domingo, 26 de março de 2017

Para seguir Jesus é preciso abandonar as “falsas luzes” e confiar nele, diz Papa


Papa Francisco
ANGELUS
Praça de São Pedro
IV Domingo da Quaresma (Laetare),
26 de março de 2017



Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No coração do Evangelho deste quarto domingo da Quaresma se encontram Jesus e um homem cego de nascença (cf. Jo 9,1-41). Cristo lhe restaura a visão e opera esse milagre com uma espécie de ritual simbólico: em primeiro lugar mistura a terra com a saliva e esfregou nos olhos do cego; em seguida, ordena que ele vá se lavar no tanque de Siloé. O homem vai, se lava, e recupera a visão. Ele era um homem cego de nascença. Com este milagre Jesus se revela e se manifesta a nós como luz do mundo ; e o cego de nascença é cada um de nós, que fomos criados para conhecer a Deus, mas por causa do pecado somos como os cegos, precisamos de uma nova luz; todos nós precisamos de uma nova luz: a da  que Jesus nos deu. Fato é que o cego do evangelho recupera a vista e se abre para o mistério de Cristo. Jesus pergunta: "Você crê no Filho do Homem?" (V. 35). "Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?", Responde o cego curado (v. 36). "Você viu isso: é ele quem fala contigo" (v 37).. "Eu creio, Senhor!" E prostra-se diante de Jesus.

Este episódio nos leva a refletir sobre a nossa fé, a nossa fé em Cristo, o Filho de Deus, e ao mesmo tempo também se refere ao batismo, que é o primeiro sacramento da fé, o sacramento que nos faz "vir à luz" através do renascimento na água e do Espírito Santo; como aconteceu com o cego de nascença, que abriu os olhos depois de ser lavado no tanque de Siloé. O cego de nascimento curado nos representa, quando não nos damos conta de que Jesus é a luz, é "a luz do mundo", quando olhamos para outro lugar quando preferimos confiar em pequenas luzes quando apalpamos no escuro. O fato de que o cego não tem um nome ajuda-nos a ver a nós mesmos com o nosso rosto e o nosso nome em sua história. Nós também fomos "iluminados" por Cristo no batismo, e depois fomos chamados a comportar-se como filhos da luz. E para se comportar como filhos da luz é necessário uma mudança radical de mentalidade, uma capacidade para julgar os homens e as coisas de acordo com uma outra escala de valores, a que vem de Deus. O sacramento do Batismo, de fato, exige a escolha de viver como filhos da luz e andar na luz. Agora, se eu fosse perguntar: "Você crê que Jesus é o Filho de Deus? Você acredita que só ele pode mudar seu coração? Você acredita que ele pode mostrar a realidade como ele a vê, não como nós vemos? Você acredita que Ele é a luz, que nos dá a verdadeira luz? "O que você responderia? Cada um responde em seu coração.

O que significa ter a verdadeira luz, andar na luz ? Isso significa, antes de tudo abandonar as falsas luzes: a luz fria e as feridas estúpidas contra os outros, porque o preconceito distorce a realidade e não há cargas de ódio contra aqueles que julgam sem piedade e condenam sem apelação. Este é o pão todos os dias! Quando você fala dos outros, você não anda na luz, você anda nas sombras. Outra luz falsa, tão sedutora e ambígua, é o interesse próprio: se avaliar as pessoas e as coisas com base no critério do nosso lucro, nosso prazer e nosso prestígio, não fazemos a verdade nos relacionamentos e situações. Se formos por este caminho de apenas buscar o ganho pessoal, nós caminhamos nas sombras.

Ó Virgem Santa, que primeiro acolheu Jesus, luz do mundo, dai-nos a graça de acolher novamente esta Quaresma à luz da fé e redescobrir o dom inestimável do batismo todos nós recebemos. E esta nova iluminação transforme nossas atitudes e ações, para sermos, a partir de nossa pobreza, da nossa pequenez, portadores de um raio de luz de Cristo. 

