quarta-feira, 10 de junho de 2020

Corpus Christi em tempos de pandemia



Caros diocesanos. A Igreja celebra novamente Corpus Christi, Corpo de Cristo, solenidade que tem profunda ligação com a Quinta-feira santa, dia em que Jesus instituiu a eucaristia, o sacerdócio e ensinou o mandamento do amor, com o rito do lava-pés. No contexto celebrativo da semana santa fica difícil valorizar toda riqueza que o mistério da eucaristia merece. Assim sendo, a história da liturgia, a partir do séc. XIII, fez surgir o que nós celebramos em Corpus Christi, tendo como objetivo litúrgico agradecer pela eucaristia e realizar uma manifestação pública de fé na presença real e permanente de Jesus Cristo no Pão vivo descido do céu. Em Corpus Christi, esta atitude de gratidão se expressa pela celebração da própria missa e pela procissão solene nas ruas com a Hóstia consagrada. Os enfeites nos caminhos públicos e corredores das igrejas, fazem parte desta gratidão e deste louvor.

Mesmo com toda riqueza celebrativa e do significado da própria palavra Eucaristia, como ação de graças, devemos abordar outras dimensões que ela contém, sobretudo como ceia de comunhão, sacrifício pascal e missão, pois a espiritualidade eucarística revela diversos aspectos em sua unidade indivisível: ela nasce numa Ceia pascal que torna presente (memória) o Sacrifício da Cruz e a Ressurreição de Cristo (Páscoa), realizando a maior Ação de Graças possível para a salvação da humanidade, em todos os tempos, tornando-se fonte e ponto alto da evangelização. Portanto, viver uma espiritualidade de Jesus eucarístico, longe de qualquer devocionismo ou intimismo, significa comungar sua vida, dada em sacrifício, tornando-nos, com Ele e os irmãos, oblação e ação de graças ao Pai em nossa missão evangelizadora. Eucaristia e caridade (serviço), portanto, andam de braços dados e essa relação nos faz entender porque o evangelista João inclui o lava-pés (Jo 13) onde os demais evangelistas narram a instituição da Eucaristia. São Paulo não pensa diferente (1Cor 11, 17-22.27-34). A autenticidade de nossas celebrações eucarísticas será avaliada com este critério, afirma João Paulo II (MND 28). Por isso, em Corpus Christi, faz-se coletas de caridade para os necessitados, ainda mais em tempos de pandemia.

Na solenidade de Corpus Christi desejamos louvar e agradecer a Jesus eucarístico pela sua presença entre nós neste sacramento e lhe oferecemos o que de melhor possuímos, através de precioso ostensório, dignos sacrários em nossos templos e ruas enfeitadas com belos símbolos religiosos. Contudo, não podemos esquecer o mais importante: acolhê-lo como divino hóspede em nossos corações, em nossa vida, e sermos sacrários vivos, portadores do Senhor na vida pessoal e familiar, em nossos ambientes de trabalho e de convivência na sociedade. 

A Eucaristia



Aproveitando a Solenidade do Corpo do Senhor, Corpus Christi, vamos tratar de Eucaristia, o último dos sacramentos da Iniciação Cristã, o último dos sacramentos que nos inserem na Vida do Cristo morto e ressuscitado, fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo Sacramento! A Eucaristia é o Sacramento e todos os outros somente podem ser chamados de sacramentos porque preparam para ela ou dela decorrem! O Batismo nos abre a porta para o Banquete eucarístico, pois fomos todos batizados num só Espírito para formarmos um só Corpo na Ceia do Senhor (cf. 1Cor 12,13), a Confirmação, ao nos dar o Espírito como Força, faz-nos membros vivos que edificam o Corpo do Senhor que é a Igreja, alimentando-nos com o Sacramento do Corpo presente no Altar, de modo que somos sempre, de novo, reunidos e alimentados num só Corpo, assumindo a parte da missão que o Espírito do Senhor nos dá para o bem da Igreja. O Sacramento da Penitência nos reinsere, pelo perdão, na Assembleia eucarística, pois, reconciliados no Corpo, participamos do Corpo do Senhor. Depois, os sacramentos da missão: a Ordem e o Matrimônio: deveriam ser celebrados dentro da Eucaristia ou pelo menos, no caso do Matrimônio, com a comunhão eucarística, pois são sacramentos que servem à edificação da Igreja, Corpo do Senhor, seja pelo pastoreio, seja pela geração de novos membros e edificação da Igreja doméstica em cada família. Assim, tudo gira em torno da Eucaristia, lugar bendito, celebração sagrada, na qual o Cristo faz-Se Corpo imolado e ressuscitado para alimentar a Igreja e dela fazer o Seu Corpo, unindo a Si cada membro, de modo que todos comunguem no Santo Espírito para a glória do Pai!

