terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Nota do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida (Brasil Sem Aborto)

Cartilha do Min. da Saúde com orientações para a prática do aborto!

Ministério da Saúde orienta como fazer o aborto usando Cytotec

No apagar das luzes de 2012, o Ministério da Saúde mandou imprimir uma cartilha com o título “Protocolo Misoprostol”, com as instruções para o uso desse medicamento abortivo, mais conhecido pela marca Cytotec, cuja comercialização é proibida no Brasil. O responsável pela publicação é o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde e o texto também se encontra disponível na Biblioteca Virtual do Ministério.

Contrariamente ao que é habitual em publicações governamentais, não há, em todo o folheto, nome de qualquer autor ou responsável.

O folheto aparenta destinar-se a público especializado, para a realização do dito “aborto legal” e outros usos. Em sua página 2, explicita: “apresentamos a seguir o Protocolo para Utilização de Misoprostol em Obstetrícia, em linguagem técnica, dirigido a profissionais de saúde em serviços especializados”. Entretanto, alguns aspectos chamam a atenção.


- A 1ª edição tem uma tiragem de 268.108 exemplares, sendo que dados recentes publicados no site da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) indicamque há no Brasil 22.815 médicos em atividade nessa área. A publicação ultrapassa, portanto, em mais de dez vezes, o número de profissionais aos quais teoricamente se destinaria.

- Contrariamente ao que é habitual em protocolos para atuação médica, o uso de Misoprostol não é comparado a outros medicamentos ou técnicas que seriam possíveis na mesma situação. Por exemplo, indica-se a dose e modo de uso para “indução do parto com feto vivo”, uma utilização não aceita pela FDA (Food and Drug Administration) americana, e para a qual existem alternativas. Os próprios fabricantes do Misoprostol alertaram para o risco de ruptura uterina quando ele é usado como indutor do parto.

- Ao contrário do que se diz na apresentação, a linguagem do folheto, especialmente em sua segunda parte, quando trata do uso, é sintética e direta, facilmente compreensível por público leigo. Praticamente se restringe às doses a serem utilizadas para o“esvaziamento uterino” no primeiro, segundo e terceiro trimestres da gestação.

Assim, mais do que ao médico que precisa tomar decisões de tratamento, o folheto parece dirigir-se a pessoas que já conseguiram ou pretendem conseguir clandestinamente a droga e tem dúvidas sobre como utilizá-la para realizar o aborto. Já em junho de 2012 a mídia brasileira noticiou que o Ministério da Saúde estaria preparando uma cartilha para a mulher que decidisse abortar.


Quando o assunto veio a público, o Ministério da Saúde apressou-se a desmentir que estivesse trabalhando nessa política de “redução de danos”. Entretanto, a publicação desse folheto aponta novamente na mesma direção.

A Dra Lenise Garcia foi pessoalmente protagonista de um curioso fato envolvendo essa negativa do Ministério. Ela foi entrevistada pela TV Brasil, conjuntamente com o Dr. Thomas Gollop, no dia 12/06/2012, em vídeo que pode ser visto aqui:


No início da entrevista, o Dr. Gollop nega qualquer envolvimento do Ministério da Saúde nessa política de“redução de danos”, pois a cartilha estaria sendo elaborada pelo “grupo de estudos sobre o aborto” da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entretanto, publicações desse grupo de estudos indicam a sua fonte de financiamentos: “O GEA não é uma organização não-governamental e não tem verbas próprias. Conta com o apoio do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e seu foco é capilarizar a discussão do tema do aborto sob o prisma da Saúde Pública e retirá-lo da esfera do crime”.

Além disso, a reunião estava marcada para acontecer no prédio do Ministério da Saúde, tanto que, ao ser convidada para a entrevista, a Dra Lenise foi informada de que esta ocorreria, às 8h00, em frente ao Ministério. Na noite anterior, recebeu um telefonema urgente da TV Brasil mudando o local da entrevista para o hotel em que estava hospedado o Dr. Gollop.

Em tempos de transparência, e diante do compromisso assumido na época eleitoral pela nossa presidente Dilma Rousseff de que o Executivo não trabalharia para a implantação do aborto no Brasil, os fatos mostram forte contradição entre as aparências e a realidade.

Brasília, 28 de Janeiro de 2013.

Lenise Garcia
Presidente

Jaime Ferreira Lopes
Vice-Presidente

Formalidades



“É cedo! Fiquem mais um pouco!” (“Nossa! Será que eles não desconfiam que já deveriam ter ido?”). “Muito prazer em conhecê-lo. Apareça lá em casa!” (“Nem vou dar meu endereço, pois pode ser que apareça mesmo!”). “Que lindo o seu vestido! Quem o fez? (“Que falta de gosto! Como é capaz de andar com uma roupa assim?”). As frases variam conforme as circunstâncias ou a conveniência. A hipocrisia domina de tal modo a nossa vida que parece ser natural ou, mesmo, necessária. Os convites se renovam, os elogios se repetem e as formalidades se multiplicam. Seria, pois, uma gafe enorme ficar mais um pouco na casa do amigo, aparecer na casa da pessoa que pouco antes lhe foi apresentada ou acreditar piamente no elogio recebido.

