segunda-feira, 23 de setembro de 2019

As aberrações do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) da CNBB para o Sínodo da Amazônia.


O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) esteve reunido na última semana, em Luziânia (GO), para a sua XXIII Assembleia Geral (09-13 setembro). O centro desse encontro foi o Sínodo da Amazônia, e teve a presença do Erwin Kräutler, que é membro da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica), organização que cuida da preparação e da realização do próprio Sínodo. Kräutler é um conhecido "apóstolo" da Teologia da Libertação, entusiasmado com a ideia da ordenação de mulheres [1]. Ele já foi presidente do CIMI.

Como resultado dessa Assembleia Geral, o CIMI publicou um documento que é, não só um panfleto de militância política, mas um amontoado de aberrações. De acusações infundadas contra o governo - e contra Bolsonaro -, defesa da Pacha Mama, ao apoio de sanções internacionais e até do boicote a produtos brasileiros. Logo abaixo, trechos dessa peça escabrosa, elaborada por um organismo vinculado à CNBB - Conferência dos Bispos e que é constantemente alvo de denúncias, sendo inclusive objeto de CPI [2]. Note que o documento não cita uma só vez Jesus Cristo e dá uma ideia muito clara de como o CIMI ajudou a preparar e como irá tratar a "questão indígena" no Sínodo da Amazônia: é pura militância política - comunista. Leia:

    "O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realizou, de 09 a 13 de setembro de 2019, em Luziânia, Goiás, a sua XXIII Assembleia Geral, que teve como tema 'Em defesa da Constituição, contra o roubo e devastação dos territórios indígenas” e o lema “Alto lá! Esta terra tem dono!'. [...]

    "O Cimi avalia com IMENSA PREOCUPAÇÃO A REALIDADE BRASILEIRA e DENUNCIA que está em curso um processo de corrosão das políticas públicas, especialmente daquelas destinadas aos mais pobres e aos grupos populacionais historicamente massacrados e discriminados. O GOVERNO DE EXTREMA DIREITA, conduzido por JAIR BOLSONARO, associa-se às grandes corporações transnacionais do capital para organizar o desmantelamento da Constituição Federal de 1988 e a aniquilação de direitos conquistados por meio da luta, da mobilização e da articulação social". [...]

“A Conferência Episcopal Alemã está afrontando Roma”, diz sacerdote


O que é um Sínodo? No contexto eclesiástico é um órgão de consulta que ajuda os únicos legisladores na Igreja – o Papa e ou os bispos, sozinhos ou colegialmente – a emanarem leis para a Igreja universal ou particular.

Seu sentido etimológico vem do grego “caminhar juntos”. Essa é uma das instituições mais antigas da Igreja Católica, data aproximadamente do século IV. Na minha tese doutoral dedico um capítulo para falar sobre o Sínodo.

O Concílio Vaticano II não fala nada sobre o Sínodo diocesano, mas foi depois desse Concílio que foi instituído o Sínodo dos Bispos.

O Código de Direito Canônico legisla sobre o Sínodo e deixa claro seu caráter consultivo. É um órgão importante que auxilia os legisladores a ter um raio x das situações sobre as quais precisam legislar ou ao menos dar diretrizes.

Como tudo que envolve seres humanos, um Sínodo pode ser marcado por ambiguidades e tensões. O Sínodo de Pistóia, 1786, foi convocado para reformar a Igreja baseando-se no jansenismo. No final do Sínodo todos os participantes assinaram os decretos, o que era e é proibido até hoje, pois leigos, diáconos e padres não são legisladores na Igreja.

Um Sínodo não é um órgão democrático. Deixei claro isso na minha tese. Fui criticado pelo meu diretor, que embora tenha, junto com os outros membros da banca, me dado nota máxima. Assuntos da moral católica e definições Magisteriais não podem ser submetidos à consulta e muito menos ser votados.

A “caminhada sinodal” alemã poderá ser um evento que contrarie as normas sobre o Sínodo e coloque em discussão temas que não poderiam ser discutidos para gerar diretrizes contrárias ao Magistério universal. Qualquer Sínodo pode ser um risco se não for bem conduzido de acordo com sua origem, sua formalidade e sua finalidade.

