O Advento é o tempo durante o qual os cristãos são
orientados a refletir sobre o modo como Deus se encarna na história
humana.
Durante as semanas que compõem este tempo, é
considerado todo o mistério da vinda do Senhor até a sua conclusão. Há uma nota
que perpassa todo o tempo: o Senhor vem! Deus entra na história! Entra na
história para manifestar a sua misericórdia e salvar ‘todo homem de boa
vontade’.
Deus quer salvar seu povo. A história é o lugar da
realização das promessas de Deus e está voltada para o ‘dia do Senhor’. Por
isso, os fiéis, peregrinando no tempo, vivem a tensão entre o ‘já’ da salvação
realizada em Cristo e o ‘ainda não’ da sua realização em nós, na expectativa da
manifestação gloriosa do Senhor, justo juiz e salvador.
Neste tempo, a comunidade de fé é exortada a
cultivar a atitude da espera vigilante e jubilosa. Espera da realização das
promessas divinas. E Deus é fiel! A comunidade vive esta espera na vigilância e
na alegria. Portanto, durante o Advento, vivemos, de forma ainda mais vigorosa,
o dom da esperança: o Senhor virá!
Ao viver a esperança, o fiel é também questionado.
A vinda do Senhor pressupõe atitude de vigilância e atenção; requer a superação
do comodismo e da indiferença; exige conversão! A comunidade de fé é assim
orientada a cultivar a atitude característica dos “pobres de Jahwé”: a
mansidão, a humildade, a disponibilidade, a simplicidade de coração.
Preparamo-nos para, ainda uma vez, celebrar a
grandeza do mistério do Deus que, em Jesus, se faz criança na gruta de Belém.
Jesus, na pobreza de uma gruta, nos revela o mistério de um Deus-Misericórdia!
O próprio Jesus reconhece que esse mistério ‘é revelado não aos sábios e
entendidos, mas aos pequeninos’, aos mansos e humildes; e louva por isso o Pai!
Só os que têm o coração como os pequeninos são capazes de receber a revelação
do Deus-Misericórdia. Só o coração humilde e manso sente a necessidade de se
aproximar do presépio, de inclinar a cabeça, dobrar os joelhos e contemplar. Ao
contemplar, reza e adora; dispõe-se à aventura do Deus que se doa sem reservas,
sem limites!
Muito já se escreveu sobre esse mistério! A arte
buscou e busca representar o evento de inumeráveis formas. Entretanto, é
dobrando os joelhos, em atitude de humildade e simplicidade, de prece e
adoração, que o ser humano de todos os tempos pode, talvez, intuir e adorar,
perceber e rezar! Pode-se dizer tanto sobre a encarnação do Deus-Misericórdia,
mas tal não é sinônimo de compreensão. Há sempre os que se consideram sabedores
do fato e, por isso, nada mais os surpreende! O Papa Francisco continuamente
pede que nos ‘deixemos surpreender por Deus’.
O Senhor vem como um ‘rebento’. Veio envolto nos
panos da nossa fragilidade; foi deitado nas palhas de um cocho. Veio no
despojamento, na simplicidade, na pobreza e na humildade. Acolhamos o Senhor
também na fragilidade e na simplicidade, na pobreza e na humildade, na alegria
e na fé.
O mistério do Deus-Misericórdia se fez
compreensível no mistério da pessoa de Jesus Cristo, marcado por abaixamento,
aniquilação, humilhação, rejeição e morte. Esse é o quadro dentro do qual a
misericórdia de Deus se manifestou entre nós.
Quando vivemos tempos de fundamentalismos de
diversos tipos, de intolerância religiosa dissimulada em observância de normas
e leis que não libertam e não promovem a vida, de indiferença generalizada,
somos convidados a nos aproximar, de joelhos, do mistério da encarnação. E
assim, buscar percorrer o caminho que Ele – Jesus Cristo – percorreu: o caminho
da humildade, da pobreza, da mansidão, da simplicidade, da filiação, da fé! O
Senhor vem para salvar e libertar!
Dom Jaime
Spengler
Arcebispo de
Porto Alegre (RS)
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