quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pastoral Afro divulga mensagem em memória da abolição da escravatura


MENSAGEM DA PASTORAL AFRO-BRASILEIRA
POR OCASIÃO DA MEMÓRIA DA 
ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA


O calendário assinala, neste dia 13 de maio, os 127 anos da Assinatura da Lei Áurea que declarou extinta legalmente qualquer forma de trabalho escravo. Foi um fato marcante para o Brasil, mas que exige um complemento, pois a abolição da escravatura é uma obra inconclusa, devido às precárias condições de vida da população negra.  A lembrança desta data traz para a nação brasileira a oportunidade de renovar o compromisso de solidariedade para com a população Afro-brasileira, majoritariamente vivendo em condições de pobreza e miséria. A escravidão e a discriminação racial contribuem para a situação de degradação social.

A Igreja Católica no Brasil, consciente da sua missão de “ser a advogada da justiça de defensora dos pobres” (DAp 395),  coloca-se ao lado destes irmãos ainda marginalizados. Renova a sua solidariedade com os Afro-brasileiros nesta data e, lembra que um dos caminhos para sanar esta dívida, passa pela adoção políticas públicas e ações afirmativas de parte das Instituições Governamentais em prol da melhoria das condições de vida da população Afro-brasileira, sobretudo, em relação à População Quilombola. Garantir a esta população a posse legalizada do seu território significa muito mais do que garantir um pedaço de chão. É a garantia da preservação da herança das culturas e das tradições afro-brasileira presentes nestas populações. 

Papa indica três palavras-chave para a família: com licença, obrigado e desculpa


PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 13 de Maio de 2015


Como porta de entrada às reflexões sobre a vida familiar, queria hoje falar-vos de três palavras, necessárias para se viver bem em família: «Com licença?», «obrigado» e «desculpa». Fazem parte da «boa educação», radicada no amor do bem e no respeito pelo outro. A família vive desta delicadeza. Ao dizer «Com licença?», estamos a pedir gentilmente mesmo aquilo a que julgamos ter direito: entrar na vida do consorte requer a delicadeza dum comportamento não invasor. É a capacidade de esperar que o outro nos abra a porta do seu coração. Quanto à palavra «obrigado», hoje caiu muito em desuso na sociedade, pensando que tudo nos é devido; a gentileza e a capacidade de agradecer são vistas como sinal de fraqueza, deixando-nos até suspeitosos e desconfiados. Mas uma pessoa que não sabe agradecer, esqueceu a linguagem de Deus. Sejamos intransigentes em educar para a gratidão: a dignidade da pessoa e a justiça social passam por aqui. Por último, «desculpa»: uma palavra difícil e todavia tão necessária. Quando falta, pequenas fendas alargam-se – mesmo sem querer – até se tornar fossos profundos. Na casa, onde não se pede desculpa, começa a faltar o ar. Na vida matrimonial, litiga-se tantas vezes, mas dou-vos um conselho: nunca termineis o dia sem fazer a paz; para isso, basta um pequeno gesto. 

A primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, a 13 de Maio de 1917


A primeira aparição de Nossa Senhora, a 13 de Maio de 1917

Depois de terem ocorrido as visões indefinidas de um anjo a Lúcia e companheiros (1915) e as aparições do anjo da paz, de Portugal e da Eucaristia à mesma Lúcia, de nove anos, e a seus primos, Francisco, de oito anos, e Jacinta, de seis, do lugar de Aljustrel, paróquia de Fátima, do concelho de Ourém e, ao tempo, diocese de Lisboa (1916), aproximava-se o novo ciclo de aparições, agora de Nossa Senhora, aos mesmos três pastorinhos.