Os elogios se multiplicam. Todos são elogiados com os adjetivos mais pomposos. Se alguém tiver a ingenuidade de acreditar neles e for somando todos os que receber, acabará tendo um autoconceito totalmente deformado. Ficará pensando que é o que os outros nem julgam que ele realmente seja; apenas falaram o que a conveniência lhes ditou. Estavam longe, contudo, de realmente pensar e acreditar no que disseram.

Há possibilidade de se acabar com tanta formalidade? Há! A primeira solução é utópica, arriscada e não recomendável. Consistiria, antes de tudo, em aceitar todos os convites feitos – por exemplo: permanecer na casa visitada, enquanto os donos fossem dizendo: “É cedo! Fique mais um pouco!”, mesmo que com isso se corresse o risco de ver os donos da casa bocejando; depois, visitar todas as pessoas que lhe disserem para “aparecer lá em casa” e, se convidado para o jantar, sentar-se imediatamente à mesa; além disso, começar a dizer o que realmente está pensando, sabendo que, quando se trata da sinceridade, estamos num mundo curioso, pois ela é sempre desejada; já os sinceros, nem sempre são bem vistos... Não leve adiante, pois, tais propostas.

O que precisamos fazer, isso sim, é lutar contra as formalidades e as mentiras. Assim, não se deve elogiar uma pessoa, se tal elogio não for sincero; também não se faça algum convite se, de fato, ele não nascer do coração; enfim, evitem-se comentários que não expressem a verdade. Na linguagem de Jesus, trata-se de se ter uma linguagem que seja na linha do “sim, sim, não, não” (cf. Mt 5,37).

Quando aborda a verdade, o Catecismo da Igreja Católica nos ensina que ela é uma virtude “que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia” (nº 2468). Santo Agostinho, sempre atento ao comportamento das pessoas, comentou que ao longo de sua vida havia encontrado muitas pessoas que enganavam os outros; nunca encontrou alguém que gostasse de ser enganado.

A Palavra de Deus nos ensina que somos continuamente tentados a desviar nosso olhar do Deus vivo e verdadeiro para dirigi-lo aos ídolos, à mentira. Ora, quando trocamos “a verdade de Deus pela mentira” (Rm 1,25) a nossa capacidade para conhecer a verdade fica ofuscada. Sem a verdade, não seremos livres: “A verdade vos libertará” (Jesus Cristo).

Volto à questão das formalidades. Um dos maiores teólogos da Igreja, Santo Tomás de Aquino (†1274), afirmou que “Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca; quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros”.

Claro que deve haver equilíbrio entre o que deve ser expresso e o que não convém expressar; entre o que é preciso ser dito e o que é segredo, que deve ser guardado. Mas vale o princípio, também de Santo Tomás: “Um homem deve honestamente a outro a manifestação da verdade”.

O discípulo de Cristo procura viver na verdade, “isto é, na simplicidade de uma vida conforme o exemplo do Senhor, permanecendo em sua verdade” (CIC 2470). São João nos lembra de que, “Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1Jo 1,6).
O mundo de Deus é o mundo da verdade, da justiça e do amor. Se esse é o mundo de Deus, tal deve ser, também, o nosso mundo.

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

Juventude: onde andam os jovens?



Enquanto escrevo este artigo, continuam a chegar notícias e imagens da terrível tragédia ocorrida em Santa Maria, RS., na madrugada deste domingo, dia 27 de janeiro. Mais de 230 mortos confirmados no incêndio da casa noturna. A maioria, jovens estudantes; Santa Maria é uma cidade universitária, com estudantes de todo o Brasil. Muita consternação.

Sofrimento e tristeza imensas abateram-se, de repente, sobre inúmeras famílias, que punham tantas esperanças nos seus filhos jovens, cheios de vida e de ideais. A dor é compartilhada pelo Brasil inteiro; de todos os lados, chegam mensagens de solidariedade, de autoridades políticas, lideranças comunitárias e pessoas comuns do povo: todos gostariam de se manifestar, de fazer algo, de dizer uma palavra de conforto às mães desesperadas diante dos corpos estendidos no chão do ginásio de esportes, para serem reconhecidos e identificados... À distância, nos colocamos em oração silenciosa, a pedir a Deus o conforto pelos que sofrem e a vida eterna para os que perderam tão precoce e tragicamente para este mundo.
Vida e morte se encontraram numa circunstância inusitada, enquanto os jovens festejavam e se alegravam... Da diversão ao luto, em poucos minutos! Como é possível que aconteçam tragédias semelhantes? As responsabilidades ainda devem ser apuradas, mas tomam sobre si enormes encargos pela segurança, a integridade física e a vida de outras pessoas aqueles que mantêm semelhantes locais de agregação de massas humanas, sejam os fins que forem; as medidas emergenciais de segurança estavam todas asseguradas e checadas? Espetáculos com elementos de risco estavam autorizados? Os locais estavam devidamente vistoriados e liberados pelas autoridades competentes? Estavam habilitados e treinados aqueles que deviam zelar pela segurança?

