“Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e
contentai-vos com o vosso soldo”
(Lc 3,14b).
Aproxima-se
a Páscoa do Senhor. A Igreja no Brasil convida a todas as pessoas de boa
vontade para refletir sobre a construção da paz em vez da violência.
Vivemos em
tempos confusos em todo mundo. A humanidade perdeu a referência e as notícias
de corrupção aumentam cada vez mais. O desespero de milhares de mulheres, sendo
violentadas é inegável. Crianças abandonadas sem proteção; juventude
desorientada, educada pelo sistema intimista e egoísta; avós sustentando netos;
pais irresponsáveis e despreparados de agrotóxicos destruindo fauna, flora,
vidas humanas colocando em risco a saúde pública; políticos envolvidos na
corrupção e votando leis inoperantes e insustentáveis; Tribunais sustentando
cadeiras políticas gerando desconfiança e insegurança na proteção dos deveres e
diretos da população; a mídia elitizada semeando violência e ódio na sociedade.
Estamos sem referência para construir a paz em todos os ambientes onde vivemos,
nos movemos e somos.
Escreveu um
teólogo, professor meu: “É urgente uma nova relação para com a Terra e para com
a natureza, feita de sinergia, respeito, convivência, cuidado e sentido de
responsabilidade coletiva”. A falta da ética, o respeito pela vida humana
destrói a nossa convivência e a casa comum, a natureza. A reflexão sobre o bioma,
deve nos conduzir para uma nova relação e comportamento existencial.
Seguindo a
reflexão do professor teólogo: “Na nossa cultura temos a figura paradigmática
de São Francisco de Assis, atualizada pelo bispo de Roma, Francisco, em sua
encíclica Laudato Si: cuidando da Casa Comum. Proclama o poverello de Assis “o
santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia...para
ele qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso
sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe” (n.10 e 11). Com certo humor
recorda “que São Francisco pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte
do horto para as ervas silvestres crescerem” (n.12) pois elas a seu modo também
louvam a Deus.
Esta atitude
de enternecimento levava-o a recolher as minhocas dos caminhos para não serem
pisadas. Para São Francisco todos os seres são animados e personalizados. Por
intuição espiritual descobriu o que sabemos atualmente por via científica
(Crick e Dawson, os que decifraram o DNA) que todos os viventes somos parentes,
primos, irmãos e irmãs, por possuirmos o mesmo código genético de base. Por
isso chamava a todos de irmãos e irmãs: o sol, a lua, o lobo de Gubbio e até a
morte.
Esta visão
supera a cultura da violência e inaugura a cultura do cuidado e da paz. São
Francisco realizou plenamente a esplêndida definição que a Carta da Terra
encontrou para a paz: “é aquela plenitude criada por relações corretas consigo
mesmo, com as outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com
o Todo maior do qual somos parte” (n.16 ).
Num outro
lugar, encontrou a seguinte formulação, agora crítica: “É preciso revigorar a
consciência de que somos uma única família humana. Não há fronteiras nem
barreiras políticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo,
também não há espaço para a globalização da indiferença” (n.52)
Desta
atitude de total abertura que a todos abraça e a ninguém exclui, nasceu uma
imperturbável paz, sem medo e sem ameaças, paz de quem se sente sempre em casa
com os pais, os irmãos, as irmãs e com todas as criaturas.
No lugar da
violência coloca os fundamentos da cultura da paz: o amor, a capacidade de
suportar as contradições, o perdão, a misericórdia e a reconciliação para além
de qualquer pressuposição ou exigência prévia. (L. Boff, UNISINOS 18/03/2017).
Ao
celebrarmos a Páscoa do Senhor, afirmemos nosso desejo de construir uma
sociedade sem violência e repleta de amor para que a Paz do Ressuscitado esteja
conosco.
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