segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A unidade é uma graça que só o Espírito Santo nos pode dar, afirma Papa


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)

CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS COM SACERDOTES, CONSAGRADOS E SEMINARISTAS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Catedral de Havana
Domingo, 20 de Setembro de 2015


Reunimo-nos nesta histórica Catedral de Havana para cantar, com os Salmos, a fidelidade de Deus para com o seu povo, dar graças pela sua presença, pela sua infinita misericórdia. Fidelidade e misericórdia, de que se faz memória não só nas paredes desta casa, mas também nalguns aqui presentes com «cabelos brancos», uma memória viva e actualizada de que «a misericórdia do Senhor é infinita e a sua fidelidade dura para sempre». Irmãos, juntos, demos graças!

Demos graças pela presença do Espírito com a riqueza dos seus diferentes carismas no rosto de tantos missionários que vieram para estas terras, tornando-se cubanos entre os cubanos, sinal de que é eterna a misericórdia do Senhor.

O Evangelho apresenta-nos Jesus em diálogo com seu Pai, coloca-nos no centro da intimidade entre o Pai e o Filho feita oração. Quando se aproximava a sua hora, Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos, pelos que estavam com Ele e pelos que haviam de vir (cf. Jo 17, 20). Faz-nos bem pensar que, naquela hora crucial, Jesus coloca na sua oração a vida dos seus, a nossa vida. E pede a seu Pai que os mantenha na unidade e na alegria. Jesus conhecia bem o coração dos seus, conhece bem o nosso coração. Por isso, reza, pede ao Pai que não prevaleça neles uma consciência que tenda a isolar-se, a refugiar-se nas próprias certezas, seguranças, nos próprios espaços; que tenda a desinteressar-se da vida dos outros, instalando-se em pequenos «grémios domésticos» que quebram o rosto multiforme da Igreja. São situações que desembocam numa tristeza individualista; tristeza que pouco a pouco vai dando lugar ao ressentimento, à lamentação contínua, à monotonia. «Este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2) a que vos chamou, a que nos chamou. Por isso, Jesus reza, pede que a tristeza e o isolamento não prevaleçam no nosso coração. E nós queremos fazer o mesmo, queremos unir-nos à oração de Jesus, às suas palavras, dizendo juntos: «Pai santo, (…) guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos (…), e tenham em si a plenitude da minha alegria» (Jo 17, 11.13).

Jesus reza e convida-nos a rezar, porque sabe que há coisas que só podemos alcançar como dom, coisas que só podemos viver como um presente. A unidade é uma graça que só o Espírito Santo nos pode dar; a nós, compete-nos pedi-la e dar o melhor de nós mesmos para sermos transformados por este dom. 

Não se fechar nos 'conventinhos das ideologias', diz Papa aos jovens em Cuba


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
AOS JOVENS DO CENTRO CULTURAL PADRE FÉLIX VARELA

Havana
Domingo, 20 de Setembro de 2015


Queridos amigos!

Sinto uma grande alegria em poder estar convosco, precisamente neste Centro Cultural muito significativo na história de Cuba. Dou graças a Deus por me ter concedido a oportunidade de ter este encontro com tantos jovens que, através do seu trabalho, estudo e preparação, estão sonhando, e tornando já realidade também, o amanhã de Cuba.

Agradeço ao Leonardo as suas palavras de saudação, especialmente porque, podendo ter falado de muitas outras coisas, certamente importantes e concretas como as dificuldades, os medos, as dúvidas – tão reais e humanas –, preferiu falar-nos de esperança, dos sonhos e aspirações que estão fortemente impressos no coração dos jovens cubanos, independentemente das suas diferenças de formação, cultura, crença ou ideias. Obrigado, Leonardo, porque eu também, quando vos vejo, a primeira coisa que me vem à mente e ao coração é a palavra esperança. Não posso imaginar um jovem que não se mova, que esteja bloqueado, que não tenha sonhos nem ideais, que não aspire por algo mais.

