terça-feira, 23 de agosto de 2016

Os cinco caminhos da penitência


Quereis que vos recorde os caminhos da penitência? São muitos, variados e diferentes, e todos levam ao Céu.

O primeiro caminho da penitência é a acusação dos pecados: Confessa primeiro os teus pecados e serás justificado. Por isso dizia também o Profeta: Eu disse: Vou confessar ao Senhor a minha culpa; e Vós perdoastes a culpa do meu pecado. Condena, portanto, também tu as tuas culpas, e esta confissão te alcançará o perdão do Senhor. E se condenas as tuas culpas, serás mais cauteloso para não voltar a cair. Habitua a tua consciência a ser a tua acusadora familiar, para que mais tarde ninguém te acuse diante do tribunal do Senhor.

Este é, portanto, o primeiro e o melhor caminho da penitência. Mas há outro, não inferior ao primeiro, que consiste em perdoar as ofensas que recebemos dos inimigos, dominar a ira, esquecer as faltas dos nossos irmãos. Assim nos serão perdoadas também as ofensas que praticámos contra Deus. Este é o segundo modo de expiar as nossas culpas. Porque se perdoardes a quem vos ofendeu, diz o Senhor, também o vosso Pai celeste vos perdoará.

Queres conhecer ainda um terceiro caminho da penitência? É a oração fervorosa e assídua que brota do íntimo do coração.

E se desejas que te indique um quarto caminho, dir-te-ei que é a esmola, porque é grande e poderosa a sua eficácia.

Acrescentemos ainda: Se procedes com modéstia e humildade, será este um modo não menos eficaz que os outros para destruir pela raiz os teus pecados. Disso é testemunha o publicano, que, não podendo recordar diante de Deus boas ações, ofereceu o humilde reconhecimento das suas culpas e assim se libertou do grave peso que tinha na consciência.

Acabamos de indicar cinco caminhos da penitência: primeiro, a acusação dos pecados; segundo, o perdão das ofensas do nosso próximo; terceiro, a oração; quarto, a esmola; quinto, a humildade.

Não fiques, portanto, ocioso, mas procura seguir todos os dias estes caminhos tão fáceis. Não podes desculpar-te com o impedimento da tua pobreza, pois ainda que leves uma vida de extrema penúria, podes sempre depor a ira, ser humilde, orar assiduamente, confessar os pecados. A pobreza não oferece obstáculo algum a estes caminhos de penitência, nem sequer àquele que consiste na distribuição de bens, isto é, a esmola. Para cumprir este mandamento, lembra-te do testemunho da viúva que deu as duas pequenas moedas.

Tendo aprendido, por conseguinte, o modo de curar as nossas feridas, tratemos de usar estes remédios. E assim, recuperada a saúde, poderemos aproximar-nos confiadamente da sagrada mesa e caminhar alegremente ao encontro de Cristo, Rei da glória, e alcançar para sempre os bens eternos pela graça, misericórdia e benignidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Homilia sobre o diabo tentador 2, 6: PG 49, 263-264) (Sec. IV)

Existe idade certa para ser coroinha?


Já ouviu alguém dizer que alguém é velho demais para estar num grupo de Coroinhas? Pois é. Muitos grupos tem regras de idade. O seu provavelmente tem alguma. Alguns só admitem crianças, outros apenas adolescentes. Outros, ainda, vendo o grupo de coroinhas como um “estágio intermediário”, acreditam que em determinada idade ou tempo de grupo, o coroinha deve buscar outra pastoral na paróquia, o que normalmente faz o jovem se afastar de vez da Igreja.

A primeira coisa que devemos dizer é que não existe regra universal para a idade dos coroinhas. Em nenhum documento oficial da Igreja se especifica uma idade “correta”. Nunca se diz que devem ser crianças, jovens ou adultos. É bem verdade que tradicionalmente os coroinhas sempre foram os “meninos do altar”, crianças e adolescentes. Apesar disso, nada impedia jovens e adultos de servir como coroinhas, respeitando, no entanto, um princípio muito importante: O princípio da divisão orgânica, isto é, cada um no seu próprio grupo. Já retornaremos a isso.

Este é Peter Reilly. Coroinha desde 1924, atualmente com 101 anos.
 

Adultos podem ser coroinhas?

