quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Iraque: Mais de cem locais de culto danificados ou destruídos pelo Daesh

Igreja São João Batista, em Qaraqosh, também conhecida como Hamdaniya, a cerca de 30 km de Mosul - AFP

São ao menos cem os locais de culto vandalizados ou totalmente destruídos nos territórios de Mossul e da Província do Nínive a partir de junho de 2014, quando os jihadistas do Estado Islâmico (Daesh) impuseram seu domínio na região.

A informação é do porta-voz do Ministério para os Assuntos Religiosos da Região Autônoma do Curdistão, Mariwan Naqshbandi. Ele antecipou o conteúdo de uma relatório a ser publicado em breve por uma Comissão que investiga os crimes cometidos pelos milicianos do Daesh em Mosul e na Planície do Nínive, no período em que mantiveram o controle daquela hora. 

Vídeo mostra pastora quebrando imagem de Nossa Senhora em SP


Um vídeo feito por membros de uma igreja evangélica de Botucatu (SP) e postado no Facebook nesta quarta-feira mostra uma mulher, apontada como pastora, quebrando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Enquanto a mulher, ajoelhada na grama, destrói o objeto com um martelo, outras pessoas que acompanham o ritual a céu aberto fazem orações.

“Quebra toda obra contrária. Teu nome seja glorificado, Senhor, Aleluia Jesus, abençoa Senhor meu Pai. Essa obra feita pelas mãos do inimigo, Senhor, agora está sendo quebrada, Senhor meu Deus e meu Pai, em nome de Jesus”, prega um dos homens no local.

“Nós não aceita (sic.) outro Deus a não ser o Senhor”, diz outra mulher.


Após a repercussão negativa o vídeo foi retirado do Facebook, porém diversas pessoas já tinham realizado o download das imagens e não demorou para o vídeo retornar para a web e receber diversas críticas.

Católicos indignados marcaram um encontro em frente da casa da suposta pastora para um momento de oração. Outros afirmaram que denunciariam os envolvidos pelo crime de Intolerância Religiosa.

Por meio de nota, o Conselho de Pastores da Cidade de Botucatu afirma que “não esteve envolvido e nem apoia nem uma prática de intolerância religiosa. Fazendo dessa nota um pedido de perdão aos nossos irmãos e amigos católicos que se sentiram ofendidos com o vídeo de uma prática isolada que está circulando nas redes sociais”. 

Papa: "Devemos depositar a esperança em Deus, não nos falsos ídolos".


CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No passado mês de dezembro e na primeira parte de janeiro, celebramos o tempo do Advento e depois aquele do Natal: um período do ano litúrgico que desperta no povo de Deus a esperança. Esperar é uma necessidade primária do homem: esperar o futuro, acreditar na vida, o chamado “pensar positivo”.

Mas é importante que tal esperança seja colocada naquilo que realmente pode ajudar a viver e a dar sentido à nossa existência. É por isso que a Sagrada Escritura nos adverte contra as falsas esperanças que o mundo nos apresenta, desmascarando sua inutilidade e mostrando sua insensatez. E o faz de vários modos, sobretudo denunciando a falsidade dos ídolos em que o homem é continuamente tentado a colocar a sua confiança, fazendo-lhe objeto de sua esperança.

