O surgimento do
ofício do coroinha está intima e inseparavelmente ligado à
vida sacerdotal. Por isto, precisamos compreender um pouco como é a
dinâmica do sacerdócio para podermos entender a história dos coroinhas.
Os dois tipos de sacerdote
Hoje,
um rapaz que busca cumprir a vocação sacerdotal deve, em primeiro
lugar, discernir sua vocação. Se será um sacerdote secular ou regular,
isto é, se será diocesano ou religioso.
O sacerdote
secular, comumente conhecido como diocesano, está sempre incardinado em uma
diocese e atende as necessidades da diocese em que reside. Não segue uma regra
de vida como os religiosos: Não vive em comunidade,
não professa votos de pobreza e obediência às regras de alguma ordem
e deve obediência ao seu bispo. A palavra secular vem de
século, indicando que este sacerdote vive “no mundo” – embora não
seja do mundo.
O sacerdote
regular, por outro lado, segue uma regra de alguma ordem religiosa, como os
carmelitas, beneditinos, franciscanos, vicentinos, etc. Esta regra inclui
viver uma vida em comunidade, isto é, viver em um convento ou
mosteiro com os outros religiosos da mesma ordem, atender a algumas regras
e, sobretudo, viver uma vida de pobreza, castidade e obediência. O
sacerdote religioso é antes religioso que sacerdote, ou seja, sua primeira
vocação é seguir a regra da ordem a qual professou os votos, e então ser
sacerdote. A palavra regular vem
da palavra latina regula, que quer dizer regra, indicando que este
sacerdote segue uma regra.
A formação dos sacerdotes e a origem do Coroinha
Até o
Sacrossanto Concílio de Trento (Sec. XVI), não existiam seminários
como hoje conhecemos. Um jovem que desejava ser sacerdote teria que
escolher entre ser clérigo secular ou regular, como vimos acima. Caso
escolhesse se tornar regular, ele deveria se apresentar ao superior da Ordem
escolhida, e seguir os passos indicados pela Regra de Vida daquela Ordem.
Caso desejasse,
por outro lado, ser sacerdote secular, ele deveria se apresentar ao seu pároco,
e uma vez admitido era formado pessoalmente por ele, passando a
viver nas dependências da paróquia, “aprendendo a ser padre” na teoria e
na prática. Ele ajudava o sacerdote nas suas funções, sobretudo litúrgicas, e
quando o pároco julgava que o vocacionado estava pronto, pedia ao bispo que o
desse as ordens, e assim prosseguia seu estudo até ser ordenado sacerdote.
A caminhada
sacerdotal: Iniciava-se com a tonsura e seguia nos sete degraus do sacerdócio:
Ostiário, Leitor, Exorcista, Acólito, Subdiácono, Diácono e Sacerdote
|
Este
sistema era muito efetivo durante a Cristandade, pois dava ao vocacionado uma
vivência da realidade paroquial desde o primeiro dia e o “avanço” na sua
formação cobria todas as funções clericais. Veremos isto em um artigo
futuro. O problema é que, com a Revolução Protestante e a verdadeira
multidão de heresias que atacaram a Igreja após o pérfido
Lutero, este modo de formação começou a passar por alguns problemas, por
exemplo:
·
Em alguns
casos, o sacerdote não era muito bem formado, o que o tornaria
mais fraco na luta contra as heresias e na instrução do povo.
·
Não havia
uma supervisão do bispo, que poderia ordenar um vocacionado sem bem
conhecê-lo.
·
Sacerdotes
ocultamente hereges poderiam facilmente destruir várias paróquias, simplesmente
passando a heresia aos novos vocacionados, que acreditavam estar sendo bem
formados.
·
Faltava
uma “unidade” no ensino de uma diocese, e o estudo da Filosofia
Escolástica, a Teologia, a Gramática, Liturgia e das Sagradas Escrituras era
feito sem uma metodologia e supervisão únicas.
Sem
dúvida, a criação dos seminários foi uma das coisas mais importantes do
Concílio de Trento, mas isto teve um efeito interessante.
Como
acabamos de ver, os vocacionados ao sacerdócio moravam na paróquia e
participavam ativamente da vida paroquial, em diversas funções, entre as
quais se destaca a função de servir o altar e ajudar na liturgia. Aqui
já vemos o papel do coroinha, desde o início da Igreja. O coroinha sempre
foi um menino que ajudava nos serviços Litúrgicos na Igreja, normalmente
com a intenção de discernir sua vocação ao sacerdórcio.
Quando
foram fundados os seminários, estes vocacionados, ao invés de morarem nas
paróquias, foram todos viverem juntos para a formação. Isto deixou, de
certo modo, as paróquias sem ter quem ajudasse nas funções litúrgicas e em
outras funções. Existia uma regra que proibia o sacerdote de
rezar a Missa sem ter quem o respondesse no altar, então esta função
era delegada a qualquer leigo, homem, na paróquia.
No
entanto, o salutar costume de tomar os jovens e as crianças
que sentiam a vocação sacerdotal sempre persistiu. Daqui mesmo vem o nome
coroinha: O menino do coro, que ajudava o padre na Missa, respondia e fazia as
várias funções que o coroinha tinha na Missa. Por isto se diz que o grupo
de coroinhas é um celeiro de vocações. Porque dos coroinhas saiam a maioria dos
rapazes que ia para o sacerdócio. E isto a Igreja sempre valorizou muitíssimo.
Tanto é
que no Redemptionis Sacramentum, n. 47 se diz:
É muito louvável que se conserve o benemérito costume de que
meninos ou jovens, denominados normalmente assistentes (coroinhas),
estejam presentes e realizem um serviço junto ao altar, similar aos acólitos,
mas recebam uma catequese conveniente, adaptada à sua capacidade, sobre esta
tarefa. Não se pode esquecer que do conjunto destas crianças, ao longo dos
séculos, tem surgido um número considerável de ministros consagrados.
Isto nos
deve reanimar a busca pela nossa vocação. Sempre foi próprio dos grupos de
coroinhas o discernimento da vocação sacerdotal. De um grupo de coroinhas
deve sair ou bons padres ou bons pais, que entretanto usarão do grupo para
crescerem na fé e encontrarem sua vocação.
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Manual do Coroinha
Seria bom colocar textos ou livros referentes ao artigo. É sempre bom ter uma bibliografia para se apoiar.
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