domingo, 27 de março de 2016

Domingo de Páscoa: Jesus Venceu


Transcorrido o sábado, Maria Madalena, Maria a Mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ir embalsamar Jesus. Muito de madrugada, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, dirigiram-se ao sepulcro. Assim começa São Marcos a narração do sucedido naquela madrugada de há dois mil anos, na primeira Páscoa cristã.

Jesus tinha sido sepultado. Aos olhos dos homens, a sua vida e a sua mensagem tinham terminado com o mais profundo dos fracassos. Os seus discípulos, confusos e atemorizados, tinham-se dispersado. As próprias mulheres que acodem para realizar um gesto piedoso, perguntam-se umas às outras: quem nos tirará a pedra da entrada do sepulcro? “No entanto, faz notar São Josemaria, seguem adiante... Tu e eu, como andamos de vacilações? Temos esta decisão santa, ou temos de confessar que sentimos vergonha ao contemplar a decisão, a intrepidez, a audácia destas mulheres?”

Cumprir a Vontade de Deus, ser fiéis à lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer às vezes muito difícil. Apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre.

A epopéia de Jesus de Nazaré não termina com a sua morte ignominiosa na Cruz. A última palavra é a da Ressurreição gloriosa. E os cristãos, no Batismo, somos mortos e ressuscitados com Cristo: mortos para o pecado e vivos para Deus. “Oh Cristo – dizemos com o Santo Padre João Paulo II –, como não te dar graças pelo dom inefável que nos ofereces nesta noite! O mistério da tua Morte e da tua Ressurreição infunde-se na água batismal que acolhe o homem velho e carnal, e o faz puro, com a mesma juventude divina” (Homilia, 15-IV-2001).

Hoje a Igreja, cheia de alegria, exclama: este é o dia que o Senhor fez: regozijemo-nos e alegremo-nos com ele! Grito de júbilo que se prolongará durante cinqüenta dias, ao longo do tempo pascal, como um eco das palavras de São Paulo: posto que vós ressuscitastes com Cristo, procurai os bens do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Ponham todo o coração nos bens do céu, não nos da terra; porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.

É lógico pensar – e assim o considera a Tradição da Igreja – que Jesus Cristo, uma vez ressuscitado, apareceu em primeiro lugar à sua Santíssima Mãe. O fato de que não apareça nos relatos evangélicos, com as outras mulheres, é – como assinala João Paulo II – um indício de que Nossa Senhora já havia se encontrado com Jesus.

“Esta dedução ficaria confirmada também – acrescenta o Papa – pelo fato de que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, as quais permaneceram fiéis ao pé a Cruz e, portanto, mais firmes na fé” (Audiência, 21-V-1997). Só Maria tinha conservado plenamente a fé, durante as horas amargas da Paixão; por isso é natural que o Senhor tivesse aparecido a Ela em primeiro lugar.

Temos de permanecer sempre junto à Nossa Senhora, mas mais ainda no tempo de Páscoa, e aprender dEla. Com que ânsias tinha esperado a Ressurreição! Sabia que Jesus tinha vindo salvar o mundo e que, portanto, devia padecer e morrer; mas também conhecia que não podia ficar sujeito à morte, porque Ele é a Vida. 

Os filhos de Israel entram pelo meio do mar a pé enxuto


Naqueles dias, 14,15o Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha. 16Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. 17Eu vou endurecer o coração dos egípcios, para que sigam atrás de vós, e eu serei glorificado às custas do Faraó, e de todo o seu exército, dos seus caros e cavaleiros. 18E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do Faraó, dos seus caros e cavaleiros”. 

19Então, o anjo do Senhor, que caminhava à frente do acampamento de Israel, mudou de posição e foi para trás deles; e com ele, ao mesmo tempo, a coluna de nuvem, que estava na frente, colocou-se atrás, 20inserindo-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento de Israel. Para aqueles a nuvem era tenebrosa, para estes, iluminava a noite. Assim, durante a noite inteira, uns não puderam aproximar-se dos outros. 

21Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante toda a noite o Senhor fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte; e as águas se dividiram. 22Então, os filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam como que uma muralha à direita e à esquerda. 23Os egípcios puseram-se a persegui-los, e todos os cavalos do Faraó, caros e cavaleiros os seguiram mar adentro. 24Ora, de madrugada, o Senhor lançou um olhar, desde a coluna de fogo e da nuvem, sobre as tropas egípcias e as pôs em pânico. 25Bloqueou as rodas dos seus caros, de modo que só a muito custo podiam avançar. Disseram, então, os egípcios: “Fujamos de Israel! Pois o Senhor combate a favor deles, contra nós”. 

26O Senhor disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem contra os egípcios, seus caros e cavaleiros”.27Moisés estendeu a mão sobre o mar e, ao romper da manhã, o mar voltou ao seu leito normal, enquanto os egípcios, em fuga, corriam ao encontro das águas, e o Senhor os mergulhou no meio das ondas. 28As águas voltaram e cobriram caros, cavaleiros e todo o exército do Faraó, que tinha entrado no mar em perseguição de Israel. Não escapou um só. 29Os filhos de Israel, ao contrário, tinham passado a pé enxuto pelo meio do mar, cujas águas lhes formavam uma muralha à direita e à esquerda. 

30Naquele dia, o Senhor livrou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, 31e a mão poderosa do Senhor agir contra eles. O povo temeu o Senhor, e teve fé no Senhor e em Moisés, seu servo.  
15,1Então, Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor este cântico: 

– 1Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória: *
† precipitou no mar Vermelho o cavalo e o cavaleiro!
– 2O Senhor é minha força, é a razão do meu cantar, *
pois foi ele neste dia para mim libertação!  

– Ele é meu Deus e o louvarei, Deus de meu pai e o honrarei. *
3O Senhor é um Deus guerreiro, o seu nome é “Onipotente”:
 – 4os soldados e os caros do Faraó jogou no mar. *
seus melhores capitães afogou no mar Vermelho, 

=5afundaram como pedras e as ondas os cobriram. †
6Ó Senhor, o vosso braço é duma força insuperável! *
Ó Senhor, o vosso braço esmigalhou os inimigos! 

– 17Vós, Senhor, o levareis e o plantareis em vosso Monte, *
no lugar que preparastes para a vossa habitação,
– no Santuário construído pelas vossas próprias mãos.*
18O Senhor há de reinar eternamente, pelos séculos!


Êxodo: 14,15-15,1-6.17-18

São Ruperto


O santo de hoje foi um grande apóstolo da Baviera, Alemanha. A pedido do rei, foi convidado a evangelizar a França, e fez este belo trabalho. Após ser eleito bispo, a corte da Baviera o chamou, convidando-o também a evangelizar aquelas terras. Juntamente com o apoio do rei pôde ter o apoio de muitos religiosos, inclusive de sua irmã, que também era consagrada.

São Ruperto evangelizou a muitos, fazendo a Boa Nova chegar às altas autoridades, ao ponto do sucessor do rei já ser evangelizado. Antes de sua última Santa Missa, sua irmã ouviu sua oração de entrega: “Pai, em Tuas mãos eu entrego o meu espírito”. Em toda sua vida, e também na morte, viveu entregue a Deus.

São Ruperto, rogai por nós!


Senhor, por intercessão de São Ruperto, queremos hoje vos rogar pelas vocações religiosas; para que os jovens vocacionados encontrem apoio em suas famílias e na sociedade para o desenvolvimento da Igreja. Rogamos também por todo o clero, para que, na santidade, governem com sabedoria o Seu povo. Amém.

sábado, 26 de março de 2016

A Vitória da Páscoa


A Páscoa cristã é a prodigiosa passagem do Senhor Jesus Cristo, cabeça da humanidade, que nos libertou da tirania de Satanás e nos introduziu na nossa verdadeira Pátria.

CELEBREMOS

A Páscoa, a festa das festas; a solenidade das solenidades, não se celebra dignamente senão na alegria. A Igreja quer ouvir as nossas aclamações: Rejubilemo-nos, repete-nos ela à saciedade, e entreguemo-nos à alegria! Os nossos irmãos orientais saúdam-se neste dia com as próprias palavras da liturgia: Cristo ressuscitou! - Ressuscitou verdadeiramente.

