Catedral do Sagrado Coração de Guangzhou, Guangdong, China / Crédito: Zhangzhugang - Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0) |
As autoridades católicas patrocinadas pelo
Estado em algumas partes da China emitiram regulamentos sobre a reabertura das
igrejas durante a pandemia de coronavírus, incluindo a exigência de pregar
sobre o "patriotismo" para poder reabrir.
Na província oriental de Zhejiang, a
Associação Patriótica Católica Chinesa (CPCA, na sigla em inglês), controlada
pelo Governo, e o comitê de administração educativa católica chinesa da
província, emitiram uma declaração, em 29 de maio, sobre a retomada da Missa
para a semana seguinte.
O texto indica que só os "lugares
religiosos que atendam às condições de prevenção de epidemias" podem
celebrar a Missa a partir de 2 de junho. Entre essas condições estava o
requisito de acrescentar "patriotismo" à celebração da liturgia.
Os católicos chineses locais, em declarações à
UCA News, consideraram as novas medidas inapropriadas.
“O primeiro requisito no aviso é ensinar uma
boa lição sobre o patriotismo. É incorreto. Como membros da Igreja Católica
universal, não podemos aceitar e glorificar o que os comunistas consideram
educação patriótica”, disse Pe. Liu, da província de Hebei, à UCA News.
Um católico de Wenzhou chamado Jacob Chung
assegurou que a medida representa uma interferência adicional do governo
"nos assuntos internos da religião".
O Partido Comunista Chinês procura
"reprimir e transformar" a Igreja Católica na China para promover
melhor os valores comunistas, acrescentou.
A China reabriu lentamente as instituições após
a pandemia de coronavírus, incluindo serviços religiosos. Os regulamentos
diferem por província, e algumas paróquias devem verificar as temperaturas dos
fiéis antes de poderem entrar no edifício.
Em Sichuan, aqueles que querem ir à igreja
devem obter a permissão de um funcionário do governo.
As novas regras surgem quando o governo chinês
toma medidas cada vez mais fortes para promover a "sinicização" na
prática da religião, ou seja, a campanha do governo para adaptar todas as
religiões à cultura e ao comunismo chinês.
Em 2019, a Agência de Notícias Xinhua informou
que um membro do Comitê Permanente do Bureau Político do Comitê Central do
Partido Comunista da China supervisionou uma reunião que discutiu sobre a
criação de uma tradução das Escrituras que esteja de acordo com a sua ideologia
política.
Segundo os relatórios, a reunião incluiu
"pessoas religiosas de base" e acadêmicos. Seu objetivo era criar
"interpretações precisas e autorizadas das doutrinas clássicas para
acompanhar o ritmo dos tempos".
Para atingir esse objetivo, as passagens que
violem os "valores socialistas centrais" do partido serão removidas
de textos como a Bíblia e o Alcorão.
O Partido Comunista visa "criar uma nova
versão do cristianismo sem suas visões e valores transcendentes", disse Xi
Lian, professor da Escola de Divindade da Universidade Duke, ao Wall Street
Journal.
Desde que chegou ao poder em 2013, o
presidente chinês, Xi Jinping, ordenou a "sinicização" de todas as
religiões na China, uma medida que a Comissão dos Estados Unidos para a
Liberdade Religiosa Internacional chamou de "uma estratégia de longo
alcance para controlar, governar e manipular todos os aspectos da fé em um
molde socialista infundido com 'características chinesas'”.
O governo chinês está no meio da implementação
de um "plano de sinicização" de cinco anos para o Islã, uma religião
que enfrenta crescente perseguição no país, com pelo menos 800 mil muçulmanos
uigures detidos em campos de concentração.
A aceitação católica do programa de
"sinicização" tem sido um assunto muito debatido após a formalização
do acordo de 2018 entre o Vaticano e a China, que regularizou os bispos
designados pelo governo do país junto à Santa Sé.
Anteriormente, os bispos afiliados à
"Associação Católica Patriótica Chinesa" foram consagrados
ilicitamente e fora da comunhão com Roma.
Em 2019, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário
de Estado do Vaticano, disse que a "inculturação", uma prática
missionária católica e "sinicização" podem ser "complementares"
e "podem abrir caminhos para o diálogo".
"A inculturação é uma condição essencial
para uma proclamação sólida do Evangelho que, para dar frutos, exige, por um
lado, salvaguardar sua autêntica pureza e integridade e, por outro,
apresentá-la de acordo com a experiência particular de cada povo e cultura”,
disse.
“Estes dois termos, ‘inculturação’ e
‘sinicização’, referem-se entre si sem confusão e sem oposição”,
acrescentou.
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Publicado originalmente em ACI Prensa.
Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
ACI Digital
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