segunda-feira, 20 de março de 2017

Em vez de semear o ódio, construir a cultura da paz!


“Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo” 
(Lc 3,14b).

Aproxima-se a Páscoa do Senhor. A Igreja no Brasil convida a todas as pessoas de boa vontade para refletir sobre a construção da paz em vez da violência.

Vivemos em tempos confusos em todo mundo. A humanidade perdeu a referência e as notícias de corrupção aumentam cada vez mais. O desespero de milhares de mulheres, sendo violentadas é inegável. Crianças abandonadas sem proteção; juventude desorientada, educada pelo sistema intimista e egoísta; avós sustentando netos; pais irresponsáveis e despreparados de agrotóxicos destruindo fauna, flora, vidas humanas colocando em risco a saúde pública; políticos envolvidos na corrupção e votando leis inoperantes e insustentáveis; Tribunais sustentando cadeiras políticas gerando desconfiança e insegurança na proteção dos deveres e diretos da população; a mídia elitizada semeando violência e ódio na sociedade. Estamos sem referência para construir a paz em todos os ambientes onde vivemos, nos movemos e somos.

Escreveu um teólogo, professor meu: “É urgente uma nova relação para com a Terra e para com a natureza, feita de sinergia, respeito, convivência, cuidado e sentido de responsabilidade coletiva”. A falta da ética, o respeito pela vida humana destrói a nossa convivência e a casa comum, a natureza. A reflexão sobre o bioma, deve nos conduzir para uma nova relação e comportamento existencial. 

Seguindo a reflexão do professor teólogo: “Na nossa cultura temos a figura paradigmática de São Francisco de Assis, atualizada pelo bispo de Roma, Francisco, em sua encíclica Laudato Si: cuidando da Casa Comum. Proclama o poverello de Assis “o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia...para ele qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe” (n.10 e 11). Com certo humor recorda “que São Francisco pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto para as ervas silvestres crescerem” (n.12) pois elas a seu modo também louvam a Deus.

Esta atitude de enternecimento levava-o a recolher as minhocas dos caminhos para não serem pisadas. Para São Francisco todos os seres são animados e personalizados. Por intuição espiritual descobriu o que sabemos atualmente por via científica (Crick e Dawson, os que decifraram o DNA) que todos os viventes somos parentes, primos, irmãos e irmãs, por possuirmos o mesmo código genético de base. Por isso chamava a todos de irmãos e irmãs: o sol, a lua, o lobo de Gubbio e até a morte.

Esta visão supera a cultura da violência e inaugura a cultura do cuidado e da paz. São Francisco realizou plenamente a esplêndida definição que a Carta da Terra encontrou para a paz: “é aquela plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com as outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o Todo maior do qual somos parte” (n.16 ). 

Homilética: 4º Domingo da Quaresma - Ano A: "A luz que vem de Deus".


Celebrando o 4º Domingo da Quaresma, o Evangelho (Jo 9, 1-41) nos apresenta o tema da Luz.

Jesus unge os olhos do cego de nascença com lama feita a partir da saliva. Jesus como que inicia com um rito. Toca os olhos do cego, concedendo-lhe a visão. E, aos poucos no diálogo com ele, vai- lhe despertando a fé. E o cego acaba vendo, à luz da fé, que Jesus é o Filho do Homem. Acaba dando testemunho dele.

A cura do cego descreve o processo da fé de um homem, que vai passando das trevas da cegueira, para a luz da visão, e desta para a Luz da fé em Cristo. O “Cego” é um símbolo de todos os homens que renascem pela fé, acolhendo Jesus (no Batismo) e deixando-se conduzir pela sua palavra.