Reconheçamos que, nos nossos países ocidentais, não manifestamos da mesma forma a nossa felicidade. Ao passo que no Natal os fiéis que entram na igreja ou dela saem trocam espontaneamente sorrisos e votos de felicidade, na manhã da Ressurreição não nos dão a impressão de respirar uma atmosfera de vitória. O seu porte é grave. Parecem preocupados sobretudo com observar o dever da comunhão pascal. Será então necessário tomar um ar triste para cumprir o mais amável dos deveres, para unir-se pelo banquete eucarístico ao triunfo de Jesus Cristo?

Não, católico, meu irmão, não digas: Acabo de fazer a minha Páscoa. Como parece mesquinho, neste dia, esse possessivo ridículo! É a nossa comunidade paroquial, célula da Igreja universal, que vai celebrar a vitória da Páscoa. Numa das leituras da missa, o sacerdote repetirá as palavras de São Paulo: Celebremos, pois, a festa... (1 Cor 5, 8). O sentido do verbo latino epulemur, que a Neovulgata, a versão latina oficial da Igreja, usa nesta passagem, não oferece a menor dúvida, pois o reencontramos nos lábios do pai da parábola do filho pródigo: Comamos e celebremos, porque este meu filho morrera e tornou à vida (Lc 15, 23-24). Celebremos. Deixemos de lado esses rostos sérios. Tomemos um ar de festa para cantar a glória de Cristo ressuscitado, que nos alimenta com a sua carne divina para ressuscitar-nos com Ele.

Ouçamos em que termos um sacerdote romano do século III, Santo Hipólito, saudava esse mistério da nossa fé: ó Crucificado, condutor da dança divina! Ó festa do Espírito! Páscoa divina que desces dos céus à terra e da terra tornais a subir aos céus! Solenidade nova! Assembléia de toda a Criação! Ó alegria universal, honra, festim, delícias pelas quais a morte tenebrosa foi aniquilada, a vida derramada sobre toda a criatura e abertas as portas do céu!

PÁSCOA, PASSAGEM

O Prefácio pascal resumiu os motivos da nossa alegria em algumas frases de um cunho maravilhoso e de uma inspiração plenamente bíblica. Com o coração voltado para o céu, damos graças ao Senhor nosso Deus com um fervor sem igual neste dia em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.

() Oração que antecede - prefacia- a Oração Eucarística da Missa (N. do T.).

A palavra Pdscoa significa passagem, a passagem de Deus entre nós e a nossa passagem para Deus. A Ressurreição de Cristo é o ponto culminante dos desígnios redentores que Deus alimentava desde longa data. Uma das primeiras etapas da salvação da humanidade tinha sido a libertação do povo de Israel escravizado aos egípcios. Todos os anos, o Povo Eleito comemorava essa passagem do Senhor´ que, para tornar possível a evasão dos cativos, tinha ferido os primogénitos das famílias egípcias e protegido as casas dos israelitas cujas portas estavam marcadas com o sangue de um cordeiro. Em vão os exércitos do Faraó tinham tentado apanhar os fugitivos: foram engolidos pelas águas do Mar Vermelho, que se tinham aberto para abrir passagem aos filhos de Israel que Moisés ia conduzir para a Terra Prometida.

A nossa Páscoa é a passagem ainda mais prodigiosa do Senhor Jesus Cristo, cabeça da humanidade, que, ao deixar a terra e ir para o céu, nos libertou da tirania de Satanás e nos introduziu na nossa verdadeira Pátria. A nossa Páscoa é a antiga noite batismal no decurso da qual os pecadores, mergulhados na água em que deveriam ter encontrado a morte, saíam da piscina na mesma hora em que Cristo saíra do túmulo. A nossa Páscoa é o sangue de Cristo imolado que nos valeu a salvação. O cordeiro pascal que os israelitas compartilhavam num repasto sagrado em ação de graças pela sua libertação passada não era senão a figura do verdadeiro Cordeiro, cujo sangue nos redimiu e que tomamos como alimento na Eucaristia, sacramento da nossa redenção.