Espanha: Promotoria retira acusações contra sacerdote acusado de supostos abusos


Depois de dois anos e meio de investigação, o promotor do caso de supostos abusos sexuais cometidos por um sacerdote em Granada (Espanha) retirou as acusações contra o pároco ao considerar que não há testemunhos nem provas "conclusivas".

Francisco Hernández, promotor do Tribunal Provincial da Andaluzia, retirou as acusações contra o sacerdote Román Martínez, acusado de supostos abusos sexuais a um menor em Granada (Espanha).

Hernández tomou essa decisão ao considerar que não eram conclusivos tanto as provas como os testemunhos analisados durante aproximadamente dois anos e meio de investigação.

Também apontou que as declarações do jovem que o denunciou eram contraditórias e indicou algumas atitudes estranhas no seu comportamento.

“Lamentamos não ter dado uma resposta diferente a Daniel, vítima não sabemos de que, pois não encontramos elementos para manter o pedido (de denúncia)”, assegurou o promotor. 

Meu Deus, meu desejo!


Deus puro, mel puro, ouro puro... desejo puro, teimoso, insaciável, do nosso coração!

O que nos foi prometido? "Seremos semelhantes a Ele porque nós O veremos como é".

A língua o disse como pôde. O coração imagine o restante!

O que pôde dizer, até mesmo João, em comparação Daquele que é?

O que poderíamos nós dizer, homens tão longe do valor do próprio João?

Recorramos por isso, para Sua Unção (= o Santo Espírito ), para aquela Unção que ensina no íntimo o que não conseguimos falar.

Já que não podeis ver agora, prenda-vos o desejo!

A vida inteira do bom cristão é desejo santo. Aquilo que desejas, ainda não o vês. Mas, desejando, adquires a capacidade de ser saciado ao chegar a visão.

Se queres, por exemplo, encher um recipiente e sabes ser muito o que tens a derramar, alargas o bojo seja da bolsa, do odre, ou de outra coisa qualquer. Sabes a quantidade que ali porás e vês ser apertado o bojo. Se o alargares ele ficará com maior capacidade.

Deste mesmo modo Deus, com o adiar, amplia o desejo. Por desejar, alarga-se o espírito. Alargando-se, torna-se capaz.
 

sábado, 25 de março de 2017

Homilética: Solenidade da Anunciação do Senhor (25 de março*): «A Encarnação do Filho de Deus»


Nos primórdios da Igreja celebrava-se a Anunciação do Senhor pouco antes do Natal, a mudança na data não foi só por uma exatidão cronológica, mas porque estudos concluíram que em 25 de março também foi a data da crucifixão de Jesus Cristo. 

A visita do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria, quando esta se encontrava em Nazaré, cidade da Galiléia, marca o início de toda uma trajetória que cumpriria as profecias do Velho Testamento e daria ao mundo um novo caminho, trazendo à luz a Boa Nova. Ali nasceu também a oração que a partir daquele instante estaria para sempre na boca e no coração de todos os católicos: a Ave Maria.

Maria era uma jovem simples, noiva de José, um carpinteiro descendente direto da linhagem da casa de Davi. A cerimônia do matrimônio daquele tempo, entretanto, estabelecia que os noivos só tivessem o contato carnal da consumação depois de um ano das núpcias. Maria, portanto, era virgem.

Maria perturbou-se ao receber do anjo o aviso que fora escolhida para dar a luz ao Filho de Deus, a quem deveria dar o nome de Jesus, e que Ele era enviado para salvar a Humanidade e cujo Reino seria eterno. Sim porque Deus, que na origem do Mundo Criou todas as coisas com sua Palavra, desta vez escolheu depender da palavra de um frágil ser humano, a Virgem Maria, para poder realizar a Encarnação do Redentor da Humanidade.

Ela aceitou sua parte na missão que lhe fora solicitada, demonstrando toda confiança em Deus e em Seus desígnios, para o cumprimento dessa profecia e mostrou porque foi ela a escolhida para ser Instrumento Divino nos acontecimentos que iriam mudar o destino da Humanidade.