Mas, como falar desse sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vou seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. E vamos iniciar precisamente citando Catecismo: O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até Ele voltar, o sacrifício da Cruz, e para confiar, assim, à Igreja, Sua amada Esposa, o memorial da Sua Morte e Ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da Glória futura” (n. 1323).

Estas palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos séculos, até que Ele venha, o Sacrifício da Cruz! Então, a Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela? 

terça-feira, 9 de junho de 2020

Emissoras católicas apoiadas por arcebispo se defendem: “Não houve barganhas”.



Após uma videoconferência entre membros da Frente Parlamentar Católica com o presidente da República Jair Messias Bolsonaro, na qual participaram representantes de alguns veículos de comunicação católicos, setores da mídia brasileira afirmaram que o colóquio teria sido ocasião de barganhas de favores políticos entre as mídias católicas e o presidente brasileiro. Esta semana representantes de algumas das emissoras que participaram da reunião e um Arcebispo emitiram notas afirmando que a imprensa distorceu os fatos.

A mencionada reunião ocorreu no mês passado. O colóquio tinha como propósito unir forças entre governo e mídias católicas para dar continuidade a iniciativas a favor da vida e da família, além de promover ações sociais, educativas e de evangelização para a população.

Uma das emissoras que participou na videoconferência, a TV Século 21, afirmou através de sua assessoria de imprensa que a narrativa de que houve proposta de troca de favores por verba “é uma inverdade”. Segundo o comunicado, o fundador da TV católica, padre Eduardo Dougherty, SJ, “em nenhum momento propõe-se troca de favores ao Governo ou pede-se apoio em troca de verbas”.

Pe. Dougherty esteve na reunião com o presidente e sua nota refere-se a uma matéria veiculada no último sábado, 6, no jornal O Estado de São Paulo que levava o título:“Por verbas, TVs católicas oferecem a Bolsonaro apoio ao governo”.

A informação do diário paulistano foi replicada por outros veículos que também alegaram que representantes de mídias Católicas teriam oferecido ao presidente Bolsonaro apoio em seus canais e estações de rádio em troca de verbas públicas.

A notícia gerou desconcerto entre os católicos e levou a Comissão Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a emitir uma nota na noite do mesmo dia condenando a prática de barganhas de favores.

Citando a matéria do Estado de São Paulo, a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB afirma que “A Igreja Católica não faz barganhas” e acrescenta que a instituição não foi convidada para a videoconferência. “A Igreja Católica estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”, afirma o texto.

Um dos representantes criticados pela mídia brasileira foi o Padre Reginaldo Manzotti, que desenvolve um reconhecido apostolado nos meios católicos através da rádio e da televisão na fundação “Evangelizar é preciso” e que foi defendido pelo arcebispo de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo.

Em uma carta ao clero diocesano de capital paranaense, ao qual pertence o Padre Manzotti, Dom Peruzzo afirma: “A reportagem do Estadão foi inteligentemente malévola: divulgou o acontecimento com grande tardança e os apresentou em distorções grosseiras. Pareceu maldade encomendada”, analisou.

O prelado explicou que permitiu a participação do padre Manzotti porque entende que é preciso manter canais de diálogo uma vez que “no segmento das comunicações, quase tudo depende de autorização governamental. Qualquer meio de comunicação de rádio ou TV é concessão do Estado”.

“Outros grandes jornais do país também acompanharam e nada publicaram. Acaso o Estadão é o único “concessionário da lucidez”, criticou ainda o arcebispo.

“É uma pena que chamaram de barganha o que e quem nada barganhou. Basta verificar e acompanhar toda a reunião. Quem barganhou? (…) Impressiona o grau de desfiguração intencionada dos fatos. Vivemos tempos em que parece natural sofisticar a maldade”, denunciou o prelado. 