1 – Antes da aparição

Num sábado, dia 5 de Maio de 1917, em momento de extrema gravidade da primeira guerra mundial, o Papa Bento XV pedia preces à Virgem Santíssima, principalmente às crianças, pela paz, e fixava, para o primeiro dia de Junho seguinte, a introdução da invocação “Rainha da Paz, rogai por nós”, na ladainha lauretana. Oito dias depois, domingo, dia 13, o Papa Bento XV, na Capela Sistina, junto à basílica de São Pedro, em Roma, às 8 horas da manhã, ordenava arcebispo titular de Sardi, Monsenhor Eugénio Pacelli (futuro Papa Pio XII). Pouco tempo depois, celebrava-se a chamada “missa das almas”, na igreja paroquial de Fátima. Os três pastorinhos estavam presentes: Lúcia, agora de 10 anos, e seus primos, de quase nove, e de sete anos, respectivamente. O pároco, Pe. Manuel Marques Ferreira, tinha pedido, na igreja, “para rezarem o terço pelos soldados”, um dos quais, Manuel, meio-irmão do Francisco e da Jacinta, tinha partido para Cabo Verde, no ano anterior, e, nos princípios de Maio de 1917, muitos outros para os campos de batalha, na França. Depois da missa, os pastorinhos foram para suas casas. Manuel Pedro Marto e sua esposa, Olímpia de Jesus, pais do Francisco e da Jacinta, já tinham saído, muito cedo, para o mercado da Batalha; António dos Santos e Maria Rosa, pais da Lúcia, terão ficado em casa, como era habitual, no resto da manhã e toda a tarde. Lúcia e seus companheiros foram pastorear os seus rebanhos. Seguiram pelo caminho da Charneca e chegaram ao sítio da Cova da Iria, onde havia uma pequena propriedade pertencente ao pai da Lúcia, “a dois quilómetros a noroeste da igreja paroquial de Fátima, junto à estrada que segue para a Batalha” (Pároco, 6.01.1918). Em diversas ocasiões, a Lúcia deu informações sobre aqueles momentos: “Depois de rezarmos o terço, como de costume, começámos a brincar, fazendo um muro à volta duma moita”; “como de costume, depois do meio-dia, as três crianças comeram as sua merendas e rezaram. Em seguida, começaram, por entretenimento, a fazer um pequeno muro de pedras soltas, à volta de um arbusto chamado ‘moita’, que a gente costumava utilizar para fazer vassouras, e, por isso, queriam resguardá-lo para que os animais não o roessem”. Na expressão popular de José Alves, do lugar da Moita Redonda, o Francisco “andava a fazer um cerradinho, e a Lúcia e a Jacinta chegavam-lhe a pedra” (28.09.1923). Continua Lúcia: “Isto porque, quando encontravam tais arbustos em boas condições, gostavam de os deixar crescer para deles fazerem depois vassouras, que entregavam à mãe, quando, à noite, regressavam aos seus lares. Então, para as crianças, era uma festa ver os pais contentes com os seus presentes e as suas carícias, pelo que cada uma primava em buscar tudo aquilo com que, mais e melhor, lhes podia dar gosto e alegria” (Lúcia, 8.07.1924, Memórias, IV, II, 1941, e Apelos, 1997).

terça-feira, 12 de maio de 2015

Homilética: Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano B: “Suba o nosso coração ao céu!”.


Hoje celebramos o mistério conclusivo da vida de Jesus: sua Ascensão ao Céu. É a sua entrada oficial na glória que lhe correspondia como ressuscitado, depois das humilhações do Calvário; é a volta ao Pai anunciada por Si no dia de Páscoa; “ Vou subir para Meu e vosso Pai, Meu e vosso Deus” (Jo 20,17). E aos discípulos de Emaús: “Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?”(Lc 24,26). “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou – se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte…” (Mc 16, 15 – 20).

O livro dos Atos dos Apóstolos narra que Jesus, depois da sua Ressurreição, apareceu aos discípulos durante quarenta dias e depois “elevou – se à vista deles” (At 1, 9). O significado deste último gesto de Cristo é duplo. Em primeiro lugar, “elevando – se”, Ele revela de modo inequívoco a sua divindade; volta para lá, de onde veio, isto é, para Deus, depois de ter cumprido a sua Missão na Terra. Além disso Cristo sobe ao Céu com a humanidade que assumiu e que ressuscitou dos mortos: aquela humanidade é a nossa, transfigurada, divinizada, que se tornou eterna. Portanto, a Ascensão revela a “altíssima vocação” (Gaudium et Spes, 22) de cada pessoa humana: ela está chamada à vida eterna no Reino de Deus, Reino de amor, de luz e de paz.