Tudo começa por uma pergunta dos discípulos a Jesus: “Por que esse homem nasceu cego?” ”Quem pecou para que nascesse cego: ele ou seus pais ?” (Jo 9,2). Jesus responde: “Nem ele, nem seus pais pecaram…” (Jo 9,3). Com essa resposta Jesus lembra o que os profetas já combatiam que era uma crença popular antiga que pensavam que o cego estava pagando pelos seus pecados ou dos seus antepassados. Trata-se de uma crença errada, semelhante ao absurdo da reencarnação. Esta é uma crença espírita, não é cristã. A Palavra de Deus nos diz: “os homens morrem uma só vez, depois vem o juízo” (Hb 9,27). A reencarnação é uma injustiça! É negar a obra redentora de Cristo e afirmar que é o próprio homem que se salva, por etapa, cada vez mais que se reencarna. É a onda do reciclável, como lixo.

“Nem ele, nem seus pais pecaram…”. Com isso Jesus quer nos ensinar que os segredos da vida pertencem a Deus! Se crermos no seu amor, se nos abandonarmos nas suas mãos, a maior dor, o mais inexplicável sofrimento pode ser confortado pela certeza de que Deus está conosco e nos fortalece. “Se Deus é por nós, quem será contra nós ?” Até na dor e no sofrimento Deus está presente.

O Papa Bento XVI dizia que “o domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz»” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).

O mundo hedonista, consumista e superficial não compreende isso! O cego é questionado pelas autoridades sobre a origem de Jesus. E ele mostra-se livre (diz o que pensa…); corajoso (não se intimida); sincero (não renuncia à verdade); suporta a violência ( é expulso da Sinagoga). Antes de se encontrar com Jesus, o cego é um homem prisioneiro das “trevas”, dependente e limitado. “Não sabe quem o curou…” Finalmente, encontrando-se com Jesus, que lhe pergunta: “Acreditas no Filho do Homem”, manifesta a sua adesão total: “Creio, Senhor”. Prostra-se e O adora. O caminho de fé do cego é um itinerário para todo cristão! São Josemaria Escrivá, em Amigos de Deus, nº 193, diz: “Que  exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa. É assim que te comportas com as indicações que Deus te faz, quando muitas vezes estás cego, quando a luz se oculta por entre as preocupações da tua alma? Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem umedecidos? Teria  sido mais adequado um colírio misterioso, um medicamento precioso preparado no laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê, põe  em prática o que Deus lhe ordena, e volta com os olhos cheios de claridade”. Nesta Quaresma, somos convidados a viver a experiência catecumenal, renovando o nosso Batismo, mediante o Sacramento da Penitência (Confissão).

A Quaresma é um tempo que nos convida a fazermos uma boa Confissão dos nossos pecados, pois eles são a causa da nossa cegueira espiritual. O pecado nubla e ofusca a nossa mente,  mancha a nossa afetividade, debilita a nossa vontade. E assim adoecemos de cegueira espiritual, como este cego de nascença ( Evangelho ), que estava jogado fora do templo, pedindo esmola. Jesus exige que nos aproximemos dEle com fé que gritemos com confiança e que obedeçamos quando nos manda descer para banhar na piscina de Siloé da Confissão.

Quanto mais buscamos Jesus como Luz, mais nossa vida terá sentido! O nosso comportamento de cristão deve ser testemunho do Batismo recebido; devemos testemunhar com as obras que Cristo é para nós, não apenas luz da mente, mas também luz da vida. Não são as obras das trevas – o pecado – as que correspondem a um batizado, mas sim as obras da luz.

Deus conceda que a nossa fé seja mais profunda. Nós, como aquele que fora cego, começamos a ver somente pela iniciativa e pelo poder de Jesus; também foi pela ação misteriosa da graça que nós continuamos a buscar a Cristo e a adorá-lo. Há uma antiga oração da Igreja que pede a Deus que as nossas ações sejam precedidas, ajudadas e terminadas com o auxilio divino mostrando, dessa maneira, a nossa dependência total do Senhor. Seria terrível se algum dia nos invadisse uma espécie de autossuficiência espiritual. Seria o momento no qual Jesus nos diria, como outrora aos fariseus, que a nossa pretensão é o que nos cega (cfr. Jo 9,41).