Em particular, os profetas e sábios insistem nisso, tocando um ponto mais importante do caminho de fé do crente. Porque fé é confiar-se a Deus – quem tem fé, se confia a Deus – mas vem o momento em que, confrontando-se com as dificuldades da vida, o homem experimenta a fragilidade daquela confiança e sente a necessidade de certezas diversas, de seguranças tangíveis, concretas. Eu confio em Deus, mas a situação é um pouco ruim e eu preciso de uma certeza um pouco mais concreta. E ali está o perigo! E então somos tentados a procurar consolos também efêmeros, que parecem encher o vazio da solidão e aliviar o cansaço do crente. E pensamos poder encontrá-los na segurança que pode dar o dinheiro, nas alianças com os poderosos, na mundanidade, nas falsas ideologias. Às vezes os procuramos em um deus que possa se dobrar às nossas exigências e magicamente intervir para mudar a realidade e torná-la como nós a queremos; um ídolo, de fato, que como tal não pode fazer nada, impotente e enganador. Mas nós gostamos dos ídolos, gostamos tanto! Uma vez, em Buenos Aires, precisei ir a outra igreja, mil metros, mais ou menos. E o fiz caminhando. E há um parque no meio, e no parque havia pequenas mesas, mas tantas, tantas, onde estavam sentados os cartomantes. Estava cheio de gente, fazia até fila. Você lhe dava a mão e ele começava, mas o discurso era sempre o mesmo: há uma mulher na tua vida, tem uma sombra que vem, mas tudo andará bem…E depois, pagava a eles. E isso te dá segurança? É a segurança de uma – permita-me a palavra – de uma estupidez. Ir à cartomante que lê as cartas: isso é um ídolo! Este é o ídolo, e quando somos tão apegados a eles: compramos falsas esperanças. Em vez daquela que é a esperança da gratuidade, que nos trouxe Jesus Cristo, gratuitamente dando a vida por nós, naquelas às vezes não confiamos tanto.

Um Salmo cheio de sabedoria nos retrata de modo muito sugestivo a falsidade desses ídolos que o mundo oferece à nossa esperança e nos quais os homens de todo tempo são tentados a confiar. É o Salmo 115, que recita assim:

“Seus ídolos são ouro e prata,
obra das mãos do homem.
Têm boca e não falam,
têm olhos e não veem,
têm orelhas e não ouvem,
têm nariz e não sentem cheiro.
Suas mãos não tocam,
seus pés não caminham;
de sua garganta não saem sons! 
Torna-se como eles quem os fabrica
e quantos neles confiam!” (vv. 4-8).

O salmista nos apresenta, de modo também um pouco irônico, a realidade absolutamente efêmera destes ídolos. E devemos entender que não se trata somente de figuras feitas de metal ou de outro material, mas também daquelas construídas com a nossa mente, quando confiamos em realidades limitadas que transformamos em absolutas, ou quando reduzimos Deus aos nossos esquemas e às nossas ideias de divindade; um deus que se assemelha a nós, compreensível, previsível, justamente como os ídolos de que fala o Salmo. O homem, imagem de Deus, fabrica um deus à sua própria imagem, e é também uma imagem mal alcançada: não sente, não age e, sobretudo, não pode falar. Mas nós ficamos mais felizes de ir aos ídolos do que ao Senhor. Ficamos tantas vezes mais contentes com a esperança efêmera que te dá este falso ídolo, que com a grande esperança segura que nos dá o Senhor.

À esperança em um Senhor da vida que com a sua Palavra criou o mundo e conduz as nossas existências, se contrapõe a confiança em simulacros mudos. As ideologias com a sua pretensão de absoluta, as riquezas – e este é um grande ídolo – o poder e o sucesso, a vaidade, com a sua ilusão de eternidade e de onipotência, valores como a beleza física e a saúde, quando se tornam ídolos aos quais sacrificar qualquer coisa, são todas realidades que confundem a mente e o coração, e em vez de favorecer a vida conduzem à morte. É ruim ouvir e causa dor na alma o que uma vez, há anos, ouvi, na diocese de Buenos Aires: uma mulher, muito bonita, se vangloriava da beleza, comentava, como se fosse natural: “É sim, precisei abortar porque a minha imagem é muito importante”. Estes são os ídolos, e te levam no caminho errado e não te dão felicidade.

A mensagem do Salmo é muito clara: se você coloca a esperança nos ídolos, se torna como eles: imagens vazias com mãos que não tocam, pés que não caminham, bocas que não podem falar. Não há mais nada a dizer, se torna incapaz de ajudar, mudar as coisas, incapaz de sorrir, de doar-se, incapaz de amar. E também nós, homens de Igreja, corremos este risco quando nos “mundanizamos”. É preciso permanecer no mundo mas defender-se das ilusões do mundo, que são estes ídolos que mencionei.

Como prossegue o Salmo, é preciso confiar e esperar em Deus e Deus dará benção.

