sábado, 7 de março de 2015

A Missa que assistimos é inválida? Aham, Cláudia, senta lá!


Como muitos de vocês já sabem, o rito da missa atual é diferente do rito antigo. De 1570 a 1969 – ou seja, por 400 anos – toda a Igreja celebrou de acordo com o Rito Tridentino (estabelecido no Concílio de Trento). A missa era toda rezada em latim (exceto o sermão) e não permitia qualquer inculturação.

Durante o papado de Paulo VI, a Igreja entendeu que era necessário reformar a liturgia, para favorecer a participação mais ativa e piedosa dos fiéis. Então, durante o Concílio Vaticano II, o rito da Missa foi simplificado, conservando a sua estrutura essencial. E a língua empregada poderia ser o idioma local, sem, contudo, deixar de lado o latim.

Alguns leitores têm nos cobrado um artigo sobre as comparações entre Missa Nova – aquela que celebramos atualmente – e a Missa Tridentina. Vamos começar retomando uma mensagem que a leitora Mariele nos enviou (já faz um tempinho):

“Venho pedir uma ajuda, sobre um assunto que está me confundindo muito a cabeça. “O que acontece tem uns amigos meus que são católicos, e (…) vieram com a ideia de que as Missas que participamos hoje estão todas erradas, que a Missa certa é a Tridentina, e que o Concilio Vaticano II, está destruindo a igreja. Como aqui na minha cidade não tem a Missa Trindentina, eles disseram que não vão mais participar da ‘Missa Nova’. Eles estudam um monte de documentos da Igreja, e são contra o Concilio Vaticano II. Gente, será que tem como vocês me explicarem melhor isso?”

Os tais amigos da Mariele estudam um monte de documentos da Igreja e se acham espertos… Esses caras querem saber mais do que os papas? Acham que têm mais razão do que o pastor que Cristo escolheu para guiar o Seu rebanho? Não creem na Santa Igreja Católica, que aprovou o rito atual da Missa? Então não são católicos, são um bando de cismáticos! Não são melhores em nada do que os filhos de Lutero.

O fato é: a Missa Nova é válida, e trouxe mudanças necessárias para um novo momento histórico. Alguns pontos do rito são passíveis de discussão e podem ser melhorados? Talvez… mas ele é válido e santificante. Quem não crê nisso não está em comunhão com a Igreja e, portanto, não está em comunhão com Cristo.

Recentemente, o Pe. Paulo Ricardo realizou uma aula sobre a Missa Nova. Para falar sobre isso, pedimos a ajuda do nosso amigo David A. Conceição, do blog Apostolado Tradição em Foco com Roma.

Fala aí David!

sexta-feira, 6 de março de 2015

A mulher, coração da família


8 de março é o dia internacional da mulher, razão de falarmos da dignidade especial daquela que é o coração da família. Sua dignidade há que ser ressaltada, pois a crise atual da família atinge especialmente a mulher. “Na nossa época, o matrimonio e a família estão em crise. Vivemos numa cultura do provisório, na qual cada vez mais pessoas renunciam ao matrimonio como compromisso público. Esta revolução nos costumes e na moral agitou com frequência a ‘bandeira da liberdade’, mas na realidade trouxe devastação espiritual e material a numerosos seres humanos, de maneira especial aos mais vulneráveis. É cada vez mais evidente que o declínio da cultura do matrimonio está associado a um aumento de pobreza e a uma série de numerosos outros problemas sociais que atingem em medida desproporcional as mulheres, as crianças e os idosos. E são sempre eles quem mais sofre nesta crise” (Papa Francisco, Discurso aos participantes no encontro internacional sobre a complementaridade entre homem e a mulher, 17/11/2014).

Foi o cristianismo que salvou a dignidade da mulher! A história, nos testemunhos de Juvenal e Ovídio, nos conta que a moral sexual e a fidelidade conjugal, antes do cristianismo, estavam em extrema degradação. Constatamos isso, vendo atualmente a situação da mulher nos povos que não têm o cristianismo. No começo do século II, Tácito afirmava que uma mulher casta era um fenômeno raro. Galeno, o médico grego do século II, ficava impressionado com a retidão do comportamento sexual dos cristãos. Os próprios historiadores são obrigados a confessar que foram os cristãos que restauraram a dignidade do matrimônio.

