O Criador eterno, inacessível, todo-poderoso, se uniria hipostaticamente à natureza humana, elevando-a assim até o trono do Altíssimo; e uma mulher, a Mãe de Deus, tornar-se-ia medianeira de todas as graças, seria exaltada por cima dos coros angélicos e coroada Rainha do universo”.2

O momento decisivo: amar sem entender; subjugar os próprios critérios aos critérios do Absoluto! Eis o ato que os confirmaria, in perpetuo, na graça e na glória!

“Foram eles submetidos a uma prova. No momento da prova, muitíssimos destes espíritos permaneceram fiéis a Deus; mas muitos outros pecaram. Seu pecado foi de soberba, querendo ser iguais a Deus e não depender dEle” (CCE 3399).

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Letônia: Discurso do Papa aos idosos


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

ENCONTRO COM OS IDOSOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Letónia - Catedral de São Tiago
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018


Amados irmãos e irmãs!

Agradeço ao Arcebispo as suas palavras e a sua solícita análise da realidade. A vossa presença, irmãos idosos, lembra-me duas expressões da Carta do apóstolo Tiago, a quem está dedicada esta catedral. No início e no fim da carta, ele convida-nos à constância, mas usando dois termos diferentes. Estou certo de que podemos ouvir a voz do «irmão do Senhor», que hoje quer dirigir-se a nós.

Vós, que aqui vos encontrais, estivestes sujeitos a toda a espécie de provações: o horror da guerra e, depois, a repressão política, a perseguição e o exílio, como bem descreveu o vosso Arcebispo. E mantivestes-vos constantes, perseverastes na fé. Nem o regime nazista nem o soviético apagaram a fé nos vossos corações e, a alguns de vós, não vos fizeram sequer desistir de vos dedicardes à vida sacerdotal, religiosa, à catequese e a vários outros serviços eclesiais que punham em risco a vida; combatestes o bom combate, estais para terminar a corrida e conservastes a fé (cf. 2 Tm 4, 7).

Mas o apóstolo Tiago insiste no facto de que esta paciência vence a prova a que está sujeita a fé, quando gera obras perfeitas (cf. Tg 1, 2-4). Então a vossa atividade foi perfeita, mas terá ainda de tender para a perfeição nas novas circunstâncias. Vós, que vos devotastes de corpo e alma, que destes a vida buscando a liberdade da vossa pátria, muitas vezes tendes a sensação de ficar esquecidos. Embora pareça paradoxal, hoje, em nome da liberdade, os homens livres abandonam os idosos à solidão, ao ostracismo, à falta de recursos, à exclusão e até mesmo à miséria. Se assim for, o chamado comboio da liberdade e do progresso acaba por ter, naqueles que lutaram para conquistar direitos, a sua carruagem de cauda, os espetadores duma festa alheia, honrados e homenageados, mas esquecidos na vida diária (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 234).

O apóstolo Tiago convida-nos a ser constantes, não deixando diminuir a vigilância. «Neste caminho, o progresso do bem, o amadurecimento espiritual e o crescimento do amor são o melhor contrapeso ao mal» (Exort. ap. Gaudete et exsultate, 163). Não cedais ao desânimo, à tristeza, nem percais a doçura e, menos ainda, a esperança!

Em encontro ecumênico na Letônia, Papa frisa reconciliação e comunhão


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

ENCONTRO ECUMÊNICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Letônia - Catedral Evangélica Luterana de Riga
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018


Sinto-me feliz por poder encontrar-me convosco nesta terra que se carateriza por realizar um caminho de respeito, colaboração e amizade entre as diferentes Igrejas cristãs, que conseguiram gerar unidade mantendo a riqueza e a singularidade próprias de cada uma. Atrevo-me a dizer que é um «ecumenismo vivo», sendo uma das caraterísticas peculiares da Letónia. É, sem dúvida alguma, um motivo de esperança e ação de graças.