Assim diz o Salmo:
“Israel, confia no Senhor […]
Casa de Arão, confia no Senhor […]
Vós que temeis o Senhor, confiem no Senhor […]

O Senhor se lembra de nós, nos abençoa” (vv. 9.10.11.12). Sempre o Senhor se lembra. Também nos momentos ruins, ele se lembra de nós. E esta é a nossa esperança. E a esperança não desilude. Nunca. Nunca. Os ídolos desiludem sempre: são fantasias, não são realidade.

Eis a maravilhosa realidade da esperança: confiando no Senhor se torna como Ele, a sua benção nos transforma em seus filhos, que partilham a sua vida. A esperança em Deus nos faz entrar, por assim dizer, no alcance de sua memória, da sua memória que nos abençoa e nos salva. E então pode jorrar o aleluia, o louvor ao Deus vivo e verdadeiro, que por nós nasceu de Maria, morreu na cruz e ressuscitou na glória. E neste Deus nós temos esperança, e este Deus – que não é um ídolo – não desilude jamais.

Após a Catequese:

O Pai é conhecido pela manifestação do Filho


Ninguém pode conhecer o Pai sem que o Verbo de Deus, isto é, sem que o Filho O revele; e ninguém pode conhecer o Filho sem o beneplácito do Pai. É o Filho que cumpre este beneplácito do Pai: o Pai envia, e o Filho é enviado e vem. O Pai, embora seja para nós invisível e inefável, é conhecido pelo seu próprio Verbo; e, embora seja inexplicável, o Verbo no-l’O dá a conhecer. Reciprocamente, só o Pai conhece o seu Verbo. Foi o Senhor quem nos revelou esta dupla verdade. Assim, o Filho revela o conhecimento do Pai pela manifestação de Si mesmo, pois que o Pai é conhecido pela manifestação do Filho: tudo é revelado por meio do Verbo.

Foi para isto que o Pai revelou o Filho, isto é, para Se dar a conhecer a todos por meio d’Ele e para que merecessem ser recebidos no lugar da incorruptibilidade e da consolação eterna os que n’Ele acreditassem (acreditar n’Ele é fazer a sua vontade).

De facto, já pela criação, o Verbo revela Deus Criador; pela existência do mundo, o Senhor que o fabricou; pela matéria modelada, o Artífice que a modelou; e pelo Filho, o Pai que O gerou. Sobre isto, todos falam de maneira semelhante, mas nem todos creem de maneira semelhante. O Verbo anunciava-Se a Si mesmo e ao Pai através da Lei e dos Profetas; e todo o povo o ouviu de maneira semelhante, mas nem todos acreditaram de maneira semelhante. E o Pai manifestou-Se a Si mesmo, por meio do Verbo feito visível e palpável, e nem todos acreditaram de maneira semelhante; mas todos viram o Pai no Filho, porque a realidade invisível que viam no Filho era o Pai, e a realidade visível em que viam o Pai era o Filho.

É o Filho que, servindo o Pai, leva à perfeição todas as coisas do princípio ao fim, e sem Ele ninguém pode conhecer Deus. O conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho está no Pai e é revelado pelo Filho. Neste sentido dizia o Senhor: Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O revelar. A palavra revelar não diz respeito apenas ao futuro, como se o Verbo só tivesse começado a manifestar o Pai quando nasceu de Maria; antes, de um modo geral, diz respeito a todo o tempo. De facto, o Pai é revelado pelo Filho, presente desde o princípio na sua obra da criação, a quem o Pai quer, quando quer e como quer. E assim, em todas as coisas e através de todas as coisas, há um só Deus Pai, e um só Verbo, o Filho, e um só Espírito, como há também uma só salvação para todos os que creem n’Ele.


Do Tratado de Santo Ireneu, bispo, «Contra as heresias»

(L.4, 6, 3.5.6.7: SC 100, 442.446.448-454) (Sec. II)

A Liturgia é Sagrada


Continuo nesse artigo a citar pérolas do último livro do Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino, com o título “A Força do Silêncio - contra a ditadura do barulho”, pois se trata do Cardeal encarregado pelo Papa de velar pela Liturgia na Igreja.