“Enquanto olhavam atentamente para o Céu à medida que Ele se afastava…” ( 1, 11). “Tal como os Apóstolos, ficamos meio tristes ao ver que Ele nos deixa. Na realidade, não é fácil acostumarmo-nos à ausência física de Jesus. Comove-me recordar que Jesus, num gesto magnífico de amor, foi-se embora e ficou; foi para o Céu e entrega-se a nós como alimento na Hóstia Santa (Eucaristia). Sentimos, no entanto, a falta da sua palavra humana, da sua forma de atuar, de olhar, de sorrir, de fazer o bem. Gostaríamos de voltar a vê-Lo de perto, quando se senta à beira do poço, cansado da dura caminhada (cf. Jo 4, 6), quando chora por Lázaro (Jo 11, 35), quando se recolhe em prolongada oração (Cf. Lc 6, 12), quando se compadece da multidão (Cf. Mt 15, 32; Mc 8, 2)”.

A vida de Jesus na terra não termina com a sua morte na Cruz, mas com a Ascensão aos céus. É o último mistério da vida do Senhor aqui na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema. A Ascensão não nos rouba Jesus, não o impede estar presente entre nós, eficaz. Assim como ao descer à terra não deixou o Pai, também não abandona os discípulos ao subir ao Céu. “Eu estarei convosco”!

E eles “estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava” ( At 1, 9 – 10). Estavam, portanto, fixando o céu, porque acompanhavam com o olhar Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, que era elevado ao Céu. Somos chamados, permanecendo na Terra, a fixar o Céu, a orientar a atenção, o pensamento e o coração para o Mistério inefável de Deus. Somos chamados a olhar na direção da realidade divina, para a qual o homem está orientado desde a criação. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida.

A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração a fim de procurarmos as coisas que são do alto. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada (cf. Jo 14,2).

O Senhor está já no Céu com o seu Corpo glorificado, com os sinais do seu Sacrifício redentor, com as marcas da Paixão que Tomé pôde contemplar e que clamam pela salvação de todos nós.

A Ascensão se nos apresenta, assim, não tanto como uma festa da partida de Jesus deste mundo quanto como a festa de sua permanência aqui na terra. Ele, com efeito, não deixou este nosso universo. “Não abandonou o céu quando de lá desceu até nós e nem se afastou de nós quando novamente subiu ao céu. Ele é exaltado acima dos céus: todavia, sofre aqui na terra todos os dissabores que nós, seus membros, suportamos. Disto deu testemunho gritando: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Santo Agostinho). Cristo está ainda presente e comprometido com este mundo com todo seu corpo que é a Igreja.

A esperança do Céu encherá de alegria o nosso peregrinar diário. Imitaremos os apóstolos que, segundo São Leão Magno, “tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em alegria. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos.”

O pensamento do Céu ajudar – nos- á a superar os momentos difíceis. É muito agradável a Deus que fomentemos esta esperança teologal, que está unida à e ao amor, e que em muitas ocasiões nos será especialmente necessária. “À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (Caminho, 139).

A meditação sobre o Céu deve também estimular-nos a ser mais generosos na nossa luta diária “porque a esperança do prêmio conforta a alma para que empreenda boas obras” (São Cirilo de Jerusalém). O pensamento desse encontro definitivo de amor a que fomos chamados ajudar-nos-á a estar mais vigilantes nas nossas tarefas grandes e nas pequenas, realizando-as de um modo acabado, como se fossem as últimas antes de irmos para o Pai.

O pensamento do Céu, ao celebrarmos a festa da Ascensão, deve levar-nos a uma luta decidida e alegre por tirar os obstáculos que se interpõem entre nós e Cristo, deve estimular- nos a procurar sobretudo os bens que perduram e a não desejar a todo custo as consolações que acabam.

Jesus parte, mas permanece muito perto de cada um. Nós O encontramos na Eucaristia, no Sacrário de nossas Igrejas.

Visitemos mais Jesus no Sacrário, à nossa espera! Não deixemos de procurá-Lo com frequência, ainda que na maioria das vezes só possamos fazê-lo com o coração, para dizer-Lhe que nos ajude na tarefa apostólica, que conte conosco para estender a Sua doutrina por todos os ambientes.

Nessa semana, que precede a Solenidade de Pentecostes, fiquemos unidos em oração, como disse Jesus: “Permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,48). Assim a vida da Igreja não começa com a ação, mas com a oração, junto com Maria, a Mãe de Jesus.

A festa de hoje nos fortalece a esperança pelo destino que nos aguarda, mas também nos lembra que a nossa missão hoje é continuar o projeto de Jesus, Não fiquemos de braços cruzados, parados, olhando para o Céu! É hora de olhar ao nosso redor e começar a Missão!

