Após ler todo o Documento de Trabalho do
Sínodo para a Região Amazônica, queria fazer um resumo para quem não o leu
ainda por falta de tempo ou outras atividades, ao mesmo tempo queria mostrar
não as minhas opiniões, mas o texto em si. Tenho certeza de que o sentido
sobrenatural da Fé encontrará a problemática deste Documento em pouco tempo.
Lembro o leitor que este Documento não é Magistério da Igreja, pois é um texto
de trabalho; o Sínodo não tem documento magisterial, pois ainda [está
acontecendo,] em Roma.
Deixem-me sublinhar duas coisas positivas no
Documento para que não se pense que eu só percebi o negativo e que sou
pessimista. O n. 144 fala que é preciso purificar comportamentos indígenas
contrários ao Evangelho, ou seja, é preciso, “também rever com consciência
crítica uma série de comportamentos e realidades dos povos indígenas, que são
contrários ao Evangelho”. A segunda coisa é a pequena observação contra o
aborto que se encontra no número 146/e.
Contudo, os
pontos positivos não compensam os inúmeros pontos negativos. Vejamo-lo:
O n. 14 afirma que a vida na Amazônia está
ameaçada também pela “perda da sua cultura originária e de sua identidade
(idiomas, práticas espirituais e costumes)”. Mais ainda, o Documento diz que as
“práticas espirituais” são garantias de vida na Amazônia. Como se pode ver pelo
restante do texto quando se trata do mesmo assunto em contextos semelhantes,
tal afirmação significa defender o paganismo em detrimento do Cristianismo. A religião amazônica parece tão certa que
nós é que vamos aprender dela:
“O Sínodo da
Amazônia se transforma assim em um sinal de esperança para o povo amazônico e
para a humanidade inteira. Trata-se de uma grande oportunidade para que a
Igreja possa descobrir a presença encarnada e ativa de Deus: nas mais
diferentes manifestações da criação; na espiritualidade dos povos originários;
nas expressões da religiosidade popular” (n. 33). A Igreja agora é “irmã e
discípula” dos povos e da natureza (n. 92).
Por outro lado, o n. 25 parece dar a entender
que a civilização ocidental é uma ameaça para a Amazônia, pois nestas terras
ainda “não atingidas pelo influxo da civilização ocidental se reflete na crença
e nos ritos sobre a atuação dos espíritos, da divindade – chamada de inúmeras
maneiras – com e no território, com e em relação à natureza”. Mais ainda, as
variadas religiões pagãs indígenas oferecem à Igreja uma nova vinda do Espírito
Santo: “a diversidade original que oferece a região amazônica – biológica,
religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (n. 30). Sendo assim, a colonização, e, porque não afirmá-lo, a
mesma evangelização dos nossos antigos missionários, é valorizada negativamente
no n. 76 como se tivesse feito a esses povos mais mal do que bem.
Aquela visão que a Igreja Católica é a única verdadeira se desmoronaria se esta outra fosse
assegurada: “A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude
corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são
destruidoras desde mesmo credo” (n. 39). E, contudo, essa maneira de pensar é coerente com a visão relativista do que
significa o “converter-se a Cristo” do Documento; por exemplo, o n. 43 diz
que no encontro com Cristo surgem processos de conversão e abrem-se caminhos
para a existência de novos ministérios mais adequados a estes tempos.
Impressionante: a conversão não é para
Cristo, mas parte de Cristo rumo a alguma coisa não definida e é, nesse
contexto a se definir, que surgem os novos ministérios. Aqui o objetivo não
é Cristo, mas ele é apenas um ponto de partida. Então o que surgirá dependerá
muitos dos tais “processos de conversão”, mas nada disso parece muito definido.
Contudo, a experiência bimilenária da Igreja nos mostra várias definições
indubitáveis.
Nos números 44, 84, 121, 146/d a expressão “Mãe
Terra” aparece em maiúscula e plenamente assumido pelo documento.
Afirma-se então que a Mãe Terra é agredida, mas também que a espiritualidade
(pagã) desta região está ameaçada, que ir contra essa espiritualidade pagã
afeta a vida da humanidade inteira. O n.
46 também dá apoio às espiritualidades indígenas. Espiritualidade e
teologia dos povos indígenas devem ser transmitidas (cf. n. 50). Imaginem? Um missionário trabalhando, não
para anunciar a doutrina católica, mas a espiritualidade e as teologias dos
povos indígenas. Esse tema aparece de novo no n. 72 onde a metrópole não
parece ser valorizada afirmativamente porque ela modificaria a religião dos
índios. Dá a impressão que o Documento de Trabalho quer manter a religião dos
índios a qualquer preço. No n. 75 há outra explicação das tradições familiares
na qual sequer palpita certo valor negativo das crenças e do “diálogo com os
espíritos” realizados pelos indígenas. No número 85, o Instrumento fala que “os
rituais e as cerimônias indígenas são essenciais para a saúde integral, pois
compõem os diferentes ciclos da vida humana e da natureza. (…) Protegem a vida
contra os males que podem ser provocados tanto por seres humanos como por
outros seres vivos. Ajudam a curar as doenças que prejudicam o meio ambiente, a
vida humana e outros seres vivos”; semelhante valorização do rituais indígenas
se encontra no n. 89. Mas, tudo isso não parece lembrar Maurice Strong e seu
Culto da adoração da Terra naqueles 146 mil hectares norte-americanos que
abriga templos de diversas religiões pagãs do mundo?
Para conseguir todo esse ambientalismo, há
planos; por exemplo, o Documento propõe
que entre na formação dos futuros padres a ecoteologia e a teologia indígena
(cf. 99/b.1). Por outro lado, o que significa essa “reforma das estruturas
dos seminários, para favorecer a integração dos candidatos ao sacerdócio nas comunidades”
(n. 99/b.2)? Mais ainda, as pressas aparecem para conseguir os objetivos:
“Exija-se o ensino da teologia indígena pan-amazônica em todas as instituições
educativas” (n. 99/c.3). Além do mais valoriza-se
a teologia da libertação em sua versão “teologia latino-americana” e “teologia
índia” (n. 113).