“Não pretendo ocupar nosso tempo opondo uma liturgia à outra, ou o rito de São Pio V ao do Beato Paulo VI. Mas trata-se de entrar no grande silêncio da liturgia; é preciso saber deixar-se enriquecer por todas as formas litúrgicas latinas ou orientais que privilegiam o silêncio. Sem este espírito contemplativo, a liturgia se tornará uma ocasião de dilacerações odiosas e de enfrentamentos ideológicos em vez de ser o lugar da nossa unidade e da nossa comunhão no Senhor. Este é o momento de entrar neste silêncio litúrgico, voltados para o Senhor, que o Concílio quis restaurar”.

“O que vou dizer agora não entra em contradição com minha submissão e minha obediência à autoridade suprema da Igreja. Desejo profunda e humildemente servir a Deus, a Igreja e ao Santo Padre, com devoção, sinceridade e apego filial. Mas eis aqui a minha esperança: se Deus quiser, quando ele quiser e como ele quiser, na liturgia, a reforma da reforma será feita. Apesar do ranger de dentes, ela virá, pois nela está em jogo o futuro da Igreja”.

“Estragar a liturgia é destruir nossa relação com Deus e a expressão concreta de nossa fé cristã. A Palavra de Deus e o ensinamento doutrinal da Igreja são ainda ouvidos, mas as almas que desejam voltar-se para Deus, oferecer-lhe o verdadeiro sacrifício de louvor e adorá-lo, já não são cativadas por liturgias demasiadamente horizontais, antropocêntricas e festivas, assemelhadas muitas vezes a acontecimentos culturais barulhentos e vulgares. Os meios de comunicação invadiram totalmente e transformaram em espetáculo o Santo Sacrifício da Missa, memorial da morte de Jesus na cruz para a salvação das nossas almas. O sentido do mistério desaparece pelas mudanças, pelas adaptações permanentes, decididas de forma autônoma e individual para seduzir nossas mentalidades modernas profanadoras, marcadas pelo pecado, pelo secularismo, pelo relativismo e pela rejeição de Deus”. 

A santificação das águas*


Cristo apareceu no mundo e, restituindo-lhe a sua harmonia original, encheu-o de esplendor e alegria. Tomou sobre Si o pecado do mundo e expulsou o inimigo do mundo. Santificou as fontes das águas e iluminou as almas dos homens. Acumulou maravilhas sobre maravilhas cada vez maiores. 

Hoje a terra e o mar repartiram entre si a graça do Salvador, e o mundo inteiro foi inundado de alegria. O dia de hoje oferece prodígios ainda maiores do que a precedente solenidade. 

Na solenidade do Nascimento do Salvador, alegrava-se a terra por abrigar o Senhor num presépio; no presente dia das Teofanias, também o mar exulta e estremece de júbilo, porque recebe a bênção santificante por meio do rio Jordão. 

Na precedente solenidade, aparecia-nos um Menino débil, testemunhando a nossa imperfeição; na presente festividade, vemo-l’O já homem perfeito, deixando-nos entrever, de modo velado, a perfeição d’Aquele que procede do Ser perfeito. Naquela, o Rei vestia a púrpura do corpo humano; nesta, a fonte envolve e reveste, por assim dizer, as águas do rio. 

Prestai atenção e vede estes novos e admiráveis prodígios: o sol de justiça purifica-se no Jordão, o fogo é submergido na água, Deus é santificado pelo ministério de um homem. 

Hoje toda a criação entoa hinos de louvor e proclama: Bendito o que vem em nome do Senhor. Bendito o que vem em todo o tempo, porque não é esta a primeira vez que vem. 

E quem é este que vem? Diz-no-lo mais claramente, ó bem- -aventurado David: O Senhor é Deus e fez brilhar sobre nós a sua luz. E não é só o profeta David quem o diz; também o apóstolo Paulo se associa àquele testemunho quando afirma: Apareceu a graça de Deus, que traz a salvação a todos os homens e nos ensina. Não a alguns homens somente, mas a todos. A todos, com efeito, judeus e gregos, se concede a salvação por meio do Batismo, oferecendo a todos o Batismo como um benefício universal. 