Dessa forma, vê-se que a situação da Igreja na Alemanha é muito séria. A Conferência Episcopal já se manifestou dizendo que levará pra frente o “caminho sinodal” apesar do cardeal prefeito da Congregação para os Bispos, Ouellet, já ter dito, como pronunciamento oficial da Santa Sé, que esse encontro não é eclesiologicamente válido!

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Brasil terá primeira “catedral” indígena na Amazônia financiada pelo Vaticano

Primeira catedral Yanomami da história da Amazônia ficará no coração da maior reserva indígena do Brasil. Imagem: Creatos Arquitetura/Divulgação

"Até 2022 o Brasil terá uma “Catedral Indígena Yanomami” no coração da floresta amazônica. A confirmação oficial vem da Igreja Católica, que há poucos dias recebeu a aprovação do Papa Francisco para iniciar a construção, estimada inicialmente em R$ 800 mil. Metade deste valor já foi repassado pelo Vaticano para as autoridades católicas em terras brasileiras."

"Batizado de Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes, em razão da devoção dos índios a Nossa Senhora,  o templo religioso ficará no extremo noroeste do país, no território da maior terra indígena do Brasil – a Yanomami, com 9,6 milhões de hectares, homologada em 1992 pelo então presidente Fernando Collor de Mello –, aos pés do Pico da Neblina e a 13 horas distante de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, que é a cidade mais próxima na região da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Venezuela."

Pedido ao papa

"Projeto da catedral Yanomami vai utilizar materiais abundantes na região e técnicas construtivas da tribo. Imagem: Creatos Arquitetura/Divulgação"
 
A ideia de ter uma “catedral” indígena partiu das próprias tribos da região de Maturacá em 2016, quando procuraram o núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) no Brasil, o arcebispo italiano Dom Giovanni D’Aniello, e o bispo de São Gabriel da Cachoeira, Dom Edson Damian, manifestando interesse de mais de dois mil índios.

“Eles nos disseram que gostariam de ter uma igreja próxima, que identificasse a presença de Deus na comunidade”, relata o Padre Thiago Faccini, que é assessor do setor de espaço litúrgico na Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)."

"Com o sinal verde do papa, a CNBB repassou o desafio aos arquitetos Teresa Cristina Cavaco Gomes e Tobias Bonk Machado, da Creatos Arquitetura, escritório de Curitiba que é referência nacional em arquitetura religiosa e arte sacra.

“Desde o início nos preocupamos em desenvolver um projeto inculturado. Em nenhum momento se quer mudar a maneira como eles se relacionam, como enxergam o mundo e a si próprios. Será uma fusão da cultura deles com o cristianismo. Nunca haverá uma substituição, mas sim haverá o respeito entre as duas crenças. A arquitetura acompanhará isso. Será ao jeito deles, moldando-se à comunidade”, destaca Bonk, que mergulhou por alguns dias na cultura Yanomami e conversou com as principais lideranças indígenas para começar a pensar na catedral."

"“Procuramos um projeto que tivesse uma igreja com a cara da comunidade local, mas que também fosse sustentável e que não exigisse tanta manutenção”, explica Faccini. “Símbolos cristãos devem se harmonizar com o rosto da comunidade.  A caso de Nossa senhora de Guadalupe é o maior exemplo, em que a própria aparição respeitou o povo e sua história, com cores e significados indígenas.”

É essencial também que a obra seja totalmente participativa. “Haverá profissionais de fora na construção, sim, mas tudo que os índios puderem fazer, eles irão participar. Até as obras sacras serão produzidas por eles, com tramas artesanais e murais de sementes”, esmiúça o arquiteto.

Papa admite risco de cisão na Igreja Católica e lamenta críticas «elitistas»

 
O Papa Francisco admitiu hoje o risco de um “cisma” na Igreja Católica, lamentando o comportamento de algumas pessoas que “apunhalam pelas costas”.