Igrejas na China devem pregar "patriotismo" para reabrir após o coronavírus

Catedral do Sagrado Coração de Guangzhou, Guangdong, China / Crédito: Zhangzhugang - Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0)


As autoridades católicas patrocinadas pelo Estado em algumas partes da China emitiram regulamentos sobre a reabertura das igrejas durante a pandemia de coronavírus, incluindo a exigência de pregar sobre o "patriotismo" para poder reabrir.

Na província oriental de Zhejiang, a Associação Patriótica Católica Chinesa (CPCA, na sigla em inglês), controlada pelo Governo, e o comitê de administração educativa católica chinesa da província, emitiram uma declaração, em 29 de maio, sobre a retomada da Missa para a semana seguinte.

O texto indica que só os "lugares religiosos que atendam às condições de prevenção de epidemias" podem celebrar a Missa a partir de 2 de junho. Entre essas condições estava o requisito de acrescentar "patriotismo" à celebração da liturgia.

Os católicos chineses locais, em declarações à UCA News, consideraram as novas medidas inapropriadas.

“O primeiro requisito no aviso é ensinar uma boa lição sobre o patriotismo. É incorreto. Como membros da Igreja Católica universal, não podemos aceitar e glorificar o que os comunistas consideram educação patriótica”, disse Pe. Liu, da província de Hebei, à UCA News.

Um católico de Wenzhou chamado Jacob Chung assegurou que a medida representa uma interferência adicional do governo "nos assuntos internos da religião".

O Partido Comunista Chinês procura "reprimir e transformar" a Igreja Católica na China para promover melhor os valores comunistas, acrescentou. 

“Pareceu maldade encomendada”, comenta Bispo sobre reportagem do Estadão



Dom Antonio Peruzzo enviou carta ao clero da Arquidiocese de Curitiba esclarecendo sobre a tendenciosa matéria do jornal Estado de São Paulo (Estadão) , que envolveu o nome de  Padre Reginaldo Manzotti .

O arcebispo explica aos seus padres a ordem dos fatos que desembocou em uma celeuma midiática, por conta de interpretações equivocadas. Padre Reginaldo Manzotti, como de costume, consultou o arcebispo sobre a sua participação em uma reunião com parlamentares católicos e o Presidente da República. “Ponderei a ele que não gosto nem um pouco do atual presidente. Todavia, no segmento das comunicações, quase tudo depende de autorização governamental. Qualquer meio de comunicação de rádio ou TV é concessão do Estado. Hoje, se não forem mantidos canais de diálogo, multiplicam-se severamente as retaliações. Foi assim também no passado, independentemente dos governos e grupos partidários“, respondeu Dom Peruzzo ao Padre Manzotti.

“Minha recomendação foi que participasse da reunião, mas que fosse cuidadoso no que falaria. Que não houvesse nem lisonjas nem hostilidades da parte do padre. Era uma reunião aberta, registrada, acessível ainda hoje a todos”, continua o arcebispo de Curitiba que passa comentar sobre a participação de Padre Manzotti na reunião: “O Pe. Reginaldo se pronunciou por apenas cinco minutos ou menos. Poderá ouvir sua fala abaixo. Foi tão somente uma apresentação legítima do segmento das rádios e TVs”.

“A reportagem do Estadão foi inteligentemente malévola: divulgou o acontecimento com grande tardança e os apresentou em distorções grosseiras. Outros grandes jornais do país também acompanharam e nada publicaram. Acaso o Estadão é o único “concessionário da lucidez”? Pareceu maldade encomendada’, analisa o arcebispo. Para Dom Peruzzo, “tudo se tornou ainda mais debatido depois da nota do setor de comunicações da CNBB. Também foi uma nota infeliz. Foi detrativa”.

Leia a íntegra da carta de Dom Peruzzo, Bispo de Padre Reginaldo Manzotti ao clero da Arquidiocese de Curitiba: 

domingo, 7 de junho de 2020

Jornais tiram frases do contexto e levam CNBB a fazer nota criticando TVs Católicas.


A respeito das matérias que levou a “Igreja Católica” aos “trending topics” do Twitter neste sábado (06). O título é chamativo, e sugere ao leitor a negociata escusa: “Ala da Igreja Católica oferece a Bolsonaro apoio em troca de verba” (cf. imagem). Leia para verificar que membros da “ala” dada pelo jornal como representação dos “conservadores” é capaz de escandalizar não só os ditos “conservadores”, mas inquietar o católico que tenha minimamente ciência da sua fé.

