O nascimento do Menino Jesus realmente mudou a história da humanidade? É verdade que os potentes e o povo entenderam imediatamente a importância daquele nascimento? Por que contamos os dias desde aquele nascimento? Que sentido tem na vida de cada um fazer o presépio?
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Qual é o significado na história e no presépio feito por São Francisco, da figura do Menino Jesus?
Pe. Pietro Messa: Sabemos que os primeiros cristãos, sendo todos de religião hebraica, guardavam o sábado, mas o dia seguinte, ou seja, o atual domingo, se reuniam para lembrar a Ressurreição. Então, a primeira festa celebrada e aquela por excelência é a Páscoa. Sucessivamente, começaram a celebrar outros acontecimentos da vida de Jesus, como o seu nascimento no dia 25 de dezembro, isto é, o dia em que anteriormente celebravam o Sol invictus, ou seja, que não foram vencidos pelas trevas; visto que passado o solstício de inverno, os dias começam a ser mais longos e a luz toma conta da escuridão da noite. Da celebração passamos para as representações e a peregrinação a Belém, cidade do rei Davi de cuja linhagem nasceu Jesus.
As peregrinações - ao mesmo tempo, expressão e incentivo de ligação com os lugares da vida terrena de Jesus - foram motivos propulsores para a narração e representação da humanidade de Jesus. Neste contexto está o desejo de frei Francisco de Assis manifestado ao povo de Greccio em 1223, de ver "com os olhos do corpo", como o Menino Jesus estava deitado na manjedoura entre o boi e o jumento. E assim, na noite de Natal sobre a manjedoura onde estavam os dois tradicionais animais, foi celebrada a Eucaristia para que pudéssemos ver "com os olhos do corpo", o pão e o vinho consagrados, e acreditar, graças ao espírito Santo, na presença do Corpo e Sangue de Cristo (para aprofundar cfr U.Occhialini-P.Messa, O primeiro presépio do mundo, Ed.Porziuncula, Assis 2011).
Em um âmbito secularizado como este moderno, o nascimento de Jesus Menino é banalizado e colocado no contexto de um "mito" que apenas as crianças podem acreditar. Por que, segundo os cristãos, aquele nascimento mudou o mundo?
Pe.Pietro Messa: Mas talvez a pior desmistificação do Natal não seja a de acreditar em um mito, mas o reducionismo do mesmo para a festa de bondade, do altruísmo, de ajuda aos necessitados. Não que essas coisas não sejam importantes ou presentes no Evangelho, mas o centro é o fato de que Jesus vem a nós porque fez a opção pela nossa pobreza. Ele estende sua mão até o momento em que seu braço é estendido na cruz. Como nos disse a Clarissa, irmã Clara Tarcisia do Promnastero de Santa Clara de Assis nos últimos meses de sua existência: "O importante na vida é amar, e, sobretudo deixar-se amar!". E o Natal é o tempo propicio para deixar-se amar e isso não gera passividade porque Jesus nos ama como somos; mas não nos deixa como somos, ao contrário, nos transforma em capacidade de amar de modo criativo e eficaz. Desta forma, o encontro com a sua Presença muda e dá início a uma nova humanidade.
Os cristãos falam de Jesus como o Salvador, por quê?
Pe.Pietro Messa: Jesus de Nazaré - uma cidade que, de acordo com alguns, não poderia vir nada de bom - passou pela Palestina e, como para outras pessoas, também sobre ele perguntavam quem era. As respostas a essa pergunta foram as mais variadas, mas quem não se fecha em seus próprios esquemas, nota que toda resposta é inadequada, ou melhor, inesgotável. E assim, devagar, cada vez mais se reconhece a sua realidade de Messias, ou seja, ungido pelo Altíssimo e então o Salvador. Mas sobre a pessoa de Jesus, ainda que obtenhamos algumas certezas definidas pelos dogmas, questões ainda se abrem e, como nos mostram os santos, há sempre algo a se maravilhar, isto é, para parar e olhar com estupor para Ele.
A data, o Cometa, os Reis,... quais são os argumentos para recordar-los como fatos que realmente aconteceram na história?
Pe Pietro Messa: O acontecimento de Jesus ocorreu nas coordenadas da história, ou seja, no espaço e no tempo: o espaço é aquele da Palestina e o tempo é - como dizemos no Credo - "sob Pôncio Pilatos". Mas isso não basta porque muitos viram a sua humanidade, escutaram suas palavras, admiraram seus milagres, mas somente alguns acreditaram na sua divindade. Como afirma Francisco de Assis na Admoestação em primeiro lugar, os discípulos viram "com os olhos do corpo" a sua humanidade, mas acreditaram na sua divindade. Assim, certamente, Jesus tem uma história, mas também alguma coisa que supera a história; por isso é importante, como nos recorda Bento XVI, que exista uma razão aberta ao mistério e uma fé racional. Caso contrário, cairíamos no racionalismo ou no fideísmo. Jesus é um acontecimento racional, mas que supera a razão e quando a razão quer ser omni-compreensiva, ou seja, pretender que com-preende tudo, cai no racionalismo. Da mesma forma, quando a fé exclui a história, a investigação da razão torna-se fideísmo, que abre a qualquer deriva, até mesmo violenta.
Quem, além dos cristãos, acolheu a importância daquele nascimento que aconteceu há mais de dois mil anos?
Pe.Pietro Messa: Muitas pessoas, incluindo os muçulmanos para os quais Jesus é um grande profeta. Dizia Monsenhor Luigi Padovese que na missa de Natal na Turquia, estavam presentes também os muçulmanos e em sua homilia inédita pela ocasião, soube acolher tal presença com sabedoria. Na verdade, ele disse que todos estavam comemorando o nascimento de Jesus, para alguns, porque era um grande profeta, para os cristãos manifestava misericórdia, ou melhor, presença de Deus entre os homens sendo o Filho de Deus.
Porque grande parte do mundo marca o tempo a partir daquele nascimento?
Pe.Pietro Messa: Em 313 houve o decreto de Constantino, de certa forma, marcou o fim das perseguições, após o qual o cristianismo se tornou a religião oficial.E assim, o cálculo do tempo começou a ser pontuado por seu nascimento, reconhecendo nele o cumprimento das profecias e promessas e o início de uma nova era. Nas palavras do Beato João Paulo II, ele é "o centro do cosmos e da história."
Por Antonio Gaspari
(Tradução:MEM)
*Padre Pietro Messa, Presidente da Escola Superior de Estudos Medievais e Franciscanos da Pontifícia Universidade Antonianum.
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Fonte: ROMA, segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 (ZENIT.org) -
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