VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA
FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10 DE SETEMBRO DE
2019)
ENCONTRO COM AS
AUTORIDADES,
A SOCIEDADE CIVIL E O
CORPO DIPLOMÁTICO
DISCURSO DO SANTO PADRE
Palácio Presidencial em
Port Louis, Maurício
Segunda-feira, 9 de
setembro de 2019
Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro,
Distintos membros do Governo e do Corpo
Diplomático,
Representantes da sociedade civil e de várias
Confissões religiosas,
Senhoras e senhores!
Saúdo cordialmente as autoridades do Estado de
Maurícia e agradeço-lhes o convite para visitar a vossa República. Agradeço ao
senhor Presidente e ao senhor Primeiro-Ministro as amáveis palavras que
acabaram de me dirigir, bem como a sua receção. Saúdo os membros do Governo, da
sociedade civil e do Corpo Diplomático. Desejo também saudar e agradecer
fraternamente a presença, aqui hoje, dos representantes de outras confissões
cristãs e das várias religiões presentes nas Ilhas Maurícias.
Estou feliz pela possibilidade que esta breve
visita me dá de encontrar o vosso povo, caracterizado não só por um rosto
multiforme no plano cultural, étnico e religioso, mas também e sobretudo pela
beleza que provém da vossa capacidade de reconhecer, respeitar e harmonizar as
diferenças em função de um projeto comum. Assim é toda a história do vosso
povo, que nasceu com a chegada de migrantes vindos de diferentes horizontes e
continentes, que trouxeram as suas tradições, a sua cultura e a sua religião, e
aprenderam, pouco a pouco, a enriquecer-se com as diferenças dos outros e a
encontrar a forma de viver juntos, procurando construir uma fraternidade
solícita do bem comum.
Neste sentido, possuís uma voz com autoridade
– porque se fez vida – capaz de lembrar que é possível alcançar uma paz estável
partindo da convicção de que «a diversidade é bela, quando aceita entrar
constantemente num processo de reconciliação até selar uma espécie de pacto
cultural que faça surgir uma diversidade reconciliada» (Francisco, Exort. ap.
Evangelii gaudium, 230). Esta é base e oportunidade para a construção duma
verdadeira comunhão no seio da grande família humana sem haver necessidade de
marginalizar, excluir ou rejeitar.
O DNA do vosso povo guarda a memória destes
movimentos migratórios que trouxeram os vossos antepassados até esta ilha e que
os levaram também a abrir-se às diferenças para as integrar e promover tendo em
vista o bem de todos. Por isso mesmo, na fidelidade às vossas raízes, vos animo
a assumir o desafio de acolher e proteger os migrantes que hoje chegam aqui à
procura de trabalho e, para muitos deles, à procura de melhores condições de
vida para as suas famílias. Tende a peito acolhê-los como os vossos
antepassados souberam acolher-se uns aos outros, como protagonistas e
defensores duma verdadeira cultura do encontro, que permita aos migrantes e a
todos ver reconhecida a sua dignidade e os seus direitos.
Na história recente do vosso povo, merece o
nosso apreço a tradição democrática estabelecida desde a independência, que
contribui para fazer das Ilhas Maurícias um oásis de paz. Faço votos de que
este estilo de vida democrática possa ser cultivado e desenvolvido,
contrastando nomeadamente todas as formas de discriminação. Pois «a vida política
autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos,
renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração
encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais,
intelectuais, culturais e espirituais» (Francisco, Mensagem para o LII Dia
Mundial da Paz , 1 de janeiro de 2019). Possais vós, que estais empenhados na
vida política da República de Maurícia, ser um exemplo para aqueles que contam
convosco, especialmente os jovens. Possais, com o vosso comportamento e vontade
de combater todas as formas de corrupção, manifestar o valor do vosso
compromisso ao serviço do bem comum e sede sempre dignos da confiança dos
vossos compatriotas.
Depois da independência, o vosso país registrou
um intenso desenvolvimento econômico, de que devemos certamente rejubilar, mas
sem deixar de permanecer vigilantes. No contexto atual, muitas vezes parece que
o crescimento econômico nem sempre beneficia a todos e até deixa de lado –
devido a certas estratégias da sua dinâmica – um número considerável de
pessoas, especialmente jovens. Por isso mesmo, gostaria de vos animar no
desenvolvimento duma política econômica orientada para as pessoas, que seja
capaz de favorecer uma melhor distribuição das entradas, a criação de
oportunidades de trabalho e a promoção integral dos mais pobres (cf. Evangelii
gaudium, 204). E animar-vos a não ceder à tentação dum modelo económico
idolátrico que precisa de sacrificar vidas humanas no altar da especulação e da
mera rentabilidade, que tem em conta apenas o benefício imediato em detrimento
da proteção dos mais pobres, do meio ambiente e seus recursos. Trata-se de
prosseguir com aquela atitude construtiva que impele – como escreveu o cardeal
Piat por ocasião do cinquentenário da independência das Ilhas Maurícias – a
incentivar uma conversão ecológica integral. Tal conversão visa não só evitar fenômenos climáticos tremendos ou grandes desastres naturais, mas procura
também promover uma mudança nos estilos de vida para que o crescimento econômico possa verdadeiramente beneficiar a todos, sem o risco de causar
catástrofes ecológicas nem graves crises sociais.
Senhoras e Senhores, gostaria de manifestar
apreço pelo modo como trabalham juntas, nas Ilhas Maurícias, as várias
religiões com as suas respetivas identidades, contribuindo para a paz social e
recordando o valor transcendente da vida contra todo o tipo de reducionismo.
Confirmo a disponibilidade dos católicos das Ilhas Maurícias para continuar a
participar neste frutuoso diálogo que marcou tão fortemente a história do vosso
povo. Obrigado pelo vosso testemunho.
Mais uma vez, obrigado pela vossa calorosa
recepção. Almejo de coração que Deus abençoe o vosso povo e todos os esforços
que fazeis para favorecer o encontro entre diferentes culturas, civilizações e
tradições religiosas na promoção duma sociedade justa, que não esqueça os seus
filhos, especialmente os mais necessitados. Que o seu amor e a sua misericórdia
continuem a acompanhar-vos e a proteger-vos. Muito obrigado pela vossa atenção.
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Santa Sé
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