Ao perguntar como poderia ficar grávida, se não conhecia homem algum e receber de Gabriel a explicação de que seria fecundada pelo Espírito Santo, por graças do Criador, sua resposta foi tão simples como sua vida e sua fé: "Sou a serva do Senhor. Faça-se segundo a Sua vontade".

Com esta resposta, pelo seu consentimento, Maria aceitou a dignidade e a honra da maternidade divina, mas ao mesmo tempo também os sofrimentos, os sacrifícios que a ela estavam ligados. Declarou-se pronta a cumprir a vontade de Deus em tudo como sua serva. Era como um voto de vítima e de abandono. Esta disposição é a mais perfeita, é a fonte dos maiores méritos e das melhores graças. O momento da Anunciação, onde se dá a criação, na pessoa de Maria como a Mãe de Deus, que acolhe a divindade em si mesma, contém em si toda a eternidade e, nesta, toda a plenitude dos tempos.

Por isso a data de hoje marca e festeja este evento que se trata de um dos mistérios mais sublimes e importantes da História do homem na Terra: a chegada do Messias, profetizada séculos antes no Antigo Testamento. Episódio que está narrado em várias passagens importantes do Novo Testamento.

A festa da Anunciação do Anjo à Virgem Maria, Lc 1,26-38, é comemorada desde o Século V, no Oriente e a partir do Século VI, no Ocidente, nove meses antes do Natal, só é transferida quando coincide com a Semana Santa.

Comentário dos Textos Bíblicos

1ª Leitura: Is 7,10-14;8,10

Sob este texto há uma situação histórica precisa: a dinastia davídica, a que estão ligadas as promessas (2Sm 7,12-16), está em perigo. Os reis de Aram e de Israel a querem eliminar colocando no trono o filho de Tabel (7,1.4-6). Acaz, em lugar de pedir o auxilio de Deus, faz imolar aos ídolos o seu único filho (2Rs 16,3) e procura aliança na Assíria (2Rs 16,7). O profeta quer dissuadir o rei deste absurdo e lhe propõe pedir a Deus um sinal da sua presença (v.10-11). Mas Acaz, não demonstra ter fé em Deus (v.12). Então Deus anuncia a Acaz o castigo (7,16-17), confirmando ao mesmo tempo sua fidelidade a Davi: apesar da infidelidade dos homens, haverá um herdeiro para Davi (v.14).

2ª Leitura: Hebreus 10,4-10

A validade do sacrifício de Cristo não está na sua imolação por parte dos homens (isto não é agradável a Deus). Tal atitude seria própria de um Deus sanguinário, que só se aplacaria com o sangue de um ente querido. Nem se trata da obediência à lei, porque esta já caducou (versículos de 1-4). Na realidade, o desígnio de Deus foi tornar seu próprio Filho participante da condição humana, com todo aquele amor necessário para que tal condição fosse transfigurada. Ora, a existência humana supõe a morte, e o Pai não a excluiu da sorte de seu Filho, a fim de que sua fidelidade à condição de homem só tivesse como limite sua fidelidade ao amor do Pai. Com algumas variantes introduzidas no salmo ("um corpo me preparastes' - diz Jesus - "ao entrar no mundo" com a encarnação), o autor insere nas relações trinitárias e preexistentes à encarnação a intenção sacrifical de Cristo... que a cruz fez apenas selar" (Maertens). Em Jesus não há dissociação entre rito e vida; sua morte é sacrifício espiritual, porque dom total de si na liberdade e no amor.  

O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho e com Eles é adorado e glorificado


Segunda definição do credo: “... e procede do Pai (e do Filho) e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”.

Passemos agora à segunda grande afirmação do credo sobre o Espírito Santo. Até agora, o símbolo de fé nos falou da natureza do Espírito, não ainda da pessoa; nos disse o que é, não quem é o Espírito; falou-nos sobre o que é comum ao Espírito Santo, ao Pai e ao Filho – o fato de ser Deus e de dar a vida.

