A primeira
aparição de Nossa Senhora, a 13 de Maio de 1917
Depois de terem
ocorrido as visões indefinidas de um anjo a Lúcia e companheiros (1915) e as
aparições do anjo da paz, de Portugal e da Eucaristia à mesma Lúcia, de nove
anos, e a seus primos, Francisco, de oito anos, e Jacinta, de seis, do lugar de
Aljustrel, paróquia de Fátima, do concelho de Ourém e, ao tempo, diocese de
Lisboa (1916), aproximava-se o novo ciclo de aparições, agora de Nossa Senhora,
aos mesmos três pastorinhos.
1 –
Antes da aparição
Num sábado, dia
5 de Maio de 1917, em momento de extrema gravidade da primeira guerra mundial,
o Papa Bento XV pedia preces à Virgem Santíssima, principalmente às crianças,
pela paz, e fixava, para o primeiro dia de Junho seguinte, a introdução da invocação
“Rainha da Paz, rogai por nós”, na ladainha lauretana. Oito dias depois,
domingo, dia 13, o Papa Bento XV, na Capela Sistina, junto à basílica de São
Pedro, em Roma, às 8 horas da manhã, ordenava arcebispo titular de Sardi,
Monsenhor Eugénio Pacelli (futuro Papa Pio XII). Pouco tempo depois,
celebrava-se a chamada “missa das almas”, na igreja paroquial de Fátima. Os
três pastorinhos estavam presentes: Lúcia, agora de 10 anos, e seus primos, de
quase nove, e de sete anos, respectivamente. O pároco, Pe. Manuel Marques
Ferreira, tinha pedido, na igreja, “para rezarem o terço pelos soldados”, um
dos quais, Manuel, meio-irmão do Francisco e da Jacinta, tinha partido para
Cabo Verde, no ano anterior, e, nos princípios de Maio de 1917, muitos outros
para os campos de batalha, na França. Depois da missa, os pastorinhos foram
para suas casas. Manuel Pedro Marto e sua esposa, Olímpia de Jesus, pais do
Francisco e da Jacinta, já tinham saído, muito cedo, para o mercado da Batalha;
António dos Santos e Maria Rosa, pais da Lúcia, terão ficado em casa, como era
habitual, no resto da manhã e toda a tarde. Lúcia e seus companheiros foram
pastorear os seus rebanhos. Seguiram pelo caminho da Charneca e chegaram ao
sítio da Cova da Iria, onde havia uma pequena propriedade pertencente ao pai da
Lúcia, “a dois quilómetros a noroeste da igreja paroquial de Fátima, junto à
estrada que segue para a Batalha” (Pároco, 6.01.1918). Em diversas ocasiões, a
Lúcia deu informações sobre aqueles momentos: “Depois de rezarmos o terço, como
de costume, começámos a brincar, fazendo um muro à volta duma moita”; “como de
costume, depois do meio-dia, as três crianças comeram as sua merendas e
rezaram. Em seguida, começaram, por entretenimento, a fazer um pequeno muro de
pedras soltas, à volta de um arbusto chamado ‘moita’, que a gente costumava
utilizar para fazer vassouras, e, por isso, queriam resguardá-lo para que os
animais não o roessem”. Na expressão popular de José Alves, do lugar da Moita
Redonda, o Francisco “andava a fazer um cerradinho, e a Lúcia e a Jacinta
chegavam-lhe a pedra” (28.09.1923). Continua Lúcia: “Isto porque, quando
encontravam tais arbustos em boas condições, gostavam de os deixar crescer para
deles fazerem depois vassouras, que entregavam à mãe, quando, à noite, regressavam
aos seus lares. Então, para as crianças, era uma festa ver os pais contentes
com os seus presentes e as suas carícias, pelo que cada uma primava em buscar
tudo aquilo com que, mais e melhor, lhes podia dar gosto e alegria” (Lúcia,
8.07.1924, Memórias, IV, II, 1941, e Apelos, 1997).
No fim da sua vida (2005), a Irmã Lúcia fez ainda algumas considerações
espirituais, publicadas postumamente: “Entretêm-se, brincando, querendo
construir um pequeno muro à volta de uma moita, querendo resguardá-la, não fossem
os animais roer-lhe as pontas, que se elevavam viçosas para o alto, como se
fosse apontando-nos o Céu, onde Deus se encontrava e a Mãe do Céu que velava
por nós. […]. Recordo o muro que andávamos a construir, como se fora o símbolo
da Basílica, que se viria a construir nesse mesmo lugar, para glória de Deus,
de Nossa Senhora, e lugar de repouso, para os restos mortais dos pobres
pastorinhos. Como Deus é grande, que, do nada, faz tudo!” (Como vejo a
mensagem, 2006).