O cristianismo estendeu o conceito de adultério também à infidelidade do marido, pois no mundo antigo ele só se limitava à infidelidade da esposa. O cristianismo santificou o matrimônio, elevando-o à ordem de sacramento, proibindo o divórcio, que prejudica, sobretudo, a mulher. O cristianismo, ao contrário da mentalidade machista, iguala o pecado do homem e da mulher: o sexto e o nono mandamentos valem igualmente para os dois. 

"A nossa única culpa é carregar o nome de nosso Senhor Jesus".


Apresentamos a íntegra da carta entregue esta manhã ao papa Francisco, após a missa na Casa Santa Marta, por Padre Rifat Bader, diretor do Catholic Center for Studies and Media de Amã e pároco em Naour, na Jordânia, em nome de algumas famílias iraquianas refugiadas há vários meses em sua paróquia. Na ocasião, Padre Rifat doou ao Pontífice uma pintura realizada por um desses refugiados.

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Pai bondoso,

Nós, cristãos iraquianos agora presentes na Jordânia, forçados a emigrar de nossas terras por causa do poder demoníaco das trevas e da escravidão, mesmo não tendo cometido qualquer mal que justificasse a nossa fuga.

Nossa única culpa é carregar o nome de nosso Senhor Jesus Salvador e nossas boas obras de amor e de paz a todas as criaturas.

Depois de nos terem confrontado na escolha de sermos cristãos ou sermos mortos, tivemos que fugir de nossas terras com o nosso Cristo, com a nossa fé, com nossos princípios.

Escolhemos ir para longe de nossas casas e do país que amamos, preferindo nos tornar estrangeiros em uma terra estrangeira, com toda a dor e o sofrimento inerentes a esta decisão, antes que tomar parte naquele mal e naquela violência desumana contra os inocentes.

Escolhemos fugir deixando tudo o que era caro para nós, casas, terras, propriedades para sermos parte do santo rebanho de Cristo, seguindo, com convicção e alegria, as etapas da Via Crucis com Jesus Crucificado, para sermos dignos de estar entre os cordeiros membros de seu santo rebanho. 

A possibilidade da participação política direta dos presbíteros, segundo o Código de Direito Canônico.


Diversos Presbíteros Diocesanos e Religiosos de diferentes Institutos são plenamente engajados na vida pastoral de suas comunidades e vivem na própria carne os dramas muito sofridos de gestões de prefeitos municipais não comprometidos com a causa dos últimos. Nasce então neles o desejo de prestar um serviço maior ao povo estando diretamente presentes nas estruturas políticas do executivo municipal, conseguindo desta forma, pensam muitos, ter condições de interferir a favor dos excluídos exercendo o poder do lado de dentro.

É possível um religioso, presbítero ou não, ser candidato a prefeito municipal ?

A matéria que rege a questão se encontra no Código de Direito Canônico de 1983 especificamente nos cânones 285 § 3º e 287 § § 1º e 2º

A) O cânon 285 diz no §1º: “Os clérigos se abstenham de tudo aquilo que é inconveniente ao próprio estado, segundo as disposições do direito particular”.

§ 2º- Evitem aquilo que, mesmo não sendo indecoroso, é alheio ao estado clerical.

§ 3º- Os clérigos são proibidos de assumir cargos públicos, que implicam participação no exercício do poder civil.

§ 4 º – Sem a licença do Ordinário próprio não se incumbam da administração de bens pertencentes a leigos ­nem exerçam ofícios seculares que implicam obrigação de prestar contas;

B) O cânon 287 diz: §1º “Os clérigos sempre favoreçam de modo máximo a manutenção entre os homens da paz e da concórdia fundada na justiça”

§ 2º “Os clérigos não tenham parte ativa nos partidos políticos e na direção de associações sindicais,a não ser que a juízo da competente autoridade eclesiástica, o exijam a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.

Na interpretação abaixo são focalizados somente os aspectos canônico-jurídicos não sendo levados em conta, embora fundamentais, a dimensão eclesiológica do Povo de Deus, o lugar que deve ocupar o leigo na sociedade e nem mesmo o papel, a função e a identidade do presbítero no mundo de hoje.

Observa-se que o texto canônico latino em todos os parágrafos citados emprega diferentes verbos com significados específicos, que nos ajudam na interpretação.