“Sempre existe a opção cismática na Igreja, sempre, é uma das opções que o Senhor deixa à liberdade humana. Eu não tenho medo de cismas, rezo para que não existam, porque está em jogo a saúde espiritual de tantas pessoas. Que exista o diálogo, que exista a correção se houver algum erro, mas o caminho do cisma não é cristão”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma após a quarta viagem do pontificado a África, que se iniciou a 4 de setembro.

Francisco realçou que as críticas ao seu pontificado não se limitam a setores católicos norte-americanos, mas “existem um pouco por toda a parte, mesmo na Cúria” Romana.

“Fazer uma crítica sem querer ouvir a resposta e sem fazer o diálogo é não amar a Igreja, é seguir atrás de uma ideia fixa, mudar o Papa ou criar um cisma”, advertiu, falando em grupos que se separam do povo, “da fé do povo de Deus”.

Segundo o atual pontífice, um cisma “é sempre é uma separação elitista provocada por uma ideologia separada da doutrina”.

“Eles dizem: o Papa é comunista … Entram as ideologias na doutrina e quando a doutrina escorrega nas ideologias, ali há a possibilidade de um cisma. Há a ideologia da primazia de uma moral assética sobre a moral do povo de Deus”, observou.

Durante cerca de hora e meia de conversa, o Papa voltou às preocupações com o desflorestamento e a destruição da biodiversidade, apelando à proteção das florestas e dos oceanos, preocupação que já levou à proibição do plástico, no Vaticano.

“É preciso defender a ecologia, a biodiversidade, que é a nossa vida, defender o oxigênio, que é a nossa vida”, apelou.

A evangelização da Amazônia



Com a proximidade do próximo Sínodo da Amazônia, debate-se novamente o problema do índio, sobre cuja civilização ainda se discute. Alguns acham que o índio deve ser preservado em seu estado primitivo, caso contrário se estaria destruindo a sua cultura. Alguns chegam até a questionar a evangelização dos índios, pela mesma razão.

Creio que a melhor solução para o problema foi dada por Bento XVI, no seu discurso de abertura da CELAM, em Aparecida, no dia 13 de maio de 2007, quando explicou que a evangelização trouxe aos indígenas Jesus Cristo com toda a sua riqueza. E a cristianização não foi a introdução de uma cultura estranha, mas um enriquecimento das culturas nativas.

“A fé em Deus animou a vida e a cultura destes povos durante cinco séculos. Do encontro desta fé com as etnias originárias nasceu a rica cultura cristã deste Continente, manifestada na arte, na música, na literatura e sobretudo nas tradições religiosas e na idiossincrasia das suas populações, unidas por uma única história e por um mesmo credo, e formando uma grande sintonia na diversidade das culturas e das línguas...”

“O que significou, porém, a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. Com efeito, o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em qualquer momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura alheia. As culturas autênticas não estão encerradas em si mesmas, nem petrificadas num determinado ponto da história, mas estão abertas, mais ainda, buscam o encontro com outras culturas, esperam alcançar a universalidade no encontro e o diálogo com outras formas de vida e com os elementos que possam levar a uma nova síntese, em que se respeite sempre a diversidade das expressões e da sua realização cultural concreta..”

“Em última instância, somente a verdade unifica, e a sua prova é o amor. Por isso Cristo, dado que é realmente o Logos encarnado, ‘o amor até ao extremo’, não é alheio a qualquer cultura, nem a qualquer pessoa; pelo contrário, a resposta desejada no coração das culturas é o que lhes dá a sua identidade última, unindo a humanidade e respeitando, ao mesmo tempo, a riqueza das diversidades, abrindo todos ao crescimento na verdadeira humanização, no progresso autêntico. O Verbo de Deus, tornando-se carne em Jesus Cristo, fez-se também história e cultura.”

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Portugal: Religiosa é encontrada morta com sinais de asfixia e violação


Maria Antónia Pinho, conhecida como Irmã Tona, foi encontrada morta em uma casa em São João da Madeira, Portugal, no último domingo, 8 de setembro, com sinais de asfixia e violação.

Segundo a imprensa portuguesa, a religiosa de 61 anos foi encontrada na casa de um ex-detento identificado como Alfredo, o qual foi detido ainda no domingo, segundo informou a Polícia Judiciária (PJ).

