quarta-feira, 20 de junho de 2012

Entendendo a Missa: Temas de Liturgia VII



Prosseguimos ainda com as observações sobre a liturgia. Recordo ao leitor que são observações soltas, que vou fazendo à medida que recordo os usos e abusos mais comuns nas nossas comunidades, alguns deles com o conselho, o incentivo e o aval de conhecidos liturgistas em nada comprometidos com as orientações emanadas pela Santa Sé. E, assim, o nosso povo vai se tornando cobaias de um laboratório (ou oficina, como é moda dizer) litúrgico – como se a liturgia pudesse ser fabricada em laboratório ou inventada artificialmente...

Assim, vamos agora à Liturgia Eucarística, que se inicia com a apresentação das ofertas e vai até a oração após a comunhão. Eis as observações que proponho:

1. É um abuso que se deixa para cobrir o Altar neste momento. Na liturgia latina, o Altar deve sempre estar coberto, mesmo que seja uma mesa bela e artisticamente rica. Altar descoberto significa abstinência de celebração da Eucaristia e é um símbolo próprio do período que vai do encerramento da Missa na Ceia do Senhor até a tarde do Sábado Santo, quando se ornamente a igreja para a Vigília Pascal. Pior ainda é deixar o Altar descoberto mesmo durante a Liturgia Eucarística, usando somente o corporal!

2. Não esqueçamos: a toalha deve ser branca, digna, não deve ser vazada, pois deve reter os fragmentos da hóstia que porventura caiam ou o vinho consagrado em caso de acidente.

3. É importante que os vasos sagrados não sejam uma adaptação de mau gosto, mas sejam próprios para a liturgia. Por exemplo: muitas vezes, para o lavabo, colocam uma bacia comum e uma leiteira com a água para lavar as mãos, além de uma toalha de rosto! Está errado! Outras vezes, as galhetas são improvisadas em vidrinhos ou galhetas de refeição comum. Não é adequado. Pior ainda quando, ao invés do cibório ou âmbula, toma-se um recipiente de vidro próprio para se guardar doce ou biscoitos! É puro mau gosto!

4. Deve-se evitar encher o altar de coisas: jornalzinho, folha de cânticos, agenda com intenções, etc. O Altar é imagem de Cristo; deve ser reverenciado e respeitado! Sobre ele devem estar somente o indispensável: o corporal, o sanguinho, a patena com o pão, a âmbula, o cálice com a pala e o missal (se for necessário com um apoio para facilitar a leitura do celebrante). Se não tiver outra solução, coloquem-se ainda sobre ele duas velas (uma de cada lado). Nas missas solenes podem ser colocadas quatro ou até seis. Sete velas somente podem ser usadas nas missas presididas pelo Bispo. Ao lado ou sobre o Altar coloca-se também o crucifixo (sempre com o Crucificado). Se já houver um grande no fundo da igreja, voltado para o povo, basta. Neste caso, havendo cruz processional, ela é colocada voltada para o celebrante.

5. Quanto à procissão das ofertas, somente se apresenta coisas que sejam para o sacrifício (pão, vinho e água), donativos para os pobres ou objetos que depois sirvam para doação ou para o uso da igreja. Nunca se ofertam coisas que depois sejam retomadas: isso é teatro, coisa totalmente alheio ao espírito litúrgico! Então, é totalmente errado ofertar um casal, uma mãe, uma um cartaz, etc. Também não se ofertam os objetos que já são da igreja: as velas que serão colocadas sobre o Altar, o lavabo, o cálice vazio... Tudo isso é totalmente sem sentido! É teatrinho de faz-de-conta! Também não há necessidade alguma de fazer comentário sobre o que se está oferecendo! A apresentação é a Deus e Deus já sabe do que se trata. Tudo quanto se puder evitar de comentários durante a missa somente fará bem à celebração! Rito não é para ser explicado; rito é para ser vivido, saboreado!