2 – A
aparição
Aproximava-se a
hora do grande acontecimento: “do meio-dia para a uma hora” (Joaquim Tavares,
21.10.1917), “cerca de uma hora da tarde, hora solar” (Pároco, 6.01.1918),
“meio-dia astronómico” (Formigão, 10.06.1921). Conta Lúcia: “Vimos um relâmpago
para o lado do nascente, e, receando que viesse trovoada, embora estivesse bom
tempo, eu disse ao Francisco que era melhor irmos para casa, recolher o gado”
(Lúcia, 8.07.1924; cf. c. 27.05.1917; 19.10.1917; 1.08.1918; Memórias, IV, II,
Nov.-Dez. 1941).
“Começámos a descer a encosta, tocando as ovelhas, em direcção à estrada […].
Quando chegámos ao meio da fazenda, deu outro relâmpago, e, dois passos
adiante, vimos em cima duma carrasqueira, que teria um metro de altura,
aproximadamente, uma Senhora” (Lúcia, 8.07.1924).
As primeiras declarações da Lúcia, recolhidas pelo pároco, cerca de 15 dias
depois de 13 de Maio, foram estas: “Viram uma mulher, em cima duma
carrasqueira, vestida de branco, nos pés meias brancas, saia branca dourada,
casaco branco, manto branco, que trazia pela cabeça; o manto não era dourado e
a saia era toda dourada, a atravessar; trazia um cordão de ouro e umas
arrecadas muito pequeninas; tinha as mãos erguidas e, quando falava, alargava
os braços e mãos abertas. Essa mulher disse que não tivessem medo, que não lhes
fazia mal.
Perguntou a Lúcia:
- Que lugar é o de Vossemecê?
Ela disse:
- O meu lugar é o céu.
- Para que é que Vossemecê cá vem ao mundo?
- Venho cá para te dizer que venhas cá, todos os meses, até fazer seis
meses, e, no fim de seis meses, te direi o que quero.
- Vossemecê sabe-me dizer se a guerra ainda dura muito tempo ou se acaba
breve?
- Não te posso dizer ainda, enquanto te não disser também o que quero.
Perguntei-lhe se ia para o Céu, e ela disse-me:
- Tu vais.
- E minha prima?
- Também vai.
- E meu primo?
- Esse ainda há de rezar as continhas dele” (c. 27.05.1917).
A reconstituição de todo o diálogo foi-se fazendo, ao longo do tempo. No seu
primeiro escrito autógrafo, em Janeiro de 1922, Lúcia acrescentou:
“Perguntei-lhe pela Maria, do José das Neves, e ela me disse: está no
céu. Perguntei-lhe pela Amélia, e disse-me que estava no purgatório. Se me
disse mais alguma coisa, neste mês, não me lembro E, nisto, desapareceu,
subindo tão alto que chegou a ponto de não a vermos mais” (Lúcia, 5.01.1922;
cf. 8.07.1924).
Na segunda Memória (1937), juntou: “As palavras que a Santíssima Virgem nos
disse, em este dia, e que combinámos nunca revelar, foram: Depois de nos haver
dito que íamos para o Céu, perguntou:
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser
enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de
súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos – foi a nossa resposta.
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto
(Memórias, II, II).
Na quarta Memória (1941), em nova descrição da primeira aparição, acrescentou
mais um pormenor: “Depois, voltarei ainda aqui uma sétima vez”. E introduziu,
pela primeira vez, mais um desenvolvimento, no episódio das duas jovens:
“Lembrei me então de perguntar por duas raparigas que tinham morrido, há pouco.
Eram minhas amigas e estavam em minha casa, a aprender a tecedeiras, com minha
irmã mais velha [Maria dos Anjos]:
– A Maria das Neves já está no Céu?
– Sim, está.
Parece me que devia ter uns 16 anos.
– E a Amélia?
– Estará no purgatório até ao fim do mundo”.