Já vimos em nosso artigo sobre como surgiram os coroinhas que num passado distante, antes do surgimento dos seminários, os coroinhas eram os rapazes que estavam se preparando para serem padres. Eles vivam na paróquia e aprendiam do padre todas as funções, temporais e espirituais, que o padre desempenhava na igreja, sobretudo servir a Santa Missa. Depois que os seminários se formaram, os vocacionados passaram a viver em seminários, e as paróquias ficaram sem quem servisse a Missa. Então começaram a chamar leigos, crianças e adultos, para servir na Missa.

Às crianças a Igreja sempre deu prioridade. Claro. Porque o adulto leigo normalmente já discerniu sua vocação ao matrimônio ou ao laicato, enquanto a criança ainda está no início desse processo. Reconhecendo no serviço ao altar um grande impulsionador de vocações, esse estímulo para as crianças só fez crescer, formando os grupos de coroinhas, dos “meninos do altar”. No entanto, sempre adultos serviram a Missa, muitas vezes ao lado das crianças. A grande questão é que isso acontecia de maneira dividia, numa divisão orgânica, isto é, cada um tendo seu próprio grupo. Desse modo, aproveitava-se ambos. 

Santa Rosa de Lima




Isabel Flores de Oliva nasceu na cidade de Lima, capital do Peru, no dia 20 de abril de 1586. Por causa da beleza recebeu o apelido de Rosa. Seus pais eram ricos espanhóis, que se mudaram para a próspera colônia do Peru, mas os negócios declinaram e eles ficaram na miséria.

Ainda criança, Rosa teve grande inclinação à oração e à meditação. Na adolescência decidiu entregar sua vida somente a Cristo e ingressou na Terceira Ordem Dominicana, tomando como exemplo de vida Santa Catarina de Sena. Dedicou-se então ao jejum, às severas penitências e à oração contemplativa.

Aos vinte anos pediu e obteve licença para emitir os votos religiosos em casa e não no convento e mudou o nome para Rosa de Santa Maria.

Construiu uma pequena cela no fundo do quintal da casa de seus pais, levando uma vida de austeridade, de mortificação e de abandono à vontade de Deus. Aumentou os dias de jejum e dormia sobre uma tábua com pregos. Passou a sustentar a família com as rendas e bordados que fazia. Vivendo em contínuo contato com Deus, atingiu um alto grau de vida contemplativa e experiência mística.

Aos trinta e um anos de idade foi acometida por uma grave doença que lhe causou sofrimentos e danos físicos. Morreu no dia 24 de agosto de 1617. O seu sepultamento parou toda a cidade de Lima. 


Ó Deus, que inspirastes à Santa Rosa de Lima, inflamada de amor, deixar o mundo e vos servir através de uma vida simples e austera, concedei-nos, por sua intercessão, seguir na terra os vossos caminhos e participar, junto com Santa Rosa e todos os santos, do vosso convívio no céu. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

São Filipe Benício


Filipe Benício nasceu no dia 15 de agosto de 1233, no seio de uma rica família da nobreza, em Florença, Itália. Aos treze anos foi enviado com seu preceptor à Paris estudar medicina. Voltou e foi para a universidade de Pádua, onde aos dezenove anos formou-se em filosofia e medicina.

O jovem era muito devoto de Maria e muito religioso, possuía também sólida formação religiosa. Nesse período de estabelecimento profissional, passou a freqüentar a igreja do mosteiro e com os religiosos aprofundou o estudo das Sagradas Escrituras. Logo suas orações frutificaram e recebeu o chamado para a vida religiosa.

Assim, em 1254 fez-se membro da Ordem dos Servitas. Foi superior geral de sua ordem, adquirindo fama de um ótimo pregador. Sob sua direção os frades servitas se expandiram rapidamente e com sucesso. Era um conciliador, sua pregação talentosa e eficiente trouxe frutos benéficos para a Ordem e para a Igreja. Na sua simplicidade, fugia de todas as honras eclesiásticas.

Quando o Papa Clemente IV morreu, Filipe foi proposto como candidato à cátedra de Pedro, mas se retirou para as montanhas, onde se ficou por algum tempo. Diz a tradição que São Filipe Benício recusou-se a ocupar a cátedra de Pedro. Por isso é comum representá-lo com a tiara pontifícia aos pés.

Segundo os registros da Ordem e a tradição Filipe gozava da fama de santidade em vida. Morreu em 22 de agosto de 1285 na cidade de Todi.

