segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Natal de uma só luz



Que Natal tão diferente /Do Natal dos outros anos, / A saudade e os desenganos / Enchendo a alma da gente! - Muitos amigos partiram / Sem lhes darmos nosso abraço / Nem pra beijos houve espaço, / Só as lágrimas seguiram. - Em Belém, não houve luz / Uma noite sem amigos / Pastores, pobres, mendigos / Cercaram o rei Jesus. - Jesus nasceu, noite escura, / Em sua morte, escuridão. / Ele é luz, ressurreição, / A terra ficou mais pura. - Que Ele nos traga alegria / A um mundo tão sofredor. / Que Natal de pandemia! / Natal de tristeza e dor! - Natal de brilho e de luz / Natal de uma só estrela / Aquela sim a mais bela / Pois é o Menino Jesus!

Escrevi esse singelo poema para o ano de 2020. Mas se aplica ainda ao presente ano. 
   
O primeiro Natal, do qual celebramos a memória, foi realmente alegre e feliz. Que alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias, prometido desde o paraíso perdido, esperado desde Adão pelos Patriarcas, razão de ser do povo eleito, o Salvador da humanidade, o Senhor feito homem. E os anjos anunciaram aos pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.

“Eis que vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu o Salvador, o Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11).  “A aparição daquela estrela os encheu de grandíssima alegria” (Mt 2,10). Mas como pode ter sido feliz um Natal cheio de sofrimentos? 

Segundo a filosofia, felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a ausência de todos os males (Cícero, Tusculanes V,10 – Boécio, De Cons. Phil. III, p.2, 2).

Então, como poderemos chamar feliz um Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de lugar para Ele nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte, luto – Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro, pobreza, sacrifícios?

Realmente, felicidade perfeita, na definição filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4). É a grande lição do Natal: pode-se ser feliz no desterro, na dor, no desprezo, no luto, até com lágrimas, aqui na terra.

Aqui, o que faz a felicidade é a esperança: “alegres pela esperança, pacientes na tribulação” (Rom 12,12). O cristão é otimista pela esperança. É feliz porque faz o bem e espera. Mesmo quando sofre. Mesmo no meio dos sofrimentos, angústias e dores, pode-se ter a felicidade.

Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. Porque lá estava Jesus, penhor da esperança, fonte da alegria e da felicidade, a luz, a estrela do Natal. E alegres e felizes estavam Nossa Senhora e São José.

A pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali estava a felicidade e a alegria. Este é o segredo da felicidade. Assim, o meu FELIZ NATAL PARA VOCÊ!


Dom Fernando Arêas Rifan, 
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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