Com a presente afirmação se passa ao que distingue o Espírito Santo do Pai e do Filho. O que o distingue do Pai é que procede; o que o diferencia do Filho é que procede do Pai e não por geração, mas por inspiração; para expressar-nos em termos simbólicos, não como o conceito (logos) que procede da mente, mas como o sopro que procede da boca. 

Nossa Senhora da Anunciação


A festa da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria é comemorada desde o Século V, no Oriente e a partir do Século VI, no Ocidente, nove meses antes do Natal. Por este acontecimento, que fez de Maria o primeiro sacrário da Eucaristia, Ela recebeu dos cristãos o título de Nossa Senhora da Anunciação.

A visita do Anjo à Virgem Maria, sinaliza o início do cumprimento do Velho Testamento com a abertura do caminho para o Reino de Deus à luz a Boa-Nova, para toda a Humanidade. São Gabriel Arcanjo proferiu a oração que esta sempre na boca e no coração de todos os fiéis: a Ave Maria.

Maria era uma jovem adolescente, simples e virgem, prometida ao já idoso José, um carpinteiro descendente direto da casa de Davi. Ficou perturbada ao receber do Arcanjo o aviso que era a escolhida para conceber o Filho de Deus, o qual devia ser chamado Jesus, pois era o enviado para salvar a Humanidade, e cujo Reino era eterno. Assim, o Pai Criador dependeu do consentimento de uma frágil criatura humana para realizar o Mistério para a nossa Redenção.

A Virgem Maria aceitou sua parte na missão, demonstrando toda confiança no Senhor Deus e se fez Instrumento Divino nos acontecimentos proféticos. Mas teve de perguntar como seria possível, se não conhecia homem algum. Gabriel lhe explicou que o Espírito Santo a fecundaria, pela graça do Criador. Então respondeu com a mesma simplicidade de sua vida e fé: “Sou a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Sua vontade”.

Com esta resposta, pelo seu consentimento, Maria aceitou a dignidade e a honra da maternidade divina, mas ao mesmo tempo também os sofrimentos, os sacrifícios que a ela estavam ligados. Por este motivo dos devotos de Nossa Senhora da Anunciação pedem sua proteção e intercessão junto a Deus, nas suas aflições. Por sua disposição Maria se tornou a mais perfeita das criaturas humanas, a fonte dos maiores méritos e das melhores graças. Porque a Mãe de Deus, que acolheu a divindade em si mesma, contém em si toda a eternidade e, nesta, toda a plenitude dos tempos.

A data de hoje marca e festeja um dos mistérios mais sublimes e importantes para a Humanidade, citado em várias passagens importantes do Novo Testamento. Maria foi poderosamente levada à comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Motivo mais que suficiente para ser invocada como Nossa Senhora da Anunciação.

Com o sim de Maria nasceu o título de Nossa Senhora da Anunciação, cuja festa é celebrada no dia 25 de março, nove meses antes do nascimento de Cristo. O sim de Maria é como um selo que define a Aliança do povo (hebreu e cristão) com Deus, por isso marca o início da nova Aliança. O Evangelho de Lucas desenvolve, no capítulo primeiro, o tema da Anunciação.



Todas as gerações vos proclamem bem-aventurada, ó Maria! Crestes na mensagem divina e em vós se cumpriram grandes coisas, como vos fora anunciado. Maria, eu vos louvo! Crestes na encarnação o Filho de Deus no vosso seio virginal e vos tornastes Mãe de Deus. Raiou, então, o dia mais feliz da história da humanidade e Jesus veio habitar entre nós. A fé é dom de Deus e fonte de todo bem, por isso, ó mãe, alcançai-nos a graça de uma fé viva, forte e atuante que nos santifica cada dia mais. Que possamos comunicar com a vossa vida a mensagem de Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida da humanidade. Amém.

sexta-feira, 24 de março de 2017

2ª Pregação da Quaresma 2017: “O Espírito Santo nos introduz no mistério da divindade de Cristo”.


