Infelizmente, as
notícias de violência fazem parte do cotidiano. Sempre que acontecem mais
assassinatos e roubos, como está acontecendo no Rio Grande do Sul, o problema
recebe atenção especial e não poderia ser diferente. Na campanha eleitoral, o
tema é obrigatório. Quando se começa a estudar o assunto e se procura soluções,
imediatamente entra em pauta o sistema prisional. Longos debates e estudos
trazem questões sobre a finalidade do Sistema Prisional, sua metodologia e sua
situação atual. Este é um problema que não pode ser tratado com
superficialidade, pois não existem soluções fáceis. Também no dia 2 de outubro
é relembrado o massacre do Carandiru - São Pulo - ocorrido em 1992, no qual foram
mortos 111 prisioneiros durante uma rebelião.
A Pastoral Carcerária da Igreja Católica,
composta de leigos voluntários, religiosas e padres, visita os apenados. Fazem
este pastoreio respondendo ao pedido de Jesus Cristo: “estava na prisão, e
fostes visitar-me” (Mateus 25, 36). A presença junto aos encarcerados é uma
obra de misericórdia num ambiente onde a miséria humana está escancarada. O
objetivo geral da Pastoral Carcerária é a “evangelização e promoção da
dignidade humana por meio da presença da Igreja nos cárceres através das
equipes de pastoral na busca de um mundo sem cárceres”.
A Pastoral Carcerária tem como objetivos
específicos: “Anunciar o Evangelho de Jesus Cristo; colaborar para que os
direitos humanos sejam garantidos; conscientizar a sociedade para a difícil
situação do sistema prisional; velar a dignidade humana; contribuir para a
redução da população carcerária; superar a justiça retributiva por meio da
justiça restaurativa; promover a inclusão social da pessoa presa”.
Visitar os presídios e os prisioneiros é uma
experiência marcante e provocativa. Encontrar-se, face-a-face, com alguém que
foi julgado e condenado, por qualquer crime, desperta os mais variados
sentimentos. O primeiro é de tristeza pelo sofrimento causado pela ação criminosa.
Vem à mente as vítimas e seus familiares, com toda a violência sofrida e os
traumas que agora carregam. A ferida do mal sofrido é irreparável. Enfim,
quanto sofrimento, quanta dor está por detrás de cada prisioneiro.
Outro sentimento que brota é de compaixão e
misericórdia para com os prisioneiros. Objetivamente os prisioneiros fizeram um
mal que justifica sua prisão, foram julgados, condenados e estão cumprindo a
pena, conforme a lei. Também vem a pergunta: por que eles se encaminharam por
este caminho torto? Houve descuido na sua formação humana? Acima de tudo nasce
a inquietação de como ajudá-los, para que, após o cumprimento da pena, possam
voltar à sociedade e mudem de vida.
Outro problema sério são as condições
sub-humanas dos presídios. Ver com os próprios olhos a realidade prisional,
certamente, impacta muito mais do que vê-la pelos meios de comunicação. Se uma
das finalidades dos presídios é a reinserção social, que na linguagem religiosa
denominamos como conversão, constata-se que, naquelas condições, este objetivo
dificilmente será alcançado.
A Pastoral Carcerária orienta-se, nas suas
visitas aos encarcerados, conforme o sentimento de Deus: “não tenho prazer na
morte do ímpio, mas antes que ele mude de conduta e vida” (Ezequiel 33, 11).
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
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