O encontro virtual com o Presidente da República foi aberto, transmitido inclusive pelos canais públicos de comunicação. Se da conversa realizada sob os olhos e ouvidos de qualquer interessado resultar um ilícito, uma imoralidade que seja – mas, principalmente, algo que comprometa a Santa Igreja Católica! -, que se investigue e denuncie. Por ora, não passa de especulação rasteira e sensacionalismo para a jogatina política. Por que digo isso?

Por acaso você chegou a ver este jornal denunciar a “ala” da “Igreja Católica” que, tomando de assalto a Santa Igreja, pervertendo e devastando a fé católica no Brasil, promoveu o criminoso esquema de poder comunista que saqueou o país? Com toda certeza, não. Por que? Porque o “ministério” da Teologia da Libertação é seu “modelo” de “igreja”, e seus “apóstolos” são os seus articulistas e “consultores” para questões relacionadas à fé católica, mesmo com todas as perversões que sem pudor algum eles pregam. A propósito, você já viu algum “conservador” (!) nas páginas do referido Jornal, a não ser de forma caricata e estereotipada?

Lembre-se do entusiasmo do Jornal ao publicar o “ato de oposição a Bolsonaro” com a presença do Cardeal Cláudio Hummes, “apóstolo” da Teologia da Libertação, amigo de Lula, e então relator do Sínodo da Amazônia. Ali não havia tom de “conspiração”, imoralidade, nada a respeito de uma “ala” que trai a fé, os princípios e orientações da Santa Igreja, e que meses depois renovaria em Roma, durante o Sínodo da Pachamama, o pacto diabólico das catacumbas com a instrumentalização política da Esposa de Cristo. Nada, porque era conveniente para o Jornal. Se tem alguma dúvida a respeito dos propósitos políticos do jornal, basta consultar os editoriais que ele recente e frequentemente vem publicando.

Um dos tópicos da matéria de hoje aponta que a “divisão na Igreja abre caminho para presidente negociar com veículos católicos”. Mas, essa “divisão” – que existe, não é somente política, mas foi potencializada sobretudo pelos “apóstolos” da revolução tão idolatrados pela imprensa – também não abre caminho para o promover a sua jogatina política? O católico tem um compromisso com a Verdade, seja lá qual for a sua preferência política – deve ser dito! Porém, o jornal tem claramente a sua preferência política, e por ela não hesita em comprometer a verdade e a própria Santa Igreja para arrebanhar os mais desavisados e a instigar os já condicionados, que estão nas redes agora acusando a Esposa de Cristo com a traição das “trinta moedas” e pelo retorno à “idade média”. A sordidez da imprensa não tem limite.

Os donos da república – Como pensa (e o que tem no coração) a elite brasileira



As reações à reunião ministerial vazada pelo juiz do Supremo deixaram patente, pela enésima vez, o golfo que separa no Brasil a cabeça dos donos do poder e a experiência vivida pela classe-média e pela arraia-miúda. Uma linha espessa segmenta o nosso corpo social, dividindo culturalmente o topo da pirâmide, dois ou três por cento dos habitantes, se tanto, do restante da população.

Esse fenômeno não chega a ser inédito, pelo contrário, é comum às estruturas hierárquicas a existência de alguma variação na concepção geral de mundo das classes. Nunca, porém, o hiato entre a percepção geral dos fatos e a versão difundida no pequeno círculo das elites nacionais se revelou tão grande como no Brasil atual. Os altos escalões da República vivem hoje em Marte, num delírio louco, mais despegados do chão do que estariam mil Marias Antonietas.

Basta percorrer os olhos rapidamente pelo perfil social dos figurões da mídia e da política para constatar o fato. Enquanto manifestavam pesar e um rechaço uniforme aos palavrões presidenciais muito bem empregados para nomear a substância mesma de prefeitos e governadores, as tias do zap e os caminhoneiros do país afora festejavam numa exaltação jubilosa, felizes como pinto no lixo, lavados no corpo e na alma.

Um mesmo acontecimento, duas versões antagônicas. Isso não ocorre somente por “diferenças políticas”. As adesões partidárias são somente a parte visível de uma separação de fundo, uma cisão irreconciliável, resultado da coexistência de duas verdadeiras culturas, no sentido antropológico do termo — duas moralidades, dois universos de crenças, premissas, símbolos, valores, regras de conduta, modos de falar etc – em suma, dois sistemas completamente distintos de interpretação dos fatos e de ação na realidade.

