“Levanta-te
e anda”.
Com a sua terceira queda, Jesus confessa com quanto
amor abraçou, por nós, o peso da provação e renova o chamamento para O
seguirmos até ao fim na fidelidade. Mas permite-nos também lançar um olhar para
além do véu da promessa: «Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele».
As suas quedas pertencem ao mistério da sua
Encarnação. Procurou-nos na nossa debilidade, descendo até ao fundo da mesma
para nos elevar até Ele. «Mostrou-nos em Si mesmo o caminho da humildade, para
nos abrir o caminho do regresso». «Ensinou-nos a paciência como arma para
vencer o mundo». Agora, caído no chão pela terceira vez, enquanto «Se
com-padece das nossas fraquezas», indica-nos o modo para não sucumbir na
provação: perseverar, permanecer firmes e inabaláveis. Simplesmente:
«permanecer n’Ele».
A experiência da queda, do fracasso ou de uma
grande derrota realmente nos põe no chão, mas o pecado é uma derrota e fracasso
do homem todo assim como a Salvação em Jesus Cristo alcançou todas as
realidades de nossas vidas. Não importa quais foram as suas quedas ou se você
esta caído, existe alguém que estende a mão para você e diz: “Eu te ordeno
levanta-te e anda!”.
Se Ele
aflige, Ele se compadece segundo a sua grande bondade.
E que dizer da terceira queda de Jesus sob o
peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no
afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem
Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua
própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua
presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra!
Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele!
Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em
tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e
precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente
a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! Respeitamos tão pouco o
sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das
nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos,
a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento
do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que
dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor
salvai-nos (cf. Mt 8, 25).
Senhor,
muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma
barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos
mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja
horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos
traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes
gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a
cair. Com a nossa queda, deitamo-Vos ao chão, e Satanás a rir-se porque espera
que não mais conseguireis levantar-Vos daquela queda; espera que Vós, tendo
sido arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas, Vós
erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos, ressuscitastes e podeis levantar-nos
também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos
nós.
O Senhor cai pela terceira vez, na ladeira do
Calvário, quando faltam apenas quarenta ou cinquenta passos para chegar ao
cume. Jesus não se aguenta em pé: faltam-Lhe as forças e jaz, esgotado, por
terra.
Entregou-se porque quis; maltratado, não abriu a
boca, como cordeiro levado ao matadoiro, como ovelha muda ante os tosqueadores
(Is LIII, 7).
Todos contra Ele...: os da cidade e os forasteiros,
e os fariseus, e os soldados, e os príncipes dos sacerdotes... Todos verdugos.
Sua Mãe - minha Mãe -, Maria, chora.
Jesus cumpre a vontade de Seu Pai! Pobre: nu.
Generoso: que lhe falta entregar? Dilexit me et tradidit semetipsum pro me (Gal
II, 20), amou-me e entregou-Se, até à morte, por mim.
Meu Deus!, que eu odeie o pecado e me una a Ti,
abraçando-me à Santa Cruz, para cumprir, por meu lado, a Tua Vontade
amabilíssima..., nu de todo O afecto terreno, sem outro alvo que a Tua
glória.... generosamente, não reservando nada para mim, oferecendo-me conTigo
em perfeito holocausto.