6. Quanto ao canto das ofertas, não é necessário que tenha que falar em ofertório, em pão ou em vinho. Qualquer canto litúrgico que ajude a aprofundar o mistério celebrando ou seja dirigido a Deus e não seja contrário ou alheio ao espírito do rito que se está realizando, pode ser usado...

7. O bom é que as galhetas e o lavabo não sejam colocados sobre o Altar. Uma vez utilizados deveriam ser recolocados na credência.

8. Está se introduzindo um costume abusivo nas nossas missas, um rito novo, extra-litúrgico: oferecer água ao padre para beber. Isso está errado! Se algum celebrante tem problema de garganta, pigarro ou coisa do gênero, admite-se. Mas, que isso se torne regra, é totalmente errado! Durante a celebração não se come nem se bebe nada a não ser as sagradas espécies na hora liturgicamente prevista. Esse abuso revela o quanto a sacralidade e o espírito de renúncia e auto-disciplina vão desaparecendo na Igreja! Do mesmo modo não é nada elegante o coral ficar bebendo água dentro do espaço litúrgico durante a celebração. Quem precisar beber, vá à sacristia!

Continuaremos depois.

Côn. Henrique Soares da Costa
________________________________
Fonte: http://www.padrehenrique.com/index.php/liturgia/geral/146-temas-de-liturgia--vii

São João Batista


A Festa do Nascimento do profeta João Batista acontece no dia 24 de junho. O momento é de lembrança e de memória da vida desse santo, aliás muito popular, na vida do cristianismo e na tradição do Brasil. Foi um nascimento testemunhado nos primeiros tempos da Igreja e conservado pela história nos escritos da Sagrada Escritura.
Os pais de João Batista, Zacarias e Isabel, eram já idosos, mas Deus, numa visão, prometeu-lhes um filho, o filho da velhice. João seria aquele que deveria prepara o caminho para a realização da Aliança de Deus, em Jesus Cristo. Isto se deu nos arredores de Jerusalém, tendo João Batista relação com o ministério de Jesus.
O mesmo fato misterioso aconteceu na vida de Maria, uma jovem da Galileia, temente a Deus, que tinha feito um voto de esterilidade. Mas Deus lhe fez conceber e dar à luz um filho, concretizando a Aliança feita com Abraão e agora finalizando com a nova humanidade, com o nascimento de Jesus Cristo.

Na mentalidade do tempo, ser estéril era visto como desonra e castigo de Deus, uma vergonha (Gn 30, 23). Todas as mulheres deveriam ser como a terra, aquela que faz germinar a semente. Zacarias e Isabel entendem que o filho era um dom de Deus, um verdadeiro presente, que nasce com uma missão em Israel.

Senti vergonha e me escondi



Na história da criação o primeiro homem e a primeira mulher foram colocados no “Éden”, que significa “Paraíso das Delícias”. Ambos caminhavam felizes de um lado para outro e contemplavam aquela beleza sem perceber que ali estava toda felicidade; não precisavam fazer nada.
Porém, o Criador colocou duas árvores no meio daquelas maravilhas, ambas com deliciosos frutos, sendo que uma era do bem e a outra do mal. Como seres humanos, não se contentaram em viver na obediência e submissos à vontade do Criador.
Foi então que a serpente astuta e traiçoeira, personificação do mal, levou aquelas ingênuas criaturas a pensarem diferente, a saírem da rotina paradisíaca para serem eles os donos, os proprietários de tudo aquilo, com um simples ato de desobediência. “Vocês podem ser como Deus”! Eis então que cedem à voz da víbora e se apercebem diferentes.


