VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
(30 DE SETEMBRO - 2 DE OUTUBRO DE 2016)
SANTA MISSA DO XXVII DOMINGO DO TEMPO
COMUM
HOMILIA DO SANTO PADRE
Igreja da Imaculada,
Baku
Domingo, 2 de outubro de 2016
Hoje a Palavra de Deus apresenta-nos dois aspetos essenciais da vida
cristã: a fé e o serviço. A propósito da fé, temos
dois pedidos particulares dirigidos ao Senhor.
O primeiro é do profeta Habacuc, suplicando a Deus para intervir
restabelecendo a justiça e a paz que os homens romperam com a violência, lutas
e contendas: «Até quando, Senhor – diz ele –, pedirei socorro, sem que me
escutes?» (Hab 1, 2). Em resposta, Deus não intervém diretamente,
não resolve bruscamente a situação, nem Se torna presente com a força. Pelo
contrário, convida a aguardar com paciência, sem nunca perder a esperança;
sobretudo sublinha a importância da fé: porque o homem viverá pela sua fé (cf. Hab 2,
4). Do mesmo modo procede Deus também connosco: não subscreve os nossos desejos
que pretenderiam mudar imediata e continuamente o mundo e os outros, mas visa
antes de tudo curar o coração: o meu coração, o teu coração, o coração de cada
um. Deus muda o mundo, mudando os nossos corações, mas isto não o pode fazer
sem nós; com efeito, o Senhor deseja que Lhe abramos a porta do coração, para
poder entrar na nossa vida. E esta abertura a Ele, esta confiança n’Ele é
precisamente «o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé» (1 Jo 5,
4). Porque, quando Deus encontra um coração aberto e confiante, nele pode
realizar maravilhas.
Mas ter fé – uma fé viva – não é fácil e, daí, o segundo pedido; o
pedido que, no Evangelho, os Apóstolos dirigem ao Senhor: «Aumenta a nossa fé!»
(Lc 17, 5). É uma boa petição, uma súplica que poderíamos também
nós dirigir a Deus todos os dias. Mas a resposta divina é surpreendente e,
também neste caso, devolve-nos o pedido feito: «Se tivésseis fé...» É Ele que
nos pede para ter fé; porque a fé, que é um dom de Deus e sempre se deve pedir,
tem de ser, por sua vez, cultivada também por nós. Não é uma força mágica que
desce do céu, não é um «dote» pessoal que se recebe duma vez para sempre, nem
mesmo um superpoder que serviria para resolver os problemas da vida. Com
efeito, uma fé útil para satisfazer as nossas necessidades seria uma fé
egoísta, completamente centrada em nós. A fé não deve ser confundida com estar
bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco
de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria
de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale a vida inteira, mas
que só dá fruto, se fizermos a nossa parte.
E qual é a nossa parte? Jesus faz-nos compreender que é o
serviço. De facto no Evangelho, logo depois das palavras sobre a força da
fé, o Senhor fala do serviço. Fé e serviço não se podem separar; antes, pelo
contrário, estão intimamente ligados, atados entre si. Para explicar isto,
gostaria de usar uma imagem que vos é muito familiar: a de um lindo tapete. Os
vossos tapetes são verdadeiras obras de arte e provêm duma tradição muito
antiga. Também a vida cristã de cada um vem de longe, é um dom que recebemos na
Igreja e que provém do coração de Deus, nosso Pai, que deseja fazer de cada um
de nós uma obra-prima da criação e da história. Cada tapete, como bem sabeis,
deve ser tecido segundo a teia e a tecedura; só com esta estrutura é que o
conjunto resulta bem composto e harmonioso. O mesmo se passa com a vida cristã:
tem de ser pacientemente tecida cada dia, entrelaçando entre si uma teia e uma
tecedura bem definida: a teia da fé e a tecedura do
serviço. Quando se enlaça a fé com o serviço, o coração permanece aberto e
jovem, e dilata-se ao fazer o bem. Então a fé, como diz Jesus no Evangelho,
torna-se poderosa e faz maravilhas. Se caminha por tal estrada, então amadurece
e torna-se forte, desde que permaneça sempre unida ao serviço.