A cultura da elite, dos brasileiros que, por burrice, masoquismo, hábito vicioso, orgulho ou teimosia, ainda insistem em consumir a mídia tradicional, é um circuito de informação fechado e auto-referente. Essa gente vive afastada mentalmente e fisicamente das outras classes, encastelada em prédios e condomínios fechados, hipnotizada pelas próprias palavras e enfeitiçada pela competição dos seus hábitos de consumo.

Muito embora, sob o prisma sociológico, a constituição dessa elite possa em muito variar, sendo ela composta de burocratas, banqueiros, grandes empresários e industriais, cardeais, generais, profissionais liberais, jornalistas, editores, artistas, sindicalistas e professores universitários; do ponto de vista espiritual, são todos inescapavelmente burgueses, isto é, seres pequeninos nos quais, como diz Berdiaev, “a sede de poder, de bem-estar e de riqueza triunfa sobre o anseio de santidade e genialidade”, ou, na definição mais ácida e precisa de Leon Bloy, é uma gente “que não faz qualquer uso da faculdade de pensar, e que vive sem jamais, sequer por um dia, ter sido solicitad[a] pela necessidade de compreender o que quer que seja”.

O juízo moral dessas pessoas é cem por cento baseado em aparência. A preocupação deles é frívola. São blogueirinhas e reis do camarote. Ocupam-se somente de intrigas, roupas de grife, restaurantes e viagens. Suas conversas em mesa de jantar não passam de um eufórico despejo mútuo de informações sobre consumo de luxo. Falam todos ao mesmo tempo e, no fundo, ninguém ouve propriamente o que o interlocutor diz. É só pavoneio e vazão emocional. 

Palavra de Vida: “Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40).



O Evangelho de Mateus narra neste capítulo a escolha que Jesus faz dos Doze e o respetivo envio para anunciarem a Sua mensagem.

São nomeados um a um, sinal da relação pessoal que construíram com o Mestre, tendo-O seguido desde o início da Sua missão. Conheceram o Seu estilo, caracterizado sobretudo pela proximidade com os doentes, os pecadores e os que eram considerados endemoninhados; com todas as pessoas marginalizadas, julgadas negativamente, de quem todos se mantinham à distância. É só depois destes sinais concretos de amor pelo Seu povo que Jesus se prepara para anunciar que o Reino de Deus está próximo.

Os apóstolos são, portanto, enviados em nome de Jesus, como seus “embaixadores”, e é Ele que deve ser acolhido através deles. Frequentemente, os grandes personagens da Bíblia, pela abertura de coração a um hóspede inesperado, não programado, receberam a visita do próprio Deus. Ainda hoje, sobretudo nas culturas que conservam um forte sentido comunitário, o hóspede é sagrado, mesmo quando é desconhecido, e prepara-se para ele o melhor lugar.

“Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe,
recebe aquele que me enviou”

Jesus dá as Suas instruções aos Doze: eles devem pôr-se a caminho, descalços e com pouca bagagem: sem alforge, só uma túnica… Devem deixar-se tratar como hóspedes, prontos a aceitar os cuidados dos outros, com humildade; gratuitamente devem cuidar e estar próximos dos pobres e deixar a todos, como dom, a paz. Como Jesus, serão pacientes nas incompreensões, confiando na assistência do amor do Pai.

Deste modo, quem tiver a sorte de encontrar algum deles poderá verdadeiramente experimentar a ternura de Deus.

“Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe,
recebe aquele que me enviou”

Enquanto discípulos, todos os cristãos têm uma missão: testemunhar com mansidão, primeiro com a vida e depois também com as palavras, o amor de Deus que eles próprios encontraram, para que se torne uma realidade aprazível para muitos, para todos. E, por se terem sentido acolhidos por Deus, apesar das suas fragilidades, o primeiro testemunho é precisamente o acolhimento caloroso dos irmãos.

Numa sociedade marcada tantas vezes pela procura do sucesso e da autonomia egoística, os cristãos são chamados a mostrar a beleza da fraternidade, que sabe reconhecer as necessidades uns dos outros e atuar a reciprocidade.