Após a tragédia, passado o silêncio respeitoso pelos mortos e aos muitos feridos e enlutados, resta a fazer uma reflexão em vários setores: quanto vale a vida humana? Ele pode ser moeda de troca em função de ganhos e lucros? Cada vida humana é única e preciosa, não podendo ser exposta ao perigo, de maneira leviana; mais ainda, quando se pretendem maiores ganhos, com menores despesas em segurança. Semelhantes tragédias, igualmente em casas noturnas de diversão, têm acontecido em outros países também. Não estaria na hora de haver maior vigilância sobre a segurança de tais locais?

Para o Brasil, o motivo de tristeza ainda é maior, justamente neste ano, quando acontecerá a Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio de Janeiro. Há poucas semanas, a cruz da Jornada da Juventude peregrinou por Santa Maria, com a acolhida e a participação entusiasta de milhares de jovens. Talvez, muitos dos que perderam a vida no incêndio estiveram também entre eles... E a juventude é tema da Campanha da Fraternidade, que será aberta na próxima Quaresma: “Juventude e fraternidade”.

A tragédia de Santa Maria nos motiva a voltarmos nossas atenções com maior empenho para os jovens: que não lhes falte a presença, o estímulo e o bom exemplo dos adultos nas escolhas que devem fazer para a vida; que tenham oportunidades para se preparar bem para assumirem seu lugar na sociedade e seu rumo na vida; que não sejam abandonados, de maneira resignada, aos ideólogos do vazio e da desorientação antropológica e moral, ou aos que investem pesado neles para explorar suas energias jovens e sua vontade de viver em função de manobras ideológicas ou ganhos econômicos, conduzindo-os para os becos sem saída da droga, da corrupção moral e social. Que não recebam apenas propostas vazias e nihilistas para suas vidas, mas orientações e indicações sólidas para a construção de seu futuro.

No Brasil, nós temos neste ano uma chance de ouro para nos dirigirmos aos jovens. São eles que terão nas mãos a responsabilidade pela vida social, logo mais, daqui a poucos anos. E da vida da Igreja também. A Campanha da Fraternidade está às portas e a Jornada Mundial da Juventude já está mobilizando muitas energias jovens pelo Brasil todo. Como faremos para envolver a maioria absoluta dos jovens, que ainda não são alcançados pelas nossas propostas pastorais, nem nossas homilias dominicais, mas que se encontram, aos milhões, nas escolas e universidades e nas casas de diversão, sábados à noite?

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

“Pai, em vossas mãos colocamos nossas lágrimas, nossa dor", diz arcebispo de Santa Maria.

Dom Helio Adelar Rupert, arcebispo de Santa Maria (RS), presidiu celebração fúnebre no domingo, 27 de janeiro, e deixou mensagem aos familiares lembrando que esta é hora de reativar a nossa fé e dizer: “Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”.


Irmãs e irmãos amados do Senhor:

Estamos profundamente consternados pela tragédia ocorrida ontem de madrugada em Santa Maria na Boate Kiss quando morreram 230 jovens. No sofrimento a comunidade cristã se reúne no Santuário Basílica para celebrar o Mistério Pascal do Senhor. Queremos adorar o Senhor, bendizer seu nome santíssimo, escutar sua Palavra e pedir misericórdia e força para este momento de tanta dor e imensos gestos de solidariedade.

A Palavra de Deus nos fortalece na solidariedade, nos ilumina e nos dá força e esperança nesta hora dura da provação, da angústia e sofrimento. O Senhor está conosco. Ele não abandona seu povo amado. É hora de silenciar e escutar a voz de Deus. É hora de reativar a nossa fé e dizer: “Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”. É hora de não julgar e não condenar ninguém. Nem acusar, de sofrer em silêncio, na fé e no amor.

É hora de dizer: “Eu creio, Senhor, mas aumenta a minha fé”.

- Quando escutei perplexo, lá em Vitória do ES a notícia, após uma bela Missa com um grupo de irmãos bispos e a Capela Sagrado Coração de Jesus  lotada, lembrei-me da dor das mães e dos pais e familiares dos jovens mortos. Imaginei Maria Desolada que recebia Jesus morto descido da cruz em seus braços. Que dor! Que sofrimento!

- Maria, porém, não se desesperou. Ela sabia que Jesus fora imolado pela nossa salvação.

Nessa tragédia de Santa Maria, as mães, os pais, os irmãos, os parentes, os amigos não desesperamos, antes: - abraçamos esta dor, esta cruz e dizemos: “Pai, em vossas mãos colocamos nossas lágrimas, nossa dor, nossos sofrimentos. Que tudo seja instrumento de redenção. Tende misericórdia de nossos jovens. Perdoai seus pecados. Acolhei suas vidas, seus últimos desejos. Que nada se perca, mas tudo se transforme em misericórdia e redenção”.