Fraternidade: Igreja e sociedade – uma perspectiva bíblico-teológica


A obra de Lucas (Evangelho e Atos dos Apóstolos) oferece elementos inspiradores para o tema proposto pela Campanha da Fraternidade neste ano de 2015. A proposta de Jesus de Nazaré assumida pelas comunidades cristãs primitivas precisa ser permanentemente resgatada pela Igreja, tendo em vista a sua missão evangelizadora em cada contexto histórico-cultural. 

O que mais falta aos homens da Igreja é o Espírito de Cristo, a humildade, o despojamento de si mesmo, a acolhida desinteressada, a capacidade de ver o melhor do outro. Nós temos medo, queremos manter o que caducou, porque disso temos o hábito, queremos ter razão contra os outros. Dissimulamos, sob o vocabulário de humildade estereotipada, o espírito de orgulho e de poder. Brincamos de pôr a vida à parte. Da Igreja fizemos uma organização como as outras. Empregamos todas as nossas forças para organizá-la e agora as empregamos para fazê-la funcionar. E ela caminha mais ou menos, menos do que mais, mas caminha. O problema é que ela caminha como uma máquina, e não como a vida.

Essa afirmação do patriarca ecumênico de Constantinopla, Atenágoras, feita há mais de quatro décadas, possui caráter exortativo também para a Igreja na atualidade. Por aquela mesma época, o Concílio Vaticano II, por meio da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, formulou princípios orientadores para a missão da Igreja num mundo em acelerada transformação. De lá para cá, foram inúmeras as iniciativas, em todos os âmbitos, para organizar uma Igreja mais humana e solidária, respondendo aos clamores da sociedade, especialmente das pessoas abandonadas.

Peregrina neste mundo, a Igreja precisa avançar sempre mais, rompendo com a tentação de acomodar-se. E para avançar com liberdade evangélica, há necessidade de abandono de tudo o que a impede de ser verdadeiramente discípula missionária do Senhor. O documento da CNBB n. 100 – Comunidade de comunidades: uma nova paróquia –chama-nos à conversão pastoral e nos orienta a sair “de uma Igreja distante, burocrática e sancionadora” para uma Igreja mais evangélica, comunitária, participativa, realista e mística (n. 37). O papa Francisco, atento às demandas que emergem das comunidades pelo mundo afora, abraçou essa causa com determinação. Seus ensinamentos, corroborados por seu testemunho, inspiram-se na prática da Igreja das origens, seguidora de Jesus Cristo, servidora do seu evangelho e, por isso mesmo, promotora da vida digna sem exclusão. A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium apresenta o caminho a ser seguido pela Igreja em sua obra evangelizadora no mundo atual. É a proposta do evangelho que precisa ser retomada com coragem. “A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4,43); trata-se de amar a Deus que reina no mundo. À medida que ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos” (EG 180).

Nesse sentido, propõe-se aqui uma reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade numa perspectiva bíblico-teológica, buscando compreender a dimensão social da fé cristã assumida pelas primeiras comunidades cristãs. Para isso, toma-se a obra de Lucas como referência, pontuando alguns aspectos. 

quinta-feira, 5 de março de 2015

Papa Francisco na mira do terror: comandante da polícia vaticana reconhece ameaça do Estado Islâmico


No mês passado, logo após a decapitaçãodos 21 cristãos coptas egípcios que tinham sido sequestrados na Líbia, os terroristas do Estado Islâmico divulgaram um vídeo em que, além de veicular as cenas brutais do covarde assassinato massivo, ainda destacavam a sua aproximação da fronteira italiana, em clara ameaça contra o Vaticano.

O grupo italiano de comunicações Mediaset publicou neste domingo em seu site algumas declarações do comandante das forças vaticanas de segurança, Domenico Giani, 52, sobre esta ameaça contra a sede do catolicismo. Giani confirma que o perigo é real, mas afirma que, até o momento, não há indícios concretos de que esteja em andamento algum plano terrorista para atacar o papa Francisco e o Vaticano.

À frente da Gendarmaria Vaticana há nove anos, Giani foi entrevistado pela revista “Polizia Moderna”, editada pela corporação. Ele observa que “o nível de atenção é constantemente alto”, já que, além das atuais ameaças do Estado Islâmico, existe o risco permanente de atentados isolados que podem ser cometidos por fanáticos ou pessoas mentalmente desequilibradas.