O texto bíblico relata que começaram a sentir medo, estavam nus, surgiu a vergonha um do outro, do próprio Deus e se esconderam. “Ouvi a tua voz no Jardim, fiquei com medo, porque estava nu, e me escondi” (Gn3,10). O medo e a vergonha aparecem como consequência da ganância e do orgulho de decidir sobre o que é bom e o que é mal. Eles mesmos se tornam o critério para decidir, ou seja, acham que podem fazer o que bem entendem. Numa atitude de total egoísmo acabam com a felicidade, a paz interior, e são colocados para fora do Paraíso. A serpente rastejando-se no pó da terra para sempre e o homem e a mulher enfrentando a dureza da vida, sujeitos a todo tipo de fragilidades. Terão lugar no paraíso sim, porém não mais como antes.
Quando a sociedade moderna vai entender que o paraíso começa aqui! Sem batalhas e exploração, sem poder e opressão dos poderosos, sem privilégios e artimanhas para dominar e tirar vantagens de todo tipo sem importar de quem seja. O paraíso terrestre é para todos! O Paraíso Celeste é para os que souberem entrar pela porta estreita do amor solidário, da justiça social, da humanização do homem e da mulher, da dignidade de seres criados a imagem e semelhança de Deus, por amor e para amar.
Somente aqueles que não se deixam levar pela serpente da manipulação do bem comum, para tirar benefício próprio, terão lugar no Paraíso Celeste.  “Largo é o caminho da perdição”, diz o Senhor Jesus em Mateus sete versículo 13; e são muitos os que entram por ele.
Você não precisa sentir vergonha, nem medo, não precisa se esconder, se esquivando do rosto amoroso de Deus, quando as tuas mãos e a tua boca se mancharem comendo o fruto proibido. Como teve a coragem de ser injusto, corrupto, malvado, enganador, trapaceiro, sujando as mãos e a consciência, tenha a mesma coragem e saia de trás dos esconderijos humanos, das máscaras de proteção, do farisaísmo hipócrita de puras aparências.
Que ao menos sinta o desejo de voltar e, nos braços Daquele que te criou, encontrar a paz e as delícias do paraíso perdido. Não se esconda. Não precisa ficar nu e sentir vergonha para ter direito e lugar na sociedade. Viva a vida sem preconceitos, sem querer ser o que você não é. Seja você mesmo. Busque não só os teus desejos, olhe ao seu redor e ame a cada um. Ame a todos, ame sempre, porque o paraíso começa aqui.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)

domingo, 17 de junho de 2012

Entendendo a Missa: Temas de Liturgia VI



Retomamos com este artigo nosso pequeno comentário sobre a liturgia da Missa. Agora, depois de termos visto os ritos iniciais, veremos a Liturgia da Palavra, que vai da primeira leitura até a oração dos fiéis. Eis as observações que gostaria de fazer:

(1) O centro da Liturgia da Palavra é o ambão. Assim como toda igreja deve ter o Altar, deve ter também o ambão. Mesmo uma capelinha modesta deve tê-lo. Onde colocá-lo? De preferência, segundo antigo costume, no lado esquerdo do Altar, o chamado lado do Evangelho na liturgia antiga. Mas, pode também ser colocado em outro lugar, desde que seja no presbitério. Deve estar num lugar bem visível e não deve ser uma simples estante móvel. Deve ser fixo e, de preferência, do mesmo material do Altar. Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo e o precônio pascal. Também daí pode ser feita a homilia e as intenções das orações dos fiéis. Nunca se faz o comentário ou se dá avisos do ambão: sua dignidade exige que aí suba somente quem vai proclamar a Palavra! Para comentários e avisos (e, se for o caso, para a oração dos fiéis), coloque-se uma estante simples e digna fora do presbitério.