Como irmãos de fé manifestamos aos pais, familiares e amigos nossa solidariedade, nosso apoio e oração.


O que dizer nesta hora?

Perguntei a um vizinho desconhecido ao lado no avião o que deverei dizer ao povo ? Ele me respondeu: “Consolo”.

Sim. Queremos em nome do Senhor dar uma palavra de consolo, solidariedade e fazer nossa oração confiante.

- Nesta hora olhamos para Jesus, nosso Deus e Senhor, nosso Salvador.

- Olhamos para Maria Desolada: a Mãe que acolhe em seus braços seu Divino Filho morto na cruz por nosso amor, pela nossa salvação.

- Olhamos para o alto, para o céu: nossa pátria definitiva. A terra não é nossa morada definitiva. Esta vida é passageira, é fugaz.

- Olhamos para os valores que não passam: Deus não passa. O bem que fazemos, não passa.

O que levamos para a outra vida? Os bens? A beleza, a juventude? – Levamos somente o bem que fazemos e o quanto amamos.


Que essa tragédia, que nos entristece profundamente, seja para todos um novo passo na fé e na esperança. Estamos no Ano da Fé e de Jornada Mundial da Juventude:

Fé e Juventude: duas realidades que atingem nossas famílias, educadores, Igreja e sociedade.

Pais e mães, irmãos em Jesus Cristo: reavivemos nossa fé na dor e na escola da esperança. Cristo Jesus caminha conosco. Ele ama nossos jovens. Ele os chama. Ele conta com a generosidade e o encantamento de nossos jovens.

Jovens: orem, reflitam sobre o que Deus quer nos dizer com essa tragédia. Deus fala para as famílias, para as Igrejas e para toda nossa sociedade. Deus está nos falando muitas coisas. É hora de nos prepararmos todos para a imensa graça da Jornada Mundial da Juventude na Semana Missionária e na Jornada no Rio de Janeiro nos dias 23 até 28 de julho próximo com o Santo Padre. Depois dum grande sofrimento, certamente virão abundantes frutos e graças. Portanto, como não escutar a voz, os sinais de Deus Amor?

Recorramos à Mãe Maria, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Ela sabe nos escutar, ajuda a enxugar nossas lágrimas, consola nossas dores.

Mãe de Jesus e nossa Mãe: ajuda-nos agora e sempre. Amém!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Nota Oficial da CNBB de solidariedade às famílias e ao povo de Santa Maria (RS)



Acompanhamos com dor e solidariedade, desde a madrugada do domingo, o momento de profundo sofrimento vivido pelos feridos e pelas famílias dos que perderam centenas de filhos na tragédia do incêndio em Santa Maria (RS). O Brasil está de luto e as comunidades de fé estão unidas em oração. Deus conduza a todos, nesta hora, para oferecer, aos mortos, dignidade e ambiente de reverência, aos pais e familiares, amparo e assistência, e aos feridos, todo o apoio e tratamento ágil e eficiente.

Unimo-nos ao arcebispo, dom Hélio Adelar Rupert, ao clero e ao povo da arquidiocese de Santa Maria. A Palavra de Deus nos oferece luz para esse momento: “somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angustia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa existência mortal ( 2 Cor 4, 8-9).

A consciência cristã nos leva a manifestar também nosso apoio aos homens e mulheres de boa vontade que estão oferecendo ajuda junto às famílias e aos feridos e aos responsáveis pelo poder público que estão tomando as providências para o encaminhamento e solução dos problemas desse momento de aflição. É momento de união e de solidariedade! A concreta participação de colaboração, o respeitoso silêncio e a oração movida pela fé nos faz reconhecer, mais uma vez, que somos todos membros de uma única família que sofre pela perda de tantos jovens, filhas e filhos queridos.

  

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB

José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luis (MA) e vice-presidente da CNBB

Leonardo Ulrich Steiner
Bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB

Bento XVI envia mensagem de solidariedade aos familiares das vítimas da tragédia em Santa Maria - RS



A Secretaria de Estado do Vaticano divulgou na manhã desta segunda, 28, o telegrama enviado pelo Papa Bento XVI ao Arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert, expressando seu pesar pela tragédia ocorrida na madrugada desse domingo em uma boate, que ocasionou a morte de 233 jovens e a internação de dezenas em estado grave.

Leia o telegrama na íntegra:



Exmo Revmo Dom Hélio Adelar Rubert
Arcebispo de Santa Maria


Consternado pela trágica morte de centenas de jovens em um incêndio em Santa Maria, o Sumo Pontíficie pede a Vossa Excelência que transmita às famílias das vítimas suas condolências e sua participação na dor de todos os enlutados. Ao mesmo tempo em que confia a Deus Pai de misericórdia os falecidos, o Santo padre pede ao céu o conforto e restabelecimento para os feridos, coragem e a consolação da esperança cristã para todos atingidos pela tragédia e envia, a quantos estão em sofrimento e ao mesmo procuram remediá-lo, uma propiciadora bênção apostólica.