Mas, qual é a esperança dum jovem cubano neste momento da história? Nem mais nem menos que a esperança de qualquer outro jovem em qualquer parte do mundo. Porque a esperança fala-nos duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. Todavia, isto comporta um risco. Supõe estar dispostos a não se deixar seduzir pelo que é passageiro e caduco, por falsas promessas de felicidade vazia, de prazer imediato e egoísta, duma vida medíocre, centrada em si mesmo e que, no seu rasto, só deixa tristeza e amargura no coração. Não, a esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Eu perguntaria a cada um de vós: O que é que move a tua vida? O que há no teu coração, onde se fixam as tuas aspirações? Estás sempre disposto a arriscar por algo maior? 

Cuba: Papa pede por esforços de reconciliação na Colômbia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)

PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça da Revolução, Havana
Domingo, 20 de Setembro de 2015


Agradeço ao Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, as suas palavras fraternais, bem como aos meus irmãos bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos. Saúdo também o Senhor Presidente e todas as autoridades presentes.

Ouvimos, no Evangelho, como os discípulos tinham medo de interrogar Jesus quando Ele lhes falava da sua paixão e da sua morte. Assustava-os, não podiam compreender, a ideia de ver Jesus sofrer na Cruz. Também nós temos a tentação de fugir das cruzes próprias e das dos outros, afastar-nos daquele que sofre. Concluída a Santa Missa, na qual Jesus Se entregou de novo a nós com o seu corpo e o seu sangue, voltemos agora o nosso olhar para a Virgem, nossa Mãe. E peçamos-Lhe que nos ensine a permanecer junto da cruz do irmão que sofre; que aprendamos a ver Jesus em cada homem caído no caminho da vida, em cada irmão que tem fome ou sede, que está nu, encarcerado ou enfermo. Junto da Mãe, na Cruz, podemos entender quem é verdadeiramente «o mais importante» e que significa estar ao lado do Senhor e participar na sua glória.

Aprendamos de Maria a ter o coração desperto e atento às necessidades dos outros. Como nos ensinou nas bodas de Caná, sejamos solícitos nos pequenos detalhes da vida e não cessemos de rezar uns pelos outros, para que a ninguém falte o vinho do amor novo, da alegria que Jesus nos traz. 

Os leigos podem ser exorcistas?


“Chamando seus doze discípulos, Jesus lhes deu poder sobre os espíritos imundos para expulsá-los e para curar toda enfermidade e toda doença” (Mt 10, 1).

Este texto nos ilumina para entender que corresponde somente aos bispos, sucessores dos apóstolos, exercer este ministério de expulsar os demônios. Mas os bispos podem delegar esta função a um sacerdote.

Portanto, segundo as normas canônicas, os exorcismos só podem ser realizados, exclusiva e legitimamente, por um sacerdote, quem deve exercer esse ministério com licença peculiar e expressa, seja de maneira estável, seja para um caso especial – licença concedida pelo Ordinário do lugar (por exemplo, o bispo).

Só o Ordinário do lugar é quem tem a autoridade ou a potestade de nomear os sacerdotes exorcistas (cânon 1172, 1). E não qualquer sacerdote. O padre exorcista deve reunir 4 condições: piedade, ciência, prudência e integridade de vida (cânon 1172, 2).

Os leigos única e exclusivamente podem estar presentes em um exorcismo, mas apenas para ajudar no que for necessário, incluindo obviamente a oração de libertação; mas eles nunca podem nem nunca devem fazer exorcismos.

Então, uma coisa é um exorcismo, e outra é fazer uma oração de libertação. Em algumas dioceses, sob a direção de um sacerdote, há leigos que foram preparados para o ministério da libertação (que não é o mesmo que exorcismo). A libertação é a oração para, como o nome indica, libertar da opressão do demônio, mas sem utilizar o ritual do exorcismo. 

domingo, 20 de setembro de 2015

Cuba: Encontro do Papa Francisco com Fidel Castro


O Papa Francisco encontrou-se hoje em Havana, de forma privada, com Fidel Castro, antigo líder cubano, na residência deste, anunciou o porta-voz do Vaticano.

