O poder e a eficácia da Palavra de Deus
constituem o argumento central da reflexão de hoje. “Assim como a chuva e a
neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a
terra e fazê-la germinar e dar semente para o plantio e para a alimentação;
assim a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia; antes,
realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao
enviá-la” (Is 55, 10-11).
São Mateus (Mt. 13, 1-23) narra que Jesus,
diante das multidões que se aproximaram dele, sentou-se na barca, começou a
ensinar-lhes: Saiu o semeador a semear, e as sementes caíram em terrenos muito
diversos. Ou seja, a eficácia da Palavra, no coração do homem, depende de suas
disposições. Nem todos a aceitam porque não deixam a Palavra de Deus penetrar
fundo em suas vidas. As provações, as riquezas, os prazeres da vida impedem que
produza fruto.
O Semeador, que saiu para semear, é
precisamente Jesus, e a semente que espalha “é a Palavra de Deus” (Lc. 8, 11).
O semeador espalha a sua semente aos quatro ventos, e assim se explica que uma
parte caia no caminho. A semente caiu em vários tipos de terras diferentes:
terreno pedregoso, entre espinhos; outras sementes caíram em terra boa. O
terreno onde cai a boa semente é o mundo inteiro, cada homem.
A mesma semente produz muito fruto numa classe
de terreno e em outros não produz nada. Isto significa o mistério da liberdade
do homem perante o dom de Deus. Jesus semeia, em qualquer parte, a Palavra: nem
sequer a nega aos pecadores, à gente superficial e distraída, aos homens
imersos nos prazeres ou ocupados em negócios, comparando-os na parábola, à que
cai à beira do caminho, em terrenos pedregosos, ou entre espinhos; isto
significa a grande misericórdia do Senhor! Com efeito, em sentido espiritual,
ensina São João Crisóstomo, “é possível que a rocha se transforme em boa terra;
que o caminho deixe de ser pisado e se converta também em terra fértil, e que
os espinhos desapareçam e deixem crescer exuberantemente as sementes. E se não
se opera em todos essa transformação, não é, certamente, por culpa do semeador,
mas daqueles que não querem mudar”. Isto é terrível, mas acontece: o homem pode
fechar-se à Palavra de Deus, recusá-la e, consequentemente, torná-la ineficaz.
Aos discípulos que perguntam a Jesus: “Por que
falas ao povo em parábolas?”; responde-lhes: “Pois à pessoa que tem será dado
ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem será tirado até o
pouco que tem” (Mt. 13, 12). O Senhor explica aos seus discípulos, que eles,
justamente porque têm fé nEle e desejam conhecer mais a fundo a Sua doutrina,
lhes será dado um conhecimento mais profundo das verdades divinas. Mas os que
não O seguem depois de O terem conhecido, perdem o interesse pelas coisas de
Deus, estarão cada dia mais cegos, e é como se lhes fosse tirado o pouco que
tinham. O Senhor nos exorta, sem tirar a nossa liberdade, à responsabilidade de
sermos fiéis: devemos fazer frutificar os dons que Deus nos vai enviando e
aproveitar as ocasiões de santificação cristã que nos são oferecidas ao longo
da nossa vida.
Não pensemos que o não querer ouvir, nem ver,
nem compreender, foi coisa exclusiva daqueles homens contemporâneos de Jesus;
cada um de nós também tem as suas durezas de ouvido, de coração e de entendimento
perante a Palavra de Deus, perante a Sua graça. Além disso, não basta saber a
doutrina da fé: é absolutamente necessário vivê-la com todas as suas exigências
morais e ascéticas. Jesus foi pregado na Cruz não só pelos pregos e pelos
pecados de alguns judeus, mas também pelos nossos pecados, que iríamos cometer
séculos depois, mas que já atuavam sobre a Humanidade Santíssima de Jesus
Cristo, que carregava com nossos pecados.
“A alma que ama a Deus de verdade não deixa,
por preguiça, de fazer o que pode para encontrar o Filho de Deus, o seu Amado.
E depois de ter feito tudo o que pode, não fica satisfeita e pensa que não fez
nada” (São. João da Cruz).
“A semente que caiu entre os espinhos é aquele
que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam
a palavra, e ele não dá fruto” (Mt. 13, 22). Trata-se de almas obcecadas pelas
coisas materiais, envoltas numa “avareza de fundo que leva a apreciar apenas o
que se pode tocar: os olhos que parecem ter ficado colados às coisas terrenas,
mas também os olhos que, por isso mesmo, não sabem descobrir as realidades
sobrenaturais” (São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, nº 6). É como se
estivessem cegos para o que verdadeiramente importa.
Deixar que o coração se apegue ao dinheiro é
um grave obstáculo para que o amor de Deus crie raízes no coração. São Paulo
ensina que quem coloca o seu coração nos bens terrenos como se fossem bens
absolutos, comete uma espécie de idolatria (Col. 3, 5). Esta desordem da alma
conduz com freqüência à falta de mortificação, à sensualidade, à fuga ou ao
esquecimento dos bens sobrenaturais, pois sempre se cumprem aquelas palavras do
Senhor: “onde estiver o vosso tesouro, ali estará o vosso coração” (Lc. 12,
34).
Deus espera que sejamos um terreno que acolha
a graça e dê fruto; e produziremos mais e melhores frutos quanto maior for a
nossa generosidade com Deus.
Cabe – nos a pergunta: Que tipo de terreno sou
eu? As quatro qualidades de terra se encontram, mais ou menos, em cada um de
nós!
Em cada um de nós há espinhos, pedras, trilhos
e terra de boa qualidade. Trata-se de tomar consciência e de melhorar o terreno
( que é o nosso coração ) para que a Palavra de Deus possa produzir frutos.
Gostaria de fixar-me sobre o lado positivo e
encorajador do Evangelho de hoje: a Palavra de Deus encontra também muitos
corações disponíveis, muito terreno bom. O terreno melhor foi aquele de Maria,
que acolhia todas as palavras e as guardava em seu coração (cf. Lc 2,19 ).
Terreno bom foram os apóstolos e os discípulos, que acolheram a Palavra e a
pregaram ao mundo, irrigando-a com o próprio sangue.
Quem é hoje o terreno bom que produz fruto? É
o cristão que, antes de tudo, tem sede da Palavra de Deus, que a ama, que se
preocupa em ouvi-La, compreendê-La, convicto de que não só de pão vive o homem,
mas de toda palavra que procede da boca de Deus ( Mt 4,4 ). É aquele que aplica
a Palavra à sua vida; dá-lhe forma e espaço, com a reflexão, de modo que possa
germinar, em seu coração, iluminar as intenções, fortificar os propósitos, de
modo que eles se transformem em obras evangélicas, isto é, nos cem por cento de
que fala Jesus no final de sua parábola.