"A 57.ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil está neste momento em curso, sob a proteção da
Santíssima Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
São tempos difíceis os que vivemos; tempos de
descristianização fremente da sociedade, tempos de neopaganização, de desrespeito
à vida humana e, mais ainda, Àquele que por Sua Encarnação elevou a natureza
humana à dignidade de conatural do próprio Redentor. Nestes anos de existência
da CNBB e de suas assembleias gerais, o Brasil, na prática, deixou de ser um
país católico. Veja-se isso claramente numa frase singela, encontrada numa
reportagem de um dos maiores jornais brasileiros, acerca desta Assembleia ora
em curso; segundo a Folha de São Paulo, “[os bispos reunidos] costumam vestir
calça e paletó, e não a túnica que faz parte da indumentária”. Que “túnica”
seria esta? Ora, a batina! Esta foi a forma pela qual um jornalista absoluta e
completamente desprovido de familiaridade com a Igreja que gerou a civilização
de cuja decadência final faz parte tenta apontar o uso costumeiro de clergyman,
não de batina, por parte dos Sucessores dos Apóstolos no Brasil. Seu avô com
certeza reconheceria um bispo de batina e beijaria seu anel. Seu pai talvez
beijasse a mão, sem reparar na existência de um anel nela. Ele mesmo, todavia,
não sabe sequer usar o termo “batina”, e não reparou na diferença de colarinho
entre um engravatado qualquer e um bispo. Provavelmente nunca falou com um
clérigo sem estar a serviço. Se falou, não reconheceu, pela ausência completa
de sinais exteriores de estado clerical.
E de quem é a culpa, se é que se pode atribuir
culpa a um fenômeno de tamanha grandeza quanto o abandono de todas as suas
bases religiosas e culturais por uma nação toda inteira? No caso dos trajes
clericais, infelizmente, a culpa mais imediata – logo após a da nossa natureza
marcada pelo pecado original, claro – é da própria CNBB. Costumo dizer que a
única coisa boa feita pela TV Globo ao longo deste período (em que, aliás, ela
foi a “rival” mais ou menos principal da Igreja neste País – ela e a CNBB
agiram paralelamente por aproximadamente o mesmo período de tempo) foi não
deixar o povo esquecer que padres usam batinas. Ainda que os padres da Globo
tenham-se alternado entre monstros de hipocrisia ditatorial e personagens
românticos que – pobrezinhos! – oprimidos por seus votos encontram o amor
verdadeiro nos braços duma mocinha, eles usavam batina.
Já os senhores bispos ora reunidos em
Aparecida não a usam: usam clergyman, aparentemente descuidados do fenômeno
facilmente perceptível pelo qual a autorização dada pela CNBB para substituição
da batina pelo clergyman como traje cotidiano dos sacerdotes tenha feito deste
também raridade, tendo passado os clérigos a, contrariamente ao direito
canônico, andar em trajes de leigo para cima e para baixo. E o clergyman, que
continua tendo, aos olhos do povo, especialmente do povo um pouco ou muito
afastado da Igreja, ares de “roupa chique”, de versão um nadinha diferente do
paletó e gravata da alta burguesia, passou a ser percebido como o traje dos
“executivos” eclesiais, os senhores bispos. “Calça e paletó”, vejam bem os
senhores, diz o jornalista descristianizado e neopagão. Como um advogado, ou
talvez um político. Longe do povo. Sem o “cheiro de ovelha” que o Santo Padre
lembra ser atributo do verdadeiro pastor.
Não se trata de relação causal imediata, ou,
se é este o caso, a relação é a inversa: a perda do cheiro de povo levou à
perda da batina. Mais exatamente, caíram muitos dos senhores bispos hoje
eméritos numa armadilha verdadeiramente demoníaca, tomando por “cheiro de povo”
o que na verdade era e é o cheiro do lobo. E que lobo é este? É o mesmo lobo
que, no Brasil, desviou trilhões de dólares do Estado e de estatais, mormente a
Petrobrás. É o mesmo lobo que, na Venezuela, está levando a população a morrer
de fome ou fugir para os países vizinhos. É um lobo antigo, um lobo já bem
conhecido da Igreja, que já o apontou inúmeras vezes na formação de sua
Doutrina Social – pela qual tenho a graça de ser um apaixonado, autor do único
manual desta disciplina publicado no Brasil, editado pela Ed. Quadrante. Este
lobo se chama socialismo, ou – na sua etapa utópica, jamais atingida até hoje e
que jamais o será, por sua incompatibilidade com a natureza humana herdeira de
Adão – comunismo.
Levantando-se contra os muitos erros dos
governos militares, muitos dos senhores bispos, hoje eméritos, abraçaram o erro
oposto, no comum engano pelo qual o inimigo de nosso inimigo seria nosso amigo.
Dom Paulo Evaristo Arns – que Deus o tenha junto de sua santa irmã – chegou ao ponto
de usar como arma política o Sacramento da Ordem, fazendo diáconos de maus
frades presos por esconderem em seu convento as armas assassinas de uma gangue
de terroristas de extrema-esquerda. Outros fizeram outro tanto em contextos
vários. Ao mesmo tempo, os senhores bispos mais conservadores foram
praticamente alijados da Conferência. Compreensível? Pode ser. Mas devemos
lembrar que o próprio Cardeal Arns apoiou inicialmente a quartelada de 1964. O
problema real não foi ela, sim as más ações posteriores daqueles governos. E,
mais ainda, a confusão por setores da Igreja entre más ações de um governo e a
sua totalidade: Dom Eugênio Salles manteve-se em boas relações com o Estado
militar e salvou as vidas de muitos esquerdistas perseguidos, enquanto os senhores
bispos que os apoiaram abertamente não foram capazes de tanto.
Os militares no poder, para lutar contra a
Igreja que passaram a perceber como inimiga, fizeram horrores ainda maiores. O
que provavelmente tem mais tristes consequências hoje foi a importação de uma
variedade especialmente daninha – por mais afastada da Sã Doutrina – de
protestantismo, o pentecostalismo americano. Para os militares, positivistas
que não tinham (e não têm) qualquer noção do que seja o verdadeiro
cristianismo, o que se tinha era apenas a substituição de um cristianismo
“desagradável” – o da Igreja, que lhes lembrava a dignidade de todo homem, que
não lhes permitia tratar homens como animais, ou pior que animais; neste ponto
é valioso o testemunho profético de Sobral Pinto, que usou a lei contra
maus-tratos a animais para defender um líder comunista das garras de uma
ditadura – por outro mais palatável, o cristianismo “evangélico”, ao contrário
da Sã Doutrina pró-capitalista e, com ela, anticomunista.
E esta importação espalhou-se por toda parte,
crescendo e espalhando suas rasas raízes em todo lugar em que não encontrava na
Igreja o verdadeiro Evangelho. Pois de que adianta ganhar o mundo o perder a
alma? Como foi, infelizmente, comum que bons fiéis, pessoas que buscavam o
Cristo, ao chegar na paróquia encontrassem apenas sociologia rasa, no mais das
vezes de inspiração marxista, e na pracinha da esquina encontrassem um leigo
qualquer, de terno e gravata, com uma Bíblia na mão, pregando a Pessoa de Nosso
Senhor Jesus Cristo, a consciência do pecado, a necessidade de conversão! E lá
se ia mais uma família para as garras das seitas, afastando-se dos mesmos
Sacramentos que lhe eram na prática negados (até hoje é dificílimo, na maior
parte das dioceses, encontrar um padre que ouça uma simples confissão!) na
Igreja.