Não nos consideremos grande coisa só porque participamos de uma determinada pastoral ou de determinado grupo; nem pensemos que seremos salvos porque somos desse ou daquele movimento; tampouco nos apoiemos numas obras que sabemos que são boas, mas que frequentemente estarão manchadas pelo egoísmo e pelo orgulho. A caminhada junto ao Senhor, as contínuas quedas no caminho rumo à santidade, a aparente repetição das lutas interiores que nós não sabemos explicar, deveriam levar-nos a uma profunda humildade, a confiar sempre mais na iniciativa de Jesus, a combater os nossos próprios defeitos em total dependência da ação divina e a adorar a Deus com todo o nosso ser.

Livre-nos Deus de toda pretensão. Ao contrário, devemos reconhecer constantemente que Jesus é o nosso único Salvador. É esse reconhecimento que nos faz fortes e audaciosos, não por nossa própria virtude, mas confiando em Jesus. Aprofundar na fé nos fará ver, cada vez mais, a importância de sermos pequenos diante de Deus. Essa pequenez é totalmente compatível com a visão de águia, ampla e audaciosa, que nós devemos ter.

Não podemos ficar lamentando-nos: “sou um pobre pecador”, “não posso nada”, “pobre de mim”. Não podemos paralisar-nos! Enquanto isso os inimigos de Deus e de sua Igreja trabalhariam para dominar. Não! Sabedores das nossas fraquezas, confiaremos na graça de Deus; conscientes da nossa pobreza, nos enriqueceremos com os tesouros imperecíveis do nosso Pai do céu. O cristão deve ser uma pessoa de fé cada vez mais profunda, humilde, simples; deve ser pequeno diante de Deus. Mas um filho de Deus deve ser também alguém que anda com a cabeça erguida, consciente da sua nobre condição e do seu dever de “comer o mundo”. Um maior crescimento na fé implica uma visão mais ampla das coisas e uma audácia antes não experimentada. Deus conta conosco!


Como o cego, após o encontro com Jesus, iluminado, manifestemos a alegria de sermos cristãos! “A alegria do discípulo não é um sentimento de bem estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é a nossa alegria” (DA, 29).

Por que a comemoração de São José é transferida quando cai num domingo da Quaresma?


Normalmente, a solenidade de São José é celebrada no dia 19 de março, entretanto, quando o dia 19 de março cai em um domingo da Quaresma, sua celebração é transferida para o dia seguinte, 20 de março.

“Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal que pretende, sobretudo, através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal”, explica a constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia.

Além disso, indica que “para que as festas dos Santos não prevaleçam sobre as festas que recordam os mistérios da salvação, muitas delas ficarão a ser celebradas só por uma igreja particular ou nação ou família religiosa, estendendo-se apenas a toda a Igreja as que festejam Santos de inegável importância universal”. 

Estamos comungando Jesus ou comendo hóstias?


Certo dia, em sala de aula, meu professor de Antigo Testamento perguntou: “Estamos comungando Jesus ou comendo Hóstias?”.

Parece uma brincadeira, mas o questionamento é sério. Eu fiquei pensando… meu Deus! Já comunguei tantas vezes, já participei de MILHARES de Missas, mas… o que mudou? Em que mudei?

Comungar é estar unido, intimamente ligado ao Cristo. É viver como Ele viveu, pensar como Ele pensa, agir como Ele age! Da sua primeira comunhão pra cá, em que você melhorou? Quais foram os passos significativos no processo de conversão? Em suma: quais os frutos de santidade que a Eucaristia realizou em nós?

