Caros diocesanos. A Igreja celebra novamente
Corpus Christi, Corpo de Cristo, solenidade que tem profunda ligação com a
Quinta-feira santa, dia em que Jesus instituiu a eucaristia, o sacerdócio e
ensinou o mandamento do amor, com o rito do lava-pés. No contexto celebrativo
da semana santa fica difícil valorizar toda riqueza que o mistério da
eucaristia merece. Assim sendo, a história da liturgia, a partir do séc. XIII,
fez surgir o que nós celebramos em Corpus Christi, tendo como objetivo
litúrgico agradecer pela eucaristia e realizar uma manifestação pública de fé
na presença real e permanente de Jesus Cristo no Pão vivo descido do céu. Em
Corpus Christi, esta atitude de gratidão se expressa pela celebração da própria
missa e pela procissão solene nas ruas com a Hóstia consagrada. Os enfeites nos
caminhos públicos e corredores das igrejas, fazem parte desta gratidão e deste
louvor.
Mesmo com toda riqueza celebrativa e do
significado da própria palavra Eucaristia, como ação de graças, devemos abordar
outras dimensões que ela contém, sobretudo como ceia de comunhão, sacrifício
pascal e missão, pois a espiritualidade eucarística revela diversos aspectos em
sua unidade indivisível: ela nasce numa Ceia pascal que torna presente
(memória) o Sacrifício da Cruz e a Ressurreição de Cristo (Páscoa), realizando
a maior Ação de Graças possível para a salvação da humanidade, em todos os
tempos, tornando-se fonte e ponto alto da evangelização. Portanto, viver uma
espiritualidade de Jesus eucarístico, longe de qualquer devocionismo ou
intimismo, significa comungar sua vida, dada em sacrifício, tornando-nos, com
Ele e os irmãos, oblação e ação de graças ao Pai em nossa missão
evangelizadora. Eucaristia e caridade (serviço), portanto, andam de braços
dados e essa relação nos faz entender porque o evangelista João inclui o
lava-pés (Jo 13) onde os demais evangelistas narram a instituição da
Eucaristia. São Paulo não pensa diferente (1Cor 11, 17-22.27-34). A
autenticidade de nossas celebrações eucarísticas será avaliada com este
critério, afirma João Paulo II (MND 28). Por isso, em Corpus Christi, faz-se
coletas de caridade para os necessitados, ainda mais em tempos de pandemia.
Na solenidade de Corpus Christi desejamos
louvar e agradecer a Jesus eucarístico pela sua presença entre nós neste
sacramento e lhe oferecemos o que de melhor possuímos, através de precioso
ostensório, dignos sacrários em nossos templos e ruas enfeitadas com belos
símbolos religiosos. Contudo, não podemos esquecer o mais importante: acolhê-lo
como divino hóspede em nossos corações, em nossa vida, e sermos sacrários
vivos, portadores do Senhor na vida pessoal e familiar, em nossos ambientes de
trabalho e de convivência na sociedade.
Como então celebrar Corpus Christi em tempos
de pandemia? Estamos fazendo a experiência da limitada participação na
eucaristia presencial, na qual participamos ativamente de sua celebração,
podendo então comungar o corpo e o sangue do Senhor. Vencido o coronavírus,
possamos, com alegria, retornar aos nossos templos e participar mais plenamente
das celebrações eucarísticas. Por ora, acompanhemos as celebrações pelas redes
sociais, rádio e TV. No dia de Corpus Christi, após a missa em nossos templos,
também haveremos de passar com o Santíssimo por ruas de nossa cidade e nos
locais de atendimento à saúde, recebendo sua bênção. Sugerimos a colocação de
sinais eucarísticos nesse dia, em nossas casas, e nosso coração proclame com
frequência: “Graças e louvores se deem a todo momento ao Santíssimo e
diviníssimo sacramento”.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul
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