Giani informa que cerca de vinte gendarmes, os policiais do corpo de segurança do Vaticano, são especialmente treinados em ações antiterrorismo e que alguns deles acompanham o papa em suas viagens ao exterior. O comandante destaca ainda as boas relações entre a Santa Sé e vários países muçulmanos, que compartilham informações relevantes no tocante à segurança e ao monitoramento de riscos. O relacionamento da Gendarmaria Vaticana com a polícia italiana também é elogiado por Domenico Giani.
 

Homilética: 3º Domingo da Quaresma - Ano B: "O decálogo e os vendilhões do Templo".


A liturgia do terceiro domingo nos apresenta, na primeira leitura, o trecho de Êxodo 20,1-17, o Decálogo. Não pronunciarás o nome do Senhor Teu Deus em vão; lembra-te de santificar o dia de sábado; honra teu pai e tua mãe; não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não levantarás falso testemunho; não cobiçarás as coisas do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo. Um pormenor chama imediatamente a nossa atenção: a enunciação dos Dez Mandamentos é introduzida por uma significativa referência à libertação do povo de Israel. O texto diz: “Eu sou o Senhor teu Deus, que ti fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20, 2). Por conseguinte, o Decálogo deseja ser uma confirmação da liberdade conquistada. Com efeito, se considerarmos profundamente, os Mandamentos são o instrumento que o Senhor nos concede para defender a nossa liberdade, tanto dos interiores condicionamentos das paixões, como dos abusos exteriores dos mal-intencionados. Os “não” dos Mandamentos são outros tantos “sim” ao crescimento de uma liberdade autêntica.  O Decálogo é testemunho de um amor de predileção.

Estes dez mandamentos foram a base da vida moral, antes do povo hebreu e depois do povo cristão. Não contém toda a lei; sua forma negativa (“não fazer”) indica que se trata de alguns limites que delimitam um âmbito moral, antes que descrevê-lo positivamente; dentro devem ser colocados “toda a lei e os profetas” e de maneira especial o mandamento do amor que os resume a todos (Mt 22,40). É precisamente este caráter “negativo” que assegura aos dez mandamentos sua perene, imutável atualidade.

O Decálogo é uma escolha de vida que Deus propõe ao homem: Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal; observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos […] para que vivas e te multipliques […] se não obedeceres e se te deixares seduzir eu te declaro neste dia: perecereis (Dt 30,15 ss). O Decálogo é para o homem, não contra ele; não quer amarrar ou limitar sua liberdade, mas antes soltá-la. Aquilo que proíbe não é, com efeito, algo arbitrário que desagrada a Deus não se sabe por que, mas é o que compromete antes de tudo o próprio homem e sua possibilidade de ter relações equilibradas com os outros, de ser, em outras palavras, autenticamente homem.

Diz S. Paulo: Nós pregamos Cristo crucificado […] força de Deus e sabedoria de Deus (1Cor 1,23). Faz-nos compreender que agora tudo –inclusive a Lei- toma sentido a partir de Jesus Cristo. Nós não estamos mais sozinhos diante a lei; entre nós e o Decálogo existe no meio Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Ele é a “sabedoria de Deus” para nós, isto é, a nossa lei.

A cena do Evangelho de hoje poderia assustar os meramente pacifistas: Jesus pega no chicote e expulsa os vendedores do Templo: “Tirai isso daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes” (Jo 2,16). Trata-se do Filho que zela pelas coisas que são do seu Pai. Também nós, se formos bons filhos de Deus, cuidaremos direitinho das coisas do nosso Pai do céu seguindo o exemplo do nosso irmão e Senhor Jesus.

Jesus Cristo falou e agiu com firmeza. Ele foi até mesmo santamente violento: chicote, gritos e quem sabe até alguma chibatada em algum dos vendilhões. Como é possível que aquele que disse de si mesmo que é manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29) agora atue dessa maneira? A cólera de Deus, diferente da nossa ira, é sempre santa. Jesus se irrita fortemente para por a salvo os direitos de Deus, a glória que só a ele lhe convém, e o bem das nossas almas. Mais ainda, aquele que é manso, pediu que fossemos violentos se quisermos alcançar o reino dos céus: “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12). É interessante também que a mansidão de Jesus e a violência que ele nos aconselha encontram-se no mesmo capítulo do Evangelho segundo Mateus! Qual é o tipo de violência que se nos pede? Deus pede de cada um de nós que travemos uma guerra contra os nossos apetites desordenados, as nossas ideias insensatas e a dureza dos nossos corações. Quiçá não seja infrequente que sintamos a força da soberba, da inveja, da luxúria e dos demais pecados capitais. Eles gritam em nós reclamando os campos perdidos e pedindo revanche pelas batalhas nas quais foram derrotados.