Santa Teresa de Ávila dizia que bastava uma comunhão em estado de graça para se santificar. A Beata Imelda morreu no dia da sua Primeira Comunhão. Morreu de amor. Tantos santos que entravam em êxtase na hora da Missa, como Luís de Monfort, Inácio de Loyola e José de Cupertino… 

Santo Ambrósio de Sena (Sansedoni)


Ambrósio Sansedoni, nasceu no majestoso palácio da sua nobre família, no ano 1220, na cidade de Sena, Itália. Segundo a tradição, parece que ele nasceu disforme, com algumas imperfeições nas pernas e braços, por este motivo foi confiado a uma ama de leite, que o mantinha fora do palácio, pois a família se envergonhava da sua condição. Mas, esta senhora, muito cristã e piedosa, cuidou dele com carinho e afeição. Todos os dias, ela o levava nos braços, cobrindo inclusive o seu rosto, à igreja, onde rezava com fervor, para que o menino fosse curado. 

Certa vez, um peregrino disse à ama de leite: “Mulher, não escondas o rosto desta criança, porque será a luz e a glória desta cidade”. Não passou muito tempo Ambrósio foi curado milagrosamente. Tinha pouco mais de três anos, quando retornou ao palácio e ao seio da família. Depois, aos dezessete anos, abandonou tudo para ingressar na Ordem dos Padres Predicadores Dominicanos. 

O noviciado e os primeiros estudos, ele completou em Sena, depois fez o aperfeiçoamento, em 1245, na diocese de Paris e de lá seguiu para a Alemanha, na diocese de Colônia. Teve como professor, o futuro santo, Alberto Magno e como companheiros Pedro de Tarantasia, que mais tarde foi eleito Papa Inocêncio V e Tomás d’Aquino, que a Igreja homenageia com o título de Doutor. 

Ambrósio foi chamado para ir lecionar em Paris. A partir de então se tornou conhecido, principalmente, pela eficácia de sua pregação na igreja e na praça, entre os salmos e entre os tumultos. Alguns pintores o representaram com o Espírito Santo em forma de pomba branca, que lhe fala ao ouvido. 

Seus dons excepcionais de convencimento e conciliação, marcaram a história da Igreja e da humanidade. Foi enviado à Alemanha como mediador da paz entre várias famílias em conflito. Regressou a Sena e alcançou do Papa Gregório X a supressão de um interdito que havia recaído sobre a sua cidade. Depois disto, este mesmo pontífice lhe confiou ainda outras missões de paz pela Itália, Hungria, França e novamente Alemanha.

Acusado de impostor e de ambicioso por um poderoso senhor, Ambrósio respondeu-lhe: “Deus se chama Rei da Paz. É por isso que cada um deve desejar a paz com o próximo. Deus não a concede senão aos que a concedem de bom coração aos outros. O que eu faço não é por mim mesmo, mas pela vontade daquele que tem poder sobre mim. Agora, pois, se é por minha causa, se é que vos perturbo, peço-vos perdão...”.

No ano 1270, foi chamado a Roma pelo Papa, para ajudar na restauração dos estudos eclesiásticos. Morreu vítima do seu zelo, no dia 20 de março de 1286, em Sena, durante um sermão. Falou com tamanha veemência contra os usurários, que se romperam várias veias no peito, causando-lhe a morte instantânea. O papa Clemente VIII, em 1597, fez incluir no Calendário da Igreja, o Beato Ambrósio Sansedoni, de Sena, para ser venerado no dia de sua morte.


Ó Deus, que chamastes Santo Ambrósio de Sena a buscar o vosso Reino neste mundo seguindo o caminho da caridade perfeita, concedei-nos, fortalecidos por sua intercessão, progredir com alegria nos caminhos do amor. Amém.


Santo Ambrósio, rogai por nós!

domingo, 19 de março de 2017

Homilética: São José, esposo da virgem Maria (19 de março*): "Homem que agradou a Deus".

  
São raros os dados sobre as origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens, Maria. Sabemos apenas que era descendente da casa de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos. Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio. 