Hoje é um dia para desejar a vida eterna. Precisamos ter a santa ambição de alcançarmos a eternidade feliz. Que aumente em nós o desejo do céu! Tal desejo nos ajudará a trabalhar muito pela glória de Deus aqui nesta terra e, consequentemente, a construir, desde o posto que ocupamos nesta sociedade, a cidade dos homens que é também nossa. Apostolado! Um cristão sem zelo apostólico é um cristão estéril. Assim como não se pode entender que um peixe não possa nadar, a não ser que esteja morto, assim também não se pode entender que um cristão não seja apostólico, proselitista (no bom sentido da palavra), a não ser que esteja morto. Não podemos perder a audácia, o desejo de ganhar a todos para Cristo. No mesmo sermão citado anteriormente, São Leão Magno dizia que “a fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, não pode temer diante das cadeias, da prisão, do desterro, da fome, do fogo, das feras nem das torturas dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por essa fé até o derramamento do sangue. Esta fé afugenta os demônios, afasta as enfermidades, ressuscita os mortos”.

Campanha SOS Nepal arrecada recursos para ajudar vítimas do terromoto


Nesta terça-feira, 12,  mais um terremoto ocorreu no Nepal. Desde o início do mês de maio, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira arrecadam recursos para auxiliar mais de 8 milhões de pessoas atingidas pela tragédia que tem devastado o país. Trata-se da Campanha SOS Nepal.

A Campanha está em sintonia com os apelos do papa Francisco, que dirigiu mensagem de alento às vítimas, ainda em 26 de abril, um dia após o primeiro terremoto. “Desejo confirmar a minha proximidade com as populações atingidas pelo forte terremoto no Nepal e que atingiu também os países vizinhos. Rezo pelas vítimas, pelos feridos e por todos os que sofrem devido a esta calamidade. Que tenham o apoio da solidariedade fraterna”, disse o papa.

Os recursos arrecadados serão destinados às ações de urgência,  como a disponibilização de água potável, alimentos, lonas e tendas, atendimento às necessidades especiais das crianças, mulheres e pessoas com deficiências, com apoio posterior na reconstrução das condições de vida da população do Nepal. 

Carta Encíclica Quadragesimo Anno do Papa Pio XI


CARTA ENCÍCLICA
QUADRAGESIMO ANNO
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS,
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS,
 BISPOS E DEMAIS ORDINÁRIOS
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
BEM COMO A TODOS OS FIÉIS DO ORBE CATÓLICO
SOBRE A RESTAURAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO
DA ORDEM SOCIAL EM CONFORMIDADE COM
A LEI EVANGÉLICA NO XL ANIVERSÁRIO
DA ENCÍCLICA DE LEÃO XIII «RERUM NOVARUM»

Veneráveis Irmãos e Amados
Filhos Saúde e Bênção Apostólica

No 40º aniversário da magistral encíclica de Leão XIII « Rerum novarum », todo o orbe católico, movido dos sentimentos da mais viva gratidão, propõe-se comemorá-la com a devida solenidade.

A Encíclica « Rerum novarum ».

Já antes, em certo modo, haviam preparado o caminho àquele documento de solicitude pastoral, as encíclicas do mesmo Nosso Predecessor sobre o princípio da sociedade humana que é a família e o santo sacramento do Matrimónio, (1) sobre a origem da autoridade civil, (2) e a devida ordem das suas relações com a Igreja, (3) sobre os principais deveres dos fieis como cidadãos, (4) contra os princípios do socialismo, (5) contra as falsas teorias da liberdade humana, (6) e outras do mesmo género que plenamente revelaram o modo de pensar de Leão XIII; contudo a encíclica « Rerum novarum » distingue-se das demais por ter dado a todo o género humano regras seguríssimas para a boa solução do espinhoso problema do consórcio humano, a chamada « Questão social », precisamente quando isso mais oportuno e necessário era.

Sua ocasião

Com efeito ao fim do século XIX, em consequência de um novo género de economia, que se ia formando, e dos grandes progressos da indústria em muitas nações, aparecia a sociedade cada vez mais dividida em duas classes : das quais uma, pequena em número, gozava de quase todas as comodidades que as invenções modernas fornecem em abundância; ao passo que a outra, composta de uma multidão imensa de operários, a gemer na mais calamitosa miséria, debalde se esforçava por sair da penúria, em que se debatia.