O padre Federico Lombardi disse aos jornalistas que a visita decorreu depois da Missa a que o Papa presidiu, na Praça da Revolução, de manhã.

“Foi um encontro muito familiar, muito informal, de mais ou menos meia hora, 40 minutos”, assinalou o diretor da sala de imprensa da Santa Sé, acrescentando que Francisco foi recebido pela esposa de Fidel Castro, juntamente com filhos e netos.

O Papa foi acompanhado por uma delegação de “muito poucas pessoas”.

Segundo o porta-voz do Vaticano, os temas da conversa foram "a salvaguarda do ambiente e os grandes problemas do mundo contemporâneo".

Francisco ofereceu “alguns livros” a Fidel Castro, respondendo ao pedido que este tinha feito a Bento XVI em 2012.

As obras são do italiano Alessandro Ponzato, perito em Sagrada Escritura, e o do padre Llorente, jesuíta que foi professor de Fidel Castro.

O Papa deixou ainda cópias da sua exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’ e a sua encíclica ‘Laudato Si'.

Já Fidel Castro ofereceu o livro-entrevista ‘Fidel y la Religion’, do brasileiro frei Betto, cuja dedicatória manifestava “admiração e respeito do povo cubano”.

Por parte do Vaticano, não haverá transmissão de imagens, “por respeito à formalidade e privacidade do encontro”, justificou o padre Lombardi.

Já este sábado, ao chegar à ilha, Francisco tinha manifestado “sentimentos de especial consideração e respeito” pelo comandante-chefe cubano, substituído em 2008 pelo seu irmão Raúl Castro.

Em 2015 celebra-se o 80.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a República de Cuba e a Santa Sé, que nunca foram interrompidas, reforçadas pelas viagens ao país de São João Paulo II (1998) e Bento XVI (2012). 

Homilia da Missa na Praça da Revolução em Havana, Cuba


Homilia
Santa Missa na Praça da Revolução em Havana
20 de setembro de 2015

O Evangelho apresenta-nos Jesus fazendo aos seus discípulos uma pergunta aparentemente indiscreta: «Que discutíeis pelo caminho?» (Mc 9, 33). Uma pergunta que Ele nos pode fazer também hoje: De que é que falais diariamente? Quais são as vossas aspirações? Eles «ficaram em silêncio – diz o Evangelho – porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior». Os discípulos tinham vergonha de dizer a Jesus aquilo de que estavam a falar. Nos discípulos de ontem, como em nós hoje, pode-se encontrar a mesma discussão: Quem é o mais importante?

Jesus não insiste com a pergunta, não os obriga a dizer-Lhe o assunto de que falavam pelo caminho; e todavia a pergunta permanece, não só na mente, mas também no coração dos discípulos.

Quem é o mais importante? Uma pergunta que nos acompanhará toda a vida e à qual somos chamados a responder nas diferentes fases da existência. Não podemos fugir a esta pergunta; está gravada no coração. Mais do que uma vez ouvi, em reuniões de família, perguntar aos filhos: De quem gostas mais, do pai ou da mãe? É como se vos perguntassem: Quem é mais importante para vós? Será que esta pergunta é simplesmente um jogo de crianças? A história da humanidade está marcada pelo modo como se respondeu a esta pergunta. 

O mundo precisa de reconciliação, diz Papa ao chegar em Cuba


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)

CERIMÔNIA DE BOAS-VINDAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Aeroporto Internacional José Martí, Havana
Sábado, 19 de Setembro de 2015


Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Irmãos no Episcopado,
Senhoras e Senhores!

Muito obrigado, Senhor Presidente, pela sua recepção e pelas suas amáveis palavras de boas-vindas, em nome do Governo e de todo o povo cubano. A minha saudação estende-se também às autoridades e aos membros do Corpo Diplomático que tiveram a amabilidade de participar neste acto.

