SANTA
MISSA POR OCASIÃO DA FESTIVIDADE DE
NOSSA SENHORA DE GUADALUPE
HOMILIA
DO PAPA FRANCISCO
Basílica
Vaticana
Sábado,
12 de Dezembro de 2015
«O Senhor teu Deus está no meio de ti [...]. Ele
exultará de alegria por causa de ti; Ele te renovará pelo seu amor; Ele dançará
por ti com gritos de júbilo» (Sf 3, 17-18).
Estas palavras do profeta Sofonias, destinadas a
Israel, podem ser dirigidas também à nossa Mãe, a Virgem Maria, à Igreja e a
cada um de nós, à nossa alma amada por Deus com amor misericordioso. Sim, Deus
ama-nos a ponto de se alegrar e rejubilar juntamente connosco. Ama-nos com um
amor gratuito, ilimitado, sem nada esperar em troca. Ele não gosta do
pelagianismo. Este amor misericordioso é o atributo mais surpreendente de Deus,
a síntese na qual está resumida a mensagem evangélica, a fé da Igreja.
A palavra «misericórdia» é composta por dois
vocábulos: miséria e coração. O coração indica a capacidade de amar; a
misericórdia é o amor que abarca a miséria da pessoa. É um amor que «sente» a
nossa indigência como se fosse sua, com a finalidade de nos libertar dela.
«Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos
amou e enviou o seu Filho para expiar os nossos pecados» (1 Jo 4, 10). «A
Palavra fez-se carne» — a Deus não agrada nem sequer o gnosticismo — e quis
compartilhar todas as nossas fragilidades; desejou experimentar a nossa
condição humana, a ponto de assumir com a Cruz toda a dor da existência humana.
Esta é a profundidade da sua compaixão e da sua misericórdia: humilhar-se para
se transformar em companhia e serviço à humanidade ferida. Nenhum pecado pode
anular a sua proximidade misericordiosa, nem pode impedi-lo de praticar a sua
graça de conversão, sob a condição de que a invoquemos. Aliás, é o próprio
pecado que faz resplandecer com maior força o amor de Deus Pai que, para
resgatar o escravo, sacrificou o seu próprio Filho. Esta misericórdia de Deus
alcança-nos mediante o dom do Espírito Santo, que no Baptismo torna possível,
gera e alimenta a nova vida dos seus discípulos. Por muito grandes e graves que
sejam os pecados do mundo, o Espírito que renova a face da terra torna possível
o milagre de uma vida mais humana, repleta de alegria e de esperança.
E também nós clamamos com alegria: «O Senhor é o
meu Deus, o meu Salvador!». «O Senhor está próximo!», é o que nos diz o
apóstolo Paulo; nada nos deve angustiar, Ele está próximo. E não está sozinho,
mas com a sua Mãe. Ela dizia a são João Diogo: «Por que tens medo? Não estou
porventura aqui Eu, que sou a tua Mãe?». Ele e a sua Mãe estão próximos! A
maior misericórdia reside no seu estar no meio de nós, na sua presença e
companhia. Caminha ao nosso lado, mostra-nos a senda do amor, levanta-nos
quando caímos — e com quanta ternura o faz! — sustenta-nos nas nossas
dificuldades, acompanha-nos em todas as circunstâncias da nossa existência.
Abre os nossos olhos para que vejamos as misérias, nossas e do mundo, mas ao
mesmo tempo enche-nos de esperança. «E a paz de Deus [...] haverá de guardar os
vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus» (Fl 4, 7), diz-nos
Paulo. Esta é a fonte da nossa vida pacificada e feliz. Nada nem ninguém pode
privar-nos desta paz e felicidade, não obstante os sofrimentos e as provações
da vida. Com a sua ternura, o Senhor abre-nos o seu Coração, oferece-nos o seu
amor. O Senhor é alérgico à rigidez! Cultivemos esta experiência de
misericórdia, de paz e de esperança, durante o caminho de Advento que
percorremos e na luz do Ano jubilar. Anunciar a Boa Nova aos pobres, como João
Baptista, realizando obras de misericórdia, é um bom modo de esperar a vinda de
Jesus na Natividade. Devemos imitar Aquele que doou tudo, que se entregou
inteiramente. Nisto consiste a sua misericórdia, que nada espera em troca.