(2) Quanto às leituras: (a) Se houver comentários antes delas (coisa totalmente desnecessária, chata, antipática e inoportuna), estes devem ser brevíssimos. (b) O comentarista nunca pode dizer qual o livro que será lido e muito menos dizer capítulo e versículo. (c) É o leitor quem anuncia: “Leitura do... leitura da...”, conforme está no Lecionário, sem inventar moda. (d) Nunca se faz a leitura pelo jornalzinho ou pela liturgia diária! A dignidade da Palavra de Deus e o respeito profundo que se lhe deve ter exigem que esta seja proclamada do Lecionário. Também é absolutamente errado fazer a leitura pela bíblia. Não somente é errado como é também proibido. Só as Conferências Episcopais podem fazer adaptações relativas aos textos proclamados na Missa e, assim mesmo, respeitando o princípio de que os textos sejam escolhidos do Lecionário devidamente aprovado (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 362). Então, se numa missa especial deseja-se escolher uma leitura diferente, pode-se fazê-lo, desde que ela seja escolhida dentre as que existem no Lecionário. Nada de tomar diretamente da Bíblia! A regra é clara e sem exceção: a Palavra de Deus, na Santa Missa, é sempre proclamada do Lecionário. (e) Não é conforme à tradição litúrgica da Igreja latina fazer procissão com a Bíblia! Isso nunca existiu na Igreja. A única procissão com a Palavra de Deus que é liturgicamente correta é o diácono ou um leitor entrar na procissão de entrada com o Evangeliário (O Livro dos Santos Evangelhos), que simboliza o próprio Cristo, presente em sua Palavra. Não se entra com o Lecionário em procissão! São abusos, ritos artificialmente inventados que não têm nenhum respaldo na tradição milenar da Igreja. Nunca se deve fazer um rito porque é bonito – isto não é critério litúrgico nem é criatividade; é pura e simples mutilação e desfiguração da liturgia! (f) É proibido e, portanto, totalmente errado fazer leitura encenada. A leitura é proclamada por um só leitor. É errado e abusivo um casal fazer a mesma leitura. É um leitor só para cada leitura. Também não se pode dividir as várias partes do Evangelho entre várias pessoas. Isso somente é permitido na Semana Santa, para a proclamação da Paixão do Senhor. (g) O Salmo de meditação não pode em hipótese alguma, ser substituído por um cântico de meditação, nem mesmo que seja um cântico inspirado num salmo. Em outras palavras: deve-se cantar ou recitar o salmo como está no Lecionário! (h) Na tradição litúrgica da Igreja, proclamar as leituras não é função do presidente; assim, devem sempre os leigos proclamarem as leituras e o diácono, o Evangelho. Somente na falta deste é que o padre deve proclamá-lo. Contudo, se na assembléia não houver quem possa proclamar de modo claro e edificante, o próprio padre proclame as leituras e o Evangelho.

(3) A homilia é preferencialmente feita do ambão. Pode também ser feita da cadeira. É costume que o padre faça a homilia em pé. O Bispo pode fazê-la sentado. O tema da homilia é sempre um comentário da Palavra de Deus, colocada no hoje da nossa vida, uma explicação dos mistérios da fé cristã ou sobre o tema da festa que se está celebrando. Nunca, em hipótese alguma, a homilia pode ser usada para fins alheios à sua natureza, como fazer propaganda política, dar recados velados a pessoas da comunidade, repreender o povo, etc. A homilia é parte integrante da Liturgia da Palavra e como tal deve ser respeitada em toda a sua dignidade. A homilia somente pode ser proferida por um ministro ordenado: Bispo, padre ou diácono. Por mais ninguém! É abuso e indisciplina que religiosos que não sejam ministros ordenados façam homilia. Se for necessário, por algum motivo, que alguém diga uma palavra de edificação, deve fazê-lo após a oração após a comunhão, antes dos avisos, mas nunca no momento reservado à homilia!

(4) Quando se canta ou se recita o Credo, que se tenha o cuidado de não lhe mudar a letra que está no missal.

(5) Quanto à oração dos fiéis, pode ser apresentada pelo diácono ou por um ou mais fiéis. Pode ser feita do ambão ou da estante. Deve-se evitar deixar que se faça espontaneamente do meio do povo. Isso somente tem sentido quando a Santa Missa é celebrada com grupos pequenos. O correto é que a oração seja em forma de intenção apresentada ao povo, assim: “Por... pela.../ para que.../ rezemos ao Senhor”. Não é a melhor forma litúrgica apresentar a oração diretamente a Deus, assim: “Senhor,..... /nós vos pedimos”. Nunca se deve substituir a oração dos fiéis por uma oração recitada por todos, pela ladainha de Nossa Senhora, pela ladainha de todos os santos ou uma outra qualquer. Os jornaizinhos, às vezes fazem isso; mas, já sabemos que tais jornaizinhos não têm o mínimo respeito pelas normas litúrgicas da Igreja. Fazem como querem, como se fossem os donos da Missa!

