O dogma da Imaculada Conceição parece fácil porque nós sentimos que Maria é uma pessoa completamente iluminada por Deus, o templo humano em que habita a graça e o pecado não entra. Bem antes de se tornar dogma, o povo já cultuava Nossa Senhora da Conceição. Muitas pessoas acham que Maria imaculada nasceu e viveu tão santa que não tinha as dúvidas, as crises e as dificuldades das pessoas comuns.
Os protestantes não aceitam esse dogma e o criticam duramente. Para as igrejas tradicionais da reforma protestante, o dogma da Imaculada fere os princípios cristãos de que todos somos pecadores e necessitamos da graça salvadora de Deus em Jesus Cristo. Além disso, não é um dogma definido por um Concílio Ecumênico, mas pelo Papa. Eles perguntam que autoridade ele tem para obrigar todos a crerem em algo que não está na Bíblia. Outros protestantes, usando o texto de São Paulo que diz “todos pecaram” (Rm 3,23), afirmam com isso que o dogma vai contra a Bíblia.
A Bíblia não afirma diretamente que Maria é imaculada. Se fosse assim não seria necessário o dogma[1].
Vamos conferir os pontos positivos:
Quando uma criança vem a este mundo, já no útero da mãe está recebendo, em doses distintas, amor e desamor, amor e rejeição, afeto e violência.
Há algo na nossa história que estraga os projetos do Senhor. Nós o chamamos Mistério do Mal e da Iniqüidade. Ele está se espalhando na humanidade e repercute dentro de cada pessoa. Damos a ele o nome de “pecado original”.
Os impulsos do poder, do ter e do prazer e tantos outros puxam a gente, cada um para o seu lado e podem nos afastar de Deus. A teologia chamou essa divisão interna de “concupiscência”. São Paulo lembra que às vezes essa divisão interna que vivemos é que muitas vezes nosso coração quer fazer o bem, mas acabamos fazendo o mal que não desejamos[2].
O dogma da Imaculada Conceição nos diz algo sobre Maria e sobre cada um de nós. Confirma que ela é uma criatura especial que alimenta em nós a esperança na vitória da graça de Deus sobre o mal e o pecado.
[1] “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1,4).
[2] “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7,14-24).
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Fonte: Trechos do livro: "Com Maria Rumo ao Novo Milênio", dom Clóvis Prainer. CNBB. (exceto citações).
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