Nas Sagradas Escrituras não há uma palavra sequer pronunciada por José. Mas sua missão na História da Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo descendente de Davi, necessário para que as profecias se cumprissem. Por isso, na Igreja, José recebeu o título de "homem justo". A palavra "justo" recorda a sua retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si mesmo o direito de pôr em discussão o projeto de Deus. Esperou a chamada do Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo. 

Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egito e no regresso para Israel (Mt 1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos mas significativos traços, os evangelistas o descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu a autoridade familiar numa constante atitude de serviço. As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão: uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na Providência. 

Somente uma fé profunda poderia fazer com que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou, confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da crucificação de Jesus, ou seja quanto Ele tinha trinta anos. 

Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O culto a São José começou no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado no dia 19 de março. Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador. Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.

Comentário dos Textos Bíblicos

1ª Leitura: 2Sm 7,4-5a.12-14a.16

A linha messiânica veterotestamentária, que tiveram seus momentos mais salientes no Proto-Evangelho (Gn 3,15), nos Oráculos de Balaão (Nm 22,24), encontra aqui, no messianismo ideal de Davi, o seu momento mais forte. É interessante o jogo de palavras: “bayit” (casa-dinastia) e os termos “zera” (germe), “olam” (eterno). Toda a profecia parece ser construída sobre uma oposição: não será Davi que fará uma casa (um templo) para o Senhor (v.5), mas o Senhor é que fará uma casa (uma dinastia) para Davi (v.11).

A promessa se refere essencialmente à permanência da linha davídica sobre o trono de Israel (VV.12-16). É assim que é compreendida por Davi (VV. 19.25.27.29) e pelo Sl 88,30-38;131,11-12. O oráculo vai, pois, além da pessoa do primeiro sucessor de Davi, Salomão (ao qual é aplicado o acréscimo do v.13).

Mas pode se entrever nas entrelinhas da profecia um descendente privilegiado em quem Deus porá sua complacência. É um elo da cadeia de profecias sobre o Messias, filho de Davi.

2ª Leitura: Rm 4,13.16-18.22

Colocado na festa litúrgica de São José, este trecho bíblico quer ajudar-nos a reler a vida do Santo à luz da fé de Abraão. De fato, ele é filho de Davi e descendente de Abraão (Mt 1,1.16.20). É justo (Mt 1,19), daquela justiça que vem da fé (Rm 4,13); nisto, portanto manifesta-se verdadeiro descendente de Abraão e portador das promessas (4,16). Como Abraão, José acreditou na palavra que lhe foi dita (4,17;Mt 1,24) e esperou contra toda esperança (4,18). 

Testamento de Luís XVI, Rei de França


Em nome da Santíssima Trindade, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, hoje no vigésimo dia de Dezembro de 1792, eu, de nome Luís XVI, Rei da França, estando com a minha família encerrado há mais de quatro meses na Torre do Templo de Paris, por aqueles que me estiveram sujeitos, e privado de toda a comunicação com outros, mesmo depois do 11 do decorrente com a minha família, e ademais implicado num processo cujo desenlace é impossível prever devido às paixões dos homens, e para o qual não se encontra pretexto e causa algumas segundo a lei existente, e não tendo mais testemunha dos meus pensamentos a Deus e a quem possa dirigir-me, declaro aqui em Sua presença as minhas últimas vontades e meus sentimentos.

Eu deixo a minha alma a Deus, meu criador; eu rogo-Lhe que a receba em Sua misericórdia, não julgá-la por méritos meus, mas sim pelos de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, por nós homens, ofereceu-Se em sacrifício a Deus Seu Pai, por mais indignos que fossemos, a começar por mim.