“Foi ao pronunciar as últimas palavras (a graça de Deus, etc.) que abriu,
pela primeira vez, as mãos, comunicando nos uma luz tão intensa, como que
reflexo que delas expedia, que, penetrando nos no peito e no mais íntimo da
alma, fazendo nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente
que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo, também
comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: ‘Ó Santíssima Trindade,
eu vos adoro; meu Deus, meu Deus, eu vos amo, no Santíssimo Sacramento’.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou: ‘Rezem o terço,
todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra’. Em
seguida, começou se a elevar serenamente, subindo em direcção ao nascente, até
desaparecer na imensidade da distância. A luz que a circundava ia como que
abrindo um caminho, no cerrado dos astros, motivo por que, alguma vez, dissemos
que vimos abrir se o Céu […]. O medo que sentimos não foi propriamente de Nossa
Senhora, mas sim da trovoada que supúnhamos lá vir; e dela, da trovoada, é que
queríamos fugir. As aparições de Nossa Senhora não infundem medo ou temor, mas
sim surpresa. Quando me perguntavam se tinha sentido medo e dizia que sim,
referia me ao medo que tinha tido dos relâmpagos e da trovoada que supunha vir
próxima; e disto foi do que quisemos fugir, pois estávamos habituados a ver
relâmpagos, só quando trovejava. Os relâmpagos também não eram propriamente
relâmpagos, mas sim o reflexo duma luz que se aproximava. Por vermos esta luz,
é que dizíamos, às vezes, que víamos vir Nossa Senhora; mas, propriamente,
Nossa Senhora, só a distinguíamos, nessa luz, quando já estava sobre a
azinheira. O não sabermos explicar e querer evitar perguntas foi que deu lugar
a que, umas vezes, disséssemos que a víamos vir, outras, que não. Quando
dizíamos que sim, que a víamos vir, referíamo nos a que víamos aproximar essa
luz que, afinal, era ela. E quando dizíamos que a não víamos vir, referíamos a
que, propriamente, Nossa Senhora, só a víamos, quando já estava sobre a
azinheira” (Memórias, IV, II).
A partir dos primeiros documentos e das Memórias, que alguns autores puderam
consultar, foram surgindo mais alguns pormenores sobre a primeira aparição. A
Irmã Lúcia confirmou ao padre holandês Hubert Jongen (1946) que, já desde a
primeira aparição, sabia que era Nossa Senhora, “embora só na última Aparição,
[ela] tenha afirmado isso expressamente”; que “a alma dessa rapariga [Amélia]
ficaria no Purgatório até ao fim do mundo”; e que o facto de muitos autores
omitirem esse pormenor foi devido a terem-lhe feito notar que “era penoso para
a família da rapariga” (1970).
Cinquenta anos, mais tarde (1997), a Irmã Lúcia faz ainda uma reflexão
espiritual: “A resposta dada por Nossa Senhora certifica-nos da verdade da
existência do Purgatório e é, ao mesmo tempo, mais uma prova da necessidade que
temos de orar […]. Talvez nos pareça muito, mas a misericórdia de Deus é sempre
grande. Pelos nossos pecados, quanto o temos ofendido gravemente e, com isso,
merecido o Inferno! Apesar disso, Ele perdoa-nos e concede tempo para pagarmos
por eles e, mediante uma reparação e purificação, sermos salvos. Mais ainda:
aceita as orações e sacrifícios que outros lhe ofereçam, por aqueles que se
encontrem nesse lugar de expiação” (Apelos, 2000).
Ao Pe. José Pedro da Silva (1947) explicou que “ouvia falar [Nossa Senhora],
ainda que uma luz interior [lhe] fazia compreender o sentido das suas palavras”;
que não era verdade que, na primeira aparição, “o Francisco só viu Nossa
Senhora, depois de rezar algumas Ave-Marias”, porque, durante a aparição, “não
rezaram Ave-Marias”, e que também não era verdade que o Francisco, antes de ver
Nossa Senhora, lhe dissera “que atirasse uma pedra” (1.08.1947).
A um dado
momento, ocorreu um episódio curioso que ficou na memória popular: as ovelhas
no campo dos chícharos. Tanto a Jacinta e o Francisco, logo em 1917, referiram
o facto. A Jacinta, em Outubro, disse: “o rebanho foi para os chícharos e a
dona deles [Maria de Jesus] gritava de longe: ‘Volta-me essas ovelhas!’. Mas a
Senhora disse (a pequena tentou tornar a voz mais doce): ‘Não voltem as ovelhas
que elas não comem nada’ […]. Depois, apareceu o dono dos chícharos [José
Matias], que a mulher foi chamar; vinha ralhar, porque é muito mau, mas não
ralhou nada, porque viu que os chícharos não estavam comidos” (18.10.1917).