(6) Como no Brasil toda missa tem muitas intenções, é melhor que a útlima oração seja a apresentação de tais intenções, começando pelos vivos e terminando pelos falecidos. Mas, é preciso escrever tais intenções de uma forma elegante, concisa e objetiva. Às vezes, tais intenções são apresentadas de um modo impossível!
Continuaremos.

Côn. Henrique Soares da Costa
_______________________________________
Fonte: http://www.padrehenrique.com/index.php/liturgia/geral/147-temas-de-liturgia--vi

sexta-feira, 15 de junho de 2012

CONVITE


Neste Domingo, 17/06, será celebrada a Missa de envio dos Símbolos dos 400 anos de evangelização do Maranhão às 17h na Igreja Matriz onde cada comunidade da paróquia receberá os símbolos e subsídios da Lectio Divina que irão peregrinar pelas casas. Por este motivo não haverá missa nas comunidades da paróquia (exceto na Igreja Matriz) no período da tarde. No fim de semana seguinte, dias 23 e 24/06 será feito nas missas das outras comunidades da paróquia o envio dos grupos de peregrinação. Os símbolos percorrerão as casas escolhidas em um momento missionário e de evangelização!


PNSPS: Servimos ao que veio servir! 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Imaculado Coração de Maria (1º sábado após o 2º domingo depois de Pentecostes).



A festa foi introduzida em 1944 por Pio XII e era celebrada na oitava da Assunção.

Quando a mencionada passagem do Evangelho de Lucas diz: “Maria guardava todas estas coisas e as meditava no seu coração”, faz uma afirmação importante sobre a sua disposição de ânimo mais íntima, sobre a profundidade existencial de sua receptividade, que sabe permanecer na escuta, refletir e introduzir os acontecimentos no cento da própria existência. Efetivamente também o pensamento bíblico une o conceito de “coração” com o de “pureza” e fala de pureza de coração[1], um conceito que hoje corremos o risco de perder.

De fato, ele não está indicando em primeiro lugar a castidade, mas (sem excluir esta) a dedicação total a Deus, sem hesitações, que torna o homem interiormente transparente e belo, porque o imerge de maneira completa na Luz Divina. Por isso, Maria é igualmente chamada “Mãe do Belo Amor”, cuja beleza brilha no interior sob a forma de pureza e está em condições de fascinar o homem que consegue acolher este valor.

A memória do Imaculado Coração de Maria causa, sem dúvida alguma, dificuldades também para muitos católicos.

A denominação dada à memória cria algumas dificuldades, e antes de tudo, o termo “imaculado”. Muitos o entendem no sentido de uma negação da sexualidade humana ou pelo menos no sentido hostil ao corpo, tido em muitos ambientes como tipicamente cristão e contra o qual as camadas mais profundas do homem protestam, e este protesto encontra sua expressão passional na perversão satânica do culto eclesial ou das formas edonistas de uma arte negativa que se serve como volúpia pragmática e sádica de imagens genitais e anais[2].

Com efeito, uma coisa teria justamente desagradado desde sempre ao diabo, ao arquipuritano, ao descobridor de uma castidade quase desencarnada, ao pregador da incorporeidade, isto é, o fato de que a carne devia ser modelada segundo a imagem de Deus, para ali receber o espírito do Espírito de Deus. Por isso, nunca me causou estranhesa encontrar o diabo dentro de tantos celebradores do “puro espírito”, aquele diabo que odeia toda a criação e, em particular, o homem.


Quando a Igreja confessa que o coração de Maria é um jardim fechado pela graça de Deus numa medida tal que as potências demoníacas não podem prejudicá-lo, com isso exprime simplesmente a sua fé no fato de que Maria acolheu a Palavra de Deus que tomou corpo no seu ventre.