Cardeal Tarcísio Bertone
Secretário de Estado de Sua Santidade.
__________________________________
Fonte: Canção Nova.

Regional Sul 3 da CNBB emite Nota de Solidariedade às famílias de Santa Maria



Consternados, os Bispos do RS, através da Presidência do Regional Sul 3 da CNBB, querem antes de tudo expressar a sua profunda solidariedade com o Irmão, Dom Helio Rubert, arcebispo de Santa Maria, por esta tragédia que colheu a todos de surpresa. Lamentam a perda de toda uma juventude colhida na flor da idade.

São solidários também com as famílias, expressam a sua viva convicção de fé na certeza de uma vida que começa na morte. Mas, os bispos, como toda a sociedade, exigem de todas as autoridades competentes uma integral apuração dos fatos e punição exemplar aos responsáveis.

Rogam a Deus pelas vítimas, rezam pela recuperação de todos os feridos e machucados e invocam as bênçãos do alto pelas famílias de todos os envolvidos. Esperam que o Senhor Ressuscitado, vencedor da morte, possa ser o consolo e a esperança neste momento de sofrimento e de dor.

Porto Alegre, aos 27 de janeiro de 2013,




Dom Zeno Hastenteufel
Predidente

Dom Canísio Klaus
Vice-Presidente

Dom Remídio Bohn
Secretário

Nota do Setor Universidades da CNBB sobre o incêndio em Santa Maria



Durante o último final de semana, o Setor Universidades da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da CNBB realizaram um encontro de planejamento anual em Salvador (BA), com a presença de dom Tarcísio Scaramussa, membro da comissão. Ao receber a notícia do acidente ocorrido com um grande número de universitários em uma boate na cidade de Santa Maria (RS), os participantes publicaram a nota a seguir:

“Eu sou a ressureição e a vida. Quem crê em mim,
ainda que tenha morrido, viverá.” (João 11, 25)
Os colaboradores do Setor Universidades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunidos na cidade de Salvador, Bahia, profundamente impactados com a tragédia ocorrida na manhã deste domingo na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria, Rio Grande Sul, se solidarizam com as famílias dos universitários e manifestam com carinho e oração o desejo de que recebam o conforto de Deus neste momento tão difícil.

 
Fraternalmente,
Dom Tarcísio Scaramussa
Bispo Referencial do Setor Universidades da CNBB

Nota da Pastoral da Juventude em solidariedade à tragédia ocorrida em Santa Maria



Sigamos no compromisso com a vida da juventude!

"Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!
Na sua grande misericórdia ele nos fez renascer pela
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
para uma viva esperança."
(1Pd 1,3)

A Pastoral da Juventude recebe com profunda tristeza e dor a notícia da tragédia que aconteceu nesta madrugada do dia 27 de janeiro em Santa Maria/RS. Tragédia que ceifou a vida de mais de 233 jovens e deixou outros/as tantos/as feridos/as. Projetos de vida e sonhos foram interrompidos abruptamente pela fatalidade e pela falta de cuidado.
          
Nossa solidariedade a todos os familiares, amigos/as e conhecidos/as dos/das jovens vítimas dessa terrível tragédia. Choramos juntos/as por tantas vidas interrompidas. Entre as vítimas se encontravam a jovem Maria Mariana Ferreira, do Grupo de Jovens ASPA - Amigos Semeando Paz e Amor, da Paróquia Nossa Senhora de Aparecida – Santa Maria. Unimo-nos à Arquidiocese de Santa Maria, à PJ dessa arquidiocese e à PJ do Rio Grande do Sul para juntos/as nos mobilizarmos no socorro e cuidado com os/as feridos/as e com as famílias dos/as falecidos/as.
Igualmente manifestamos nossa solidariedade e apoio a todos/as, que doando suas vidas, estão contribuindo no cuidado, no atendimento e no socorro aos/às feridos/as e às famílias dos/as falecidos/as.

Convocamos toda a sociedade brasileira a ser cuidadora da vida da juventude, promovendo ações pela vida, efetivando políticas públicas de juventude e garantindo os direitos dos/as jovens em nosso país.

Diante da morte não podemos nos calar. Não podemos aceitar que a morte tenha a última palavra. Aprendemos a ter esta postura por meio do seguimento a Jesus Cristo, o Jovem de Nazaré. Que a memória desses jovens falecidos/as e feridos/as nos comprometa sempre mais com a vida da juventude, em especial com os/as que mais sofrem e estão à margem da sociedade. Gastemos nossas vidas no cuidado, no serviço e no amor incondicional à juventude.

Na Páscoa de Cristo temos a certeza que a morte não tem a última palavra, por isso, apesar da dor e da tristeza, sigamos, juntos/as, no compromisso com a vida da juventude.  A Juventude Quer Viver!

Coordenação Nacional e Comissão Nacional de Assessores/as
da Pastoral da Juventude
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Fonte:  PJ Nacional.