Também o Francisco: “As ovelhas fugiam para os chícharos e milho, mas a Senhora
disse que não se importassem, que as ovelhas não tombavam nem comiam; depois da
aparição, comiam. A Lúcia diz que a Senhora não disse nada; só se foi à
Jacinta, porque ela lhe tinha já aparecido” (19.10.1917). “Quando a Senhora
falava, as ovelhas, embora andassem dentro do milho e chícharos, não causavam
prejuízo, não o tombavam, nem o comiam” (Padre Lacerda, 29.11.1917).
Lúcia no interrogatório oficial, perante a comissão canónica diocesana,
afirmou: “Também me lembro que, depois de desaparecer a Senhora, veio um homem
[Jacinta diz: uma mulher] dizer que as ovelhas tinham ido para os chícharos, e
que já lhes tinha atirado com pedras, e que os chícharos estavam comidos; foi
por lá ver, para avisar o dono, e, depois, disse ao dono, José Matias, que as
ovelhas tinham ido para os chícharos, mas que eles não estavam comidos” (Lúcia,
8.07.1924).
Também Olímpia de Jesus, mãe dos mais pequenos, perante a mesma comissão,
dissera, cerca de um ano antes: “Na ocasião em que [o Francisco] já a via,
notou que as ovelhas começaram a ir para um trigal que havia na parte mais
baixa da Cova da Iria, e disse que as ia voltar. Estava para se pôr a caminho,
quando a Lúcia lhe disse: ‘Ó Francisco, não vás, que Nossa Senhora diz que o
gado não come o trigo’. ‘Então, as ovelhas já vão pelo trigo dentro e não o
comem?!’ E voltou para trás. A mãe perguntou-lhe: ‘Depois de Nossa Senhora
sair, as ovelhas comiam o trigo?’ Respondeu ele: ‘Ah, se as deixassem,
comiam-no todo’ ” (28.09.1923).
3 –
Depois da aparição, na casa da família Marto
Depois da maravilhosa
aparição, as crianças reuniram os seus rebanhos e regressaram a casa. Diz
Lúcia: “combinei com os meus primos não dizer nada a ninguém” (Lúcia,
8.07.1924).
Seis anos depois das aparições, Olímpia de Jesus ainda se recordava bem da
euforia com que a sua filha mais nova a recebeu, à porta da sua casa: “A
Jacinta, muito alegremente, abraçou-se a ela, o que não costumava fazer, e
disse: ‘Ó minha mãe, vi hoje Nossa Senhora na Cova da Iria’. A Mãe retorquiu:
‘Não acredito! És uma boa santa para veres Nossa Senhora!’. A pequena
mostrou-se um pouco triste e insistiu: ‘Acredite, minha mãe’. Tinha então sete
anos. Isto passou-se ainda na rua, à porta de casa. Entraram, e logo ela disse:
‘Minha mãe, vou rezar o terço com o Francisco, que foi o que Nossa Senhora mandou
que nós fizéssemos’. A mãe deixou-os ir rezar. Depois de terem rezado, a
criança, voltando-se para a mãe, disse: ‘Minha mãe, tem que rezar o terço,
todos os dias!’. ‘Não é esse o costume’, observou a mãe. ‘Então, vou agora
rezar o terço?!’. ‘Reze, minha mãe, reze!’, tornou a filha com intimativa […].
O Francisco disse que via a Senhora a mexer os beiços, abrir as mãos e
fechá-las, mas não ouvia as suas palavras. Disse a Jacinta que a Senhora só
falava com a Lúcia. A Lúcia disse que via uma mulher muito bonita, com um
resplendor ao cabo da cabeça, que cegava. No princípio da aparição, quando a
Lúcia dizia que via Nossa Senhora, o Francisco, não vendo nada, aconselhou a
prima a atirar-lhe com uma pedra, e a Lúcia disse à Senhora: ‘Então vossemecê é
Nossa Senhora do Céu, e o Francisco não a vê?’. Já a Senhora lhe tinha dito que
era do Céu. Nossa Senhora disse à Lúcia: ‘Diz-lhe que reze o terço e já me
verá’. O pequeno contou que, então, meteu a mão no bolso do colete, onde tinha
as contas da missa, e começou a rezar e, quando tinha seis ou sete Ave-Marias
rezadas, já via a Senhora e não pôde rezar mais” (Olímpia de Jesus,
28.09.1923).
