A Igreja Católica celebra hoje (34º Domingo do Tempo Comum) com grande júbilo a solenidade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Rei do Universo, com a qual fechamos o ano litúrgico. Deste modo, a
liturgia comemora cada ano o mistério completo da Redenção do gênero humano,
desde a espera da vinda do Salvador, ou seja, o Advento, até a celebração do
Reinado universal e eterno de Jesus Cristo. Festa instituída pelo papa Pio XI
em 1925. “Christus vincit, Christus regnat, Christus
imperat”. Lá estão os louvores
escritos com bronze triunfal no obelisco de Heliópolis, fincado na Praça de são
Pedro.
As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse
Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou,
que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que
terá o seu tempo definitivo no mundo que há de vir.
A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulo acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
Ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, desde o ano 1925, a Igreja não identifica nunca o poder real de Cristo com um poder temporal. Aquilo que o Senhor Jesus disse a Pilatos é uma sentencia a ter em conta à hora de considerar a festa de hoje: “o meu reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). O Papa que instituiu a festa de Cristo Rei, Pio XI, também deixava isso bem claro ao afirmar que a realeza de Cristo “é principalmente interna e respeita sobretudo a ordem espiritual” (Carta Encíclica “Quas Primas”, 11-12-1925, nº 12). Contudo, um reinado espiritual não exclui a potestade judiciária, legislativa e executiva do Rei Jesus. Todas as coisas, também as temporais, lhe estão submissas. Segue-se, portanto, que a legitima autonomia das realidades criadas não significa independência dessas mesmas coisas com respeito ao seu Criador, mas que a realidade criada tem leis ínsitas ao seu mesmo ser e que devem ser respeitadas. Estas leis naturais têm a Deus por autor e mostram que tudo lhe está submisso.
É um erro gravíssimo tentar retirar a Deus da sociedade dos homens, pois um mundo sem Deus não é habitável, se estraga e se condena. Não nos esqueçamos de que teremos que prestar contas a Deus da administração que fizemos dos bens que ele nos deu para que os trabalhássemos e os colocássemos a serviço dos outros. Justamente isso é o que nos fala o Evangelho de hoje: dar de comer, dar de beber, praticar a hospitalidade, visitar os enfermos, entre outras obras de misericórdia, tudo isso é uma clara manifestação de que estamos fazendo frutificar os dons que Deus nos concedeu e, consequentemente, de que estamos fazendo efetivo o reinado de Cristo neste mundo.
Tudo é de Deus. Mas ele quis que nós fôssemos seus administradores. Façamos a nossa tarefa, qualquer que seja, com competência, profissionalidade, amor a Deus e para o bem dos irmãos, oferecendo-lhe tudo o que somos e temos. Desta maneira não será difícil fazer que Cristo reine nas nossas inteligências, nas nossas vontades, nas nossas ações, em primeiro lugar; depois, Cristo reinará, através de nós, no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos amigos e conhecidos. Neste sentido, o apostolado é uma clara manifestação de que realmente desejamos que Cristo reine: quem ama a Deus sempre está a procura de que alguém também o ame.
Através de nós, Jesus tem que reinar no Brasil e no mundo, mas, repito, tem que começar em nós. Por exemplo, se queremos que ele reine no nosso trabalho é só começarmos o labor profissional com uma pequena oração feita no coração; depois, teremos que trabalhar bem, com a máxima perfeição humana e cristã; cada momento que nos lembrarmos, ofereceremos a Deus tudo o que está ao nosso redor; finalmente, terminaremos depositando o esforço e o suor da jornada nas mãos do Todo-Poderoso: do Pai e do Filho e do Espírito Santo.