Prestai atenção, contemplai este novo e admirável dilúvio, maior e mais prodigioso que o do tempo de Noé. Então, a água do dilúvio dizimou o gênero humano; agora, a água do Batismo, pelo poder d’Aquele que foi batizado por João, reconduz os mortos à vida. Então, a pomba, transportando no bico o ramo de oliveira, simbolizou a fragrância do odor de Cristo nosso Senhor; agora, o Espírito Santo, descendo em forma de pomba, mostra-nos o Senhor da misericórdia.


Dos Sermões de São Proclo, bispo 
(Oratio 7 in sancta Theophania, 1-3: PG 65, 758-759) (Sec. V)
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*Quarta-feira após a Epifania do Senhor

São Vital


Viveu entre o século VI e VII, foi monge, ermitão na região de Gaza, na Palestina. São Vital vivia o refúgio em Cristo Jesus, na oração e na penitência. Quanto mais alguém se refugia em Deus, sendo monge ou não, vai criando um coração cada vez mais dilatado pelo amor do Senhor. Por isso, vai se tornando pessoa de compaixão, que não julga, não condena; mas vai ao encontro do outro para ser sinal de Deus.

São Vital, movido de pelo Espírito [Santo], saiu da Palestina e foi para o Egito, instalando-se em Alexandria. A sociedade daquele tempo sofria com a prostituição, mas São Vital não as julgou, não as condenou nem foi buscar a santidade, pois quem, de fato, busca a santidade, busca assemelhar-se àquele. Falando para as autoridades religiosas do seu tempo, ele disse: “Os publicanos e as meretrizes os precedem”. Jesus falou isso (Mateus, 21) e os santos buscaram ser reflexo dessa misericórdia. Denuncie o pecado, mas, sobretudo, anuncie o amor que redime, que salva.

O santo buscava, num período do seu dia, arrecadar fundos e, depois, à noite, ia ao encontro das prostitutas e oferecia o dobro [em dinheiro] apenas pela atenção delas. Ele anunciava Jesus Cristo como em Lucas 15, quando o apóstolo ele demonstra um coração de Deus, como do pastor que é capaz de deixar 99 ovelhas para ir ao encontro daquela que se desgarrou.

São Vital, testemunho da misericórdia que nos converte, converteu muitas mulheres, ao ponto delas o ajudarem. Algumas senhoras “piedosas” foram se queixar desse apostolado com o bispo e São Vital foi preso. No entanto, as mulheres que iam se convertendo foram até a autoridade eclesiástica.

Os fatos foram apurados e viu-se que era uma injustiça contra o santo. Injustiça maior aconteceu quando, já solto, continuou a evangelizar com este método ousado, mas um homem que comercializava as mulheres, o apunhalou pelas costas. São Vital teve forças ainda de deixar, por escrito, esta verdade que é atual para todos nós. Ao povo de Alexandria e dos demais lugares, ele dizia: “Convertei-vos, não deixais a conversão para amanhã”. Por isso, São Vital chamava à atenção para a conversão e, ao mesmo tempo, para o dia do juízo.


Deus onipotente e misericordioso, destes a São Vital superar as torturas do martírio. Concedei que, celebrando o dia do seu triunfo, passemos invictos por entre as ciladas do inimigo, graças à vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


São Vital, rogai por nós!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Filhos de Deus não se nasce, torna-se!


Caro Amigo, tenho a imensa satisfação de oferecer-lhe este belíssimo texto do grande exegeta Pe. Ignace de La Potterie. Como é bonito um exegeta e teólogo que é fiel a Cristo e à fé da Igreja, sem escorregar nas bobagens e teorias heterodoxas de tantos “teólogos” de hoje! Este é um texto para quem gosta de refletir... Boa leitura!

A Igreja celebrou há pouco com o Santo Natal o nascimento no tempo do Unigênito eterno Filho de Deus.