O ESPÍRITO SANTO NOS INTRODUZ 
NO MISTÉRIO DA DIVINDADE DE CRISTO

1. A fé de Nicéia

Continuamos, nesta meditação, a reflexão sobre o papel do Espírito Santo no conhecimento de Cristo. A este respeito, não podemos silenciar uma ideia presente no mundo de hoje. Há muito tempo existe um movimento chamado “Hebreus messiânicos”, ou seja, Hebreus-cristãos. (“Cristo” e “cristão” são apenas a tradução grega do hebraico Messias messiânico!). Uma estimativa fala de cerca de 150 mil membros, divididos em grupos e associações entre eles, espalhados especialmente nos Estados Unidos, Israel e vários países europeus.

São hebreus que acreditam que Jesus, Yeshua, é o Messias prometido, o Salvador e o Filho de Deus, mas não querem absolutamente renunciar de sua identidade e tradição hebraica. Não aderem oficialmente a nenhuma das Igrejas cristãs tradicionais, porque pretendem reconectar-se e reviver a Igreja primitiva dos judeu-cristãos, cuja experiência foi interrompida bruscamente por conhecidos eventos traumáticos.

A Igreja Católica e as outras Igrejas sempre se abstiveram de promover, ou até mesmo nomear, este movimento por óbvias razões de diálogo com o hebraísmo oficial. Eu mesmo nunca falei deles. Mas agora está surgindo a convicção de que não é correto continuar a ignorá-los ou, pior, pô-los no ostracismo de um lado e do outro. Acaba de surgir na Alemanha um estudo de vários teólogos sobre o fenômeno 1. Se eu falo nesta sede é por um motivo específico, pertinente ao tema destas meditações. Em uma pesquisa sobre os fatores e circunstâncias que estiveram presente na origem da sua fé em Jesus, mais de 60% das pessoas em causa respondeu: “uma transformação interior por obra do Espírito Santo”; em segundo lugar é a leitura da Bíblia e em terceiro os contatos pessoais 2. É uma confirmação da vida que o Espírito Santo é aquele que dá o verdadeiro e íntimo conhecimento de Cristo.

Retomemos, portanto, o fio das nossas considerações históricas. Enquanto a fé cristã permaneceu restrita ao âmbito bíblico e judaico, a proclamação de Jesus como Senhor (“Creio em um só Senhor Jesus Cristo”), satisfazia todas as exigências da fé cristã e justificava o culto de Jesus “como Deus”. Senhor, Adonai, era, de fato, para Israel um título inequívoco; ele pertence somente a Deus. Chamar Jesus Senhor, portanto, é o mesmo que proclamá-lo Deus. Temos provas irrefutáveis do papel desempenhado pelo título Kyrios no início da Igreja como expressão de culto divino atribuído a Cristo. Na sua versão aramaica Maran-atha (O Senhor vem), ou Marana-tha (Vem, Senhor!), já aparece em São Paulo como fórmula litúrgica (1 Cor 16, 22) e é uma das poucas palavras preservadas na língua da comunidade primitiva 3.

Mas assim que o cristianismo entrou no mundo greco-romano ao redor, o título de Senhor, Kyrios, não era suficiente. O mundo pagão conhecia muitos e diversos “senhores”, em primeiro lugar, é claro, o imperador romano. Era necessário encontrar uma outra maneira de garantir a plena fé em Cristo e o seu culto divino. A crise ariana ofereceu uma oportunidade.

Isso nos leva à segunda parte do artigo sobre Jesus, que foi adicionada ao símbolo da fé no Concílio de Nicéia, em 325:
“nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai”.

O bispo de Alexandria, Atanásio, indiscutível paladino da fé de Nicéia, está bem convencido de que não foi ele, nem a Igreja de seu tempo, que descobriu a divindade de Cristo. Todo o seu trabalho consistirá, pelo contrário, em mostrar que esta sempre foi a fé da Igreja; que nova não é a verdade, mas a heresia contrária. A sua convicção sobre este ponto encontra uma confirmação na carta que Plínio o Jovem, governador da Bitinia, escreveu ao imperador Traiano por volta do ano 111 d.C. A única informação confiável que ele diz que tem sobre os cristãos é que “normalmente se reunem antes do amanhecer, em um dia fixo da semana, e cantam hinos a Cristo como a Deus” (“Carmenque Christo quasi Deo dicere 4″).