Agradeço pela sua fraterna recepção ao Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, a D. Dionisio Guillermo García Ibáñez, Arcebispo de Santiago de Cuba e Presidente da Conferência Episcopal, aos outros bispos e a todo o povo cubano.

Obrigado a todos os que se prodigaram na preparação desta visita pastoral. E queria pedir-lhe, Senhor Presidente, para transmitir os meus sentimentos de especial consideração e respeito ao seu irmão Fidel. Além disso gostaria que a minha saudação chegasse de forma especial a todas aquelas pessoas que, por diferentes motivos, não poderei encontrar e a todos os cubanos espalhados pelo mundo.

Como o Senhor Presidente sublinhou, neste ano de 2015, celebra-se o octogésimo aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas ininterruptas entre a República de Cuba e a Santa Sé. A Providência permitiu-me chegar hoje a esta amada nação, seguindo os passos indeléveis do caminho aberto pelas memoráveis viagens apostólicas feitas a esta Ilha pelos meus dois predecessores, São João Paulo II e Bento XVI. Sei que a sua lembrança desperta gratidão e afecto no povo e nas autoridades de Cuba. Hoje renovamos estes laços de cooperação e amizade, para que a Igreja continue a acompanhar e encorajar o povo cubano nas suas esperanças, nas suas preocupações, com liberdade e todos os meios necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade.

Historiador protestante se converte à Igreja Católica


Eu fui criado como um protestante evangélico, em Birmingham, no Alabama. Meus pais eram amorosos e dedicados, sinceros em sua fé, e profundamente envolvidos em nossa igreja. Eles incutiram em mim o respeito pela Bíblia como a Palavra de Deus, e um desejo e uma fé viva em Cristo. Missionários frequentavam nossa casa e traziam o seu entusiasmo pelo seu trabalho. As estantes em nossa casa estavam cheias de livros de teologia e apologética. Desde cedo, eu absorvi a noção de que a minha maior vocação era ensinar a fé cristã. Suponho que não seja nenhuma surpresa que eu tenha me tornado um historiador da Igreja, mas me tornar um católico era a última coisa que eu esperava.

A igreja da minha família era nominalmente Presbiteriana, mas as diferenças denominacionais significavam muito pouco para nós. Eu frequentemente ouvia que divergências sobre o batismo, a ceia, ou o governo da igreja do Senhor não eram importantes, desde que eu acreditasse no Evangelho. Assim, queríamos dizer que a pessoa deve “nascer de novo”, que a salvação é pela fé, e que a Bíblia é a única autoridade para a fé cristã. Nossa igreja apoiava os ministérios de muitas denominações protestantes diferentes, mas o grupo certamente estava em oposição a Igreja Católica.

O mito de uma “recuperação” protestante do Evangelho era forte em nossa igreja. Eu aprendi muito cedo a idolatrar os reformadores protestantes Martinho Lutero e João Calvino, porque supostamente haviam resgatado o Cristianismo das trevas do Catolicismo medieval. Os católicos eram os que confiavam nas “boas obras” para levá-los para o céu, que se renderam à tradição ao invés das Escrituras, e que adoravam Maria e os santos em vez de Deus. Sua obsessão com os sacramentos também criou um enorme obstáculo para a verdadeira fé e um relacionamento pessoal com Jesus. Não havia dúvida. Os católicos não eram verdadeiros cristãos.

Nossa igreja era caracterizada por uma espécie de intelectualismo confiante. Presbiterianos tendem a ser bastante ou teologicamente intelectuais, e professores de seminário, apologistas, cientistas e filósofos eram os oradores frequentes de nossas conferências. Foi essa atmosfera intelectual que atraiu o meu pai para a igreja, e suas estantes estavam lotadas com as obras do reformador João Calvino, e do puritano Jonathan Edwards, bem como autores mais recentes como B.B. Warfield, A.A. Hodge, C.S. Lewis e Francis Schaeffer. Como parte dessa cultura acadêmica, tomávamos como certo que a investigação honesta levaria alguém a nossa versão da fé cristã.