Igreja manifesta solidariedade às vítimas da tragédia em Santa Maria (RS)



O incêndio ocorrido em uma casa noturna da cidade de Santa Maria (RS) na madrugada deste domingo, 27 de janeiro, matou 231 pessoas e pelo menos 121 feridas, 80 delas em estado grave. O socorro às vítimas está sendo realizado em hospitais da cidade e também da capital, Porto Alegre.

Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, enviou mensagem ao arcebispo de Santa Maria, dom Hélio Adelar Rupert, recordando que os jovens cariocas realizaram uma vigília na Catedral em que rezaram pelos falecidos, familiares e amigos das vítimas. “Nossos corações estão abalados com essa grande tragédia (...) que ceifou a vida de inúmeros jovens dessa cidade, em especial, dos estudantes da Universidade Federal de Santa Maria”.

Já o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, pediu ao clero de sua Arquidiocese que celebrem missas em intenção das vítimas do incêndio. Em sua nota de pesar, expressou sua solidariedade e recordou que “a tristeza aumenta com a constatação de que a tragédia foi consequência de uma série de erros e omissões, certamente evitáveis, se tivessem sido observadas as normas de segurança prescritas”.


O bispo auxiliar de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, que já atuou como referencial para a Juventude no Regional Sul 3 da CNBB, destinou mensagem aos familiares dos jovens falecidos. “Somos atingidos por sentimentos de dor e tristeza. Dor pela vida de tantos jovens; tristeza pelas famílias e amigos destes jovens. Por quê? Resta-nos neste instante o silêncio respeitoso; e, sobretudo, a prece solidária”.
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Fonte: CNBB

domingo, 27 de janeiro de 2013

CNBB e arcebispo de Santa Maria (RS) manifestam solidariedade com as famílias das vítimas de incêndio



O cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, se une ao arcebispo de Santa Maria (RS), dom Hélio Adelar Rupert, que manifestou nesta manhã solidariedade às famílias das vítimas de um incêndio em uma casa noturna da cidade.

“Como Igreja de Santa Maria lastimamos este acidente e manifestamos a nossa solidariedade às famílias e a toda a sociedade. Não se perca a esperança: olhemos para Jesus Cristo, fonte da vida, o nosso Salvador. Oramos pelos falecidos e seus familiares e toda a sociedade que sofre esta tragédia”, afirmou dom Hélio.

O incêndio ocorreu durante a madrugada deste domingo, 27 de janeiro. Até o início da tarde de hoje, foi confirmada a morte de 245 pessoas, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Porém o número total de vítimas ainda é incerto. Há centenas de feridos sendo atendidos em hospitais da cidade, e uma campanha pede doações de sangue. Entre as vítimas estão muitos estudantes da Universidade Federal de Santa Maria.
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Fonte: CNBB.

Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia das Comunicações Sociais

Dia Mundial das Comunicações Sociais
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


Amados irmãos e irmãs,

Encontrando-se próximo o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2013, desejo oferecer-vos algumas reflexões sobre uma realidade cada vez mais importante que diz respeito à maneira como as pessoas comunicam atualmente entre si; concretamente quero deter-me a considerar o desenvolvimento das redes sociais digitais que estão a contribuir para a aparição de uma nova ágora,  de uma praça pública e aberta onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões e podem ainda ganhar vida novas relações e formas de comunidade.

Estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana. A troca de informações pode transformar-se numa verdadeira comunicação, os contatos podem amadurecer em amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Se as redes sociais são chamadas a concretizar este grande potencial, as pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma.

O desenvolvimento das redes sociais requer dedicação: as pessoas envolvem-se nelas para construir relações e encontrar amizade, buscar respostas para as suas questões, divertir-se, mas também para ser estimuladas intelectualmente e partilhar competências e conhecimentos. Assim as redes sociais tornam-se cada vez mais parte do próprio tecido da sociedade enquanto unem as pessoas na base destas necessidades fundamentais. Por isso, as redes sociais são alimentadas por aspirações radicadas no coração do homem.


A cultura das redes sociais e as mudanças nas formas e estilos da comunicação colocam sérios desafios àqueles que querem falar de verdades e valores. Muitas vezes, como acontece também com outros meios de comunicação social, o significado e a eficácia das diferentes formas de expressão parecem determinados mais pela sua popularidade do que pela sua importância intrínseca e validade. E frequentemente a popularidade está mais ligada com a celebridade ou com estratégias de persuasão do que com a lógica da argumentação. Às vezes, a voz discreta da razão pode ser abafada pelo rumor de excessivas informações, e não consegue atrair a atenção que, ao contrário, é dada a quantos se expressam de forma mais persuasiva. Por conseguinte os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação. Tal diálogo e debate podem florescer e crescer mesmo quando se conversa e toma a sério aqueles que têm ideias diferentes das nossas. "Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza" (Discurso no Encontro com o mundo da cultura, Belém, Lisboa, 12 de Maio de 2010).