O crime ocorreu na manhã de domingo, quando a religiosa teria dado uma carona. Como agradecimento, o indivíduo a teria convidado para entrar em tomar um café. Já na residência, segundo a PJ, o homem tentou ter relações sexuais com a freira, que recusou.

“Perseguindo a sua intenção, o detido recorreu à força física aplicando, ao que tudo indica, um golpe de estrangulamento denominado 'mata-leão', que terá sido a causa da morte, e posteriormente deitou-a sobre a cama e terá mantido relações sexuais”, informa a polícia.

Alfredo, que também é conhecido como “Tito”, estava em liberdade condicional desde maio, após cumprir parte de uma pena de 16 anos por dois crimes de violação. Além disso, em agosto teria tentado violar uma jovem de 20 anos. Por isso, informa a imprensa portuguesa, em 3 de setembro foi emitido um mandato de detenção pelo Ministério Público.

Irmã Tona, que era conhecida como a “freira radical” por andar pelas ruas com sua moto, era enfermeira e pertencia à Congregação das Servas de Maria Ministras dos Enfermos, no Porto. Mas, estava em São João da Madeira para cuidar de sua mãe.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Em Maurício, Papa adverte para economia idolátrica que sacrifica vidas humanas



 VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10 DE SETEMBRO DE 2019)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES,
A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Palácio Presidencial em Port Louis, Maurício
Segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro,
Distintos membros do Governo e do Corpo Diplomático,
Representantes da sociedade civil e de várias Confissões religiosas,
Senhoras e senhores!

Saúdo cordialmente as autoridades do Estado de Maurícia e agradeço-lhes o convite para visitar a vossa República. Agradeço ao senhor Presidente e ao senhor Primeiro-Ministro as amáveis palavras que acabaram de me dirigir, bem como a sua receção. Saúdo os membros do Governo, da sociedade civil e do Corpo Diplomático. Desejo também saudar e agradecer fraternamente a presença, aqui hoje, dos representantes de outras confissões cristãs e das várias religiões presentes nas Ilhas Maurícias.

Estou feliz pela possibilidade que esta breve visita me dá de encontrar o vosso povo, caracterizado não só por um rosto multiforme no plano cultural, étnico e religioso, mas também e sobretudo pela beleza que provém da vossa capacidade de reconhecer, respeitar e harmonizar as diferenças em função de um projeto comum. Assim é toda a história do vosso povo, que nasceu com a chegada de migrantes vindos de diferentes horizontes e continentes, que trouxeram as suas tradições, a sua cultura e a sua religião, e aprenderam, pouco a pouco, a enriquecer-se com as diferenças dos outros e a encontrar a forma de viver juntos, procurando construir uma fraternidade solícita do bem comum.

Neste sentido, possuís uma voz com autoridade – porque se fez vida – capaz de lembrar que é possível alcançar uma paz estável partindo da convicção de que «a diversidade é bela, quando aceita entrar constantemente num processo de reconciliação até selar uma espécie de pacto cultural que faça surgir uma diversidade reconciliada» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 230). Esta é base e oportunidade para a construção duma verdadeira comunhão no seio da grande família humana sem haver necessidade de marginalizar, excluir ou rejeitar.

O DNA do vosso povo guarda a memória destes movimentos migratórios que trouxeram os vossos antepassados até esta ilha e que os levaram também a abrir-se às diferenças para as integrar e promover tendo em vista o bem de todos. Por isso mesmo, na fidelidade às vossas raízes, vos animo a assumir o desafio de acolher e proteger os migrantes que hoje chegam aqui à procura de trabalho e, para muitos deles, à procura de melhores condições de vida para as suas famílias. Tende a peito acolhê-los como os vossos antepassados souberam acolher-se uns aos outros, como protagonistas e defensores duma verdadeira cultura do encontro, que permita aos migrantes e a todos ver reconhecida a sua dignidade e os seus direitos.