Com tal estado de coisas facilmente se resignavam os que, nadando em riquezas, o supunham efeito inevitável das leis económicas, e por isso queriam que se deixasse à caridade todo o cuidado de socorrer os miseráveis; como se a caridade houvesse de capear as violações da justiça, não só toleradas, mas por vezes até impostas pelos legisladores. Ao contrário só a duras penas o toleravam os operários, vítimas da fortuna adversa, e tentavam sacudir o jugo duríssimo: uns, levados na fúria de maus conselhos, aspiravam a tudo subverter, os outros, a quem a educação cristã demovia d'esses maus intentos, estavam contudo firmemente convencidos de que nesta matéria era necessária uma reforma urgente e radical.

O mesmo pensavam todos os católicos, sacerdotes ou leigos, que, impelidos por uma caridade admirável, já de há muito trabalhavam em aliviar a miséria imerecida dos operários, não podendo de modo nenhum persuadir-se de que uma diferença tão grande e tão iníqua na distribuição dos bens temporais correspondesse verdadeiramente aos desígnios sapientíssimos do Criador.

Procuravam eles com toda a lealdade um remédio eficaz a esta lamentável desordem da sociedade e uma firme defesa contra os perigos ainda maiores que a ameaçavam; mas tal é a fraqueza mesmo das melhores inteligências humanas, que ora se viam repelidos como inovadores perigosos, ora obstaculados por companheiros de acção mas de ideais diversos: e assim hesitantes entre várias opiniões, nem sabiam para onde voltar-se.

No meio de tão grande luta de espíritos, quando de uma parte e doutra ferviam disputas nem sempre pacíficas, todos os olhos se volviam, como tantas outras vezes, para a cátedra de Pedro, para este depósito sagrado de toda a verdade, donde se difundem pelo mundo inteiro palavras de salvação; e todos, sociólogos, patrões, operários, acorrendo com frequência desusada aos pés do Vigário de Cristo na terra, suplicavam a uma voz que se lhes indicasse enfim o caminho seguro.

Prudentíssimo como era o Pontífice, tudo ponderou longamente diante de Deus, chamou a conselho homens de reconhecida ciência, pesou bem as razões por uma parte e outra, e finalmente movido « pela consciência do múnus Apostólico », (7) para que não parecesse, que descurava os seus deveres calando por mais tempo, (8) decidiu-se a falar a toda a Igreja de Cristo, antes a todo o género humano, no exercício do magistério divino a ele confiado.

Ressoou por tanto no dia 15 de maio de 1891 aquela voz há tanto suspirada, ressoou robusta e clara, sem que a intimidassem as dificuldades, nem a enfraquecesse a velhice, e ensinou à família humana, a empreender novos caminhos no terreno social. 

Por que é tão importante fazer silêncio na missa?


Nem todo mundo acompanha a missa com atenção. Às vezes, o padre é obrigado a interromper a liturgia para reprovar as conversas entre os fiéis. Esta chamada de atenção não é acidental, porque o silêncio durante a missa tem uma importância acima de tudo teológica. Descubramos o porquê.

Silêncio sagrado

"O silêncio na igreja durante o culto sagrado – explica à Aleteia o liturgista Pe. Enrico Finotti – é uma questão primordial, porque dele depende, em boa medida, a eficácia espiritual da ação litúrgica."

"No entanto, não considero oportuno intervir nas situações concretas, pois se supõe que cada sacerdote vai se comportar de maneira adequada em circunstâncias às vezes difíceis", acrescenta.

À escuta de Deus

Em sentido geral, explica o sacerdote, podem ser indicadas algumas pautas. Primeiramente, "o clima de silêncio interior e exterior é próprio de cada celebração litúrgica. De fato, trata-se de preparar a alma para escutar Deus, que fala ao seu povo; de elevar-lhe louvores com alegria e receber da sua misericórdia as maravilhas da graça, que são os sacramentos".