O desafio que as redes sociais têm que enfrentar é o de serem verdadeiramente abrangentes: então beneficiarão da plena participação dos fiéis que desejam partilhar a Mensagem de Jesus e os valores da dignidade humana que a sua doutrina promove. Na realidade, os fiéis dão-se conta cada vez mais de que, se a Boa Nova não for dada a conhecer também no ambiente digital, poderá ficar fora do alcance da experiência de muitos que consideram importante este espaço existencial. O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade cotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interação humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações: por isso uma solícita compreensão por este ambiente é o pré-requisito para uma presença significativa dentro do mesmo.

A capacidade de utilizar as novas linguagens requer-se não tanto para estar em sintonia com os tempos, como sobretudo para permitir que a riqueza infinita do Evangelho encontre formas de expressão que sejam capazes de alcançar a mente e o coração de todos. No ambiente digital, a palavra escrita aparece muitas vezes acompanhada por imagens e sons. Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afetiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus. Aliás sabemos que a tradição cristã sempre foi rica de sinais e símbolos: penso, por exemplo, na cruz, nos ícones, nas imagens da Virgem Maria, no presépio, nos vitrais e nos quadros das igrejas. Uma parte consistente do patrimônio artístico da humanidade foi realizado por artistas e músicos que procuraram exprimir as verdades da fé.

A autenticidade dos fiéis, nas redes sociais, é posta em evidência pela partilha da fonte profunda da sua esperança e da sua alegria: a fé em Deus, rico de misericórdia e amor, revelado em Jesus Cristo. Tal partilha consiste não apenas na expressão de fé explícita, mas também no testemunho, isto é, no modo como se comunicam "escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele" (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011). Um modo particularmente significativo de dar testemunho é a vontade de se doar a si mesmo aos outros através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana. A aparição nas redes sociais do diálogo acerca da fé e do acreditar confirma a importância e a relevância da religião no debate público e social.

Para aqueles que acolheram de coração aberto o dom da fé, a resposta mais radical às questões do homem sobre o amor, a verdade e o sentido da vida – questões estas que não estão de modo algum ausentes das redes sociais – encontra-se na pessoa de Jesus Cristo. É natural que a pessoa que possui a fé deseje, com respeito e tato, partilhá-la com aqueles que encontra no ambiente digital. Entretanto, se a nossa partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos, fá-lo em última análise pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações, e não tanto por qualquer esforço nosso. A confiança no poder da ação de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos. Mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos e onde, por vezes, há o risco de que o sensacionalismo prevaleça, somos chamados a um cuidadoso discernimento. A propósito, recordemo-nos de que Elias reconheceu a voz de Deus não no vento impetuoso e forte, nem no tremor de terra ou no fogo, mas no "murmúrio de uma brisa suave" (1 Rs 19, 11-12). Devemos confiar no fato de que os anseios fundamentais que a pessoa humana tem de amar e ser amada, de encontrar um significado e verdade que o próprio Deus colocou no coração do ser humano, permanecem também nos homens e mulheres do nosso tempo abertos, sempre e em todo o caso, para aquilo que o Beato Cardeal Newman chamava a "luz gentil" da fé.

As redes sociais, para além de instrumento de evangelização, podem ser um fator de desenvolvimento humano. Por exemplo, em alguns contextos geográficos e culturais onde os cristãos se sentem isolados, as redes sociais podem reforçar o sentido da sua unidade efetiva com a comunidade universal dos fiéis. As redes facilitam a partilha dos recursos espirituais e litúrgicos, tornando as pessoas capazes de rezar com um revigorado sentido de proximidade àqueles que professam a sua fé. O envolvimento autêntico e interativo com as questões e as dúvidas daqueles que estão longe da fé, deve-nos fazer sentir a necessidade de alimentar, através da oração e da reflexão, a nossa fé na presença de Deus e também a nossa caridade operante: "«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine" (1 Cor 13, 1).

No ambiente digital, existem redes sociais que oferecem ao homem atual oportunidades de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Mas estas redes podem também abrir as portas a outras dimensões da fé. Na realidade, muitas pessoas estão a descobrir – graças precisamente a um contato inicial feito on line – a importância do encontro direto, de experiências de comunidade ou mesmo de peregrinação, que são elementos sempre importantes no caminho da fé. Procurando tornar o Evangelho presente no ambiente digital, podemos convidar as pessoas a viverem encontros de oração ou celebrações litúrgicas em lugares concretos como igrejas ou capelas. Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a viver, seja ela física ou digital. Sempre e de qualquer modo que nos encontremos com os outros, somos chamados a dar a conhecer o amor de Deus até aos confins da terra.

Enquanto de coração vos abençoo a todos, peço ao Espírito de Deus que sempre vos acompanhe e ilumine para poderdes ser verdadeiramente arautos e testemunhas do Evangelho. "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16, 15).


            Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – do ano 2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Trabalho escravo no Brasil: ganância, miséria e impunidade



No próximo dia 28 de janeiro, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data é uma homenagem ao assassinato dos auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira, no ano de 2004, quando apuravam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí (MG). A data foi oficializada em 2009, no entanto, essa luta é mais antiga. Desde o início dos anos 1970, a Igreja, com dom Pedro Casaldáliga, e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem denunciado a utilização do trabalho escravo na abertura das novas fronteiras agrícolas do país.