O Evangelho, que fala que Jesus aos doze anos se perdeu no Templo, chega a propor um detalhe que faz pensar numa incompreensão da mãe com seu Filho: “Filho, por que agiste assim conosco?”

A isto segue a afirmação que conservava estas palavras em seu coração: aqui, no coração, as coisas não compreendidas e a excitação encontram a sua integração na abertura diante da Palavra de Deus.

As traduções às vezes manifestam outra perda da realidade quando traduzem que Maria conservava “tudo” no seu coração. Certamente, o original não é traduzido com exatidão nem quando se traduz “todas estas palavras” ou “todas estas coisas”; o termo grego em questão pode ser traduzido com “palavra”, “coisa” e também com “história”.

A Palavra de Deus que cria e faz história, a Palavra de Deus jamais impotente, uma Palavra que se pode “ver”,[3] mas que permanece “oculta” enquanto não é “experimentada”;[4] Trata-se da boa Palavra de Deus presente em todas as coisas como incompreensível, se for meditada e conservada num coração que diz com absoluta confiança: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).

É este o evento histórico-salvífico que celebramos na memória do Imaculado Coração de Maria: a sua concretíssima, sempre renovada e constante prontidão em ver em todas as coisas, com o vigor indiviso de seu coração, uma Palavra de Deus, quando esta Palavra quis assumir no seu ventre a figura do Filho de Deus encarnado.


[1] Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8).

[2] Segundo a concepção cristã, o campo do satânico funde-se em grande parte com o dionisíaco, da tenebrosa “Grande Mãe” e do sexual. Conseqüentemente, estes três setores se tornaram o domínio preferido do satanismo e, portanto, do culto de satanás, o fenômeno central do “lado escuro” do Cristianismo.

[3]E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber” (Lc 2,15).
[4]Mas eles não entendiam esta palavra, que lhes era encoberta, para que a não compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca desta palavra” (Lc 9,45).
 _______________________________
Extraído do livro "O Culto a Maria Hoje", ed. Paulinas.

Sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus...



166. A sexta-feira seguinte ao segundo domingo depois de Pentecostes a Igreja celebra a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Além da celebração litúrgica, muitas outras expressões de piedade têm por objeto o Coração de Cristo. Não tem dúvida de que a devoção ao Coração do Salvador tem sido, e continua a ser, uma das expressões mais difundidas e amadas da piedade eclesiástica. Entendida à luz da Sagrada Escritura, a expressão “Coração de Cristo” designa o mesmo mistério de Cristo, a totalidade do seu ser, a sua pessoa considerada no seu núcleo mais íntimo e essencial...

167. Como o têm lembrado freqüentemente os Romanos Pontífices, a devoção ao Coração de Cristo tem um sólido fundamento na Escritura. Jesus, (...) apresenta-se a si mesmo como mestre “manso e humilde de Coração” (Mt. 11, 29). Pode dizer-se que a devoção ao Coração de Jesus é a tradução em termos cultuais do reparo que, segundo as palavras proféticas e evangélicas, todas as gerações cristãs voltaram para aquele que foi atravessado (cfr. Jo. 19, 27; Zc. 12, 10), isto é, o costado de Cristo atravessado pela lança, do qual brotou sangue e água, símbolo do “sacramento admirável de toda a Igreja”.

O texto de São João que narra a ostentação das mãos e do costado de Cristo aos discípulos (Cfr. Jo. 20, 20) e o convite dirigido por Cristo a Tomás para que estendesse a sua mão e a introduzisse no seu costado (Cfr. Jo, 20 27), tiveram também um influxo notável na origem e no desenvolvimento da piedade eclesiástica ao Sagrado Coração.