A crença na divindade de Cristo, portanto, já existia e é só ignorando completamente a história que alguém poderia afirmar que a divindade de Cristo é um dogma querido e imposto pelo imperador Constantino no Concílio de Nicéia. A contribuição dos Padres de Nicéia, e em particular de Atanásio, foi, antes de mais nada, a de remover os obstáculos que haviam impedido até então um reconhecimento pleno e sem reticências da divindade de Cristo nas discussões teológicas.

Um desses obstáculos era o hábito grego de definir a essência divina com o termo agennetos, ingênito. Como proclamar que o Verbo é verdadeiro Deus, uma vez que ele é Filho, ou seja, gerado do Pai? Era fácil para Ario estabelecer a equivalência: gerado, igual feito, ou seja, passar gennetos a genetos, e concluir com a célebre frase que fez explodir o caso: “Houve um tempo em que não havia” (en ote ouk en). Isso era equivalente a fazer de Cristo uma criatura, embora não “como as outras criaturas”. Atanásio resolve a disputa com uma observação elementar: O termo agenetos foi inventado pelos gregos porque ainda não conheciam o Filho5″ e defendeu com garra a expressão “gerado, mas não feito”, genitus non factus, de Nicéia.

Outro obstáculo cultural para o pleno reconhecimento da divindade de Cristo, no qual Ario podia apoiar a sua tese, era a doutrina de uma divindade intermediária, o deuteros theos, responsável pela criação do mundo. De Platão em diante, isso tornou-se um dado comum em muitos sistemas religiosos e filosóficos da antiguidade. A tentação de assimilar o Filho, “por meio do qual todas as coisas foram criadas”, a esta entidade intermediária ficava insinuando-se na especulação cristã (Apologistas, Orígenes), embora estranha à vida interna da Igreja. O resultado era um esquema tripartido do ser: no topo, o Pai ingênito; depois dele, o Filho (e mais tarde também o Espírito Santo); em terceiro lugar, as criaturas.

A definição do “genitus non factus” e do homoousios, remove este obstáculo e obra a catarse cristã do universo metafísico dos gregos. Com esta definição, uma única linha de demarcação é desenhada sobre a vertical do ser. Existem apenas dois modos de ser: o do criador e o das criaturas e o Filho se coloca no primeiro modo, não no segundo.

Querendo colocar em uma frase o significado perene da definição de Nicéia, poderíamos formular desta forma: em cada época e cultura, Cristo deve ser proclamado “Deus”, não em algum significado derivado ou secundário, mas na acepção mais forte que a palavra “Deus” tem em tal cultura.

É importante saber o que motiva Atanásio e os outros teólogos ortodoxos na batalha, ou seja, de onde lhes vêm uma certeza tão absoluta. Não da especulação, mas da vida; mais precisamente, da reflexão sobre a experiência que a Igreja, graças à ação do Espírito Santo, faz da salvação em Cristo Jesus.

O argumento soteriológico não nasce com a controvérsia ariana; ele está presente em todas as grandes controvérsias cristológicas antigas, daquela antignóstica àquela antimonotelita. Na sua formulação clássica soa assim: “O que não é assumido não é salvo” (“Quod non est assumptum non est sanatum 6”). No uso que lhe dá Atanásio, ele pode ser entendido da seguinte maneira: “Aquilo que não é assumido por Deus não é salvo”, onde a força está naquele breve adendo “por Deus”. A salvação exige que o homem não seja assumido por qualquer intermediário, mas pelo próprio Deus: “Se o Filho é uma criatura – escreve Atanásio – o homem permaneceria mortal, não estando unido a Deus”, e ainda: “O homem não seria divinizado, se o Verbo que se tornou carne não fosse da mesma natureza do Pai 7”.