A memória de são Filipe Benício é celebrada no dia 22 de agosto. Algumas localidades comemoram no dia seguinte, devido à festa da Santa Virgem Maria Rainha.


Concedei-nos ó Deus de bondade, ser solícitos com os mais pobres e a exemplo de são Filipe Benício buscar o que não passa e deixar de lado as vaidades passageiras. Por Cristo. Amém.

Homilética: 22º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "Quem se humilha, será elevado".


É lícito sentar-se nos primeiros lugares? Não será falta de humildade? Jesus propõe que quando formos convidados a alguma celebração, um casamento, não ocupemos os primeiros lugares, mas, ao mesmo tempo, nos ensina como “chegar a ocupar o primeiro lugar”. Como? Não estou traindo a letra da Sagrada Escritura. Leiamos novamente: “Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, passa mais para cima. Então serás honrado na presença de todos os convivas” (Lc 14,10).

Como a Igreja gostaria que houvesse muitos bons cristãos ocupando os primeiros lugares! Quando se procura ocupar o primeiro lugar para servir melhor às pessoas não só não se comete um pecado de orgulho, mas se faz um favor à sociedade. É questão de trabalhar bem, por amor a Deus, com o desejo de servir a todos, com pontualidade, sendo amável para com todos, sem servilismos nem falsidades. Com essa intenção de servir e de colocar a Cruz de Cristo em todas as atividades humanas não só é lícito desejar ocupar o primeiro lugar, mas constitui para o católico um dever.

A humildade atrai sobre si o amor de Deus e o apreço dos outros, ao passo que a soberba os repele. Por isso, a primeira leitura (Eclo 3,19-21. 30-31) aconselha-nos: “Nos teus assuntos, procede com humildade, e haverão de amar-te mais que ao homem generoso. E na mesma passagem: Torna-te pequeno nas grandezas humanas, e alcançarás o favor de Deus, e Ele revela os seus segredos aos humildes”.

O homem humilde compreende melhor a vontade divina e sabe o que Deus lhe vai pedindo em cada circunstância. O humilde respeita os outros, as suas opiniões e as suas coisas; possui uma especial fortaleza, pois apóia-se constantemente na bondade e onipotência de Deus: “Quando sou fraco, então sou forte”, proclama São Paulo.

A ambição, uma das formas de soberba, é causa freqüente de mal-estar em quem se deixa levar por ela. “Por que ambicionas os primeiros lugares? Para estar por cima dos outros?”, pergunta-nos São João Crisóstomo.

A virtude da humildade não tem nada a ver com a timidez ou a mediocridade. A humildade leva-nos a ter plena consciência dos talentos que Deus nos deu, mas para fazê-los render com o coração reto.

A humildade faz que tenhamos consciência clara de que os nossos talentos e virtudes, tanto naturais como na ordem da graça, pertencem a Deus, porque da sua plenitude, todos recebemos. Tudo o que é bom vem de Deus; a deficiência e o pecado, esses, sim, são nossos. Humildade é reconhecer que valemos pouco – nada -, e ao mesmo tempo sabermo-nos “portadores de essências divinas de um valor inestimável”.

A humildade elimina os complexos de inferioridade – que com freqüência resultam da soberba ferida -, torna-nos alegres e serviçais, sequiosos de amor de Deus: Nosso Senhor porá em nós tudo o que nos faltar.

Só o humilde procura a sua felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais os soberbos andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que possa rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.

Cuidemos de não insistir nas nossas opiniões, a não ser que a verdade ou a justiça o exijam, e empreguemos então a moderação unida à firmeza.

Passemos por alto os erros alheios, desculpando-os e ajudando-os com uma caridade delicada a superá-los; cedamos à vontade dos outros sempre que não esteja envolvido o dever ou a caridade.

Aceitemos ser menosprezados, esquecidos, não consultados nesta ou naquela matéria em que nos consideramos mais experientes ou em mais conhecimentos; fujamos de ser admirados ou estimados, retificando a intenção perante os louvores e elogios. Devemos procurar alcançar o maior prestígio profissional possível, mas por Deus, não por orgulho, nem para pisar os outros.

Aprenderemos a ser humildes se nos relacionarmos sempre mais intimamente com Jesus.

