segunda-feira, 23 de setembro de 2019

“A Conferência Episcopal Alemã está afrontando Roma”, diz sacerdote


O que é um Sínodo? No contexto eclesiástico é um órgão de consulta que ajuda os únicos legisladores na Igreja – o Papa e ou os bispos, sozinhos ou colegialmente – a emanarem leis para a Igreja universal ou particular.

Seu sentido etimológico vem do grego “caminhar juntos”. Essa é uma das instituições mais antigas da Igreja Católica, data aproximadamente do século IV. Na minha tese doutoral dedico um capítulo para falar sobre o Sínodo.

O Concílio Vaticano II não fala nada sobre o Sínodo diocesano, mas foi depois desse Concílio que foi instituído o Sínodo dos Bispos.

O Código de Direito Canônico legisla sobre o Sínodo e deixa claro seu caráter consultivo. É um órgão importante que auxilia os legisladores a ter um raio x das situações sobre as quais precisam legislar ou ao menos dar diretrizes.

Como tudo que envolve seres humanos, um Sínodo pode ser marcado por ambiguidades e tensões. O Sínodo de Pistóia, 1786, foi convocado para reformar a Igreja baseando-se no jansenismo. No final do Sínodo todos os participantes assinaram os decretos, o que era e é proibido até hoje, pois leigos, diáconos e padres não são legisladores na Igreja.

Um Sínodo não é um órgão democrático. Deixei claro isso na minha tese. Fui criticado pelo meu diretor, que embora tenha, junto com os outros membros da banca, me dado nota máxima. Assuntos da moral católica e definições Magisteriais não podem ser submetidos à consulta e muito menos ser votados.

A “caminhada sinodal” alemã poderá ser um evento que contrarie as normas sobre o Sínodo e coloque em discussão temas que não poderiam ser discutidos para gerar diretrizes contrárias ao Magistério universal. Qualquer Sínodo pode ser um risco se não for bem conduzido de acordo com sua origem, sua formalidade e sua finalidade.

Dessa forma, vê-se que a situação da Igreja na Alemanha é muito séria. A Conferência Episcopal já se manifestou dizendo que levará pra frente o “caminho sinodal” apesar do cardeal prefeito da Congregação para os Bispos, Ouellet, já ter dito, como pronunciamento oficial da Santa Sé, que esse encontro não é eclesiologicamente válido!

Por que a situação é séria? Inicialmente por dois motivos: o primeiro porque a Conferência Episcopal Alemã está afrontando Roma – acho que não podemos ainda falarmos de cisma formal! O segundo porque, como disse o próprio cardeal Ouellet, “as decisões desse encontro não apenas afetam a região Alemã, mas também a Igreja inteira, e correm o risco de fragmentar a já fraturada comunidade católica”. O cardeal Marx, presidente da Conferência Alemã, não esconde que o resultado desse encontro chamado “caminho sinodal” pode ser útil para a Igreja universal e para as outras Conferências Episcopais.

O prelado alemão já está em Roma para se encontrar com o Papa e com o cardeal Ouellet. É prudente esperar o resultado desses encontros. Ainda não é hora de falar em cisma! Contudo, é hora de rezarmos mais ainda pela unidade da Igreja.

Por outro lado, há vozes dissonantes no episcopado alemão e concordantes com o Magistério Eclesial. Uma dessas vozes é a do arcebispo de Colônia, cardeal Rainer Maria Woelki. O lúcido cardeal diz que não “se pode inventar uma nova Igreja. Os bispos devem preservar a fé, pois somos parte de uma grande tradição. Os bispos devem preservar a herança recebida dos Apóstolos e levá-la para as próximas gerações. A Igreja nunca foi renovada por ser inferior, mas superior do que a cultura ao seu redor”.


Padre Ricardo de Barros Marques
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Centro Dom Bosco

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