O Caso Marco Feliciano está se tornando um ícone dos tempos difíceis pelos quais passa o Brasil. E não se trata de reafirmar a crise ética na qual estamos mergulhados há 4 décadas, pelo menos. Não é de hoje que o brasileiro não se sente realmente representado pelos políticos no país. O problema que ronda-nos nesses dias é uma grave crise republicana e democrática.
Já disse e repito que não sou fã do Marco Feliciano. Enganar as pessoas com o que elas possuem de mais sagrado, a sua fé, torna-lhe culpado de um pecado imenso. Considerando verdadeiras as imagens que correm pela net, sua prática nefanda de extorquir pessoas em seus cultos é verdadeiramente vergonhosa. Mas não se trata de avaliar o problema eclesiológico ou religioso de Marco Feliciano. Se alguém deve preocupar-se com suas ações aparentemente criminosas são os fiéis de suas seitas e a polícia. Para além dessas questões – que para mim são importantíssimas, mas de outro nível – há também a questão política.
Contra tudo e contra todos, Marco Feliciano foi eleito para um cargo eletivo e, até onde se sabe, não cometeu qualquer crime no uso ou em razão desses mesmos poderes legislativos. Tentar intimidar – a ele ou a casa legislativa a que pertence – em razão de suas convicções pessoais ou religiosas é preconceito e perseguição. Pior: tentar pressioná-lo a abrir mão de um direito amplamente defendido na Carta Magna do país é prática medonha e aponta para uma crise institucional grave.
O que se vê diariamente há mais de três meses, em jornais e revistas, é a tentativa de organizações não democráticas, como Ong’s, sindicatos, associações de artistas, centros acadêmicos tomarem a palavra para se fazerem porta-voz dos cidadãos. Ocorre, contudo, que numa democracia e numa república, o meio ordinário de representatividade da população não é uma organização – que aliás devia estar longe do governo, por isso não-governamental – ou uma associação de bairro, ou de servidores, ou patronais. Essas instâncias absolutamente legais devem ter voz em uma democracia, entretanto não têm direito ou legitimidade para pressionar um legítimo representante do povo, ainda que sobre ele recaiam suspeitas e sombras. O são processo criminal defende a inocência do réu enquanto não houver provas para o contrário. Apesar disso, Marco Feliciano é linchado ordinariamente, no rádio, na televisão e nos jornais, sem motivo aparente senão acusações genéricas de caráter moral ou religioso. Repito: se houvesse qualquer evidência de crime ou negligência pairando sobre o deputado, justificar-se-ia o mimimi, mas nunca a exigência de abandono da Comissão de Direitos Humanos. Muito menos há razão para defenestrá-lo por causa de meia dúzia de pelegos comunistas. A interpretação que atribui a rejeição ao deputado em razão de preconceitos moralistas e anticlericais não é de toda equivocada e revela uma faceta bastante irônica do evento, capitaneado por personagens defensores das diferenças e contra preconceitos .
Mas não se deixem enganar: encontra-se na ingerência das organizações não-governamentais no governo o real perigo do Caso Marco Feliciano. Se o Congresso Nacional ceder a pressões políticas, seja desses movimentos, dos artistas de sempre, da imprensa, colocará em risco os fundamentos da República, qual seja: que os governantes dos poderes são eleitos por voto de toda a população e não servem a outros interesses que não os da mesma população. Submeter seus mandatos a uma opinião pública comprometida e muito habilmente manipulada é historicamente perigoso. Um Congresso que se põe de joelhos a manifestações desse naipe torna-se joguete na mão de oradores carismáticos e está refém do pior dos males de uma democracia: a demagogia, que é a arte de manipular as massas a partir de promessas superficiais e populistas.
Por este motivo, o Caso Marco Feliciano representa um ponto relevante da política nacional. No caso concreto da Presidência da Comissão de Direitos Humanos, a razão e o direito estão com o deputado e não é saudável para a República deixar-se manipular pela mídia oficial ou por grupelhos que representam parcelas ínfimas da sociedade, sem qualquer respaldo filosófico além de suas opiniões. Quem representa o povo nessa pendenga é o deputado, jamais as Ong’s, empresas ou sindicatos. Permitir que políticos eleitos por voto popular passem pelo crivo direto ou indireto de organizações desse tipo é submeter a democracia à plutocracia ou à aristocracia, ambas muito facilmente deterioradas em demagogia.
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Disponível em: Guia de Blogs Católicos.
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