Na história recente do vosso povo, merece o nosso apreço a tradição democrática estabelecida desde a independência, que contribui para fazer das Ilhas Maurícias um oásis de paz. Faço votos de que este estilo de vida democrática possa ser cultivado e desenvolvido, contrastando nomeadamente todas as formas de discriminação. Pois «a vida política autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais» (Francisco, Mensagem para o LII Dia Mundial da Paz , 1 de janeiro de 2019). Possais vós, que estais empenhados na vida política da República de Maurícia, ser um exemplo para aqueles que contam convosco, especialmente os jovens. Possais, com o vosso comportamento e vontade de combater todas as formas de corrupção, manifestar o valor do vosso compromisso ao serviço do bem comum e sede sempre dignos da confiança dos vossos compatriotas.

As bem-aventuranças são a identidade do cristão, afirma o Papa




VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10 DE SETEMBRO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Monumento a Maria, Rainha da Paz, Port Louis, Maurício
Segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Aqui, diante deste altar dedicado a Maria, Rainha da Paz, nesta montanha donde vemos a cidade e, mais além, o mar, fazemos parte desta multidão de rostos que vieram das Maurícias e doutras ilhas desta região do Oceano Índico para escutar Jesus que anuncia as Bem-aventuranças, para ouvir a própria Palavra de Vida, com a mesma força que tinha há dois mil anos, o mesmo fogo que inflama até os corações mais frios. Juntos, podemos dizer ao Senhor: cremos em Vós e sabemos, pela luz da fé e o palpitar do coração, que é verdadeira a profecia de Isaías quando manda anunciar a paz e a salvação, levar a boa nova de que já reina o nosso Deus.

As Bem-aventuranças «são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre “como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das Bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 63), como fez o Beato Jacques-Désiré Laval, chamado o «apóstolo da unidade mauriciana», tão venerado nestas terras. O amor de Cristo e dos pobres marcou de tal maneira a sua vida que o protegeu da ilusão de realizar uma evangelização «abstrata e assética». Sabia que evangelizar implica fazer-se tudo para todos (cf. 1 Cor 9, 19-22): aprendeu a língua dos escravos recém-libertados e anunciou-lhes de maneira simples a Boa Nova da salvação. Soube reunir os fiéis, formá-los para empreender a missão e criar pequenas comunidades cristãs em bairros, cidades e aldeias vizinhas; muitas daquelas pequenas comunidades estão na origem das paróquias atuais. A sua solicitude levou-o a confiar nos mais pobres e descartados, para que fossem eles mesmos os primeiros a organizar-se e a encontrar respostas para as suas tribulações.

Através do seu dinamismo missionário e do seu amor, o padre Laval deu à Igreja mauriciana uma nova juventude, um novo respiro, que hoje somos convidados a continuar no contexto atual.

E devemos ter a peito este impulso missionário, pois pode acontecer que percamos o entusiasmo evangelizador, como Igreja de Cristo, caindo na tentação de nos refugiarmos em seguranças mundanas que acabam, pouco a pouco, por condicionar a missão tornando-a gravosa e incapaz de fascinar as pessoas (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 26). O impulso missionário tem um rosto jovem e capaz de fazer rejuvenescer. São precisamente os jovens que, pela sua vitalidade e dedicação, lhe podem dar a beleza e o frescor próprios da juventude, quando desafiam a comunidade cristã a renovar-se e nos convidam a partir para novos horizontes (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 37).

Isto, porém, nem sempre é fácil, pois exige que aprendamos a considerá-los e a dar-lhes lugar no seio da nossa comunidade e da nossa sociedade.

Nesta linha, custa constatar como, apesar do crescimento económico que registou o vosso país nas últimas décadas, sejam os jovens quem mais sofre: são eles os mais afetados pelo desemprego, o que lhes causa um futuro incerto e tira-lhes também a possibilidade de se sentirem protagonistas da sua própria história comum. Um futuro incerto, que os descarta e obriga muitas vezes a conceber a sua vida à margem da sociedade, deixando-os vulneráveis e quase sem pontos de referência perante as novas formas de escravidão deste século XXI. Eles, os nossos jovens, são a primeira missão! Devemos convidá-los a encontrar a sua felicidade em Jesus; não de maneira assética ou abstrata, mas aprendendo a dar-lhes um lugar, conhecendo a sua linguagem, ouvindo as suas histórias, vivendo ao seu lado, fazendo-lhes sentir que são abençoados por Deus. Não deixemos que nos roubem o rosto jovem da Igreja e da sociedade! Não permitamos aos mercadores de morte roubar as primícias desta terra!