Seremos capazes de conter a nossa alegria? Éramos uns infelizes cativos, submetidos a Satanás, e Cristo abriu-nos as portas da nossa prisão. Fez-nos passar do campo de concentração para o país da liberdade. Éramos náufragos destinados aos abismos infernais e, quando nós nos debatíamos nas águas do dilúvio em esforços inúteis, o braço de um Barqueiro intrépido nos agarrou e nos arrancou ao sorvedouro. O nosso Libertador, o nosso Barqueiro, é Cristo que se imolou por nós.

O termo glorioso do seu sacrifício fez-nos passar do pecado para o amor, da sombra para a luz, da morte para a vida, da vida natural sempre tributária da morte para a vida sobrenatural que não conhece declínio. 

Via-Sacra: 14ª Estação: “Jesus é posto no sepulcro” (S. Mateus 27,59-61).


No lugar em que Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, foi ali que puseram Jesus. (João 19,40-42).

Um jardim, símbolo da vida com as suas cores, acolhe o mistério do homem criado e redimido. Num jardim, Deus colocou a sua criatura e de lá a expulsou depois da queda. Num jardim, teve início a Paixão de Jesus e, num jardim, um sepulcro novo acolhe o novo Adão que volta à terra, ventre materno que guarda a semente fecunda que morre.

É o tempo da fé que aguarda silenciosa, e da esperança que no ramo seco já vislumbra o despontar de um pequenino rebento, promessa de salvação e de alegria. Agora a voz de «Deus fala no grande silêncio do coração».

Olhar para o sepulcro é crescer na virtude da esperança Naquele que venceu a morte e o pecado. Quantas vezes nos sentimos mortos, porém estávamos vivos, andávamos como vivos, mas agimos como mortos e agora com Jesus que é levado para um sepulcro novo, enterremos com Jesus o nosso pecado, o homem velho e doente que é sustentado pelo pecado dentro de nós. Enterro com Jesus toda tristeza, depressão e falta de fé na vida nova que Ele nos deu. Espero a Vida Nova que virá com o Cristo ressuscitado, daí toda lagrima será enxugada, não haverá nem a morte e nem a dor. O sepulcro vazio será o grande e verdadeiro sentido de nossa vida.

“Depositou-o num túmulo novo”.

«Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus». Nicodemos recebe o corpo de Cristo, cuida dele e depõe-no num sepulcro, no meio de um jardim que recorda o da Criação. Jesus deixa-se sepultar tal como se deixou crucificar, no mesmo abandono, inteiramente «entregue» nas mãos dos homens e «perfeitamente unido» a eles «até ao sono sob a laje do túmulo» (São Gregório de Narek). Aceitar as dificuldades, os acontecimentos dolorosos, a morte… exige uma esperança firme, uma fé viva. A pedra colocada à entrada do túmulo será removida, e surgirá uma nova vida. Na realidade, «pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Recebemos a liberdade de filhos de Deus, para não voltar à escravidão; a vida é-nos dada em abundância, para não mais nos contentarmos com uma vida sem beleza nem significado.

Senhor Jesus Cristo, na sepultura fizestes vossa a morte do grão de trigo, tornastes-Vos o grão de trigo morto que produz fruto ao longo de todos os tempos até à eternidade. Do sepulcro brilha em cada tempo a promessa do grão de trigo, do qual provém o verdadeiro maná, o pão de vida em que Vós mesmo Vos ofereceis a nós. A Palavra eterna, através da encarnação e da morte, tornou-Se a Palavra próxima: Colocais-Vos em nossas mãos e nos nossos corações para que a vossa Palavra cresça em nós e produza fruto. Dais-Vos a Vós próprio através da morte do grão de trigo, para que nós tenhamos a coragem de perder a nossa vida para encontrá-la; para que também nós nos fiemos da promessa do grão de trigo. Ajudai-nos a amar cada vez mais o vosso mistério eucarístico e a venerá-lo – a viver verdadeiramente de Vós, Pão do Céu. Ajudai-nos a tornarmo-nos o vosso «odor», a tornar palpáveis os vestígios da vossa vida neste mundo. Do mesmo modo que o grão de trigo se eleva da terra como caule e espiga, assim também Vós não podeis ficar no sepulcro: o sepulcro está vazio porque Ele – o Pai – não Vos «abandonou na habitação dos mortos nem permitiu que a vossa carne conhecesse a decomposição» (cf. At. 2, 31; Sal 16, 10 LXX). Não, Vós não experimentastes a corrupção. Ressuscitastes e destes espaço à carne transformada no coração de Deus. Fazei com que possamos alegrar-nos com esta esperança e possamos levá-la jubilosamente pelo mundo; fazei que nos tornemos testemunhas da vossa ressurreição.