Rainha do mundo e da paz


Considera como se difundiu em toda a terra o admirável nome de Maria, ainda antes da sua assunção, e se estendeu por toda a parte o esplendor da sua glória imortal, ainda antes de ser elevada acima dos céus com toda a magnificência. Convinha, na verdade, que a Virgem Mãe, para honra de seu Filho, reinasse primeiramente na terra e assim entrasse finalmente na glória do Céu; convinha que fosse enaltecida neste mundo, para ser depois glorificada na santa plenitude dos bens celestes, e assim como na terra progredia sempre de virtude em virtude, assim no Céu fosse exaltada de glória em glória pela acção do Espírito do Senhor. Por isso, durante a sua vida mortal, Ela saboreava antecipadamente as primícias do reino futuro, ora elevando‑se até Deus em sublime exaltação de espírito, ora descendo ao cuidado do próximo com imensa caridade. Lá do Céu era assistida pelos Anjos; cá na terra era venerada e honrada pelos homens. Lá do Céu, Gabriel e os Anjos prestavam‑Lhe assistência; na terra, João sentia‑se feliz por lhe ter sido confiada pelo Senhor, suspenso da cruz, a Virgem Mãe e, juntamente com os Apóstolos, a tomava a seu cuidado. Os Anjos alegravam‑se por contemplar a sua Rainha; os homens por ver a sua Senhora; e uns e outros a honravam com sentimentos de piedosa devoção. Situada na altíssima fortaleza das virtudes e enriquecida com o mar inesgotável dos carismas divinos, Ela derramava em abundância sobre o povo crente e sequioso a torrente das suas graças, que superavam as de todas as outras criaturas. Dava saúde aos corpos e remédio às almas e podia ressuscitar da morte corporal e espiritual. Quem alguma vez se afastou d’Ela doente ou triste ou sem o conforto dos mistérios celestes? Quem não voltou contente e alegre para sua casa, depois de ter alcançado de Maria, Mãe do Senhor, o que desejava? Enriquecida de bens superabundantes, a Esposa, a Mãe do único Esposo, suave e agradável, cheia de delícias, como uma fonte dos jardins espirituais, como uma nascente de águas vivas e vivificantes que brotam torrencialmente do Líbano divino, desde o monte Sião até às nações estrangeiras em redor, para toda a parte fazia derivar rios de paz e torrentes de graça celeste. Por isso, quando a Virgem das virgens era elevada ao Céu por Aquele que era o seu Deus e o seu Filho, o Rei dos reis, por entre a exultação dos Anjos, a alegria dos Arcanjos e a aclamação de todos os bem‑aventurados, então se cumpria a profecia do Salmista que diz ao Senhor: À vossa direita está a rainha, revestida com manto de ouro, resplandecente de beleza.


Das Homilias de Santo Amadeu de Lausana, bispo
(Hom. 7: SC 72, 188.190.192.200) (Sec. XII)

Como surgiram os coroinhas


O surgimento do ofício do coroinha está intima e inseparavelmente ligado à vida sacerdotal. Por isto, precisamos compreender um pouco como é a dinâmica do sacerdócio para podermos entender a história dos coroinhas.

Os dois tipos de sacerdote

Hoje, um rapaz que busca cumprir a vocação sacerdotal deve, em primeiro lugar, discernir sua vocação. Se será um sacerdote secular ou regular, isto é, se será diocesano ou religioso.

O sacerdote secular, comumente conhecido como diocesano, está sempre incardinado em uma diocese e atende as necessidades da diocese em que reside. Não segue uma regra de vida como os religiosos: Não vive em comunidade, não professa votos de pobreza e obediência às regras de alguma ordem e deve obediência ao seu bispo. A palavra secular vem de século, indicando que este sacerdote vive “no mundo” – embora não seja do mundo.

O sacerdote regular, por outro lado, segue uma regra de alguma ordem religiosa, como os carmelitas, beneditinos, franciscanos, vicentinos, etc. Esta regra inclui viver uma vida em comunidade, isto é, viver em um convento ou mosteiro com os outros religiosos da mesma ordem, atender a algumas regras e, sobretudo, viver uma vida de pobreza, castidade e obediência. O sacerdote religioso é antes religioso que sacerdote, ou seja, sua primeira vocação é seguir a regra da ordem a qual professou os votos, e então ser sacerdote. A palavra regular vem da palavra latina regula, que quer dizer regra, indicando que este sacerdote segue uma regra.