A majestade do Pai

Em segundo lugar, observa o Pe. Enrico, "Deus não pode jamais ser reduzido ao nosso nível. Ele permanece sempre permeado pelo fulgor da sua transcendência. Ainda que, com a Encarnação, o Filho unigênito tenha vindo habitar entre nós e tenha permanecido conosco como amigos, Ele não desviou o olhar da majestade divina do Pai, a quem demonstra uma absoluta obediência adoradora".
 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Carta Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII


CARTA ENCÍCLICA
«RERUM NOVARUM»
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS

INTRODUÇÃO

1. A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito.

Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta pa ra mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação preocupa e põe ao mesmo tempo em exercício o génio dos doutos, a prudência dos sábios, as deliberações das reuniões populares, a perspicácia dos legisladores e os conselhos dos governantes, e não há, presentemente, outra causa que impressione com tanta veemência o espírito humano.

É por isto que, Veneráveis Irmãos, o que em outras ocasiões temos feito, para bem da Igreja e da salvação comum dos homens, em Nossas Encíclicas sobre a soberania política, a liberdade humana, a constituição cristã dos Estados (1) e outros assuntos análogos, refutando, segundo Nos pareceu oportuno, as opiniões erróneas e falazes, o julgamos dever repetir hoje e pelos mesmos motivos, falando-vos da Condição dos Operários. Já temos tocado esta matéria muitas vezes, quando se Nos tem proporcionado o ensejo; mas a consciência do Nosso cargo Apostólico impõe-Nos como um dever tratá-la nesta Encíclica mais explicitamente e com maior desenvolvimento, a fim de pôr em evidência os princípios duma solução, conforme à justiça e à equidade. O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. E difícil, efectivamente, precisar com exactidão os direitos e os deveres que devem ao mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Por outro lado, o problema não é sem perigos, porque não poucas vezes homens turbulentos e astuciosos procuram desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no para excitar as multidões e fomentar desordens.

Causas do conflito

2. Em todo o caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles uma protecção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o monopólio do trabalho e dos papéis de crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários.

A solução socialista

3. Os Socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para - os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e esta igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social.

A propriedade particular

4. De facto, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho empreendido por quem exerce uma arte lucrativa, o fim imediato visado pelo trabalhador, é conquistar um bem que possuirá como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe à disposição de outrem as suas forças e a sua indústria, não é, evidentemente, por outro motivo senão para conseguir com que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito e rigoroso para usar dele como entender. Portanto, se, reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se, para assegurar a sua conservação, as emprega, por exemplo, num campo, torna-se evidente que esse campo não é outra coisa senão o salário transformado: o terreno assim adquirido será propriedade do artista com o mesmo título que a remuneração do seu trabalho. Mas, quem não vê que é precisamente nisso que consiste o direito da propriedade mobiliária e imobiliária? Assim, esta conversão da propriedade particular em propriedade colectiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos operários mais precária, retirando-lhes a livre disposição do seu salário e roubando-lhes, por isso mesmo, toda a esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu património e melhorarem a sua situação.

5. Mas, e isto parece ainda mais grave, o remédio proposto está em oposição flagrante com a justiça, por-que a propriedade particular e pessoal é, para o homem, de direito natural. Há, efectivamente, sob este ponto de vista, uma grandíssima diferença entre o homem e os animais destituídos de razão. Estes não se governam a si mesmos; são dirigidos e governados pela natureza, mediante um duplo instinto, que, por um lado, conserva a sua actividade sempre viva e lhes desenvolve as forças; por outro, provoca e circunscreve ao mesmo tempo cada um dos seus movimentos. O primeiro instinto leva-os à conservação e à defesa da sua própria vida; o segundo, à propagação da espécie; e este duplo resultado obtêm-no facilmente pelo uso das coisas presentes e postas ao seu alcance. Por outro lado, seriam incapazes de transpor esses limites, porque apenas são movidos pelos sentidos e por cada objecto particular que os sentidos percebem. Muito diferente é a natureza humana. Primeiramente, no homem reside, em sua perfeição, toda a virtude da natureza sensitiva, e desde logo lhe pertence, não menos que a esta, gozar dos objectos físicos e corpóreos. Mas a vida sensitiva mesmo que possuída em toda a sua plenitude, não só não abraça toda a natureza humana, mas é-lhe muito inferior e própria para lhe obedecer e ser-lhe sujeita. O que em nós se avantaja, o que nos faz homens, nos distingue essencialmente do animal, é a razão ou a inteligência, e em virtude desta prerrogativa deve reconhecer-se ao homem não só a faculdade geral de usar das coisas exteriores, mas ainda o direito estável e perpétuo de as possuir, tanto as que se consomem pelo uso, como as que permanecem depois de nos terem servido.