“Havendo perigo próximo para a fé, os prelados devem ser arguidos, até mesmo publicamente, pelos súditos. Assim, São Paulo, que era súdito de São Pedro, arguiu-o publicamente, em razão de um perigo iminente de escândalo em matéria de Fé. E, como diz a Glosa de Santo Ambrósio, ‘o próprio São Pedro deu o exemplo aos que governam, a fim de que estes afastando-se alguma vez do bom caminho, não recusassem como indigna uma correção vinda mesmo de seus súditos’ (ad. Gal. 2, 14)” (Suma Teológica, II – IIae, 33, 4, 2).
Reverendíssimo Senhor Arcebispo de São Luís, Dom José Belisário da Silva,
Tomo a liberdade de me dirigir a V. Exa. – em carta aberta, pois tratarei de assunto de grande interesse a todos os católicos – com o propósito de expor algumas considerações em face do insólito Encontro Arquidiocesano de Base para Trabalhar o Protagonismo da Mulher, a se realizar, de 18 a 20 de janeiro próximo, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Anil.
Sabe muito bem V. Exa. Revma., sobretudo por vossa alta dignidade de Bispo da Igreja, que atualmente um dos maiores inimigos do que restou de Civilização Cristã, senão o maior, é a tão propalada ideologia de gênero, através da qual elementos de índole claramente marxista, ou comuno-progressista, com o amplo apoio dos meios de comunicação e de grupos financiados por fundações internacionalistas, procuram difundir a falácia segundo a qual a identidade sexual não se pauta por critérios biológicos, senão enquanto construção social, dependente única e exclusivamente do livre arbítrio individual.
Sabe também V. Exa. que outra das mais sérias ameaças ao nosso modo de vida cristão é, inegavelmente, o feminismo, que não pretende, como tão difundindo pela chamada grande mídia, elevar a “autoestima das mulheres”, defendendo-as das agressões físicas e psicológicas que podem porventura sofrer, quer da parte de estranhos, quer de familiares – mas, lançando mão de um discurso de ódio, acaba por lançá-las numa guerra desnecessária e absurda contra o gênero masculino, criando um clima em tudo avesso ao ambiente de harmonia e cordialidade muito próprio de nossos costumes ibéricos e católicos.
Dito isto, convém dizer que o estranhíssimo Encontro Arquidiocesano de Base para Trabalhar o Protagonismo da Mulher, organizado pela Pastoral da Juventude da Arquidiocese de São Luís, tal como eu mesmo pude verificar de seu anúncio nas redes sociais, apresenta linguagem e forma no mínimo inadequadas, para não dizer incompatíveis, em face do ensinamento de sempre da Santa Igreja, Mãe e Mestra de vida e sabedoria, cuja missão, conferida pelo próprio Cristo, é, como fundamento de uma comunidade política virtuosa, de pessoas essencialmente iguais e acidentalmente diferentes, oferecer os meios necessários sem os quais ninguém poderá alcançar o seu fim último, a saber: a Bem-Aventurança Eterna.
Causou-me particular apreensão que os termos utilizados na apresentação do evento tenham evitado referir-se aos gêneros masculino e feminino, como que a endossar veladamente as teses anticatólicas da ideologia de gênero e sugerindo que não há sexos biologicamente constituídos, o que equivaleria a dizer que a própria Criação, tal como ordenada por Deus, contém erros.
Nada teria, evidentemente, qualquer pessoa de boa vontade a apontar de contrário à nossa fé em evento destinado à formação de mulheres conscientes de sua condição de mães, filhas, cidadãs, com um papel social e moral de suma importância a desempenhar, tendo Nossa Senhora Virgem Santíssima como modelo a ser imitado. Especulo se seria esse o intuito, e não outro, do tal Encontro… idealizado pela Pastoral da Juventude de São Luís, atrelada à nossa veneranda Arquidiocese.