No mesmo dia, o marido, Manuel Pedro Marto respondeu: “Encontravam-se um
cunhado [António da Silva] e um sobrinho [António da Silva] e todos ou quase
todos os filhos, incluindo o Francisco e a Jacinta, que já tinham contado à mãe
o que se havia passado. Estavam a cear, quando a mãe perguntou novamente à
Jacinta o que tinha presenciado […]. O Francisco, interrogado, igualmente, mais
uma vez, pela mãe, disse que também tinha visto a Senhora, que, a princípio, a
não vira e que a Senhora tinha dito que havia de aparecer, seis meses a seguir”
(Manuel Marto, 28.09.1923).
Maria Rosa, mãe da Lúcia, declarou: “Em 1917, no dia 13 de Maio, a Lúcia não
disse nada em casa do que se tinha passado na Cova da Iria. No dia seguinte, a
mãe ouviu dizer a umas vizinhas que tinham perguntado à filha o que é que ela
tinha visto. Julgou que se referiam ao ano anterior e ficou admirada de falarem
em coisas tão antigas. Elas disseram que tinha sido na véspera, e que o
Francisco e a Jacinta tinham dito tudo, em casa […]. Continuou a não ligar
importância ao que se contava. As duas filhas, Maria dos Anjos e Carolina,
interrogaram a Lúcia sobre os acontecimentos da véspera e foram para casa e
disseram que realmente a irmã tinha visto alguma coisa. Por fim, a mãe
perguntou-lhe também o que vira. Ela disse que via uma mulherzinha muito
bonita, que o vestido que trazia era todo branco; que à pergunta – donde era –
apontara para o Céu, dizendo que era de lá, e que tendo-lhe perguntado se não
iam para o Céu o Francisco e a Jacinta e ela Lúcia, a aparição respondeu que
sim. A mãe, ao ouvir estas palavras, exclamou: ‘Que felizes que vocês são!’
Disse a Senhora que queria que fossem lá, seis meses a fio, e que, por fim,
diria o que queria” (Maria Rosa, 28.09.1917).
Manuel António de Paula, de Boleiros referiu que no dia 13 de Setembro de 1917,
tinha ido a casa da Lúcia e tinha perguntado a Maria Rosa, que respondeu que a
filha, depois da primeira aparição, foi para casa à noite e que lhe disse ter
visto Nossa Senhora na Cova da Iria. Não quis acreditar, porque a filha não era
o que ela desejava que fosse, com méritos para ver Nossa Senhora. Quis
bater-lhe. A Lúcia com medo dela, começou a dizer, por fora, o que se passava e
não queria contar à mãe mais nada. Como a mãe soubesse, disse-lhe: ‘Então tu
andas a dizer por fora, que Nossa Senhora te aparece e a mim não me dizes
nada?’. A pequena respondeu: ‘Então, a minha mãe queria-me bater!’” (Manuel
Paula, 28.09.1923).
Nos Apelos da Mensagem de Fátima (1997), a Irmã Lúcia faz um comentário longo
sobre o pedido da oração diária do terço, feito por Nossa Senhora, no dia 13 de
Maio de 1917, e aproveita para fazer uma descrição completa da primeira
aparição. “Nossa Senhora termina a sua Mensagem, desse dia 13 de Maio de 1917,
dizendo: ‘Rezem o terço, todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o
fim da guerra’” (Irmã Lúcia, Apelos, 1997).
No último escrito, Como vejo a Mensagem, já referido, a Irmã Lúcia faz ainda
mais uma consideração sobre o significado da escolha do dia 13: “Por que terá
Deus escolhido o dia 13? Não sei, mas, pela vida além, nas minhas meditações,
tenho pensado muito neste pormenor e perguntado a [mim] mesma: que significado
poderá ter a escolha do dia 13? Sem saber como responder-me, um dia pensei: Não
será que significa o mistério da Santíssima Trindade - ‘Um só Deus, em três
Pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo’? E fiquei meditando nesta ideia
[…]: Será este o sentido que Deus lhe quis dar? Não sei, mas para mim, foi como
que o reflexo de uma nova luz”. (Lúcia, Como vejo a Mensagem, 2006).
Padre Luciano Cristino
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Fátima 2017
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