Alguns, tendo condições
de falar em tempos de crise, para ficarem bem com suas consciências, apelam
para o silêncio, como se este fosse neutro em matéria de linguagem. Mas não é!
O silêncio fala! Pode significar ele omissão diante de um contexto onde alguém
que poderia ser iluminado por nossas palavras se perde porque preferimos viver
uma pretensa perfeição na obediência aos legítimos pastores (o que eu não estou
desvalorizando).
Pode, claro, significar
também censura eloquente.
O caso mais marcante que me vem à mente é do querido São Thomas More. Quem em
toda a Europa, diante do cisma de Henrique VIII e de sua união ilegítima, não
entenderia imediatamente que o silêncio de São Thomas More não significava
cumplicidade, mas censura silenciosa e calculada de quem sabia que não devia
falar contra o seu rei, mas ao mesmo tempo não poderia endossar o que o
soberano estava fazendo?
Então, alguém pode
perguntar, não seria melhor
fazer como ele? Para que falar, para que se manifestar? Não
será melhor fazer como recomenda Platão, procurar um lugar para esconder-se da
tempestade e já se sentir feliz e abençoado por isso? Não deveríamos todos,
como São Thomas More, ficar calados e esperar sobreviver à noite escura?
Penso que o próprio
desenrolar dos acontecimentos da vida do santo respondem a questão. Não,
amigos, infelizmente o mero silencio de protesto não é suficiente. Não é
suficiente porque aqueles que destroem a Igreja não se contentarão em nos ver
quietos em nosso cantinho, sem fazer mal a ninguém! Eles não descansarão enquanto não nos virem rolando na
mesmíssima lama em que eles mesmos se encontram!
Para Henrique VIII, o
silêncio do chanceler não era o bastante. Ele exigia, como exigem os mundanos,
aprovação explícita e sem reservas ao que ele estava fazendo. E tanto foi assim
que Thomas More acabou por ser condenado mesmo sem jamais ter expressado, até
então, publicamente o seu parecer sobre a questão.
Quem não dirá que o
mesmo se dá hoje? Basta ver a dificuldade que é para um grupo às vezes de 5
católicos trazer um padre para rezar a missa tridentina para a sua cidade. Eles
não querem senão o direito garantido pela Igreja de adorar a Deus da maneira
que julgam mais digna e coerente com a Divindade. E mesmo assim são
perseguidos; uma pobre moça, tímida como os animais silvestres, ousa colocar o
véu na missa. Ela não deseja converter ninguém, pregar para ninguém. Só quer
ficar ali no seu canto, muitas vezes nos últimos bancos da Igreja, justamente
para não chamar atenção, e o que fazem com ela? Será que a deixam em paz?
Antes, a perseguem furiosamente, desde
os familiares até os prelados!
Bem se vê que, nestes
casos, o silêncio não é suficiente para manter a paz, porque o cidadão que
avacalha a liturgia e a moça que vai à missa quase nua não ficarão contentes
até verem você também dançando durante a consagração e a menina usando o véu
como uma minissaia. “Armemos
ciladas ao Justo, porque sua [mera] presença nos incomoda” (Sb
2,12).