168. Estes textos, e outros (...) foram objeto de assídua meditação por parte dos Santos Padres que desvendaram as riquezas doutrinais e com freqüência convidaram aos fiéis a penetrar no mistério de Cristo pela porta aberta de seu costado. Assim, santo Agostinho diz: “A entrada é acessível: Cristo é a porta. Também se abriu para ti quando o seu costado foi aberto pela lança. Lembra o que dali saiu; portanto olha por onde podes entrar. Do costado do Senhor pendurado que morria na Cruz saiu sangue e água quando foi aberto pela lança. Na água está a tua purificação, no sangue a tua redenção.”

169. A Idade Média foi uma época especialmente fecunda para o desenvolvimento da devoção ao Coração do Salvador. Homens insignes pela sua doutrina e santidade, como São Bernardo (+1153), São Boaventura (+1274) e místicos como Santa Lutgarda (+1246), Santa Matilde de Magdeburgo (+1282), as Santas Irmãs Matilde (+1299) e Gertrudes (+1302) do Mosteiro de Helfta, Ludolfo de Saxónia (+1378), Santa Catarina de Siena (+1380), aprofundaram o mistério do Coração de Cristo no qual percebiam o “refúgio” aonde acolher-se, a sé da misericórdia, o lugar de encontro com Ele, a fonte do amor infinito do Senhor, a fonte da qual brota a água do Espírito, a verdadeira terra prometida e o verdadeiro paraíso.

170. Na época moderna o culto ao Sagrado Coração do Salvador teve novo desenvolvimento. No momento em que o jansenismo proclamava os rigores da justiça divina, a devoção ao Coração de Cristo foi um antídoto para suscitar nos fiéis o amor ao Senhor e a confiança na sua infinita misericórdia, da qual o Coração é prenda e símbolo. São Francisco de Sales (+1622), que adotou como norma de vida e apostolado a atitude fundamental do Coração de Cristo, ou seja, a humildade, a mansidão, (Cfr. Mt. 11, 29), o amor terno e misericordioso; Santa Margarida Maria Alacoque (+1690), a quem o Senhor mostrou repetidas vezes as riquezas do Seu Coração; São João Eudes (+1680), promotor do culto litúrgico ao Sagrado Coração; São Cláudio de la Colombière (+1682), São João Bosco (+1888) e outros santos têm sido apóstolos insignes da devoção ao Sagrado Coração.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Santo Antônio



Durante o mês de junho as festas juninas fazem parte da vida do nosso povo. Junto com os festejos populares é muito importante celebrar a vida dos santos que são homenageados. A vida dos santos nos inspira a darmos passos com generosidade na vida cristã e levarmos adiante, com coragem, o seguimento de Jesus Cristo.
Iniciamos com o dia 13 de junho, quando a Igreja faz memória de Santo Antônio, grande homem, amigo de Deus e das pessoas. Fiel discípulo de Cristo e seguidor atento dos passos do Mestre. Antônio nasceu em Lisboa, Portugal, no ano de 1195, filho de Martim Afonso e Dona Maria. Seu nome de batismo era Fernando. Foi ordenado sacerdote no ano de 1220. Faleceu em Pádua no dia 13 de junho de 1231. Viveu em Portugal, na Itália e França. Destacou-se como teólogo, místico, asceta, taumaturgo e orador.
Após sua canonização recebeu ainda o título de doutor da igreja, tamanha expressividade e vivacidade de seus ensinamentos e de seu testemunho de fé e de amor a Cristo e à sua Igreja.
A sua vida é marcada por inúmeros milagres e fatos miraculosos e muitos deles ocorreram longo de sua vida e muitos outros após sua morte. Talvez sejam estes inúmeros fatos que fizeram de Antônio um dos santos mais populares da História do Cristianismo.
Nos documentos que pedem ao Santo Padre a beatificação e a canonização do frade são relatadas muitas curas, como de surdos, mudos, paralíticos, cegos e epiléticos. Os documentos ressaltam, ainda, que estes fatos narrados são poucos dos muitos milagres atribuídos à intercessão de Santo Antônio, ressaltando que mesmo muitos enfermos deixados do lado de fora da Igreja foram curados aos olhos de todos.