A CPT foi pioneira no combate ao trabalho escravo e levou a denúncia às Organização das Nações Unidas (ONU). “A Igreja precisava tomar um posicionamento diante da realidade já muito explícita de trabalho escravo no Brasil, o Governo negava que existia esse tipo de situação”, disse o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e da Paz, padre Ari Antônio dos Reis. Com isso, o Estado se comprometeu em criar uma estrutura de combate a esse crime em território brasileiro.


De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho escravo apresenta características bem delimitadas. Além das condições precárias, como falta de alojamento, água potável e sanitários, por exemplo, também existe cerceamento do direito de ir e vir pela coação de homens armados. Os trabalhadores são forçados a assumir dívidas crescentes e intermináveis, com alimentação e despesas com ferramentas usadas no serviço.

Por parte do Estado, existem ações que podem auxiliar no combate ao trabalho escravo, como por exemplo, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438. A "PEC do Trabalho Escravo" é considerada um dos projetos mais importantes de combate à escravidão, tanto pelo forte instrumento de repressão que pode criar, mas também pelo seu simbolismo, pois revigora a importância da função social da terra, já prevista na Constituição.

A PEC 438 foi apresentada em 1999, pelo ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), e propõe o confisco de propriedades em que forem encontrados casos de exploração de mão-de-obra equivalente à escravidão, e/ou lavouras de plantas psicotrópicas ilegais, como a maconha. A PEC 438/2001 define ainda que as propriedades confiscadas serão destinadas ao assentamento de famílias como parte do programa de reforma agrária.

A Igreja do Brasil está atenta à realidade do tráfico humano. Prova disso, é que a Campanha da Fraternidade de 2014 terá como tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). “A partir do trabalho e da reflexão dentro da CNBB, e do Conselho de Pastoral, foi aprovado para a Campanha da Fraternidade de 2014, tratar do trabalho escravo, por sua vez, ligado ao tráfico humano. Então nós vamos trabalhar na Campanha essas duas propostas: a denúncia do tráfico de pessoas e trabalho escravo, e todas as consequências que essas denúncias trazem para a Igreja”, explicou padre Ari.

De acordo com a secretária do Grupo de Trabalho (GT) de Enfrentamento ao Tráfico Humano, da CNBB, irmã Claudina Scapini, o trabalho escravo é uma entre as modalidades do tráfico humano. “O trabalho escravo, a exploração sexual, o tráfico de órgãos, e a adoção irregular, são, para nós, as grandes modalidades do tráfico de seres humanos”, afirmou.

Segundo os últimos dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, os casos de trabalho escravo em 2012, somaram 189, com a libertação de 2.723 trabalhadores, em todo o país. Ainda de acordo com as informações, o número de trabalhadores resgatados do trabalho escravo cresceu 9% em relação a 2011. Os maiores índices foram encontrados na região Norte, onde foi registrada metade do número total de trabalhadores envolvidos em situação de escravidão, e 39% dos que chegaram a ser resgatados.

No ano de 2011, o estado do Pará havia deixado de ser o campeão permanente do ranking entre os estados, pelo número de trabalhadores envolvidos em situação de escravidão. Já em 2012, voltou ao topo do ranking em todos os critérios: número de casos (50), número de trabalhadores envolvidos (1244) e número de libertados (519). O Tocantins vem logo em seguida com 22 casos, 360 envolvidos e 321 libertados (três vezes mais que em 2011).

No estado do Amazonas, onde a fiscalização passou a operar mais recentemente, foram identificados 10 casos, e resgatados quase três vezes mais trabalhadores do que no ano anterior: 171 pessoas. Alagoas, em apenas um caso, passou de 51 para 110 trabalhadores resgatados e o Piauí (com 9 casos), de 30 para 97.

Outro dado que chama a atenção é o aumento da participação da região Sul na prática desse crime. Em 2011, foram registrados na região 23 casos, envolvendo 158 trabalhadores, sendo que 154 foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

De uma forma geral, os números mostram que houve resgate de trabalhadores em 20 estados, o que demonstra que essa prática criminosa persiste de norte a sul do nosso país, mesmo diante das ações de órgãos do governo e de organizações sociais que lutam pelo seu fim. A CNBB é aliada ao combate desse tipo de prática, fazendo o chamamento ao diálogo de dioceses, paróquias, comunidades e entidades ligadas à missão pastoral.

Persistem alguns desafios para o Estado, a Igreja e a sociedade civil, voltados na perspectiva de enfrentamento e superação desta situação. Destacam-se a fiscalização eficiente, a mobilização social contra esta prática, a reforma agrária, superação da miséria. A impunidade, ainda constante, precisa ser combatida.  Na chacina de Unaí, nove anos depois, nenhum dos nove réus indiciados foi julgado. Agora são oito réus, pois Francisco Elder Pinheiro, acusado de ter sido o contratante dos pistoleiros, morreu no último dia 7 de janeiro, aos 77 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
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Fonte: CNBB.