Segundo uma teologia cada vez mais difusa, com a encarnação do Filho derivaria de maneira automática a atribuição imediata da filiação divina a cada homem. No sentido que todo homem, que o saiba ou não, que o aceite ou não, vive já radicalmente em Cristo. Segundo esta teologia, Cristo, ainda antes de ser o chefe da Igreja, é o chefe de toda a criação. Todo homem lhe pertence antes mesmo de ser alcançado e transformado pelo Seu Espírito.

Esta concepção pretende encontrar um aval na afirmação de São Tomás de Aquino segundo o qual “considerando a generalidade dos homens, por todo o tempo do mundo, Cristo é o chefe de todos os homens, mas segundo graus diversos” (Summa theologiae III, 8,3) retomada da constituição pastoral Gaudium et spes do último Concílio: “Com a encarnação o Filho de Deus uniu-Se de algum modo a todo homem” (22). Mas se fossem retiradas da frase da Summa theologiae e da frase da Gaudium et spes os incisos “segundo graus diversos” e “de algum modo” não se respeitariam todos os dados da fé católica.

E de fato o mesmo Concílio na constituição dogmática Lumen gentium (13), seguindo fielmente a Tradição, distingue claramente entre a chamada de todos os homens à salvação e a pertença em ato dos crentes à comunhão de Jesus Cristo. Segundo o método próprio de toda a revelação bíblica.

Se, com a encarnação do Verbo, a filiação divina fosse atribuída imediatamente a cada homem, o mistério da escolha ou eleição e portanto a fé, o batismo e a Igreja não teriam mais algum papel constitutivo para a salvação: a missão da Igreja no mundo seria apenas a de fazer todos os homens do mundo tomarem consciência desta salvação já presente no profundo de cada um. Em suma, cada homem, na virtude da encarnação do Verbo, conquistaria automaticamente, mesmo se inconscientemente, “a existência em Cristo” recebendo assim, em virtude da sua transcendência como pessoa humana, os efeitos salvíficos da redenção operada por Jesus Cristo. Seria um “cristão anônimo”.

Já Erik Peterson, o famoso estudioso alemão convertido do luteranismo ao catolicismo, no seu ensaio de 1933 Die Kirche aus Juden und Heiden (A Igreja composta por Judeus e Gentios), comentando os capítulos de 9 a 11 da carta de São Paulo aos Romanos, explicava que não pode existir um cristianismo reduzido à ordem meramente natural, no qual os efeitos da redenção operada por Jesus Cristo seriam transmitidos geneticamente, por via hereditária, a cada homem, pelo único critério de compartilhar com o Verbo encarnado a natureza humana.

A filiação divina não é o êxito automático garantido pela pertença ao gênero humano. A filiação divina é sempre um dom gratuito da graça, não pode prescindir da graça doada gratuitamente no batismo e reconhecida e acolhida na fé.


Um trecho de São Leão Magno, lido na liturgia do Advento, esclarece com precisão a relação entre a encarnação e o batismo: “Se Aquele, que é o único livre do pecado, não tivesse unido a Si a nossa natureza humana, toda a natureza humana teria permanecido prisioneira sob o jugo do diabo. Nós não poderíamos ter tido parte à gloriosa vitória dele se a vitória tivesse sido reportada fora da nossa natureza. Por causa desta admirável participação à nossa natureza resplendeu para nós o sacramento da regeneração, para que, em virtude do mesmo Espírito por obra do qual foi gerado e nasceu Cristo, também nós, que nascemos da concupiscência da carne, nascêssemos de novo de nascimento espiritual”.

E Santo Agostinho no De Civitate Dei escreve: “A natureza corrupta pelo pecado gera, portanto, os cidadãos da cidade terrena, enquanto a graça que libera a natureza do pecado gera os cidadãos da cidade celeste. Por isso os primeiros são chamados vasos de ira: os outros são chamados vasos de misericórdia. Existe um símbolo disso também nos dois filhos de Abraão. Um, Ismael, nasceu segundo a carne da escrava Agar, o outro, Isaac, nasceu segundo a promessa de Sara, que era livre. Ambos são estirpe de Abraão, mas uma relação puramente natural fez nascer o primeiro, enquanto que a promessa que é o sinal da graça doou o segundo. No primeiro caso se revela um comportamento humano, no segundo caso se revela a graça de Deus”.