Estamos em guerra! Constantemente o inimigo se nos apresenta disposto a vencer-nos e arruinar-nos para, dessa maneira, tentar atingir o próprio Deus. Nesses quarenta dias quaresmais estamos com Jesus acompanhando-o no seu grande jejum, procurando completar na nossa carne que falta à Paixão de Cristo (cf. Cl 1.24). As forças do mal não nos deixarão em paz, mas é exatamente essa luta que nos fará livres. Não estamos sozinhos, é Deus quem nos fortalece!

Eu dissera no começo que alguém poderia se assustar com a expressão “violência de Jesus” e creio não equivocar-me. Isso é assim porque estamos, paulatinamente, adocicando o cristianismo e dele apresentando uma versão light. E como não parece suficiente o gosto do cristianismo tal como ele é, fazemos como a Coca-Cola, pedimo-lo com gelo e limão! Isto é, acrescentamos à religião cristã as nossas manias e más ideias a tal ponto que conseguimos desfigurar essa realidade humano-divino que Cristo fundou para a nossa salvação, a Igreja.

Nessa hora, diante do perigo de que os negociantes – os amigos de gelo e limão no cristianismo, os falsificadores da verdade – mentem e enganem sobre a pessoa e obra de Cristo, também nós precisamos de chicotes, um contra nós mesmos (nossos pecados) e um contra a mentira, o engano e a traição dos valores cristãos, perenes como o Evangelho.

Alimentos puros e impuros?


Que pensar das proibições alimentares apresentadas no Livro do Levítico (carnes impuras, carne de porco...)? O que a Igreja católica diz sobre isto? O que mudou com a vinda de Jesus? O que permaneceu e o que foi abolido das leis antigas? Este texto tem alguma relação com At 15,26-29? (Washington) 

No judaísmo, pautado pela Lei de Moisés, havia e há, ainda hoje, uma rígida distinção entre alimentos puros e impuros. Ora, para o cristianismo tal distinção não tem mais nenhum valor. O próprio Jesus afirma isto claramente: “‘Nada há no exterior do homem que, penetrando nele, o possa tornar impuro...’ Assim ele declarava puros todos os alimentos” (Mc 7,14.19). Mais tarde, os Atos dos Apóstolos confirmam a mesma idéia (cf. At 10,9-16). Também o texto que você citou, At 15,26-29. E São Paulo, principalmente, insiste que tal distinção foi totalmente superada em Cristo. Somente um exemplo: “Ninguém vos julgue por questões de comida e de bebida, ou a respeito de festas anuais ou de lua nova ou de sábados, que são apenas sombra de coisas que haviam de vir, mas a realidade é o corpo de Cristo. Se morrestes com Cristo para os elementos do mundo, por que é que vos sujeitais, como se ainda vivêsseis no mundo, a proibições como ‘não pegues, não proves, não toques’” (Cl 2,16-17.20-21). Observe que aqui o Apóstolo faz uma afirmação importantíssima: todas as observâncias da Lei de Moisés eram apenas sombra (isto é, profecia, preparação pedagógica) para a Realidade. E qual é a Realidade? É o Cristo ressuscitado, presente no seu Corpo, que é a Igreja. A Realidade não é o povo de Israel, não é a Lei de Moisés, mas o novo povo de Deus, que é a Igreja, Corpo de Cristo: a Realidade é o Corpo de Cristo! São Paulo considera totalmente ultrapassada a guarda do sábado, a distinção entre animais puros e impuros e todas as observâncias judaicas.

E por que isto? Primeiramente, porque Cristo renova todas as coisas, pela sua morte e ressurreição e reconcilia tudo com o Pai: “Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). O próprio São João vai dizer: “Vi um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1). Ora, na criação renovada em Cristo, já não há lugar para afirmar que alguma coisa é impura. Isso seria diminuir a obra de Cristo, seria afirmar que algo na criação ficou fora da sua salvação, da força da sua cruz!