Além da fama popular de santo casamenteiro, atribuição de origem tardia, Antônio tem também a tradição de ser “o santo das coisas perdidas”. Nesse sentido, sentimos a necessidade de, inspirados na sua pregação, trabalhar pela família cristã, procurando orientar os jovens para um namoro sadio. Sempre atento às necessidades de seu povo, especialmente os mais pobres, Santo Antônio inspirou a obra assistencial e benemérita do "pão dos pobres", uma instituição preocupada em prover o pão para os mais pobres. Esse aspecto social acompanha a Igreja em toda a sua história.
Muitas são as formas de devoção em torno de Santo Antônio: orações, novenas, trezenas, medalhas, o "pão de santo Antônio", e outros. As paróquias e capelas dedicadas ao santo estão repletas de tradições devocionais que ajudam o povo a viver a vida cristã inspirados no exemplo de Santo Antônio.

Vale a pena visitar e aprofundar a biografia do Santo. Homem de profunda piedade, discípulo e apóstolo do Evangelho, grande e destacável pregador, não perdeu tempo no anúncio eficaz da Palavra de Deus. Sua pregação, sempre viva e atual, como nos Atos dos Apóstolos, era acompanhada de sinais que confirmavam sua origem e procedência. O que devemos buscar na vida de Santo Antônio é a santidade, procurando fazer a vontade de Deus, vivendo aberto aos sinais do Senhor.
Dentre os milagres mais conhecidos estão o da pregação para os peixes em Rimini; o coração do avarento encontrado dentro do cofre; a mula em adoração ao Santíssimo Sacramento; o recém-nascido que fala em favor da mãe inocente; o pé decepado que o santo une novamente à perna; a menina que recebe o bilhete e ganha moedas de acordo com o peso do papel, depois de recorrer ao santo para conseguir ajuda e não precisar se prostituir, e tantos outros.
Um dos dons mais destacados de Santo Antônio está na sua pregação. Talvez um aspecto pouco conhecido popularmente, mas profundo e importante em sua vida. A sua fala provoca o fascínio das pessoas e muitas se reúnem para ouvi-lo. Para sua memória não é possível recuperar toda a sua pregação a viva voz, mas boa parte se encontra em seus legítimos escritos, os 77 sermões que seu legado nos presenteou e estão compilados em suas obras. Textos zelosos, ricos da mais sã teologia, que enormemente contribuíram para a superação de heresias de seu tempo, a ponto de ser apelidado de "martelo dos hereges".
Nestes tempos em que somos chamados a uma nova evangelização, recorramos a Santo Antônio, pedindo sua intercessão para que nosso anúncio missionário seja eficaz e torne Cristo sempre mais conhecido e amado. Que nossa pregação seja confirmada com sinais e testemunhos, e ajudem nosso povo a contemplar as maravilhas de nosso Deus. Os vários tipos de pregação de Santo Antônio nos demonstram as várias possibilidades de evangelização para que as pessoas acolham Jesus Cristo como Senhor de suas vidas.
Que a exemplo de Antônio, o santo dos pobres, nunca nos esqueçamos daqueles que mais precisam e que em todos os momentos nos rodeiam, necessitando de roupas, pão, remédio e proteção. O amor a Deus se torna concreto na vida dos mais simples. "Estive com fome e me destes de comer; com sede, e me destes de beber, nu e me vestistes; enfermo e me fostes visitar" (cf. Mt. 25,35ss).
"Se milagres desejais, contra os males e o demônio, recorrei a Santo Antônio e não falhareis jamais. Pela sua intercessão, foge o erro, a peste e a morte; quem é fraco fica forte, mesmo o enfermo fica são. Rompem-se as mais vis prisões, recupera-se o perdido, cede o mar embravecido, no maior dos furacões. Penas mil e humanos ais se moderam, se retiram: isto digam os que viram, os paduanos e outros mais”. (Do antiquíssimo responsório de Santo Antônio, "Si quaeris miracula")
Que Santo Antônio inspire a todos, especialmente a nossa juventude, no seguimento de Nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo!


Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)