Aos nossos jovens e a quantos como eles se sentem sem voz porque estão mergulhados na precariedade, o padre Laval dirigir-lhes-ia o convite a fazer ressoar o anúncio de Isaías: «Ruínas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém» (52, 9). Mesmo quando parecer sem solução aquilo que nos rodeia, a esperança em Jesus convida-nos a reencontrar a certeza do triunfo de Deus não apenas para além da história, mas também na trama escondida das pequenas histórias que se cruzam e fazem de nós protagonistas da vitória d’Aquele que nos deu o Reino.

Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo seja favorável ao nosso redor, porque muitas vezes as ambições do poder e os interesses mundanos jogam contra nós. São João Paulo II declarava «alienada a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e a constituição [da] solidariedade inter-humana» (Carta enc. Centesimus annus, 41c). Numa tal sociedade, torna-se difícil viver as Bem-aventuranças; a sua vivência pode até ser malvista, suspeita, ridicularizada (cf. Gaudete et exsultate, 91). É verdade, mas não podemos deixar-nos vencer pelo desânimo.

Ao pé desta montanha – gostaria que ela fosse hoje o Monte das Bem-Aventuranças –, devemos também nós recuperar este convite a ser felizes. Só os cristãos alegres suscitam o desejo de seguir este caminho; «a palavra “feliz” ou “bem-aventurado” torna-se sinónimo de “santo”, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade» (Ibid., 64).

Quando ouvimos o prognóstico ameaçador «somos cada vez menos», deveríamos preocupar-nos em primeiro lugar, não com o declínio desta ou daquela forma de consagração na Igreja, mas com a carência de homens e mulheres que queiram viver a felicidade pelos caminhos da santidade, homens e mulheres que deixem o coração inflamar-se com o anúncio mais belo e libertador. «Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, [sem] a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, [vivem] sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida» (Evangelii gaudium, 49).

Quando um jovem vê um projeto de vida cristã abraçado com alegria, isto entusiasma-o e encoraja-o, sentindo um desejo que se pode expressar assim: «Quero subir a esta montanha das Bem-aventuranças, quero encontrar o olhar de Jesus e que Ele me diga qual é o meu caminho de felicidade».

Rezemos, queridos irmãos e irmãs, pelas nossas comunidades para que, dando testemunho da alegria da vida cristã, vejam florescer a vocação à santidade nas diferentes formas de vida que o Espírito nos propõe. Imploremo-lo para esta diocese e também para todas as outras que fizeram o esforço de vir até aqui. Padre Laval, o Beato cujas relíquias veneramos, também experimentou momentos de deceção e dificuldade com a comunidade cristã, mas por fim triunfou o Senhor no seu coração. Teve confiança na força do Senhor. Deixemos que esta força toque o coração de muitos homens e mulheres desta terra; deixemos que toque também os nossos corações de modo que a sua novidade possa renovar a nossa vida e a vida da nossa comunidade (cf. ibid., 11). Não esqueçamos que Aquele que tem a força de chamar, Aquele que constrói a Igreja, é o Espírito Santo, com a sua força. Ele é o protagonista da missão, Ele é o protagonista da Igreja.

A imagem de Maria, a Mãe que nos protege e acompanha, lembra-nos que Ela foi chamada a «bem-aventurada» (Lc 1, 48); a Ela que experimentou a dor como uma espada trespassando o seu coração, a Ela que passou pelo limiar pior da dor que é ver morrer o seu Filho, peçamos o dom da abertura ao Espírito Santo, da alegria perseverante, a alegria que não se deixa abater nem retrocede, a alegria que sempre nos faz experimentar e afirmar que o Todo Poderoso faz maravilhas, santo é o seu nome (cf. Lc 1, 49).