Num horto muito perto do Calvário, José de Arimateia tinha mandado lavrar, na rocha, um sepulcro novo. E, por ser a véspera da grande Páscoa dos judeus, põem Jesus ali. Depois, José rolou uma grande pedra, para diante da boca do sepulcro, e retirou-se (Mt XXVII, 60).

Sem nada veio Jesus ao mundo e sem nada - nem sequer o lugar onde repousa - se nos foi.

A Mãe do Senhor - minha Mãe - e as mulheres que seguiram o Mestre desde a Galileia, depois de observar tudo atentamente, partem também. Cai a noite.

Agora consumou-se tudo. Cumpriu-se a obra da nossa Redenção. Já somos filhos de Deus, porque Jesus morreu por nós e a Sua morte resgatou-nos.

Empti enim estis pretio magno (I Cor VI, 20)!, tu e eu fomos comprados por alto preço.

Temos de fazer vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e a penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir, então, as pisadas de Cristo, com ânsia de co-redimir todas as almas.

Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus e nos fazemos uma só coisa com Ele. 

A descida do Senhor à mansão dos mortos


Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.



De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo

(PG43,439.451.462-463)               (Séc.IV)

Sábado Santo: Silêncio e Conversão


Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta dEle.

O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.

O mundo tem fome de Deus, ainda que muitas vezes não o saiba. As pessoas estão desejando que se lhes fale desta realidade gozosa – o encontro com o Senhor –, e para isso viemos nós os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens – Nicodemos e José de Arimateia –, que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que, no momento definitivo, se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, sendo Cristo já um cadáver, compram aromas e acodem para embalsamá-lo, sem ter medo dos soldados que guardam o sepulcro.

À hora da debandada geral, quando todo o mundo se sentiu com direito de insultar, rir e mofar-se de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando as suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaria: “eu subirei com eles ao pé da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., despregá-Lo-ei com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, onde ninguém mo poderá arrancar; e, aí, Senhor, descansai!”

Compreende-se que pusessem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de dar-lhe sepultura. Maria era a única criatura capaz de lhe dizer que entende perfeitamente o seu Amor pelos homens, pois Ela não foi causadora dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo. 

São Bráulio


São Bráulio nasceu na Espanha, por volta de 585. Vinha de família religiosa e teve dois irmãos também com vocação religiosa. Um deles foi bispo de Saragoça, e a irmã, abadessa. Estudou em Servilha, teve como mestre e grande amigo Santo Isidoro, que era bastante reconhecido por sua sabedoria. Isidoro dirigia-se ao amigo chamando-o de "amadíssimo senhor meu e caríssimo filho".

Aos 20 anos entrou na abadia de santa Engrácia. Nessa abadia são Bráulio fez os estudos elementares, ajudado pelo seu irmão João, na vida ascética. Dez anos após foi para Sevilha aperfeiçoar-se com santo Isidoro.

Quando em 631 faleceu o bispo João, foi nomeado arquidiácono e lhe confiaram a administração dos negócios eclesiásticos. E num tempo terrível de pestes, flagelos, carestias, Bráulio, pedindo conselhos e ajuda, foi superando tanta crise. Foi nomeado bispo no lugar do irmão. Participou do quarto, quinto e sexto concílios de Toledo. Correspondia com o Papa Honório I. Sua primeira preocupação foi com a cultura, incentivou os estudos e formou bibliotecas.

Por volta dos anos 650 estava praticamente cego e esgotado e morreu no ano seguinte, provavelmente aos 66 anos.

São Bráulio foi um grande bispo, nascido numa família de santos que ajudou e muito na consolidação da Igreja no reino espanhol.



Ó Deus, que aos vossos pastores associastes São Bráulio de Saragoça, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai nossos bispos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé e participar de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.