No entanto, é necessário fazer um esclarecimento importante. A divindade de Cristo não é um “postulado” prático, como é, para Kant, a própria existência de Deus8. Não é um postulado, mas a explicação de um dado de fato. Seria um postulado – e, portanto, uma dedução teológica humana – se partisse de uma certa ideia de salvação e dessa se deduzisse a divindade de Cristo como a única capaz de obrar tal salvação; no entanto, é a explicação de um dado se parte, como faz Atanásio, de uma experiência de salvação e mostra-se como ela não poderia existir se Cristo não fosse Deus. Em outras palavras, não é na salvação que se fundamenta a divindade de Cristo, mas é na divindade de Cristo que se fundamenta a salvação. 

Igrejas abrem suas portas para as "24 horas para o Senhor" 2017


"Convido todas as comunidades a viverem com fé o encontro de 24 a 25 de março para redescobrir o Sacramento da Reconciliação "24 horas para o Senhor", disse o Papa durante a Audiência Geral da última quarta-feira.

"Desejo que também este ano tal momento privilegiado de graça do caminho quaresmal - continuou Francisco - seja vivido em muitas igrejas do mundo para experimentar o encontro jubiloso com a misericórdia do Pai, que a todos acolhe e perdoa".

A iniciativa "24 horas para o Senhor" - promovida pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização - tem por tema esta ano "Misericórdia eu quero" e prevê a abertura extraordinária de muitas igrejas, da noite de hoje até a madrugada de sábado, para permitir que um maior numero possível de pessoas participe da Adoração Eucarística e da Confissão.

Em Roma, permanecerão abertas as Igrejas de Santa Maria in Trastevere e a Igreja dos Estigmas de São Francisco. Para saber mais sobre a iniciativa, a Rádio Vaticano conversou com o Secretário do dicastério vaticano para a Nova Evangelização, Padre José Octavio Ruiz Arenas:

"Esta iniciativa nasceu por ocasião do Ano da Fé em 2013 e nasceu como uma iniciativa local aqui, em Roma. Naquele momento se convidava algumas igrejas a abrirem suas portas para as confissões durante toda a noite. Depois, nos últimos dois anos, esta iniciativa foi seguida em muitos outros lugares. Nós recebemos, por exemplo, testemunhos vindos dos Estados Unidos, da França, da Rússia, da Argentina, do México, que diziam que muitos sacerdotes haviam levado a sério esta iniciativa e pouco a pouco muita gente se aproximou para receber este Sacramento em espírito de adoração ao Senhor, de reconciliação e também de entender que é uma oportunidade para mudar de vida e acolher este dom que nos dá o Senhor da sua misericórdia e da sua ternura".

RV: Esta iniciativa/oportunidade é para todos, mas em especial aos jovens?

"Sim, é uma proposta para todas as pessoas mas existem tantos jovens que acolheram o convite e sobretudo existem muitos jovens que nos ajudaram sobretudo aqui em Roma a convidas nas ruas, nas praças, nas cercanias das igrejas que estão abertas, tanta gente que passava a aproximar-se ao Sacramento. Assim, foi uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens. Uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens".

RV: O Papa, na Audiência de quarta-feira, convidou a aproveitar esta ocasião para redescobrir e para experimentar o Sacramento da Reconciliação...

"Sim, certamente. Estamos agora em um mundo no qual infelizmente se perdeu o sentido do pecado e perdendo o sentido do pecado se perde também a necessidade de aproximar-se ao Sacramento da reconciliação. Portanto é um momento para pensar que o Sacramento da Reconciliação não é somente para apagar os pecados, mas é sobretudo abrir o coração à misericórdia do Senhor e todos nós temos necessidade da misericórdia do Senhor: não estamos diante de um juiz, mas sobretudo estamos diante de Alguém que nos ama realmente. Portanto, aquilo que disse oo Papa é muito, muito verdadeiro".