O Papa Francisco admitiu hoje o risco de um
“cisma” na Igreja Católica, lamentando o comportamento de algumas pessoas que
“apunhalam pelas costas”.
“Sempre existe a opção cismática na Igreja,
sempre, é uma das opções que o Senhor deixa à liberdade humana. Eu não tenho
medo de cismas, rezo para que não existam, porque está em jogo a saúde
espiritual de tantas pessoas. Que exista o diálogo, que exista a correção se
houver algum erro, mas o caminho do cisma não é cristão”, disse aos jornalistas,
no voo de regresso a Roma após a quarta viagem do pontificado a África, que se
iniciou a 4 de setembro.
Francisco realçou que as críticas ao seu
pontificado não se limitam a setores católicos norte-americanos, mas “existem
um pouco por toda a parte, mesmo na Cúria” Romana.
“Fazer uma crítica sem querer ouvir a resposta
e sem fazer o diálogo é não amar a Igreja, é seguir atrás de uma ideia fixa,
mudar o Papa ou criar um cisma”, advertiu, falando em grupos que se separam do
povo, “da fé do povo de Deus”.
Segundo o atual pontífice, um cisma “é sempre
é uma separação elitista provocada por uma ideologia separada da doutrina”.
“Eles dizem: o Papa é comunista … Entram as
ideologias na doutrina e quando a doutrina escorrega nas ideologias, ali há a
possibilidade de um cisma. Há a ideologia da primazia de uma moral assética
sobre a moral do povo de Deus”, observou.
Durante cerca de hora e meia de conversa, o
Papa voltou às preocupações com o desflorestamento e a destruição da
biodiversidade, apelando à proteção das florestas e dos oceanos, preocupação
que já levou à proibição do plástico, no Vaticano.
“É preciso defender a ecologia, a
biodiversidade, que é a nossa vida, defender o oxigênio, que é a nossa vida”,
apelou.
O pontífice alertou para a “doença” da
xenofobia, apontando o dedo aos que “cavalgam a onda dos populismos políticos”,
bem como o perigo do “tribalismo” nos países africanos.
Recordando a passagem por Maputo, Francisco
assinalou que a paz no país lusófono “ainda é frágil”, assumindo que fará
“todos os possíveis” para que este processo avance.
Questionado sobre o fato de ter visitado um
país em campanha eleitoral, o Papa declarou que esta “foi uma opção decidida
livremente, porque a campanha eleitoral começa nestes dias e ficava em segundo
plano em relação ao processo de paz”.
“O importante era ajudar a consolidar esse
processo”, precisou.
Depois de ter visitado Moçambique, Madagascar
e Maurícia, o pontífice mostrou-se impressionado com a “juventude” da África,
em contraponto ao que qualificou como “um inverno demográfico muito grave na
Europa.
“É necessário que toda a sociedade tenha
consciência de fazer crescer este tesouro [os filhos], de fazer crescer o país,
de fazer crescer a pátria, de fazer crescer os valores que darão soberania à
pátria”, prosseguiu.
O Papa disse que ficou muito impressionado com
a convivência entre as várias religiões na República da Maurícia, sustentando
que “é a fraternidade humana que está na base e respeita todas as crenças”.
Ainda sobre o país do Índico, Francisco
convidou os Estados Unidos da América e Reino Unido a respeitar a decisão da
ONU sobre a soberania maurícia do arquipélago de Chagos, que incluem a base
norte-americana de Diego Garcia.
“Devemos respeitar a identidade dos povos,
esta é uma premissa a ser defendida sempre. Deve ser respeitada a identidade
dos povos e assim expulsamos todas as colonizações”, justificou.
Em resposta a uma pergunta da agência
espanhola EFE, que celebra 80 anos de existência, o Papa falou sobre o futuro
da comunicação, realçando a importância de “transmitir um facto e distingui-lo
da narrativa, do que é transmitido”.
“A comunicação deve ser humana, e por humana
entendo construtiva, isto é, deve fazer crescer o outro. Uma comunicação não
pode ser usada como um instrumento de guerra, porque é anti-humana, destrói”,
advertiu.
O Papa regressa esta quarta-feira às
atividades no Vaticano, com a audiência pública semanal na Praça de São Pedro.
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Agência Ecclesia
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