Obrigado ao Arcebispo Jānis Vanags por nos ter aberto a porta desta casa para realizar o nosso encontro de oração: casa-catedral que, há mais de 800 anos, hospeda a vida cristã desta cidade; testemunha fiel de muitos irmãos nossos que dela se abeiraram para adorar, rezar, sustentar a esperança em tempos de tribulação e encontrar coragem para enfrentar períodos cheios de injustiça e sofrimento. Hoje hospeda-nos para que o Espírito Santo continue a tecer artesanalmente laços de comunhão entre nós e, assim, faça também de nós artesãos de unidade no meio do nosso povo, para que as nossas diferenças não se tornem divisões. Deixemos que o Espírito Santo nos revista com as armas do diálogo, da compreensão, da busca do respeito mútuo e da fraternidade (cf. Ef 6, 13-18).

Nesta catedral, encontra-se um dos órgãos mais antigos da Europa e que, no momento da sua inauguração, era o maior do mundo. Podemos imaginar como acompanhou a vida, a criatividade, a imaginação e a piedade de todos aqueles que se deixavam envolver pela sua melodia. Foi instrumento de Deus e dos homens, para elevar o olhar e o coração. Hoje é um emblema desta cidade e desta catedral. Para o «residente» neste lugar, representa mais do que um órgão monumental, faz parte da sua vida, da sua tradição, da sua identidade; ao passo que, para o turista, é naturalmente um objeto artístico a ser conhecido e fotografado. E este é um perigo que se corre sempre: passar de residentes a turistas, fazendo daquilo que nos identifica um objeto do passado, uma atração turística e de museu que recorda os feitos de outrora, de alto valor histórico, mas que deixou de fazer vibrar o coração de quantos o escutam.

Com a fé, pode acontecer exatamente a mesma coisa. Podemos deixar de nos sentir cristãos residentes, para nos tornarmos turistas. Mais, é possível afirmar que toda a nossa tradição cristã pode sofrer a mesma sorte: acabar reduzida a um objeto do passado que, fechado dentro das paredes das nossas igrejas, deixa de produzir uma melodia capaz de mover e inspirar a vida e o coração daqueles que a ouvem. Porém, como afirma o evangelho que escutamos, a nossa fé não é para ficar oculta, mas para se dar a conhecer fazendo-a ressoar nos diferentes setores da sociedade, a fim de que todos possam contemplar a sua beleza e ser iluminados com a sua luz (cf. Lc 11, 33).

Se a música do Evangelho deixar de ser executada na nossa vida e se transformar numa bela partitura do passado, já não conseguirá romper as monotonias asfixiadoras que impedem de animar a esperança, tornando estéreis todos os nossos esforços.

Se a música do Evangelho parar de vibrar nas nossas entranhas, perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança, a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no facto de nos sabermos sempre perdoados-enviados.

Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia, teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher, independentemente da sua proveniência, encerrando-nos no «meu» e esquecendo-nos do «nosso»: a casa comum que a todos nos diz respeito.

Se a música do Evangelho deixar de soar, teremos perdido os sons que hão de levar a nossa vida ao céu, entrincheirando-nos num dos piores males do nosso tempo: a solidão e o isolamento. A doença que surge em quem não possui qualquer laço, e que se pode encontrar também nos idosos abandonados ao seu destino, bem como nos jovens sem pontos de referência nem oportunidades de futuro (cf. Discurso ao Parlamento Europeu, 25 de novembro de 2014).

As palavras – Pai, «que todos sejam um só, (…) para que o mundo creia» (Jo 17, 21) – continuam a ressoar intensamente no meio de nós, graças a Deus. É Jesus que, antes do seu sacrifício, reza ao Pai. É Jesus, Jesus Cristo que, encarando a sua cruz e a cruz de muitos dos nossos irmãos, não cessa de implorar ao Pai. É o murmúrio constante desta oração, que traça a senda e nos indica o caminho a seguir. Imersos na sua oração, como crentes n’Ele e na sua Igreja, desejando a comunhão de graça que o Pai possui desde toda a eternidade (cf. São João Paulo II, Carta enc. Ut unum sint, 9), encontramos ali a única estrada possível para todo o ecumenismo na cruz do sofrimento de tantos jovens, idosos e crianças, frequentemente expostos à exploração, ao absurdo, à falta de oportunidades e à solidão. Enquanto fixa o olhar no Pai e em nós, seus irmãos, Jesus não cessa de implorar: que todos sejam um só.