Eu morro em união com a nossa Santa Madre Igreja Católica, Apostólica e Romana, detentora dos seus poderes provenientes de uma sucessão ininterrupta de S. Pedro, a quem Jesus os tinha confiado; firmemente eu creio e confesso tudo o que está contido no Símbolo dos Apóstolos e mandamentos de Deus e da Igreja, Os Sacramentos e os Mistérios tal como a Igreja Católica ensina e ensinou sempre. Não pretendi jamais fazer-me juiz nas diferentes maneiras de explicar os dogmas que desgarram à Igreja de Jesus Cristo; mas confiei e sempre confiarei, se Deus me prestar vida, nas decisões que os superiores Eclesiásticos unidos à Santa Igreja Católica, dão e deram conforme a disciplina da Igreja, seguida desde Jesus Cristo. Compadeço-me de todo o coração dos nossos irmãos que podem estar no erro, mas não pretendo julgá-los, e a todos eles em Jesus Cristo não amo menos, tal como a caridade cristã ensina. Rogo a Deus que me perdoe de todos os meus pecados; eu tentei conhecê-los escrupulosamente, detestá-los, humilhar-me na sua presença, e ao não poder servir-me do Ministério de um Sacerdote católico rogo a Deus receber a confissão que Lhe fiz e sobretudo o arrependimento profundo que tenho de ter colocado o meu nome (ainda que tivesse sido contra a minha vontade) em actos que podem ser contrários à disciplina e à crença da Igreja Católica à qual sempre permaneci sinceramente unido de coração, rogo a Deus receber a resolução firme na que me encontro se me outorga vida, servir-me prontamente como me seja possível do Ministério de um Sacerdote Católico para acusar-me de todos os meus pecados, e receber o sacramento da Penitência.

Eu rogo a todos aqueles a que possa ter ofendido por inadvertência (porque não recordo ter ofendido ninguém deliberadamente) ou àqueles a quem possa ter dado mau exemplo ou escândalo, que me perdoem o mal que creiam poder ter-lhes feito.

Eu peço a todos aqueles que têm Caridade unirem as suas às minhas orações, para obter de Deus o perdão dos meus pecados.

Eu, de todo o coração, perdoo àqueles que se fizeram meus inimigos, sem que eu lhe tenha dado razão alguma; e rogo a Deus que os perdoe, igualmente àqueles que por um falso zelo, ou por zelo mal entendido, muito mal me fizeram. 

sábado, 18 de março de 2017

O “komboskini” ou “cordão de oração”: o rosário ortodoxo


A tradição atribui a São Pacômio a invenção do cordão de oração (um laço de nós, geralmente feito de lã virgem, símbolo da pureza do Cordeiro de Deus, ou de fios de seda, trançados de nós) no século IV, em pleno nascimento do monasticismo.

Quando os monges e eremitas começaram a se aprofundar nos desertos do Egito para viver uma vida dedicada à oração, eles costumavam rezar cento e cinquenta salmos diariamente. No entanto, como muitos desses monges eram analfabetos, eles tinham duas opções: ou aprendiam o saltério inteiro de memória, ou substituíam a oração dos salmos por outras orações.

Entre elas, a jaculatória mais famosa: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tem piedade de mim, um pecador”. A intenção de São Pacômio, conta a tradição, era que os monges pudessem seguir o conselho de São Paulo na primeira epístola aos Tessalonicenses, “rezem constantemente”.

No entanto, diz-se que o costume de fazer nós no cordão se atribui a Santo Antônio, o Grande, o pai do monasticismo oriental. Anteriormente, os monges contavam suas orações arremessando pequenas pedras em uma tigela, mas o método era pouco prático (especialmente se o monge fosse orar fora de sua cela, carregando um saco de pedras e uma bacia).

A tradição conta que cada vez que Santo Antônio rezava um “kyrie” (“tem misericórdia de mim”…), fazia um nó na corda, até chegar às cento e cinquenta orações diárias obrigatórias. No entanto, sempre que o santo fazia um nó, o diabo o desfazia, para fazê-lo perder a conta, tornando-se impossível cumprir a sua meta diária. O santo, então, decidiu fazer um nó em cada nó, de modo que os próprios nós formassem uma cruz, impedindo assim que o diabo o desatasse.