Letônia: Homilia do Papa no Santuário da Mãe de Deus em Aglona


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Letônia - Santuário da Mãe de Deus em Aglona
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018


Poderíamos justamente dizer que hoje se repete aqui o que São Lucas narra no início do livro dos Atos dos Apóstolos: estamos intimamente unidos, dedicando-nos à oração e na companhia de Maria, nossa Mãe (cf. 1, 14). Hoje fazemos nosso o lema desta visita: «Mostrai-Vos Mãe!», manifestai-nos o lugar onde continuais a cantar o Magnificat, os lugares onde Se encontra o vosso Filho crucificado para, aos seus pés, podermos encontrar a vossa presença firme.

O Evangelho de João refere apenas dois momentos em que a vida de Jesus cruza a de sua Mãe: as bodas de Caná (cf. 2, 1-12) e o texto que acabamos de ler, ou seja, Maria aos pés da cruz (cf. 19, 25-27). Parece que o evangelista tenha interesse em mostrar-nos a Mãe de Jesus nestas situações de vida aparentemente opostas: a alegria de um matrimónio e o sofrimento pela morte dum filho. Enquanto penetramos no mistério da Palavra, Ela mostra-nos qual é a Boa Nova que, hoje, o Senhor quer partilhar connosco.

A primeira coisa que o evangelista ressalta é que Maria está firmemente «de pé» junto de seu Filho. Não se trata dum modo descontraído de estar, nem evasivo e, menos ainda, pusilânime. Está, com firmeza, «cravada» aos pés da cruz, expressando com a posição do seu corpo que nada e ninguém poderia movê-La daquele lugar. É assim que Maria Se mostra em primeiro lugar: junto daqueles que sofrem, daqueles de quem todo o mundo foge, nomeadamente os que são julgados, condenados por todos, deportados. Não se trata apenas de oprimidos ou explorados, mas estão diretamente «fora do sistema», à margem da sociedade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 53). Juntamente com eles, está também a Mãe, cravada nesta cruz da incompreensão e do sofrimento.

Maria mostra-nos também o modo como estar junto destas realidades; não é dar um passeio ou fazer uma breve visita, nem se trata sequer de «turismo solidário». É necessário que aqueles que padecem uma realidade dolorosa nos sintam a seu lado e da sua parte, de maneira firme, estável; todos os descartados da sociedade podem experimentar esta Mãe delicadamente próxima, porque, naqueles que sofrem, permanecem as chagas abertas do seu Filho Jesus. Ela aprendeu-o ao pé da cruz. Também nós somos chamados a «tocar» o sofrimento dos outros. Saiamos ao encontro do nosso povo para o consolar e fazer-lhe companhia; não tenhamos medo de experimentar a força da ternura e de nos envolvermos vendo a nossa vida complicada pelos outros (cf. ibid., 270). E, como Maria, permaneçamos firmes e de pé: com o coração voltado para Deus e corajosos, levantando os que caíram, erguendo o humilhado, ajudando a pôr fim a toda e qualquer situação de opressão que os faz viver como crucificados.

Maria é convidada por Jesus a aceitar o discípulo amado como seu filho. O texto refere que estavam juntos, mas Jesus dá-se conta de que isto não é suficiente, porque não se acolheram reciprocamente. De facto, é possível estar junto de muitíssimas pessoas, pode-se até compartilhar a mesma casa, bairro ou trabalho; pode-se compartilhar a fé, contemplar e desfrutar os mesmos mistérios, mas sem acolher, nem praticar uma aceitação amorosa do outro. Quantos esposos poderiam contar a história de estar próximos, mas não juntos! Quantos jovens sentem dolorosamente esta distância dos adultos! Quantos idosos se sentem friamente tratados, mas não carinhosamente cuidados e acolhidos!